
Lan�ado recentemente pela Editora Saber Criativo, “Barthes, Loyola e outros textos” � um belo encontro nas letras realizado pelos autores. Uma carta sempre alcan�a seu destino e sem que suspeitasse j� a tinha em m�os: que livro!
Carlos Rafael Pinto � escritor, professor e pesquisador da obra de Maria Carolina de Jesus, doutorando na Faculdade Jesu�ta de Filosofia e Teologia (FAJE-BH). Jonas Samudio dedica-se � m�stica, ao feminino, � poesia, tecidas no corpo e na escrita. P�s- doutorando sobre literaturas e os femininos na UFMG (CNPq-PDJ).
O renomado fil�sofo e te�logo Dr. Pe. Geraldo De Mori na apresenta��o ressalta a singularidade do encontro Barthes e Loyola e comenta que o interesse em republicar Barthes reside em seu pouco conhecido interesse no campo da espiritualidade inaciana. Uma interdisciplinaridade fecunda e m�tua fazendo emergir novas formas de captar, entender e ler um mundo mais compreens�vel.
Em 1971, Barthes publica o �mpar “Sade, Fourier, Loyola”, no qual prop�e o neologismo logotetas: fundadores de linguagem. No estudo de cada um, ele disp�e-se a circular as opera��es de isolar, articular, ordenar e teatralizar indicando que os tr�s produzem continuamente regras de jun��o, com ind�cios de uma estrutura que sustentar� um lugar de leitura na qual o que l� testemunha um acontecimento de linguagem, seu gozo, sua escrita e seu corpo.
Corpo objeto de ler o prazer do texto. Tamb�m se aponta outra cria��o de Barthes: os biografemas. Diferentemente de uma biografia, os biografemas dizem de uma outra forma de considerar aproxima��es e distanciamentos entre vida e escrita, entre a vida que se escreve e o que se l�. De um corpo de gozo feito unicamente de rela��es er�ticas porque nele h� o prazer em peda�os, a l�ngua em peda�os, a cultura em peda�os.
Corpo como espa�o er�tico, corpo escrito segundo “a ordem da escritura, espa�o de dispers�o do desejo, onde a dispensa � dada � Lei”. Corpo escrito no espa�o da disjun��o do desejo em fric��o constante, contato amoroso com os pormenores de outro corpo leitor. “Letras, pormenores de uma vida esburacada, vagantes pelo espa�o do desejo em busca de outro corpo, pulverizados de um sujeito disperso.” Muito escreveu quando internado no sanat�rio por causa da tuberculose. Assim tamb�m se deu com In�cio.
Sua aldeia � Loyola. 1553 inicia sua narra��o fraturada em tr�s. Um guerreiro mundano que ap�s quebrar a perna e sofrer tr�s cirurgias, acamado, encontra a seu alcance apenas leituras sacras e tem seu encontro com as coisas de Deus. Seus “Exerc�cios espirituais”, s�o quatro e tratam de perguntas mais que respostas.
Em sua escrita, l�grimas encharcam as p�ginas percorridas, s�o fluidos materiais de um corpo, significantes l�quidos do amor, como as lufadas, que embebem um corpo apaixonado. Inclusive apagaram palavras. Muitas das ideias dos dois se gestaram na enfermidade.
O livro traz tamb�m a tradu��o, por Samudio, de um poema do fil�sofo da Idade M�dia, conhecido pelos serm�es eloquentes e improvisados, Mestre Eckhart, seguido de notas do tradutor sobre a tradu��o pobre: trata-se de pensamento insond�vel da escrita e do pensamento! Mestre Eckhart nos lan�a ao deserto, ao gr�o de areia.
Do belo posf�cio de L�cia Castello Branco, arrisco algum rabisco: texto ardente, dois a dois, os autores Barthes e Loyola e os leitores Jonas e Rafael. Destes, o biografema: leitores-companheiros que leem com seus corpos juntos e separados, deixando-se tocar por Barthes e In�cio, juntos e separados.
Uma parte � do ar partilhada pelo que l� e que dir� da dificuldade de respirar atingidos por lufadas da escritura, por p�ginas banhadas de l�grimas, que apagam letras, fazendo a p�gina retornar � abund�ncia do branco. Encerra-se ali caudaloso manancial de letras ardentes pelo deserto da escrita.