
Adotado por grandes metr�poles, com poucos espa�os para hortas e com popula��o em crescimento vertiginoso, o movimento de agricultura urbana tem como princ�pio a possibilidade da produ��o de alimentos bem pr�xima do consumidor. Em alguns sistemas, sem uso de agrot�xicos, proporciona produtos frescos, produzidos em �reas p�blicas, arrendadas ou subaproveitadas, evitando o transporte por longos trechos em ve�culos poluentes e os fretes que encarecem o pre�o ao consumidor.
O cultivo de plantas comest�veis, folhosas, medicinais e leguminosas em espa�os urbanos ganha cada vez mais adeptos e avan�a na busca de novos modelos, a fim de contribuir com agricultura sustent�vel e saud�vel, al�m de combater o desperd�cio.
Ganhou ainda maior notoriedade com a experi�ncia de Cuba, que passou a pratic�-la como forma de suprir a escassez de alimento ocasionada pela dissolu��o da Uni�o Sovi�tica, em 1989, que supria a ilha de alimentos que n�o chegavam de outras partes devido ao embargo norte-americano.
Em alguns casos, o cultivo � feito em cont�ineres, nos quais a luz de LED substitui a solar, sistemas de temperatura e irriga��o racionais, permitindo que a cidade disponha de verduras e legumes o ano todo, mesmo em per�odos de inverno rigoroso, sem necessidade de comprar de outros estados.
Em 2020, os parisienses ter�o 14 mil metros quadrados disponibilizados para o plantio de mais de 30 esp�cies. O Porta de Versailles abrigar� a maior fazenda urbana suspensa do mundo e espera produzir no primeiro ano cerca de uma tonelada de frutas e vegetais por dia. � parte do plano da cidade de plantar 100 hectares de vegeta��o at� 2020.
No artigo “Hortas Urbanas”, publicado no Informe Agropecu�rio, em 2016 os engenheiros agr�nomos Frank Martins de Oliveira, extensionista da Emater em Sete Lagoas, e W�nia dos Santos Neves, pesquisadora da Epamig em Vi�osa, ressaltam o reconhecimento da atividade como fator decisivo na redu��o da pobreza, por meio de gera��o de emprego e renda, al�m de oferecer vantagens � popula��o, por usar espa�os ociosos, promover o desenvolvimento local, seguran�a alimentar, drenagem de �guas pluviais em �reas urbanas e fortalecer a organiza��o de horticultores urbanos em cooperativismo e associativismo.
PANAPANA
O administrador de empresas Bruno Motolli, de 33 anos, se inspirou em projetos de empreendedorismo social em �reas perif�ricas de BH e da regi�o metropolitana da capital mineira para criar a Panapana (coletivo de borboletas na l�ngua Tupi Guarani), uma startup de agricultura sustent�vel.
“Ao conhecer o projeto ‘maisfavela’ pensei em criar uma empresa por meio de de um pacto social e a ideia ganhou for�a quando estudei mais a fundo o movimento mundial de agricultura urbana”. A empresa saiu do papel ao perceber que “tudo o que comemos costuma deslocar centenas de quil�metros entre onde � produzido e a mesa das fam�lias.
“Ao conhecer o projeto ‘maisfavela’ pensei em criar uma empresa por meio de de um pacto social e a ideia ganhou for�a quando estudei mais a fundo o movimento mundial de agricultura urbana”. A empresa saiu do papel ao perceber que “tudo o que comemos costuma deslocar centenas de quil�metros entre onde � produzido e a mesa das fam�lias.
Al�m do pre�o de frete que pode significar a diferen�a at� 35% do pre�o de um produto, o transporte a longa dist�ncia promove perdas significativas, ainda maiores quanto mais perec�vel a carga. �s vezes, a produ��o est� a 500 metros de um supermercado, mas faz uma viagem que vai da horta ao Ceasa e volta para o estabelecimento ao lado, afirma o empreendedor. A empresa, al�m de implantar hortas urbanas em parceria com grandes empresas, trabalha com alternativas que podem ser ocasionais ou tempor�rias. Duas engenheiras agr�nomas desenvolvem projetos flex�veis, como as hortas m�veis. O plantio se d� em caixotes, que podem ser removidos.
Trabalho duro � recompensado

“Foi um momento de muita dificuldade, mas come�amos a plantar para nossa alimenta��o e para garantir alguma renda”. A comercializa��o era feita nas ruas atrav�s de um carrinho onde Dilma levava a colheita do dia de porta em porta. Hoje ela repassa a revendedores. “Supermercados e sacol�es encomendam a produ��o antecipada de forma a garantir o produto em suas prateleiras”.
Idemilson Brasilino Celestino, de 35, come�ou h� 16 anos com sua fam�lia. Nesse per�odo conseguiu renda suficiente para comprar um s�tio onde produz frutas. Comercializa as hortali�as e legumes produzidas atrav�s da Associa��o Setelagoana de Agricultura Familiar. Revende cestas encomendadas semanalmente por clientes. Vende em torno de 60 cestas semanais com frutas de seu s�tio e produtos da horta, entre eles beterraba, ab�bora, abobrinha, couve flor, repolho, cenoura, cebola e hortali�as, acerola, mam�o e cana de a��car.
