(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas RESIST�NCIA

Escolher o feminismo � escolher amar

Amar � uma a��o importante dentro da estrutura de poder e reverter o que reconhecemos como tal � uma forma de transforma��o social


07/09/2021 06:00

None
(foto: Freepik)

 
“Se mulheres e homens querem conhecer o amor, precisamos aspirar ao feminismo”. Essa � a frase de abertura do cap�tulo “Amar novamente: o cora��o do feminismo”, da bell hooks e me marcou muito desde a primeira vez que li. N�o � raro que nossas primeiras associa��es ao feminismo, enquanto movimento e ideia, sejam por algum tipo de desilus�o, dentre elas a amorosa. 

A decep��o recorrente com relacionamentos que se revelaram opressores, tristes e violentos de diversas formas, levou parte de n�s, mulheres, a uma insurg�ncia tempor�ria contra uma certa ideia de amor. Nossa aprendizagem sobre esse sentimento sempre se pautou pelo ideal do amor rom�ntico, que reproduz em larga escala os valores patriarcais, para homens e mulheres. 
 

'O sentimento de domina��o aparecia fortemente dentro de casa, no refor�o dos papeis de g�nero esperados, cabendo a toda e qualquer mulher a esfera do cuidado em detrimento de um lugar de sustento e chefia, irrevogavelmente destinado ao macho.'

 
 
A amargura e a raiva, sentimentos t�o associados ao feminismo ainda hoje, apareciam nos resqu�cios de uni�es cru�is, que em nada se pareciam com os lugares livres e felizes que nos prometiam, naquele imagin�rio de romance e paix�o dentro do qual fomos lan�adas desde muito cedo. E n�o era algo gratuito, um defeito de mulheres insatisfeitas e pouco femininas; era algo real, doloroso e propulsor de v�rias lutas.
 
O sentimento de domina��o aparecia fortemente dentro de casa, no refor�o dos papeis de g�nero esperados, cabendo a toda e qualquer mulher a esfera do cuidado em detrimento de um lugar de sustento e chefia, irrevogavelmente destinado ao macho. O desequil�brio desses papeis achava seu equivalente direto no relacionamento rom�ntico: tem sempre algu�m que d� amor e sempre algu�m que recebe. Quem � quem, acho que j� conseguimos supor. 

Mas � preciso complexificar essa cr�tica, como nos alerta hooks: “em vez de especificamente desafiar os equivocados pressupostos patriarcais de amor, ela apenas apresentou o amor como um problema”. E assim corremos o risco de realizar uma troca pouco efetiva e limitada em seu alcance. Amar � uma a��o importante dentro da estrutura de poder e reverter o que reconhecemos como tal � uma forma de transforma��o social. 

Sempre quando me re�no com amigas, trocamos insatisfa��es variadas sobre nossos parceiros e parceiras. V�o desde aquelas muito leves, rotineiras, at� as mais densas, que fazem com que pensemos em desistir. Mas, em geral, todas elas versam sobre uma determinada maneira de viver as rela��es, mesma aquelas bem felizes. As hierarquias de poder est�o ali, fazendo concess�es, mas est�o.
 

'Mas se n�o atravessarmos o conforto de exaltar o amor sem por�ns ou o de neg�-lo sem alternativas, n�o chegaremos a um modelo mais justo pra todo mundo. Amar novamente, permitindo-se uma um novo ato que n�o seja a repeti��o de uma chaga dolorosa e opressora, � uma pr�tica que movimenta a estrutura, que mostra que sentir � tamb�m agir, pensar e lutar.'

 
 
E a gente conhece bem pouco das alternativas poss�veis, porque todas elas imp�em uma maneira nova de pensar a realidade. Nossos privil�gios de alguma forma nos lan�am num lugar confort�vel de fazer pequenos ajustes para alcan�ar esse lugar, individual, de satisfa��o. 

Mas se n�o atravessarmos o conforto de exaltar o amor sem por�ns ou o de neg�-lo sem alternativas, n�o chegaremos a um modelo mais justo pra todo mundo. Amar novamente, permitindo-se uma um novo ato que n�o seja a repeti��o de uma chaga dolorosa e opressora, � uma pr�tica que movimenta a estrutura, que mostra que sentir � tamb�m agir, pensar e lutar. 

Escolher o feminismo � escolher amar, cito de cabe�a bell hooks. Se abrirmos m�o disso, talvez nunca mais recuperemos um caminho que nos devolva a beleza de sermos seres sens�veis. Mas n�o nos enganemos em achar que o amor � est�tico e espera indissol�vel, imut�vel, ao longo dos tempos.
 
O amor � tempestade que move, � renova��o, resist�ncia e luta di�ria. Ele nos atravessa e nos transforma, como um grito que dissolve cada instante nesse mundo que seja de submiss�o e dor. Talvez ele seja o componente de liberdade que nos falte, ainda que acreditemos ingenuamente que ele est� em todo lugar. 
 
*Silvia Michelle A. Bastos Barbosa (professora universit�ria nos cursos de Comunica��o, Artes e Educa��o)

 

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)