"Focamos no que poder�amos ter feito e n�o no que fizemos"
09/10/2022 09:35
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atualizado 09/10/2022 09:40
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Patr�cia Esp�rito Santo
(foto: Pixabay)
Uma amiga se encontrava angustiada e impotente frente aos cuidados em rela��o ao pai que lutava para manter a vida quando conversamos. Ele sofre com problemas card�acos que limitam seus movimentos a ponto de n�o conseguir mais se manter em p� sem ajuda ou simplesmente se alimentar sozinho.
Dois fatos me chamaram a aten��o. Primeiro, ele conversar com ela sobre os aspectos pr�ticos relacionados � sua morte. Quais s�o os bens deixados, as d�vidas, os cr�ditos, qual destino ele gostaria de dar a cada pertence. No in�cio minha amiga tentou desconversar at� que percebeu a import�ncia da iniciativa de falar por parte dele assim como de ouvir por parte dela.
Precisamos conversar sobre a morte pois ela � inevit�vel, ao contr�rio dos problemas que podem surgir quando fugimos de trat�-la como real e iminente. Al�m disso, demonstrar aten��o e interesse em ouvir o que o outro tem a nos dizer, sem buscar fugir dos inc�modos que determinados assuntos geram, � uma forma de demonstrar amor que ainda precisamos aprender e praticar.
"Vamos mudar de assunto", ela pedia enquanto ele, felizmente, insistia, foi substitu�do por lembran�as boas e frases afetivas que emocionam e estreitam as rela��es. As pessoas partem, mas os sentimentos desenvolvidos entre elas permanecem vivos alimentando esperan�as e lutas que valem a pena manter.
O outro aspecto que destaco diz respeito � sensa��o de fazer pouco por ele nesse momento, por mais que ela esteja presente, dispon�vel, esteja sendo carinhosa e atenciosa. Em segundo plano ficou o trabalho dela, a casa, os cuidados com si pr�pria. Por que sempre nos sentimos em d�vida?
Talvez por refletir nosso desejo de alcan�ar o inating�vel, de sermos muito mais do que precisamos. Somos seres finitos e limitados enquanto humanos. E inconformados com isso, acreditamos ter infinitas habilidades e capacidades. Nos cobramos o imposs�vel. E nos frustramos.
Entre o n�mero um e o dois existem infinitas casas decimais, centesimais, trilh�es de d�gitos. A n�o ser que estejamos fazendo c�lculos matem�ticos, n�o nos ocupamos com isso. Na pr�tica, h� um in�cio e um fim entre um n�mero e outro. Quando estamos nos preparando para uma prova, poderemos sempre estudar mais, haver� sempre muito o que aprender at� quando conseguimos tirar nota m�xima. Mas escolhemos decidir quando parar. Para tudo h� um limite, por mais infinitas sejam as possibilidades que os medeiam. Por que ent�o n�o reconhecer que sim, fizemos o que nos foi poss�vel e que n�o nos cabe o imposs�vel, como estender a vida f�sica al�m da morte? Por que insistimos em focar naquilo que poder�amos ter feito e n�o no que fizemos?