Os quatis s�o muito fofos. S�o pequenos animais mam�feros que podem pesar at� seis quilos. Chamados tamb�m de tamandu�-palito, por causa de seu nariz pontudo, os que andam no entorno da minha casa certamente est�o � beira de ultrapassar esse limite. Est�o bem roli�os em fun��o da quantidade de comida fast-food nada saud�vel que encontram em seu caminho, creio.
H� cerca de 28 anos, quando me mudei para a regi�o da Mata do Mutuca, no limite entre BH e Nova Lima, eles eram em quantidade bem menor, a ponto de ser uma atra��o quando avistados. Hoje, s�o uma atra��o devido principalmente � quantidade exorbitante de indiv�duos nos bandos. Atr�s de um l�der h� sempre uma col�nia de ao menos uns 30 s�ditos. As f�meas podem parir at� seis filhotes a cada gesta��o, e ao que me parece n�o t�m perdido nenhuma. As copas das �rvores no fundo de minha casa mais parecem creches hiperlotadas.
Na natureza nua e crua, eles comem frutas, r�s, pererecas, pequenas aves, ratos. Nos jardins, procuram minhocas levantando placas de grama rec�m-plantadas. Fora da natureza, encontram de tudo no lixo humano, sem precisar fazer o menor esfor�o. Mal-acostumados pelos homens, que insistem em achar que est� sob sua responsabilidade a alimenta��o de animais silvestres, assaltam cozinhas de janelas abertas e devoram o que veem pela frente, demonstrando uma prefer�ncia por tudo o que seja doce.
De fofos est�o se transformando em pesadelos no meu quintal. Ao retornar para casa, ap�s um breve fim de semana fora na passagem do ano, me deu vontade de fazer meia-volta e ir embora. Uma geladeira que deixamos na garagem, com fechamento refor�ado por um el�stico antiquatis amarrado em seu entorno, estava um caos.
Acreditem se quiser. Sem remover o el�stico, eles for�aram a porta, entraram dentro da geladeira, quebraram o que havia de vidro, furtaram o que foi poss�vel e, o pior, defecaram em todas as prateleiras para marcar territ�rio. Fiquei imaginando a cena. Um deles segurando a porta usando o bico e as patas cheias de unhas afiadas e resistentes, enquanto alguns do lado de dentro passavam as coisas para a tropa faminta que aguardava de fora. Depois largaram tudo l�. O el�stico for�ou o fechamento da geladeira e na teoria tudo voltou a ser como antes.
Quanto desequil�brio! Cada vez mais avan�amos para dentro do territ�rio deles, expulsamos seus predadores naturais, como raposas e on�as, fazendo com que os bandos fiquem superpopulosos. N�o deixamos a eles outra sa�da a n�o ser conviver com nossa dura realidade, o que torna a deles bastante cruel. Se h� quem tenha direito de reclamar, certamente n�o sou eu.