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Estado de Minas ROBERTO BRANT

Esquecer o que nos separa: a pol�tica � o contr�rio da barb�rie

'As �ltimas elei��es no Brasil, entre muitas outras coisas, mostraram que entre n�s a pol�tica deixou de funcionar como instrumento civilizat�rio'


07/11/2022 04:00 - atualizado 07/11/2022 07:56

Uma urna eletrônica exibe a palavra 'fim', durante o segundo turno das eleições presidenciais em uma assembleia de voto em Brasília, em 30 de outubro de 2022
'Os fi�is da antipol�tica no fundo sonham com a viol�ncia e a lei do mais forte' (foto: Evaristo S�/AFP)

Uma das muitas defini��es de pol�tica, mas certamente a mais contundente, � que ela � o contr�rio da barb�rie. O processo civilizat�rio ao longo de muitos s�culos foi criando mecanismos pelos quais os conflitos individuais e coletivos passaram a ser resolvidos n�o pela for�a ou pela viol�ncia, mas por meio de regras previamente estabelecidas e por autoridades reconhecidas pela maioria. As lutas deixaram o campo aberto e foram levadas para as vias impessoais das institui��es. Isto � a pol�tica.

Nos est�gios mais altos da civiliza��o, a pol�tica, no seu escopo de mobilizar as sociedades para o objetivo de elevar a prosperidade e reduzir as desigualdades, age para evitar que os conflitos se tornem abertos e tomem corpo para pressionar as institui��es com demandas que s�o dif�ceis de lidar, tais as que dizem respeito � cultura ou religi�o.

Nestas sociedades, as leis que definem a ordem pol�tica procuram dificultar, por meio das regras de organiza��o dos partidos, das normas eleitorais e da regula��o do exerc�cio do poder, que as ideias e movimentos desestabilizadores ganhem for�a necess�ria para p�r todo o sistema em cheque. � a democracia defendendo a democracia. Os fi�is da antipol�tica no fundo sonham com a viol�ncia e a lei do mais forte.

As �ltimas elei��es no Brasil, entre muitas outras coisas, mostraram que entre n�s a pol�tica deixou de funcionar como instrumento civilizat�rio. Nunca desde a redemocratiza��o, nem mesmo no per�odo entre 1946 e 1964, a competi��o pol�tica foi t�o polarizada nem tornou expostas divis�es t�o irreconcili�veis na sociedade brasileira. E polariza��o e divis�o a respeito de uma pauta completamente artificial, criada e sustentada para servir exclusivamente a interesses eleitorais e desviar a aten��o de todos para nossos problemas substantivos.

A pobreza do debate pol�tico e a aus�ncia de qualquer discuss�o relevante e s�ria sobre nossa falta de crescimento, que se arrasta por 40 anos, a imensa pobreza da maioria da popula��o, a aus�ncia de perspectiva de quase toda a juventude do pa�s, tudo isto passou longe dos programas, dos discursos e dos debates. A circula��o de mentiras por todos os lados, obrigando a Justi�a Eleitoral a monitorar o esgoto a c�u aberto em que se transformaram as redes sociais e a internet, o �dio e o estranhamento entre os amigos e as fam�lias, tudo isto aponta para uma sociedade perdida.

"O resultado apertado, a composi��o do Congresso e os sinais de mobiliza��o permanente de grupos antidemocr�ticos que at� agora n�o haviam demonstrado um m�nimo de for�a, apontam para um governo dif�cil para o presidente Lula"



Vivi muito tempo e participei de muitas elei��es. Perdi quase todas, a ponto de me acostumar com as derrotas. Mas desta vez meu sentimento de perda ultrapassou tudo o que eu j� senti, porque, do meu ponto de vista, qualquer que fosse o resultado das urnas toda a popula��o do pa�s j� estava derrotada.

O resultado apertado, a composi��o do Congresso e os sinais de mobiliza��o permanente de grupos antidemocr�ticos que at� agora n�o haviam demonstrado um m�nimo de for�a, apontam para um governo dif�cil para o presidente Lula. Ele tem dois desafios gigantescos. O primeiro ser� criar as condi��es para que o pa�s volte a crescer. Para isto ter� que vencer o conservadorismo fiscal dos mercados e da m�dia, que colocam a estabilidade acima do crescimento, indiferentes � pobreza de 90% da popula��o. Mas ter� tamb�m de vencer a cartilha econ�mica dos anos 1950 que faz parte da alma do seu partido.

Al�m de uma gest�o econ�mica audaciosa, embora respons�vel, ter� que liderar  reformas que, come�ando com o fim definitivo da reelei��o, deem lugar a um sistema pol�tico mais verdadeiro e representativo, onde haja lugar tamb�m para os bons cidad�os, e n�o apenas para os aventureiros, os mercadores da boa f� dos humildes e os agentes de neg�cios.

Ficou  claro que nenhum grupo pol�tico tem  maioria. Grande parte dos eleitores n�o votou a favor, mas sim contra. O que pode reunir a todos seria o crescimento e a luta contra a pobreza e a desigualdade. Toda a pauta de costumes, sejam as reacion�rias ou as de vanguarda, tem que ficar longe do governo e da pol�tica.

Para o bem de todos � preciso p�r enfim uma pedra sobre tudo o que nos separa.

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