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Estado de Minas COLUNA

Tr�s Lis da China Moderna

Na pol�tica de controle partid�rio � comum o brilhantismo intelectual de uns entrar em contradi��o com o reconhecimento do seu valor pessoal


04/06/2023 04:00 - atualizado 04/06/2023 08:56
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 Li Qiang
Li Qiang que exerce o poder de segundo poderoso da China, � o mesmo que fracassou na gest�o por confinamento da popula��o para o combate � COVID-19 em Xangai (foto: Florence Lo/Pool/AFP - 15/5/23 )

O novo primeiro-ministro chin�s Li Qiang substituiu, no segundo cargo mais importante do pa�s, a Li Keqiang, aluno de doutorado e seguidor do mago das reformas chinesas, o economista Li Yining, falecido em fevereiro passado, aos 92 anos, em Pequim.

Dos tr�s Lis, certamente o falecido professor da Universidade de Pequim � o mais completamente brilhante. N�o somente por ter fornecido as bases te�ricas e pr�ticas para a China chegar onde chegou, como porque sentiu na pele o efeito de tal sucesso. Na pol�tica de controle partid�rio � comum o brilhantismo intelectual de uns entrar em contradi��o com o reconhecimento do seu valor pessoal, levando ao ocaso os educados em pensamento livre e desarmante. O maior pr�mio que recebeu na vida foi do Jap�o, Pr�mio de Cultura Asi�tica, em Fukuoka. No entanto, quando a China passou a crescer para valer nos anos 1990, o presidente Yang Shangkun lhe concedeu o pr�mio de Inova��o em Teoria Econ�mica.

Li Yining foi perseguido por suas ideias de abertura econ�mica e banido para fazer trabalhos manuais rurais. Reabilitado – adjetivo que as autoridades usam para pedir desculpa sem precisar mudar o comportamento autorit�rio – se tornou o principal proponente das reformas de Deng Xiaoping. Defendeu a privatiza��o de estatais, estimulou a abertura da Bolsa de Valores e proclamou que sem mudar a mentalidade estatista � imposs�vel pensar em prosperidade nacional, familiar e pessoal. Segundo ele, � a competi��o que cria a responsabilidade individual por lucros e perdas econ�micas e � a for�a motriz para o desenvolvimento da na��o. Acusado de polui��o espiritual por uns, era festejado como o Sr Mercado de A��es por outros.

J� o atual primeiro ministro � conhecido pela origem modesta, carreira de oper�rio e por ter sido o secret�rio-geral do Partido Comunista de Xangai. Hoje, o Li Qiang que exerce o poder de segundo poderoso da China, � o mesmo que fracassou na gest�o por confinamento da popula��o para o combate � COVID-19 em Xangai, cidade mais populosa e maior centro econ�mico do pa�s.

N�o importa, em pol�tica ningu�m est� clinicamente morto. � ele quem controla as r�deas da pol�tica econ�mica da segunda maior economia do planeta e o faz na dire��o contr�ria de seu antecessor e em confronto com as ideias do professor Li Yianing. Recentemente tentou mudar sua imagem ao receber empres�rios e investidores estrangeiros para tranquiliz�-los de que � s�lido o crescimento de longo prazo do pa�s e os fundamentos da economia do governo Xi Jiping. O dado concreto � que, para o dono do dinheiro, a queda em crescimento, investimento, exporta��es � mais preocupante do que a ret�rica de Xi querendo deteriorar as rela��es com o Ocidente.

Quando Li Keqiang veio a Am�rica do Sul e ao Brasil, em 2015, o que se ouvia em Pequim era que a regi�o era como um quintal dos Estados Unidos. A China deveria procurar sacramentar bons neg�cios, mas n�o deveria perder de vista a necessidade de por alguma lenha na fogueira para aquecer, com o calor dos outros, os jogos estrat�gicos entre as duas pot�ncias do mundo.

Enquanto isso, os EUA, que privadamente fazem indescrit�vel fortuna na China, v�o, como Estado, � periferia chinesa com uma agenda cada vez mais militarista. Nessa linha, o Pent�gono n�o ajuda muito amea�ando tamb�m a soberania de Taiwan.

A pol�tica americana de conten��o militar da China esbarra na rea��o chinesa de acariciar o lado econ�mico do ocidente pobre. Mestre-sala da agenda de apaziguamento econ�mico, ao estilo chin�s, n�o h� mais o elegante Lieqiang, que � casado com uma professora e tradutora de literatura inglesa – tendo ele mesmo na juventude participado da tradu��o de uma obra do jurista ingl�s Lord Denning. Nem h� seu vision�rio professor Li Yining, homens brilhantes que carregavam com maestria o pend�o da constru��o do tal Socialismo com Caracter�sticas Chinesas, trazido � luz por Deng Xiaoping e continuado por Jiang Zemin e Hu Jintao.

H� 10 anos, sentado na sala Hong Kong do Grande Sal�o do Povo, Li disse ao “Financial Times” que a China n�o busca alterar o atual sistema internacional. Afinal, desde que passou a fazer parte dele, ao substituir  Taiwan no Conselho de Seguran�a da ONU, o pa�s tem sido o maior benefici�rio das regras do jogo que domina com sabedoria. Se Xi Jinping quiser ter sucesso h� muito que aprender com l�deres chineses que souberam escrever com brilho os termos extremamente favor�veis das rela��es com os EUA. E prestar honras a Li Yining, pioneiro das reformas e da abertura da China. 

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