
Algumas pessoas da minha gera��o, nascidas por volta dos anos 1960, ainda fazem uso de termos como dentifr�cio, chofer e fecho-�clair. N�o que seja errado us�-los. S�o ultrapassados, por mais sofisticados que possam parecer. A mim assim parecem, refinados e antiquados. Tem uma sonoridade bem mais elegante que pasta de dente, motorista e z�per.
Sempre que nos colocamos a lembrar de coisas que marcaram positivamente fases passadas de nossas vidas, sentimos o quanto a nostalgia tem de bom e ao mesmo tempo nos situa entre aqueles cuja juventude cronol�gica h� muito se foi.
Hoje calcei um t�nis All Star de solado grosso, nada semelhante ao modelo mais tradicional da marca Converse, o que fez com que amigos relembrassem hist�rias de nossa adolesc�ncia. O que representava ter um All Star? Pra mim nada al�m do fato de que quem usava um tinha dinheiro suficiente para comprar aquele tipo de cal�ado ou conhecia quem pudesse lhe dar um de presente.
Eu gostava mesmo era do velho Conga azul-marinho, talvez por que logo cedo aprendi a curtir aquilo que estava ao meu alcance. Era minimamente confort�vel, me permitia correr e pular, coisas que fa�o desde que aprendi a andar, ou melhor, a me virar.
Adorava sair da loja cal�ada com o sapato novo, carregando o velho dentro da caixa. E a caixa nunca ficava para tr�s, fazia parte da compra. Servia para nos lembrar que um dia tudo fora novo. A sensa��o era um misto de alegria e aperto, visto que seria preciso muitos passos at� amaciar seja o couro ou a lona. Ainda assim um sapato novo, coisa pouco frequente, era como se eu tivesse dando um passo � frente na vida.
Entre meus amigos, o All Star era moeda de troca por algo de igual valor ou de raro desejo. Entre meus cal�ados, isso era imposs�vel. Eles chegavam a furar e muitas vezes valia a pena trocar o solado, mesmo n�o sendo esse o meu desejo. E olha que at� hoje me flagro no balc�o do sapateiro imaginando como vai ficar aquele par que l� deixei.