
As manifesta��es do dia 7 de setembro foram impressionantes em termos de espontaneidade e mobiliza��o. N�o me lembro de ter visto antes tanta gente na Esplanada em Bras�lia. Em S�o Paulo, na Avenida Paulista, a quantidade de gente reunida foi t�o grande quanto a dos maiores eventos pol�ticos j� realizados. No Rio de Janeiro foi a mesma coisa. Podemos discutir indefinidamente se os eventos foram apropriados para a data, mas o fato pol�tico, que n�o se pode questionar honestamente, � que Bolsonaro � capaz de mobilizar mais gente do que qualquer outro pol�tico brasileiro neste momento atual.
As nossas elei��es, para dizer a verdade, foram sempre um pouco frias em termos de participa��o popular. Nunca testemunhei grandes concentra��es espont�neas ou com�cios que chamassem a aten��o. Na verdade, nunca conhecemos elei��es duramente polarizadas em que vencer era uma quest�o existencial, a ponto de cada eleitor se tornar um ativista ou um militante.
Os atos de 7 de setembro revelam a emerg�ncia de um s�lido movimento conservador, organizado e militante, de abrang�ncia nacional, que se apoia na figura de Bolsonaro, mas n�o se resume a ele e certamente poder� sobreviver a ele. O que isto tem de import�ncia para o futuro do pa�s � que este movimento n�o pode ser simplesmente derrotado porque ele reflete realidades humanas e sociais que n�o se apagam com uma derrota, ou com uma vit�ria eleitoral. A pluralidade democr�tica determina que este movimento, suas aspira��es e interesses, sejam assimilados e reconhecidos nas pol�ticas de Estado e de governo, sob pena de nos tornarmos uma sociedade dividida e um pa�s paralisado.
Em contraposi��o � emerg�ncia conservadora, � dif�cil n�o admitir que as chamadas for�as progressistas perderam muito de sua for�a e do apelo que tiveram no passado. O pr�prio PT � hoje muito menor do que o Lula. A levar em conta as pesquisas de opini�o, o PT est� encolhendo em todo o pa�s e est� presente nas elei��es para governador em pouqu�ssimos estados, na maioria deles relegado a segundo plano.
At� onde se pode ver, a candidatura favorita de Lula, apesar da vantagem clara nas pesquisas, n�o tem grande poder de mobiliza��o popular, parecendo encarnar hoje uma esp�cie de maioria silenciosa, exatamente o contr�rio do que sempre foi. Em grande medida, ele � o �nico recurso para derrotar o Bolsonaro, um instrumento de defesa, n�o um projeto de futuro.
Se este quadro � verdadeiro, o que temos pela frente � um grande desafio. Est� ficando claro que o sistema partid�rio ruiu inteiramente e j� n�o realiza minimamente a media��o pol�tica entre a sociedade e o Estado. Um sistema pol�tico numa sociedade complexa e cheia de car�ncias n�o pode se apoiar apenas em personalidades que, por natureza, s�o ef�meras. Os movimentos, por sua vez, n�o s�o substitutos perfeitos dos partidos pol�ticos, porque carecem da organiza��o e da estrutura que s�o necess�rias para a a��o pol�tica permanente. E as maiorias silenciosas n�o tem estrutura ou comando para assegurar seu protagonismo.
Continuo convencido de que estamos diante de duas escolhas insatisfat�rias. Nenhuma delas re�ne as condi��es para liderar nosso pa�s para a mudan�a e o progresso. A pol�tica est� dividida hoje em lados que n�o se reconhecem e que, portanto, n�o podem cooperar entre si.
Nada disto, no entanto, � destino. A hist�ria � contingente e tudo pode mudar. Este � o Brasil que temos. Antes de mud�-lo, precisamos reconhec�-lo e aceit�-lo como ele �. Este sempre ser� o primeiro passo se quisermos transform�-lo.