
Virou esporte nacional chamar lun�ticos os bolsonaristas plantados nas portas dos quart�is, sob sol e chuva, � espera do disco voador da interven��o militar que vir� evitar a posse de Lula.
Da parte da maioria que votou no pr�prio e mesmo de grande parcela do outro lado do espectro ideol�gico, que n�o v� consequ�ncia em ficar berrando para carros e militares surdos chav�es dos anos 60 a respeito de p�tria, fam�lia e propriedade.
Pode-se dizer que formam uma grande maioria que os isola num feudo de insanidade, como se proclamassem que o resto da sociedade longe dos quart�is — n�s, os modernos, limpinhos e s�os — � a normalidade.
Mas andam esquecendo, andamos, os lun�ticos em s�rie espalhados pelo pa�s, das mais baixas �s mais altas escalas de poder, para os quais n�o se d� o devido cr�dito e aten��o. A saber:
1. Tem um enorme grupo de lun�ticos no partido que elegeu o novo presidente da Rep�blica achando que ganhou a elei��o sem apoio da centro-direita diante da qual se ajoelhou na campanha, e agora quer governar como se a outra parte n�o existisse. Revertem a grande m�xima que compara a tomada do poder a tocar violino: toma-se com a esquerda e toca-se com a direita. Tomaram com a direita e v�o tocar com a esquerda.
2. Outra grande parte de lun�ticos do mesmo grupo quer escantear dos minist�rios, n�o s� nomes da direita, mas os de t�cnicos de alto n�vel, para atender � sua esquizofrenia partid�ria. Se n�o for nome do PT, n�o serve.
3. Outra grande parte, igualmente lun�tica, acha que o mercado financeiro � culpado pelo seu presidente querer gastar sem saber o que vai arrecadar. Como seus colegas das portas dos quart�is, parecem acreditar num disco voador que despeja dinheiro independente dos esfor�os para produzi-lo.
4. Como seu presidente, que volta e meia revela suas tend�ncias lun�ticas, o grupo como um todo acha que criar minist�rio resolve tudo e, quanto mais tiver, melhor. Vai ter um para �ndio, popula��o menor que a de dentistas ou jornalistas, que n�o ganhar�o minist�rio. O pa�s que j� teve 14 no governo Collor, como pa�ses civilizados e racionais, chegou a mais de 40 com Lula e Dilma. Caiu para pouco mais de 20 nos governos Temer e Bolsonaro, mas voltar� a beirar os 40 com o novo capit�o do lunatismo.
5. Fora do �mbito do Executivo, tem uma multid�o de lun�ticos do outro lado da Pra�a dos Tr�s Poderes, debaixo das duas c�pulas do Congresso que serviriam bem a telhado de hosp�cio. Em grande parte, eles acham sinceramente que quem administra o or�amento p�blico s�o eles e nem quem foi eleito para gerir o pa�s com base numa proposta de receitas e despesas. E cobram alto para mudar de ideia, como quem reza para as For�as Armadas.
6. Ainda na mesma pra�a, tem outro grupo de lun�ticos, vestidos de toga preta � falta de uma indument�ria mais apropriada �s suas alucina��es, que acha perfeitamente natural confraternizar com um ex-condenado por eles, de quem deveriam manter segura dist�ncia. Numa festa de advogados igualmente lun�ticos que j� presentearam esse ex-condenado com uma beca, s�mbolo da justi�a, quatro deles brindaram a um novo tempo de insanidade.
7. Fora a grande parte acantonada nas reda��es da imprensa tradicional que, � espera do disco voador da racionalidade, faz vista grossa para o que essa turma da capa preta vem cometendo para colocar na camisa de for�a de multas e pris�es pessoas e parlamentares. Como se fossem os m�dicos do hosp�cio, que sabem muito bem fazer conchavos, insanos, para escolher quem calam e proteger quem ajudaram a eleger.
O principal capa preta desses me lembra Sim�o Bacamarte, de O Alienista, de Machado de Assis, o m�dico que foi recolhendo todo mundo da pequena Itagua� que decretava como louco.
At� pelo menos o final do livro, quando enfim chega � conclus�o de que o louco � ele, tinha amplo apoio de uma sociedade totalmente lunatizada.
Que � mais ou menos o est�gio em que estamos. Escolhemos um grupo para chamar de lun�ticos, na ilus�o, um tanto fan�tica, de que somos — e apoiamos — os certinhos. Isolamos um grupo de degenerados para nos iludir com a ideia de que pertencemos � parte s�.
Mas tamb�m estamos esperando um disco voador.