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Estado de Minas VITALidade

O valor da amizade

Enquanto a paix�o � violenta, a amizade � capaz de regozijar-se com a presen�a do outro. Muitos conhecem esta esp�cie de rela��o como amor-amizade


09/01/2023 06:00 - atualizado 09/01/2023 12:15

Mãos dadas
A amizade � uma esp�cie e amor-alegria, na medida em que � rec�proco ou pode vir a s�-lo (foto: Pixabay/Reprodu��o)
Mais um ano se findou e com isto somos convidados a refletir sobre aquilo que realmente � importante em nossas vidas: o que de fato � essencial e faz com que a vida valha a pena e o que n�o passa de excessos com os quais fomos acostumados, mas sem entender bem a raz�o pela qual est�o em nossas vidas. Algumas vezes, olhar a vida dos outros pode ser um importante instrumento para analisarmos a nossa pr�pria vida e nossas escolhas. 
 
Dentre as muitas confraterniza��es de final de ano que fui convidada, uma me deixou profundamente tocada. Era uma reuni�o de seletos colegas de faculdade do meu marido, todos na faixa dos cinquenta anos. Digo seleto, pois, dos mais de cento e cinquenta formandos, apenas sete estavam presentes. Dos sete, cinco s�o amigos desde os onze anos de idade e os dois que se juntaram depois, na �poca da faculdade, se uniram ao grupo inicial e formaram um conjunto harm�nico e digno de admira��o.
 
Aquela reuni�o foi uma oportunidade para aquelas pessoas verem de frente o seu passado e, ao mesmo tempo, uma ode ao tempo e �quilo que verdadeiramente importa de ser preservado em uma vida. Como bailarinos de um corpo de bal�, que entendem a responsabilidade de todos no bem-estar de cada um, aquelas pessoas verdadeiramente valorizam umas as outras e entendem o presente de estarem juntas por quase toda a exist�ncia.
 
N�o percebi entre eles qualquer disputa ou necessidade de aparecer mais que o outro, t�o comum em grupos assim formados. Ao contr�rio, eles me pareceram fraternos e solid�rios, at� mesmo na hora de contar as antigas hist�rias dos tempos passados. Eles me pareceram muito � vontade uns com os outros e era poss�vel ver a satisfa��o e a alegria daquelas pessoas por estarem simplesmente umas junto das outras. Olhando para eles entendi verdadeiramente que a amizade � uma d�diva, mas uma amizade duradoura, que nos coloca em conex�o com nosso passado, � pura gra�a. 
 
 
Para Arist�teles, sem a amizade a vida seria um erro. Segundo entende o autor, a amizade � o caminho poss�vel para a felicidade, ela seria um ref�gio contra a infelicidade. N�o precisamos ter d�vidas que manter rela��es fortes de amizade � condi��o para a felicidade, j� que elas s�o �teis, agrad�veis, boas e desej�veis apenas pelo que s�o e n�o por nossas proje��es a respeito delas. Elas s�o presentes e confirmam nossa experi�ncia relacional, tornando nossas exist�ncias mais alegres e repletas de sensa��es �ntimas e de vida partilhada.
 
 
De acordo com Comte-Sponville o amor-paix�o � falta e tem na incompletude o seu destino. Ele � como um desejo que, por sua pr�pria natureza, � fadado a n�o ter aquilo que deseja, permanecendo privado, ainda que alcance seu objeto.
 
Longe de ser o amor saciado que sonhamos ele � solit�rio e sempre inquieto com o que ama. Pode ser compreendido como aquilo que vulgarmente se denomina paix�o, que � sempre esfomeada e torturante, podendo enlouquecer o dilacerar o sujeito. Assim concebido, n�o h� possibilidade de amor feliz nessa esp�cie. O amor-paix�o � ego�sta, um ego�smo descentrado e dilacerado, repleto de aus�ncias e do vazio de seu objeto. Eros aqui � compreendido como o mais violento dos amores, o mais abundante em sofrimento, fracasso, ilus�es e desilus�es.
 
 
Ao contr�rio do amor-paix�o, repleto de falta, ang�stia, ci�me ou sofrimento, pelo menos na maioria dos casos, a amizade � uma esp�cie e amor-alegria, na medida em que � rec�proco ou pode vir a s�-lo. Na amizade o que vemos � a vida partilhada, mas sem o peso e as cobran�as da paix�o. Enquanto a paix�o � violenta, a amizade � capaz de regozijar-se com a presen�a e com a vida do outro, compreendido enquanto outro e n�o como uma proje��o dos nossos desejos.  Muitos conhecem esta esp�cie de rela��o como amor Philila ou amor-amizade.
 
 
Gra�as aos nossos amigos, n�o estamos condenados a desejar apenas o objeto que n�o temos, como no amor er�tico. Muito menos nos contentar com as gl�rias pelas obras que fazemos e n�o com a obra em si. Tamb�m n�o precisamos sempre estar a desejar a vida que n�o temos. Ao contr�rio de Eros, que deseja a posse, o amor-alegria, presente na amizade, nos orienta para rela��es para al�m do imagin�rio, que vivem daquilo que � real e que, por isto mesmo, nos servem de norte, orienta��o e apoio ao longo da vida. 

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