
O envelhecimento pode ser uma d�diva mas tamb�m pode ser um peso e tudo depende de como chegamos nas idades mais avan�adas: se estamos bem ou mal com a nossa sa�de, se estamos convivendo bem ou mal com as limita��es impostas pelo inexor�vel processo do envelhecimento, se estamos nos relacionando bem ou mal com as pessoas que nos cercam, se conseguimos ou n�o nos perdoar pelos nossos erros e desacertos e principalmente como n�s realmente nos vemos e nos sentimos quando nos deparamos conosco mesmo.
O que presencio na minha pr�tica di�ria de mais de 25 anos de atendimento de pacientes geri�tricos � o que determina se os indiv�duos ser�o mais ou menos atormentados, mais ou menos felizes, mais ou menos carrancudos ou simp�ticos � uma qualidade simples de ser expressa e dif�cil de ser vivenciada: a resili�ncia.
A resili�ncia e a capacidade do indiv�duo de gerenciar seus problemas, adaptar-se a mudan�as, superar obst�culos ou resistir � press�o de situa��es adversas. No fim das contas, � a capacidade de sabermos lidar com as dificuldades impostas pela vida. � saber olhar de uma maneira favor�vel at� quando os problemas parecem ser insol�veis.
Vejo pacientes e acompanhantes no consult�rio que vivenciam situa��es extremas, com c�njuge completamente dependente, seja por doen�as clinicas, como insufici�ncia card�aca ou doen�as pulmonares, quanto por doen�as de ordem neuropsicol�gica, como as Dem�ncias. E mesmo convivendo diuturnamente com uma carga exaustiva de trabalho e as dificuldades de relacionamento, ainda assim veem a vida como uma d�diva e n�o se queixam, mantendo-se altivos e convencidos de que seus problemas n�o tem uma dimens�o paralisante. Ao contr�rio: estes problemas funcionam como combust�vel para a manuten��o da vida.
Outros pacientes e acompanhantes, perante problemas cl�nicos, sociais ou familiares de menor monta apresentam-se completamente desmotivados, sem energia e com pena de si mesmo de estar vivenciando aquelas situa��es penosas. Essas pessoas esmorecem perante pequenas dificuldades e fazem de suas vidas um fardo a ser vivido.
Pelo anteriormente dito quero expressar que n�o � a monta do problema e da dificuldade que determina como n�s reagimos �s adversidades e sim a forma como as encaramos � que far� com que tenhamos mais ou menos sofrimento perante a mesma dor.
Creio tamb�m que a forma como os familiares e os cuidadores apresentam ao idoso os problemas do dia a dia sejam determinantes de como ele ir� reagir. � claro que em algumas situa��es isso n�o � poss�vel (n�o h� como amenizar o comunicado de que o c�njuge faleceu), por�m a forma como declaramos alguns percal�os da vida influenciar�o em muito a forma a rea��o do idoso.
Para lidar com o sofrimento perante situa��es dif�ceis e que devam ser comunicadas ao idoso, devemos nos utilizar de algumas t�cnicas. Devemos ter claro que a forma como comunicamos um problema ao idoso � quase t�o importante quando o pr�prio conte�do. Devemos tentar usar linguagem acess�vel e direta, questionando sempre se o idoso est� entendendo o conte�do, fazendo perguntas diretas com respostas de sim ou n�o a respeito deste entendimento, prestando aten��o na linguagem corporal do ouvinte, permitindo que o idoso manifeste seus medos e incertezas, principalmente a respeito de doen�as e da morte, al�m de outros temas muito dif�ceis.
Demonstre compaix�o e muita compreens�o na sua fala. Ou�a o idoso com respeito e paci�ncia, sem o interromper sem necessidade. Compreenda suas cren�as e valores culturais e o envolva na tomada de decis�es, evitando impor suas convic��es e n�o sendo preconceituoso com rela��o � independ�ncia e autonomia do idoso na tomada de decis�es e principalmente, mantenha sempre um tom positivo na sua fala.
Muitas not�cias, apesar de terem um conte�do muito complexo e dif�cil, podem ser transmitidas e comunicadas de v�rias formas. Meu conselho: seja o mais humanizado poss�vel nesta transmiss�o do conte�do que voc� precisa passar ao idoso. Creio que esta forma de se comunicar ir� muito determinar como o idoso ir� reagir.
Se comunicamos de forma catastr�fica, dificilmente o idoso ir� conseguir vislumbrar o problema com algo que tem alguma forma de solu��o. Portanto, sejamos s�bios e maduros na forma de transmitir informa��es, n�o s� os m�dicos, mas tamb�m todos os que cercam os idosos.
Acredito que a forma como uma not�cia lhes chega trilhar� a forma como eles ir�o se comportar: resilientes ou pessimistas. E acredite: estas rea��es nortear�o o grau de dor e sofrimento que algumas not�cias podem gerar.
Trate os idosos como adultos, evitando os diminutivos. Nunca ridicularize a fala dos idosos e n�o os corrija em p�blico. Se tiver de faz�-lo, fa�a em particular. Idosos s�o muito sens�veis a cr�ticas e s�o muito mais punidos por errar do que os jovens. Eis um grande contrassenso. Evite confront�-los dizendo que est�o errados. Dialogue com eles com respeito. Expresse sua opini�o e respeite as deles.
Para que problemas dif�ceis e dificuldades da vida, inclusive sociais ou de sa�de, possam ser adequadamente comunicados aos idosos, devemos ser cordiais por�m sem afeta��es ou exageros. Preste aten��o no que o idoso quer dizer, especialmente suas d�vidas e medos. Ou�a-o at� o fim e ent�o pergunte se o seu entendimento do que ele gostaria de comunicar foi adequadamente compreendido. Da mesma forma, questione se a sua informa��o foi adequadamente absorvida.
Evite conversas mais dif�ceis se voc� estiver estressado. Tente aproximar-se do idoso, segure as suas m�os, acaricie-as, toque-o sem invadir sua privacidade. Tente avaliar as emo��es geradas no idoso pela sua fale e procure que as palavras tenham o menor poder de minar a esperan�a e a autoestima do interlocutor. Seja humano na comunica��o. Ou dizendo diferente: seja muito humano ao ser portador de not�cias dif�ceis de serem comunicadas.
Para concluir e resumindo tudo o que foi anteriormente dito, dialogue com o idoso da forma como voc� gostaria que fosse voc� quem iria receber as not�cias: conhecer o conte�do, de forma real, por�m h� muitas formas de comunicar o mesmo problema. Escolhamos o menos doloroso poss�vel. Fa�amos com os outros o que gostar�amos que fosse feito conosco.
Que todos tenhamos um Natal repleto de Paz e que o ano vindouro seja menos �rduo e mais cheio de compaix�o e empatia que os anos passados. Enorme abra�o a todos.