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Estado de Minas VITALidade

O (ab)uso de medicamentos pela popula��o idosa

Quanto mais f�rmacos prescritos, maior � o incremento do risco de uso inadequado e desnecess�rio de medicamentos que podem causar mais danos que benef�cios


29/11/2021 09:08

Grande quantidade de remédios
(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

Aqui jaz um homem rico
Nesta rica sepultura
Escapava da mol�stia,
Se n�o morresse da cura.
Bocage

O processo de envelhecimento, mais acentuado no decorrer do s�culo XX, alterou progressivamente o perfil demogr�fico da nossa popula��o, j� que com menores �ndices de natalidade e mortalidade por doen�as infecciosas houve um aumento na expectativa de vida dos brasileiros, por�m, inexoravelmente, tal situa��o traz consigo a chance de que v�rias doen�as cr�nicas e degenerativas tenham tempo de se manifestar. � muito comum que os octogen�rios tenham quatro ou mais doen�as, tais como hipertens�o arterial, diabetes, dem�ncia, incontin�ncia urin�ria, d�ficits cognitivos, com comprometimento da mem�ria e outras atividades cerebrais, al�m das altera��es osteoarticulares (artrite, artrose), das doen�as pulmonares obstrutivas cr�nicas, dentre in�meras outras doen�as. Esta situa��o pode acabar obrigando que as pessoas idosas usem mais os servi�os de sa�de e que ingiram tamb�m uma maior quantidade de medicamentos.

Quanto maior o n�mero de f�rmacos prescritos e o n�mero de doen�as, maior � o incremento do risco de uso inadequado e desnecess�rio de medicamentos que, somados �s altera��es nos �rg�os do idoso, pr�prias do envelhecimento, podem causar mais danos que benef�cios. Alguns idosos usam muitos medicamentos e est�o sujeitos �s rea��es adversas destes. Mesmo medicamentos ditos como caseiros ou "ch�s", podem ocasionar preju�zo ao seu usu�rio. Como exemplo, citamos o uso de Erva de S�o Jo�o, que altera a coagulabilidade sangu�nea, podendo aumentar o risco de sangramento. Este � apenas um exemplo dos medicamentos ditos como receita da vov�. Trazem tamb�m preocupa��o os suplementos fitoter�picos e diet�ticos, como Ginseng, Ginko Biloba e Glucosamina, cujo consumo tem aumentado em n�veis alarmantes.

Um estudo conduzido pelo pesquisador Rozenfield, demonstrou que no Brasil a preval�ncia da polifarm�cia (uso de v�rios medicamentos) atinge mais de um quarto dos idosos, sendo mais frequentes no sexo feminino, com idade igual ou maior de 75 anos e que possuem plano de sa�de.

A maior preocupa��o � o uso indiscriminado daqueles medicamentos que tem a��o sobre o sistema nervoso central, conhecidas como subst�ncias psicoativas, tais como como os ansiol�ticos, os antidepressivos, os antiparkinsonianos, os antiepil�pticos, dentre outros. Tais entidades terap�uticas podem predispor � redu��o significativa da cogni��o e altera��es comportamentais, al�m de incrementar em muito o risco de quedas, portanto, devem ser utilizados com muita parcim�nia na popula��o idosa.

V�rios outros medicamentos, considerados de uso comum, podem levar a rea��es adversas, tal como o uso exagerado de anti-hipertensivos, que pode conduzir � uma hipotens�o arterial (press�o baixa), al�m de elevar o risco de quedas.

Os m�dicos que trabalham no cuidado de idosos tem familiaridade com uma listagem de f�rmacos, denominada Crit�rios de Beers, que � a lista de medicamentos de uso inapropriado ou de uso com cautela para tratamento dos idosos. Tal lista � revista periodicamente e � um excelente meio para orientar os m�dicos sobre os riscos no uso de determinados medicamentos para a popula��o idosa. Esta listagem tem respeitabilidade mundial e deve ser sempre consultada com objetivo de reduzir o risco de efeitos colaterais de medicamentos em tal popula��o.

Complica-se ainda mais este contexto que os idosos, principalmente os mais fragilizados, possuem m�dicos de v�rias especialidades, que muitas vezes n�o conversam entre si, cada um prescrevendo uma s�rie de medicamentos que, somados �s prescri��es de outros m�dicos, se convertem em muitos rem�dios e, consequentemente, riscos. � necess�rio que o idoso tenha seu m�dico gerenciador, geralmente um Geriatra que, comunicando-se com as outras especialidades, poder� oferecer uma prescri��o racional para o idoso.

� preciso ficarmos muito atentos, pois atualmente ainda estamos sujeitos � famosa "empurroterapia", que por meio de campanhas publicit�rias, est�mulo dos balconistas � venderam cada vez mais medicamentos desnecess�rios, press�o da ind�stria farmac�utica e os modismos impostos pelos canais de internet, agravam ainda mais um quadro que j� � extremamente preocupante. Devemos sempre ficar alertas sobre rem�dios que nos s�o prescritos: para que eles servem, quais as intera��es com outros medicamentos e, principalmente, se este medicamento � realmente necess�rio.

Fazer uso de v�rios medicamentos n�o � um erro, o erro � fazer uso de medicamentos que interagem entre si e trazem mais preju�zo que benef�cio, o que caracteriza uma situa��o de Iatrogenia, que deve ser evitada. Uma abordagem criteriosa dos medicamentos utilizados, com monitoramento destes idosos que se utilizam destas entidades farmacol�gicas � mandat�ria no cuidado � sa�de dos idosos.

Idosos n�o s�o apenas adultos que envelheceram. Idosos tem seu metabolismo muito individualizado e heterog�neo, de modo que as prescri��es devem ser individualizadas, de acordo com a necessidade de cada um e que contenha o menor n�mero poss�vel de medicamentos, com facilidade na forma de utiliza��o e que sejam racionalmente corretos em sua prescri��o.

Fiquemos alertas: medicamentos s�o drogas e como drogas devem ser adequadamente utilizados. Fazem muito bem quando adequadamente prescritos e podem trazer grandes malef�cios, se prescritos de forma irracional. Mas lembremos que n�o s�o somente os medicamentos prescritos por m�dicos que podem trazer complica��es, pois a automedica��o � um risco ainda maior e, no caso do idoso, aumentado em raz�o dos medicamentos que j� necessita ingerir diariamente.

Em caso de d�vidas sobre a medica��o que est� tomando ou pretende tomar � recomendado que o idoso procure seu m�dico de confian�a para discuss�o. Questione quais as indica��es e as rea��es adversas de cada medica��o. Pergunte se a associa��o de um medicamento com outro pode trazer preju�zo e, principalmente, quais os cuidados devem ser tomados conforme o uso de determinada classe de medicamentos. Previna-se antes de necessitar tratar doen�as. Utilize-se dos avan�os evidentes da medicina, por�m tente v�rias formas de tratamento, inclusive n�o farmacol�gicas, para combater os seus males e inc�modos. Procure viver muito, n�o s� em n�mero de anos vividos, mas busque sempre dar muita qualidade aos anos que viver.

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