Depois de oito anos de casado, o rapaz chegou para a esposa e desabafou. "N�o aguento mais! Acabou! Vou-me embora." Fez as malas e partiu, deixando para tr�s n�o apenas uma mulher assustada e desolada, como tamb�m as duas filhas g�meas de 2 anos. Disse que aquela vida que estava levando tinha se distanciado muito do que ele sonhava ter. Considerou que assumir parte dos gastos das crian�as e visit�-las com frequ�ncia, al�m de lev�-las para passear, seria o suficiente como cumprimento do papel de pai.
A melhor amiga da esposa abandonada, bufando de raiva, disse: "por isso n�o animo a ter filhos, pois sempre sobra a parte mais dura para a mulher". Segundo ela, o casal vivia bem, pareciam se amar de fato, planejaram ter as filhas, chegar aonde chegaram. Mas...
N�o vou discorrer aqui sobre a atitude dele. Embora concorde que manter uma uni�o sem querer n�o � a melhor escolha, acredito que existem maneiras mais razo�veis, respeitosas, dignas e humanas de colocar fim em um relacionamento, qualquer que seja o motivo. Tamb�m n�o vou me ater ao sofrimento e a todo o trauma que a esposa deve estar experimentando. Quero falar sobre a rea��o da amiga do casal em rela��o � dificuldade que tem em decidir por ter ou n�o filhos.
Ela colocou em xeque a confian�a que se espera desenvolver entre dois parceiros. Ao decidir morar juntos e construir uma fam�lia, pressup�e-se que a confian�a esteja instalada e seja rec�proca. Princ�pio b�sico e vital, por�m nada garante que persista al�m da dura��o da uni�o.
Confiar quer dizer acreditar que o outro tenha as melhores inten��es para conosco, que seja sincero e leal aos princ�pios e valores estabelecidos na rela��o. � base de tudo. Se tenho d�vidas sobre o que o outro poder� fazer comigo durante os anos em que eu estiver casada com ele, se tenho d�vidas sobre a fidelidade dele � minha pessoa, se acredito que ele ser� capaz de me largar com nossos filhos para viver as aventuras da vida de solteiro, melhor repensar se viver junto e misturado � o melhor a fazer.
Tudo pode desmoronar? Claro, acontece a todo momento em in�meros lares. Alguns casais "suportam desaforo", refazem suas regras e seguem adiante. Outros se desmantelam, passam a se odiar e a acreditar que foram tolos em um dia ter confiado um no outro.
Nos atemos ao negativo com mais for�a que ao positivo. S�o tantos os pais, maridos ou ex-maridos que d�o exemplos dignos de aten��o, por que usar como base de nossas decis�es o feito daqueles que demonstram imaturidade e ego�smo? Ali�s, quando reconhecemos nossas fraquezas, nossa capacidade de nos equivocar, nossa pequenez, fica mais f�cil perceber a aproxima��o de fases mais dif�ceis, muitas vezes a tempo de come�ar a reparar os danos de forma a impedir um fracasso maior.