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Estado de Minas VITALidade

Miss�o: alegria em tempos dif�ceis

O document�rio � um misto de ensinamentos profundos sobre a exist�ncia, com um apanhado sobre os acontecimentos hist�ricos que cercaram a vida dos protagonistas


30/01/2023 06:00 - atualizado 30/01/2023 09:51

Missão: alegria em tempos difíceis
(foto: Netflix/Divulga��o)
Rubem Alves dizia que h� pessoas que envelhecem e ficam feias; j� outras, segundo o autor, ao envelhecerem, se tornam mais belas que nunca. A diferen�a entre elas est� no modo como esses velhos encaram os desafios da vida. A fim de mostrar o quanto Rubem Alves estava correto em sua observa��o, nesta semana vamos indicar um document�rio, que est� na plataforma Netflix, chamado “Miss�o: alegria em tempos dif�ceis”.

O document�rio, gravado em 2015, � um misto de ensinamentos profundos sobre a exist�ncia, com um apanhado sobre os acontecimentos hist�ricos que cercaram a vida dos protagonistas. De um lado est� o Dalai-Lama, hoje com 87 anos, que viveu no ex�lio por quase toda sua exist�ncia depois que a China ocupou o Tibet, seu pa�s, em 1959. E de outro, est� Desmond Tutu, Arcebispo da �frica do Sul na �poca do Apartheid, falecido em 2021 aos 90 anos.

Ambos foram ganhadores do pr�mio Nobel da Paz por seus esfor�os para que o mundo visse a realidade de seus povos, mas isso n�o � o que mais chama aten��o no document�rio. O mais interessante � perceber a maneira amorosa com que eles chamaram a aten��o do mundo para as duras realidades enfrentadas por sua gente e pela maneira alegre com que narram suas impress�es sobre a exist�ncia.

Em tempos de acirramento pol�tico, no qual assistimos at� mesmo um certo clamor pela luta armada, pelo �dio e pela cis�o entre pessoas, o document�rio � um convite ao di�logo, tanto entre povos quanto entre gera��es. Como dois velhos amigos, que de fato eram, os interlocutores discorrem sobre como manter a alegria em meio ao sofrimento e � injusti�a, que ainda insistem em assolar o mundo e as exist�ncias individuais. 

H� alguns momentos marcantes, por exemplo, quando eles debatem sobre a efemeridade da vida e nossa responsabilidade na constru��o da nossa pr�pria hist�ria. Para eles, tendo em vista que a vida � s� por um prazo determinado, n�s temos a obriga��o de torn�-la repleta de significado, exercendo compaix�o para com o pr�ximo.

Muito emocionante tamb�m � o momento em que o Dalai-Lama recebe a h�stia das m�os de Desmond Tutu. Tem uma hist�ria que diz que uma vez perguntado sobre qual era a melhor religi�o para se alcan�ar o nirvana, o Dalai-Lama respondeu que n�o existia melhor religi�o, pois todos estavam procurando a mesma coisa, e o melhor caminho era aquele em que a pessoa se sentisse mais confort�vel. Isso d� uma mostra do esp�rito aberto para lidar com a diferen�a, t�o necess�ria em �pocas conflituosas como a nossa.

N�o poder�amos deixar de comentar o conselho do Dalai-Lama para a condu��o das nossas vidas, que pode ser assim traduzido: emo��es ruins fazem mal e emo��es boas fazem bem. Tal conselho recebeu uma importante interven��o de Desmond Tutu, que, mais antenado � nossa humanidade do que em nossa santidade, diz que est� tudo bem se em dada situa��o nos fixarmos nas emo��es ruins, pois elas tamb�m fazem parte da nossa exist�ncia, e o que n�o podemos � transformar nossas vidas nelas. 

Por fim, os interlocutores nos chamam a aten��o para nossa vulnerabilidade essencial. Segundo eles, todos n�s sentimos medo, dor e tristeza, e � parte do nosso dever enquanto pessoas sociais nos reconectar � nossa humanidade. Repetindo o famoso or�culo de Delfos, concluem que � dever do ser humano conhecer a si mesmo, ao outro, para, quem sabe assim, se reconectar com o mundo.

O document�rio � uma ode ao amor e � esperan�a, e, longe de ser dif�cil de compreender o enredo, os interlocutores conversam de maneira alegre e despretensiosa, de modo que qualquer um consegue se aproximar das in�meras mensagens que h� no document�rio. H� um momento em que Desmond Tutu se autoproclama “prisioneiro da esperan�a”. Com seu sorriso franco e largo, aquele homem, j� em processo de morte (eis que o c�ncer de pr�stata o estava consumindo h� anos), nos enche de alegria e vontade de estar vivo e, ao mesmo tempo, nos mostra a responsabilidade que temos na constru��o da nossa pr�pria hist�ria, tudo de modo amoroso.

Eu, que nunca tive av�s s�bios para me aconselhar, apesar de secretamente sempre ter nutrido tal desejo, vi no document�rio uma oportunidade de aprender com dois homens j� idosos, mestres espirituais elevados e repletos de sabedoria e conhecimento para serem partilhados. Sabe aquela beleza que Rubem Alves falava que alguns velhos t�m? E que fica mais bela na medida em que conversamos? Se voc� quiser saber realmente o significado disto, n�o deixe de assistir o document�rio Miss�o: alegria em tempos dif�ceis.

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