O programa Direto da Horta trabalha com venda de cestas montadas pelos produtores das hortas comunit�rias de Sete Lagoas. Os kits s�o vendidos e entregues na porta de casa na cidade e em Belo Horizonte toda quarta-feira. S�o tr�s tamanhos: a pequena com quatro itens, no valor mensal de R$ 80. A m�dia, com seis a R$ 110 e a maior com oito custa R$ 130. S�o entregues quatro cestas por m�s. O cliente escolhe a composi��o que deve ser metade de folhosas e metade leguminosas. Se quiser pode montar a cesta sem essa propor��o, paga 10% a mais no valor e pode compor sua cesta com os produtos que desejar.
Cirlei Santos da Silva � produtora e respons�vel pela gest�o e log�stica da produ��o e entrega das cestas. “O nosso projeto � social e atende a mais de 320 produtoras. Para se tornar cliente basta inscrever-se em uma das sete associa��es da cidade. O pagamento � adiantado e pode ser feito por dep�sito banc�rio ou direto ao entregador. Todos os domingos o interessado recebe pelo WhatsApp a rela��o dos produtos dispon�veis. Os produtos s�o colhidos e entregues todas as quartas-feiras.
Assist�ncia t�cnica estimula produ��o
Em Minas Gerais a agricultura urbana � mais evidente em Sete Lagoas, Governador Valadares, Belo Horizonte e Uberaba. A Empresa de Assist�ncia T�cnica e Extens�o Rural (Emater) presta assist�ncia t�cnica e auxilia na organiza��o dos grupos de produtores. Al�m da agricultura urbana, � feita tamb�m a produ��o periurbana, no per�metro urbano em cintur�es verdes como de BH e munic�pios vizinhos de Sarzedo, M�rio Campos, Brumadinho, por exemplo, que fornecem folhosas e legumes para a capital.
No caso de Sete Lagoas, na Regi�o Central do estado, os consumidores compram diretamente no local de produ��o, mas os produtos tamb�m s�o vendidos em feiras ou abastecem o mercado varejista, como sacol�es e supermercados. Georgeton Silveira, coordenador t�cnico estadual de Olericultura da Emater explica que em Sete Lagoas “h� parceria interessante com o poder p�blico municipal e estadual. Espa�os sem uso foram concedidos pela prefeitura e pela Cemig (sob linhas de transmiss�o), e, em contrapartida pela cess�o da �rea, cada produtor faz a doa��o de um canteiro de hortali�as que � destinado � merenda escolar ou entidades assistenciais”.
A Emater contribui fornecendo orienta��es t�cnicas e capacita��o aos agricultores. Para participar, o agricultor precisa da Declara��o de Aptid�o ao Pronaf (Programa Nacional de Agricultura Familiar), um reconhecimento emitido pelo governo federal atestando a condi��o de agricultor familiar.
A Emater contribui fornecendo orienta��es t�cnicas e capacita��o aos agricultores. Para participar, o agricultor precisa da Declara��o de Aptid�o ao Pronaf (Programa Nacional de Agricultura Familiar), um reconhecimento emitido pelo governo federal atestando a condi��o de agricultor familiar.
Em 1982, segundo Frank Martins de Oliveira, engenheiro agr�nomo da Emater, Sete Lagoas deu in�cio ao programa de hortas urbanas com 32 fam�lias em situa��o de vulnerabilidade social. A cidade teve “boom” populacional nos anos 1970 quando come�aram a se instalar ind�strias sider�rgicas em seu territ�rio, recebendo in�meros migrantes em busca de trabalho e renda, muitos sem qualifica��o de m�o de obra para o setor e que acabaram migrando para a agricultura. A prefeitura resolveu criar o programa, em parceria com a Emater, usando �reas dispon�veis para evitar tamb�m a ocupa��o irregular.
SEM AGROT�XICOS
No caso da produ��o estabelecida diretamente no espa�o urbano, o uso de agrot�xicos n�o � permitido, portanto � necess�rio que o produtor se adapte � agroecologia, como agricultura org�nica. As pragas s�o combatidas por controle biol�gico e de caldas naturais e os fertilizantes saem da compostagem de res�duos. As mudas s�o produzidas em estufas no ambiente das hortas e tamb�m s�o comercializadas pelos produtores.
Aroldo Jos� Rocha, engenheiro agr�nomo na Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econ�mico e Tur�stico, diz que o programa de hortas comunit�rias urbanas � destinado a fam�lias com vulnerabilidade socioecon�mica. Aprovada a inscri��o, o solicitante aguarda o surgimento de vaga. S�o disponibilizadas �reas, em m�dia, de 360 metros quadrados, denominadas quadras.