Os agricultores que faturaram alto no ano passado com o plantio do feij�o – a cota��o do gr�o registrou uma de suas maiores altas e assustou os consumidores nos supermercados –, n�o devem colher resultado semelhante na primeira safra deste ano. Pelo menos � isso que esperam os analistas, que apontam que o aumento da produtividade e a boa colheita, pelo menos em Minas, devem fazer com o que o valor comercializado n�o suba. A tend�ncia � de estabiliza��o dos pre�os.
Estimativa da Secretaria de Agricultura do estado aponta para safra de 558,4 mil toneladas neste ano em Minas, segundo maior produtor do pa�s, atr�s apenas do Paran�. Em 2016, foram 522,7 mil toneladas. Al�m do crescimento da produ��o, que ajuda a derrubar o pre�o, as condi��es clim�ticas para essa colheita do gr�o foram favor�veis e ainda h� o incremento da tecnologia, que, cada vez mais, ajuda o produtor rural a ter melhores resultados.
Se para o consumidor o vi�s de baixa dos pre�os � algo a ser comemorado, o produtor experimenta o outro lado. “Este ano, o feij�o deve ter o pre�o bem menor do que o vendido ano passado. Muita gente acabou deixando de plantar outras coisas e investiu no feij�o para aproveitar a alta dos pre�os”, afirmou Daniel Carlos Cardoso, que � pequeno produtor em Piracema, na Regi�o Centro-Oeste de Minas, quinta no ranking de produ��o do estado.
Essa percep��o na pr�tica � confirmada pelo supervisor de pesquisas agropecu�rias do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) em Minas Gerais, Humberto Silva Augusto. De acordo com ele, o bom valor praticado, principalmente em meados de junho de 2016, fizeram com que muita gente se empolgasse com o gr�o.
Levantamento do Departamento Intersindical de Estat�sticas e Estudos Socioecon�micos (Dieese) indica que, apesar da tend�ncia de queda dos �ltimos meses, o pre�o para o consumidor ainda n�o alcan�ou o praticado em dezembro de 2015, quando o quilo era vendido pela m�dia de R$ 5,12. No mesmo m�s no ano passado, o valor, apesar das seguidas baixas, ficou em R$ 6,41.
No entanto, nada se compara com o pre�o m�dio de R$ 10,69 praticado em julho, segundo apurou o �rg�o. “Apesar de uma queda nos �ltimos meses, est� ocorrendo uma normaliza��o da oferta e o pre�o est� retroagindo, mas, mesmo assim, ainda n�o atingiu patamares observados em meses anteriores”, disse o economista e supervisor t�cnico do Dieese em Minas, Fernando Duarte. Ainda segundo ele, no ano passado o pre�o do gr�o variou 25% em Belo Horizonte e quase 134% em Macei� (AL).
Para os produtores, apesar de n�o atingir os patamares do ano passado, a tend�ncia apontada pela safra que est� sendo colhida agora, chamada de safra das �guas, n�o haver� queda mais acentuada do pre�o. A expectativa � de que permane�a o valor que vem sendo comercializado nos �ltimos meses. “Por enquanto, o pre�o est� no limite e n�o deve cair mais que isso”, afirmou o supervisor das pesquisas agropecu�rias do IBGE. Ele ressalta, no entanto, que, diferentemente de Minas, que trabalha com cen�rio de alta na produ��o, no Paran� o cen�rio � de safra 16% menor. Como o estado � o maior produtor do pa�s, isso acaba por, de certa forma, equilibrar o mercado.
Apesar disso, em Minas h� produtor que reclama da influ�ncia do clima. O agricultor e comerciante Marcos Ant�nio Mendes afirma que trabalhava com uma estimativa de colheita, mas o resultado final vai ser menor. No caso dele, a influ�ncia negativa foi causada pelo clima. “A quebra na produ��o vai ser grande. S� aqui na minha fazenda estamos trabalhando com queda de pelo menos 40% na produ��o. A expectativa era boa, mas nos �ltimos 15 dias n�o choveu o suficiente e isso afetou a colheita”, contou o produtor. A fazenda dele fica em Paracatu, no Noroeste do estado, principal regi�o produtora de Minas.
Una� � campe� em produ��o
Em Minas, Una�, no Noroeste do estado, � o principal produtor de feij�o. Em 2015, segundo dados da Secretaria de Agricultura, o munic�pio produziu 81 mil toneladas do gr�o. A Regi�o Noroeste, onde a cidade est� localizada, � a campe� do estado, respondendo por 39% da safra mineira, o que corresponde a 204.734 toneladas. L� tamb�m est�o localizados os cinco munic�pios com maior produ��o. Al�m de Una�, completam a lista Paracatu (49.740t), Buritis (14.400t), Bonfin�polis de Minas (13.980t) e Guarda-Mor (13.500t).
Ainda sobre a produ��o no estado, o Sul de Minas responde pela segunda maior safra, com 72.780 toneladas em 2016. Logo depois v�m o Alto Parana�ba (69.200t), Central (46.599t), Centro-Oeste (35.812t) e Norte de Minas (35.321t). Ao todo, em 2016, Minas Gerais produziu 522.682 toneladas do gr�o, o que corresponde a 19,9% da produ��o nacional, ficando na segunda posi��o. Na nossa frente est� apenas o Paran�, que colheu safra de 602.900 toneladas (23%).
O que se tem verificado tamb�m, ao analisar os n�meros da produ��o em Minas, � que a �rea plantada tem diminu�do a cada ano. Em 2012, eram 411,3 mil hectares (ha.) No ano seguinte, caiu para 391,8ha. Em 2014, ficou em 376,6ha. J� em 2015, esse n�mero era de 333,5 ha e no ano passado foi de 325ha.
Tecnologia
Enquanto o produtor ainda se v� ref�m das condi��es clim�ticas para potencializar sua produ��o, v�rias pesquisas v�m sendo realizadas objetivando o plantio do feij�o mais produtivo, com menos influ�ncia de intemp�ries. De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecu�ria (Embrapa), v�rios trabalhos v�m sendo desenvolvidos para se chegar a esse objetivo. “Busca-se a identifica��o de caracter�sticas gen�ticas espec�ficas na diversidade de plantas de feij�o (cerca de 15 mil amostras) para ent�o selecionar essas plantas e cruz�-las, a fim de reunir o m�ximo poss�vel de caracter�sticas de interesse em variedades de feij�o, isto �, novos feij�es que ser�o plantados pelos agricultores”, informa a institui��o.
Ainda de acordo com a Embrapa, algumas das caracter�sticas que est�o sendo buscadas s�o: a resist�ncia a doen�as, a precocidade, melhoria na qualidade do gr�o, al�m de resist�ncia � falta de chuvas e �s altas temperaturas. No caso, da precocidade, por exemplo, os estudos buscam chegar a um resultado gen�tico em que a planta necessite de menos tempo para lavoura. O objetivo, segundo a empresa, � “estabelecer novos cultivos e menor risco clim�tico de perdas”.
Quatro variedades de feij�o que foram desenvolvidas pela Embrapa, que t�m – em parte – essas caracter�sticas, j� s�o usadas em Minas. O gr�o carioca da cultivar BRSMG Madrep�rola, por exemplo, apresenta gr�os que, ap�s a colheita, demoram mais para endurecer quando comparados com outras variedades. No gr�o preto BRS Esplendor h� melhor padroniza��o de cor e tamanho. J� o Rajado BRS Realce tem toler�ncia a doen�as como antracnose, crestamento bacteriano e ferrugem, por exemplo.