Uma t�cnica simples e praticamente sem custo para o produtor pode melhorar a quantidade e a qualidade da produ��o do leite nas fazendas: o carinho. Isso mesmo, a pr�tica do afago testada nas vacas da ra�a gir Leiteiro vem se mostrando eficaz para ajudar na ordenha, ben�fica para o animal e ajuda os profissionais no trato das zebu�nas, dotadas de temperamento dif�cil. Foi o que mostrou pesquisa sobre o comportamento dessas f�meas feita em Uberaba, no Tri�ngulo Mineiro.
Embora se trate de uma ra�a espec�fica, o m�todo pode ser estendido � principal produtora de leite no Brasil, a vaca girolando, que � fruto do cruzamento de animais gir e holand�s. A pesquisa, realizada por meio de parceria entre o Instituto de Zootecnia, da FZEA USP, Empresa de Pesquisa Agropecu�ria do Estado de Minas Gerais (Epamig) e Dalhousie University, indicou, em resultados ainda preliminares, que o afago acelera a recupera��o p�s-parto da vaca e diminui o estresse do animal. A gesta��o dura 290 dias. Pelo m�todo, 30 dias antes de parir, a vaca � colocada dentro da sala de ordenha para passar pelo treinamento de afago.
“Temos um problema grande com o gado gir porque os animais s�o bastante reativos. As vacas costumam dar coice, e para tirar leite � preciso amarrar as patas traseiras para cont�-las. H� cerca de um ano, pesquisadores propuseram esse teste com o afago anteriormente � ordenha para o animal perder o medo”, conta o veterin�rio e pesquisador da Epamig Andr� Penido Oliveira, que � especialista em reprodu��o animal.
O carinho, no entanto, n�o se compara �quele oferecido pelos donos de animais dom�sticos de pequeno porte. De acordo com o pesquisador, o afago consiste em acariciar o animal com uma escova ou uma vassoura. “Como o animal � muito grande, se as m�os fossem usadas ficaria dif�cil atingir toda a extens�o do corpo. Com a escova, o acesso � muito maior e o est�mulo exerce mais press�o. � uma forma de fazer uma massagem”, relata.
O experimento conduzido no Campo Experimental Get�lio Vargas mostrou que os animais afagados tiveram maior produ��o de leite e menor incid�ncia de doen�as, como a mamite. Quando a vaca fica livre da inflama��o da gl�ndula mam�ria, o leite ganha em qualidade. Outros pontos constatados foram que as vacas tiveram menor reten��o de leite e um intervalo menor entre partos. Ou seja, as que ganharam carinho emprenharam mais r�pido do que as n�o inclu�das no processo. “O afago � uma tecnologia de baix�ssimo custo que traz resultados superpositivos em rela��o � sa�de do animal e do manejo feito pelos humanos. Os resultados ainda s�o preliminares, mas indicam uma maior produ��o e qualidade do leite a partir de um maior bem-estar das vacas”, disse.
QUALIDADE Segundo a coordenadora do projeto, a pesquisadora do Instituto de Zootecnia Lenira El Faro Zadra, no primeiro grupo de animais foi percebido que o aumento na quantidade de leite produzido foi observado nas vacas que nunca haviam parido. “O que a gente concluiu � que, a princ�pio, esse manejo tem que ser feito nas novilhas, pois observamos que as que pariram a primeira vez tiveram produ��o de leite maior, pois houve menos reten��o.”
De acordo com Lenira, a ideia da pesquisa � melhorar a vida da vaca e do trabalhador. O grupo tamb�m est� estudando como � a eje��o de ocitocina, o horm�nio respons�vel pela libera��o do leite, para, no futuro, poder ordenar o animal sem a presen�a do bezerro – uma caracter�stica da ra�a gir diferente da esp�cie holandesa � que as m�es s� produzem leite na presen�a do filhote.
Para a coordenadora do projeto, a pr�tica do afago pode ser indicada a todos os criadores. “Al�m de facilitar o manejo na sala de ordenha, os animais tendem a ser mais sud�veis. Na Fazenda Santa Luzia, em Passos , no Sul de Minas, adotaram o manejo e perceberam um ganho imenso. Tanto que passaram a praticar no dia a dia”, conta.
A veterin�ria Helena Mendes, que tamb�m participa dos estudos sobre os per�odos pr� e p�s-parto, acredita que a recupera��o mais r�pida da vaca que recebe o afago seja explicada em decorr�ncia da redu��o do �ndice de cortisol. “O animal fica mais equilibrado e, com isso, se torna menos reativo e mais manso. A hip�tese � que a vaca conseguir� melhor per�odo p�s-parto e um retorno ao cio mais r�pido”, disse.
Segundo o pesquisador da Epamig Andr� Penido, as vacas do projeto de pesquisa em Uberaba tamb�m est�o sendo monitoradas por um equipamento chamado B�lus. Trata-se de um dispositivo colocado por via oral dentro do est�mago que mostra em tempo real a temperatura e a movimenta��o do animal. Os testes s�o indicativos do cio. Minas Gerais lidera a produ��o de leite no pa�s, com oferta de mais de 9 bilh�es de litros por ano. Na lista dos 200 munic�pios com maior produtividade l�ctea, est�o 61 mineiros, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE).