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Estado de Minas VITALIDADE

Cada vez que mudamos um s�mbolo, mudamos um pouco o mundo

O valor de uma sociedade pode ser avaliado pela forma como ela trata seus membros mais velhos


05/06/2023 06:00 - atualizado 05/06/2023 14:58
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Placa antiga com idoso corcunda e da bengala e a nova com uma figura ereta e o número 60+ ao lado
'Que as placas de tr�nsito sejam apenas o come�o de uma transforma��o mais ampla em nossa percep��o e tratamento das pessoas em processo de amadurecimento' (foto: Reprodu��o/Contran)
Na hist�ria, os s�mbolos desempenham um papel fundamental como express�es das representa��es culturais de um determinado povo. Assim, se um estudioso do futuro se deparasse com uma placa de tr�nsito indicando pessoas acima de 60 anos atualmente, o que ele suporia? Poderia supor erroneamente que, em nosso tempo, as pessoas aos 60 anos estavam fr�geis, encurvadas e dependentes de bengalas, que � o que mostra a triste figura da atual placa de tr�nsito. No entanto, essa imagem em nada refletiria a realidade atual.

Visando corrigir tal incongru�ncia entre o que ocorre no mundo e a placa indicativa de tr�nsito, o Contran, Conselho Nacional de Tr�nsito, determinou, no ano de 2022, que todas as placas antigas fossem trocadas paulatinamente em todo o territ�rio nacional. A antes pejorativa representa��o corcunda dever� ser trocada, pouco a pouco, por uma jovial figura com os bra�os levemente suspensos, ao lado do escrito 60+. 

Embora n�o tenhamos tido acesso � exposi��o de motivos que levou o Conselho Nacional de Tr�nsito, por meio da Resolu��o n. 965/2022, Anexo II, a trazer um novo modelo para indicar as pessoas 60 , certamente, um deles, teve como objetivo o de adequar as placas � nova realidade das pessoas em processo de amadurecimento, que n�o se assemelham minimamente �s antigas placas.

A determina��o do Conselho veio ao encontro dos anseios das pessoas em processo de amadurecimento, que constantemente s�o v�timas de estere�tipos ultrapassados e que n�o nos representa. Que o belo exemplo do Conselho Nacional de Tr�nsito seja seguido tamb�m por mais setores da sociedade para que repense o modo pelo qual enxergam essa nova gera��o de pessoas maduras que, ao contr�rio de seus antepassados, est�o cada vez vivendo mais e melhor.

O que a Resolu��o do Contran escancara � o quanto somos mau representados, j� que equ�voco n�o se restringe apenas �s placas de tr�nsito, mas tamb�m ao olhar preconceituoso daqueles que acham s� a juventude � um valor e encaram o processo de envelhecimento como um castigo ao inv�s de uma fase repleta de possibilidades e potencialidades, como de fato o �. � fundamental que como sociedade repensemos nossos s�mbolos e o quanto muitos deles est�o carregados de estere�tipos negativos em rela��o ao processo de envelhecimento.

Em uma instigante obra na qual discorre sobre o processo de envelhecimento em suas m�ltiplas dimens�es, a fil�sofa francesa Simone de Beauvoir, em "A Velhice", nos alerta sobre os preconceitos e estere�tipos ligados ao processo de envelhecimento.

Ela nos convida a repensar a ideia de que a velhice � sin�nimo de decad�ncia e inutilidade, nos mostrando que essa fase tamb�m traz consigo novas possibilidades de experi�ncias, de crescimento pessoal e de uso da sabedoria acumulada ao longo dos anos. Para Beauvoir, � com a maturidade que as pessoas alcan�am uma vida mais aut�ntica, desprendendo-se das expectativas sociais e vivendo segundo suas pr�prias escolhas e desejos.

Ela argumenta que o processo de envelhecimento n�o deve ser encarado como um fim em si mesmo, mas sim como uma oportunidade de reinven��o e autotransced�ncia. Ao desafiar os estere�tipos negativos associados � velhice, Beauvoir nos convida a repensar nossas concep��es sobre o envelhecimento e a valorizar a singularidade e a dignidade de cada indiv�duo, independentemente da idade. 

Mudar uma placa parece pouco, pouqu�ssimo, mas que as placas de tr�nsito sejam apenas o come�o de uma transforma��o mais ampla em nossa percep��o e tratamento das pessoas em processo de amadurecimento.

O projeto tem de ser a constru��o de uma sociedade que celebra a juventude sim, com toda sua energia e vigor, mas que tamb�m celebra o envelhecimento, com toda a sua disposi��o e sabedoria. � s� por meio da valoriza��o do que cada fase da vida tem a oferecer ao mundo � que de fato entenderemos onde devemos chegar como seres humanos.

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