
A R�ssia foi o �ltimo pa�s a reconhecer, em julho, a vacina contra a circovirose su�na, desenvolvida nos laborat�rios da Universidade Federal de Vi�osa (UFV). Pesquisadores esperam pelo pedido de patente no Brasil desde 2013, quando a ideia foi depositada no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Estados Unidos e Col�mbia j� reconheceram e aguarda-se pela Uni�o Europeia, Uruguai, M�xico e Argentina.
Os pa�ses s�o soberanos em rela��o �s suas legisla��es. Esse consentimento indica que o documento apresentado �s autoridades de cada pa�s atendeu aos requisitos e m�rito para ser uma patente e, na pr�tica, isso quer dizer que quando a vacina estiver validada para chegar ao mercado, seus titulares (UFV e Fapemig) ter�o um monop�lio de 20 anos para comercializa��o da vacina naquele pa�s.

''A doen�a ataca o sistema imunol�gico dos su�nos, principalmente ap�s o desmame, e facilita a entrada de outras enfermidades, causando significativa mortalidade''
.S�rgio Lacerda Beir�o, diretor de Ci�ncia, tecnologia e Inova��o na Fapemig
Atinge principalmente su�nos ap�s o desmame, a partir da 6ª semana de vida. Clinicamente observa-se retardo no crescimento, anemia e icter�cia, podendo evoluir para a morte. � tamb�m conhecida pelo nome de “s�ndrome da refugagem” ou “s�ndrome multisist�mica do definhamento do leit�o desmamado” “PMWS” (postweaning multisystemic wasting syndrome), pelo fato de os animais acometidos ou morrem ou ficam pequenos e fora do padr�o de peso para a idade, devido ao ataque de v�rias bact�rias oportunistas, tornando o su�no um doente cr�nico. O quadro cl�nico se caracteriza por dermatite e nefropatia, dist�rbios reprodutivos como abortos, e pneumonias, enterites, doen�as do sistema nervoso, tais como meningoencefalite e tremores cong�nitos.
Esse v�rus ataca granjas em todo o mundo, causando definhamento dos leit�es e preju�zos aos produtores. At� agora, as vacinas dispon�veis no Brasil para preven��o das infec��es s�o importadas e muito caras. A mais barata e eficiente est� em fase de escalonamento industrial e dever� chegar ao mercado at� o fim de 2020.
De acordo com a UFV, o estudo foi conduzido por uma equipe de pesquisadores coordenados pelos professores M�rcia Rog�ria de Almeida Lam�go, da Sanches&Almeida Biotec Consultoria e Inova��o, e Abelardo Silva J�nior, do Departamento de Veterin�ria (DVT). Para chegar ao produto, os pesquisadores isolaram e sequenciaram o DNA de um gen�tipo viral considerado o mais patog�nico e amplamente distribu�do nas granjas brasileiras e de outros pa�ses.
A UFV divide com a Fapemig a titularidade da patente e, de acordo com o Departamento de Prote��o Intelectual e Transfer�ncia de Tecnologia (DPIT) da Funda��o, esta n�o � a primeira concess�o. A vacina j� foi patenteada na Col�mbia, Estados Unidos e no M�xico e h� processos para patenteamento no Uruguai, Argentina e Comunidade Europeia e China.
Os resultados obtidos nas provas de campo, em camundongos e su�nos naturalmente infectados, mostraram que o prot�tipo desenvolvido tem efici�ncia superior �s vacinas importadas dispon�veis no mercado brasileiro. O sequenciamento do DNA do v�rus foi o primeiro da Am�rica Latina a ser depositado e disponibilizado no GenBank, um banco de dados de sequ�ncias gen�ticas de seres vivos e de amino�cidos do Centro Nacional de Informa��o Biotecnol�gica, dos Estados Unidos. O desenvolvimento da tecnologia vacinal do PCV2 foi financiado pela Funda��o de Amparo � Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cient�fico e Tecnol�gico (CNPq).
M�rcia Almeida conta que depois de testada, a tecnologia da vacina foi apresentada a empresas especializadas em sanidade animal no Brasil. Uma empresa de Cravinhos, distrito de Ribeir�o Preto, apresentou a melhor proposta e, desde 2015, est� realizando as adapta��es para produ��o em escala industrial. “N�s estamos acompanhando tudo e dando continuidade �s pesquisas para esta adapta��o. Sabemos que o tempo da academia � diferente do tempo da empresa e o processo de transfer�ncia � lento”, diz a doutora M�rcia Rog�ria.
Para S�rgio Lacerda Beir�o, diretor de Ci�ncia, Tecnologia e Inova��o na Fapemig, uma patente pode demorar at� 10 anos no Brasil para ser reconhecida e pode ser um dos gargalos na comercializa��o de produtos desenvolvidos por pesquisadores brasileiros. Depois de testado, o produto deve ser “depositado” no INPI e 12 meses depois, mesmo sem a resposta do instituto nacional, pode passar a dep�sitos internacionais. S�o escolhidos os pa�ses mais atraentes comercialmente para a inven��o.
Beir�o explica que a institui��o que desenvolve um produto, n�o ser� a que comercializa. “Trata-se de outra empresa que trabalhar� o ant�geno patenteado para o formato a ser comercializado”. Ele reconhece que no Brasil, com “nobres exce��es”, as empresas n�o cultivam a cultura de parcerias com universidades e institui��es de pesquisa para desenvolver produtos, uma vez que envolve riscos. “A ind�stria, de maneira geral, quer a coisa pronta e prefere comprar pacotes externos. E uma vez comprando de outros pa�ses, a empresa ficar� sempre dependente para a aquisi��o”, revela.
S�rgio Beir�o refor�a a import�ncia do fomento � pesquisa. “Para um desenvolvimento sustent�vel � necess�rio pesquisa de qualidade. Para construir uma sociedade � preciso conhecimento estruturado em todas as �reas. A vacina su�na ilustra que dentro desse conhecimento em diferentes �reas tem algumas bem desenvolvidas no estado. Inclusive �reas fortes do ponto de vista econ�mico. Nas ci�ncias agr�rias temos grupos de pesquisas muito bem estruturados. N�o � a toa que a contribui��o da agricultura ao PIB do estado � t�o grande”, afirma.
Ele cita o fato de o Brasil, at� os anos 1950/60, produzia e exportava praticamente s� caf� e importava alimentos. Chegou a receber leite dos Estados Unidos no programa Alian�a Para o Progresso, que durante a guerra fria era usado com o argumento de “acelerar o desenvolvimento econ�mico e social da Am�rica Latina, e ao mesmo tempo frear o avan�o do socialismo no continente”. “O cerrado era considerado improdutivo e hoje � altamente produtivo e tem que se ter cuidado para n�o ser devastado. Tudo isso foi conquista do conhecimento, da pesquisa. Minas Gerais � um estado que se orgulha pelo n�vel das institui��es aqui instaladas, como as universidades p�blicas, por exemplo”, conclui S�rgio Beir�o.