
A estrat�gia foi adotada dentro do Programa de Retomada do Algod�o do Norte de Minas, que envolve 97 agricultores de seis munic�pios: Catuti, Mato Verde, Pai Pedro, Monte Azul, Porteirinha e Matias Cardoso. “O segredo � o plantio com a tecnologia voltada para o semi�rido e o aproveitamento racional da �gua dispon�vel num lugar onde chove pouco”, revela Jos� Tib�rcio de Carvalho Filho, assessor t�cnico da Cooperativa dos Produtores Rurais de Catuti (Coopercat), que coordena o projeto. A entidade conta tamb�m com o apoio da Associa��o Mineira dos Produtores de Algod�o (Amipa).
A express�o que batiza o projeto faz todo o sentido, j� que o Norte de Minas tem tradi��o na cotonicultura, mas, devido �s chuvas escassas e ao ataque das pragas do bicudo-do-algodoeiro, a atividade entrou em decl�nico na d�cada de 1990. Como consequ�ncia, milhares de agricultores se viram obrigados a migrar para os grandes centros urbanos.
Implantado h� nove anos, o programa � considerado modelo para garantir a atividade familiar e a conviv�ncia com a seca. A regi�o j� recebeu as visitas de v�rias delega��es estrangeiras (de Mo�ambique, Angola, S�o Tom� e Pr�ncipe, Cabo Verde e Peru) interessadas em conhecer o sistema. Despertou tamb�m a aten��o de institui��es que estimulam pr�ticas solid�rias, como o Projeto "Tecendo Valor, desenvolvido pela Funda��o Solidariedade Latino-americana, com recursos do Instituto C & A.
Os agricultores do Norte de Minas plantaram 480 hectares (ha) de algod�o na safra 2016/2017, dos quais 400ha de sequeiro e 80 hectares semi-irrigados. � esta �ltima parcela das �reas que exibe a grande inova��o trazida pelo programa e que garante a boa produ��o da regi�o semi�rida. Os plantios foram feitos no per�odo chuvoso e, mesmo assim, contaram com equipamentos de irriga��o, recebendo a chamada 'molhagem mec�nica' somente quando a chuva demora – no veranico.
Tib�rcio Carvalho diz que foram registrados 450 mil�metros no Norte do estado entre novembro do ano passado e mar�o. Em janeiro e fevereiro, �poca que se esperava que as lavouras vingassem, veio o sol forte de forma devastadora, com perdas de milho e feij�o superiores a 80%. Diferentemente das perdas, o sistema inovador encampado pelos produtores de algod�o assegurou produtividade entre 250 e 300 arrobas por hectare nas �reas onde as plantas foram irrigadas no momento em que S�o Pedro decidiu n�o atender aos apelos por �gua.
Para viabilizar a irriga��o complementar, foram adotadas medidas para otimizar o aproveitamento da pouca �gua dispon�vel, por meio do sistema de gotejamento. O t�cnico da Coopercat explica que como os po�os da regi�o t�m baixa vaz�o, � �gua precisa ser usada de forma racional. Os agricultores recorreram a �gua de po�o tubular para irrigar os algodoais sempre que a chuva atrasou.
Os agricultores acreditam que a �rea cultivada de algod�o herb�ceo no Norte de Minas poder� apresentar crescimento exponencial com a consolida��o dos investimentos na irriga��o em �reas estrat�gicas de produ��o. “Eles buscam a alta produtividade, aumento da efici�ncia no trato cultural da lavoura e qualidade do produto colhido, agregando maior valor ao pre�o final da pluma”, diz o assistente t�cnico. Numa �rea de plantio de 400 hectares de sequeiro, os produtores obtiveram 40 arrobas, em m�dia, por hectare, ganho razo�vel dadas as condi��es adversas. N�o fosse a severa estiagem, a produtividade m�dia poderia alcan�ar 100 arrobas por hectare.
�GUA APROVEITADA A retomada do algod�o ganhou como aliada a iniciativa de capta��o e a armazenamento de �gua de chuva com a constru��o de tanques de terra batida, tamb�m conhecidos como tanques escavados. A t�cnica consiste na implanta��o de reservat�rio, escavando com um trator. Em seguida, o ch�o � impermeabilizado com lona pl�stica.
