
Na semana passada acompanhamos, com perplexidade, a disposi��o de nossos irm�os argentinos de repetir uma experi�ncia pol�tica que deu errado invariavelmente nas in�meras vezes em que foi tentada. No come�o do s�culo 20, a Argentina era um dos cinco pa�ses mais ricos do mundo, em termos de renda por habitante.
A partir de um certo momento, a pol�tica e os governos empenharam-se em desconstruir a economia e as atividades produtivas, a tal ponto que o pa�s conseguiu se tornar pobre, numa trajet�ria inversa � de quase todos os pa�ses do mundo. Tudo por obra obstinada e persistente de seu povo e de seus l�deres.
A partir de um certo momento, a pol�tica e os governos empenharam-se em desconstruir a economia e as atividades produtivas, a tal ponto que o pa�s conseguiu se tornar pobre, numa trajet�ria inversa � de quase todos os pa�ses do mundo. Tudo por obra obstinada e persistente de seu povo e de seus l�deres.
O momento culminante da trag�dia argentina ocorreu a partir de 1946 no primeiro mandato de Peron, um militar populista e carism�tico, reeleito em 1952, deposto por um golpe militar em 1955 e novamente eleito em 1973, de volta de um ex�lio dourado na Europa.
A morte interrompeu seu governo um ano depois, quando assumiu o poder a vice-presidente Izabelita Peron, uma ex- dan�arina de teatro e esposa do caudilho. Depois de muitas crises foi deposta dois anos mais tarde, para dar lugar a uma das mais cru�is ditaduras de nosso continente. Ao longo de todas essas vicissitudes formou-se no pa�s um movimento popular, o peronismo, que assombra o tempo todo a pol�tica argentina.
A morte interrompeu seu governo um ano depois, quando assumiu o poder a vice-presidente Izabelita Peron, uma ex- dan�arina de teatro e esposa do caudilho. Depois de muitas crises foi deposta dois anos mais tarde, para dar lugar a uma das mais cru�is ditaduras de nosso continente. Ao longo de todas essas vicissitudes formou-se no pa�s um movimento popular, o peronismo, que assombra o tempo todo a pol�tica argentina.
''O peronismo � um populismo de direita, com alguns disfarces de esquerda, fortemente demag�gico, cuja �nica meta � o controle do poder a qualquer custo''
Roberto Brant
O peronismo � um populismo de direita, com alguns disfarces de esquerda, fortemente demag�gico, cuja �nica meta � o controle do poder a qualquer custo e sem qualquer considera��o com as leis da economia, promovendo surtos muito curtos de crescimento e em seguida infla��o alta, d�ficit p�blico e estagna��o. � a perfeita receita para a pobreza e a destrui��o do patrim�nio econ�mico do pa�s.
O governo Macri, que parece vai perder as elei��es para os peronistas de raiz, liderados por Cristina Kirchner, ex-presidente e tamb�m vi�va de outro ex-presidente, nesta curiosa Rep�blica heredit�ria – ou conjugal – tentou reconstruir as ru�nas da economia, pondo um pouco de l�gica e de raz�o na a��o do governo.
Os tempos da pol�tica e da economia, no entanto, n�o s�o simult�neos. Recuperar a economia argentina destro�ada por pol�ticas demag�gicas, cujo principal prop�sito foi sempre manter a lealdade da massa de eleitores, demanda tempo e os resultados demoram a aparecer. Os argentinos, que j� vem se empobrecendo h� d�cadas, n�o t�m paci�ncia para esperar, nem para encarar como adultos as durezas da realidade.
O caso argentino nos prop�e duas quest�es. Espero ser bem compreendido, mas, depois de ler muito sobre v�rias experi�ncias e de refletir mais ainda sobre a nossa pr�pria hist�ria, estou chegando � conclus�o de que a democracia � o melhor dos regimes poss�veis, prefer�vel a qualquer outro em qualquer circunst�ncia, mas elei��es democr�ticas, por si mesmas, n�o produzem automaticamente governos respons�veis e capazes.
A escolha de um bom governante requer um conhecimento t�cnico m�nimo das pol�ticas p�blicas e uma compreens�o das complexas decis�es que um governo deve fazer. Ambos est�o longe do alcance dos homens reais. As pessoas votam n�o com base em raz�es l�gicas e informa��es relevantes, mas de acordo com rea��es instintivas e lealdades pol�ticas adquiridas ainda no come�o da vida. Os tempos e as necessidades mudam, mas em geral o ju�zo pol�tico das pessoas pouco se altera.
A outra quest�o � que o desenvolvimento econ�mico seguramente depende muito menos dos recursos de um pa�s do que das cren�as e comportamentos sociais determinados pela cultura. E a cultura n�o se fabrica sob demanda. � uma heran�a que se acumula lentamente ao longo da hist�ria. H� culturas para o progresso e a riqueza, e h� culturas para a in�rcia, a pobreza e o ressentimento.
Olhando para o espelho argentino vejo tra�os da nossa pr�pria imagem e chego � conclus�o: o governo e o Estado precisam de institui��es que os blindem contra governantes escolhidos numa loteria t�o fr�vola e inconsequente como s�o as elei��es majorit�rias. E ao final, eu me pergunto : qual das duas culturas � a verdadeira cultura brasileira?