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Estado de Minas PUALO RABELLO DE CASTRO

Esc�ndalo: de trabalhadores a assistidos

O acr�scimo de assistidos se igualou � adi��o de postos formais e informais de trabalho. Viramos uma enorme f�brica de produ��o de assistidos


03/12/2022 04:00 - atualizado 03/12/2022 06:50

Fila de beneficiários do Auxílio Brasil
Fila de benefici�rios do Aux�lio Brasil: assist�ncia social explodiu em 10 anos, enquanto oportunidades de trabalho se estancavam (foto: Ed�sio Ferreira/EM/D.A Press - 9/8/22 )


Qual o principal desafio do terceiro mandato de Lula? Numa palavra, ser capaz de superar seu pr�prio discurso, ou seja, ultrapassar a narrativa de combate � fome e � pobreza que o levou de novo ao poder. Explico. Num per�odo de 10 anos – a �ltima d�cada, medida entre 2013 e o fim deste 2022 – o Brasil apresenta as seguintes condi��es de desempenho: a popula��o brasileira veio de 198,5 milh�es para 214,5 milh�es de habitantes no per�odo, numa varia��o de 8% (mais 16 milh�es de indiv�duos); enquanto isso, a parcela ocupada dessa popula��o variou de 90 milh�es a 99 milh�es de trabalhadores (mais 10% ou 9 milh�es de novos postos de trabalho).

Por�m, dentro da parcela ocupada, o crescimento do trabalho se deu sem a qualidade esperada, j� que o IBGE reporta, no per�odo de 10 anos, varia��o m�nima no total nacional de empregos gerados no setor privado com carteira assinada. Em n�meros: de 2013 a 2022, esses empregos est�veis e produtivos ficaram estancados na marca de 36 milh�es, tendo crescido meros 600 mil postos novos. A expans�o do emprego foi, grosseiramente, no setor do “se vira, pessoal”,  por conta pr�pria, informais e microempres�rios.

Agora vem o lado escandaloso da realidade: enquanto estancavam as oportunidades de trabalho de qualidade no n�vel de 36 milh�es de vagas em 10 longos anos, explodia a assist�ncia social via benef�cios diversos. Apenas na soma do Benef�cio de Presta��o Continuada (BPC) e Aux�lio Brasil (antes Bolsa-Fam�lia), o salto no per�odo foi de 9 milh�es, passando de 18 milh�es de assistidos (n�meros redondos, sem computar familiares) para 27 milh�es, ou seja, um acr�scimo de cobertura da ordem de 50%! O acr�scimo de assistidos (9 milh�es na d�cada) se igualou � adi��o de postos formais e informais de trabalho. Viramos uma enorme f�brica de produ��o de assistidos.

Pelo prisma social, a ajuda se fez necess�ria e ainda se faz hoje. Mas sob a �tica de avan�o da sociedade, seja medido por PIB ou por empregos, a d�cada foi um desastre completo. � escandaloso constatar sermos um pa�s que desenha pol�ticas para assistir a quem n�o consegue empregar nem hoje, nem amanh� nem nunca. Trata-se de um pa�s de assistidos, que se habituam a pensar e agir como tal. Socialmente, � uma trag�dia pol�tica anunciada pela alta dose de uma cultura de depend�ncia e conformismo que h� muito vem se incorporando ao tecido populacional brasileiro.

N�o quer dizer que a vontade de trabalhar, ter emprego est�vel e poupar para o futuro n�o seja a mola que anima o adulto brasileiro a sair da cama todos os dias. Mas a esperan�a j� emigrou daqui. Num exerc�cio de imagina��o, caso os EUA e Portugal – por mera fantasia – resolvessem lan�ar um programa de imigra��o para brasileiros entre 18 e 45 anos, com autoriza��o de trabalho e seis meses de adapta��o e treinamento, quantos nessa faixa et�ria realisticamente sobrariam no Brasil por preferir lan�ar sua sorte aqui, e n�o l�? Talvez uns 20% desses adultos, se tanto.

Essa situa��o escandalosa est� obviamente ancorada em esc�ndalos associados para os quais as for�as de todo o espectro pol�tico brasileiro v�m concorrendo, sem exce��o: o soterramento da competitividade industrial brasileira, a crescente extra��o financeira e tribut�ria num dos pa�ses mais perdul�rios do planeta, que suga as poupan�as populares para o buraco negro dos gastos p�blicos est�reis, a debacle dos investimentos em infraestrutura e inova��o e, por �bvio, a mais descarada e incur�vel corrup��o e impunidade.

O desafio do presidente eleito �, portanto, o de superar seu pr�prio discurso de vencer a pobreza com os mesmos instrumentos de perpetua��o da exclus�o de emprego e do estancamento produtivo. Por suposto, nenhum economista na equipe de transi��o discordaria de que o objetivo final n�o � ampliar sem limites o guarda-chuva dos assistidos, mas, sim, o de retomar a cria��o de empregos produtivos. S� que quase nenhuma palavra foi dita sobre essa meta final. Ficamos sempre nos entretantos. O eleito ainda � o presidente do combate � fome. O pa�s dos trabalhadores ainda n�o reencontrou seu rumo nem reconhece quem o levar� a resgatar a esperan�a no Brasil do Trabalho.

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