O tanque escavado tem 48 metros de comprimento, 4,6 metros de largura e 1,60 metro de profundidade. Com essas dimens�es, armazena 310 mil litros de �gua. Trata-se de quantidade suficiente para irrigar uma lavoura de algod�o de um hectare durante 30 dias.
“Os resultados com a experi�ncia foram muito positivos e vamos aumentar a abertura dos tanques escavados”, diz Tib�rcio Carvalho. Ele conta que a meta � ampliar a �rea semi-irrigada para 200 hectares no ano chuvoso, elevando ainda o n�vel do aproveitamento da �gua de po�os tubulares, racionada com o sistema de gotejamento.
Plumas e caro�o

Com uni�o, produtores reduziram as despesas
Os bons resultados do programa de retomada do algod�o s�o comemorados pelos produtores. � o caso de Herm�nio Uesklei Silva, o Kinha, de 36 anos, do munic�pio de Monte Azul, que plantou um hectare de algod�o com o uso da irriga��o complementar. Para garantir a manuten��o da lavoura nos per�odos de veranico, ele recorreu � �gua captada de um po�o tubular e tamb�m a um tanque de terra batida aberto em sua propriedade.
O agricultor conquistou produtividade de 125 arrobas por hectare na �rea da semi-irriga��o. “Foi muito bom, e n�o seria assim sem a irriga��o complementar”, afirma Kinha. Impacto importante foi a gera��o de empregos nas terras em que trabalha. “Tive que contratar 10 pessoas para a colheita” . Kinha pretende ampliar o cultivo do algod�o no sistema inovador em 2018.
Adelino Lopes Martins, o Dila, de 58, tamb�m revela a grande satisfa��o com os resultados do algodoal que mant�m em Catuti. Ele plantou 1,5 hectare no sistema de irriga��o complementar por gotejamento, usando �gua de um po�o tubular, e atingiu produtividade de 200 arrobas por hectare. “A solu��o � usar o kit para a irriga��o por gotejamento, fazendo a economia de �gua. N�o existe outra alternativa para conviver com a seca”, afirma Adelino. O agricultor tamb�m fez o cultivo de algod�o em 18,5 hectares de sequeiro, onde colheu 20 arrobas por hectare.
Em suas pequenas propriedades, os produtores recebem assist�ncia t�cnica, kits para irriga��o e apoio no preparo do solo para o plantio. Uma das raz�es do sucesso da iniciativa � a organiza��o dos produtores em sistema cooperativista, o que reduz custos de produ��o e facilita o escoamento da colheita. Os insumos s�o adquiridos no sistema de compra coletiva, a safra � beneficiada em uma usina instalada no munic�pio de Mato Verde e viabilizada pelo programa.
Na hora de vender, os produtores d�o as m�os novamente e n�o encontram nenhum embara�o para a comercializa��o. S�o formadas cargas com a produ��o de v�rias �reas, o que garante escala ao grupo. A mat�ria-prima j� tem como destinat�ria uma companhia t�xtil de Ara�a�, na regi�o central de Minas.
A uni�o dos produtores na busca de alternativas para melhorar a produ��o e a conviv�ncia com a seca � enfatizada pelo diretor- executivo da Associa��o Mineira dos Produtores de Algod�o (Amipa), Licio Pena de Sairre. “Esse programa � realmente diferenciado. Podemos dizer que � hoje a menina dos olhos da Amipa", afirma Sairre, destacando inova��es com o uso racional da �gua.
Ele ressalta que a iniciativa tem um grande vi�s social por permitir que os produtores familiares, mesmo com as adversidades clim�ticas, se mantenham na atividade formal sustent�vel. Outro aspecto para o qual ele chama a aten��o � que, a partir da organiza��o em grupo, os agricultores conseguem vender o algod�o diretamente para a ind�stria t�xtil, eliminando a figura do atravessador e conseguindo melhor pre�o para o seu produto.