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Estado de Minas Alerta

Cloroquina � ineficaz contra COVID-19 e aumenta risco de doen�a card�aca e morte, diz estudo

A maior at� agora sobre o tema, pesquisa observou 96 mil pessoas infectadas e conclui que a droga n�o apresenta nenhum benef�cio no tratamento da doen�a


22/05/2020 16:34 - atualizado 22/05/2020 16:50

(foto: Reprodução/Internet/ICTQ)
(foto: Reprodu��o/Internet/ICTQ)

A revista brit�nica The Lancet, publica��o cient�fica sobre medicina, divulgou nesta sexta-feira (22) estudo que atesta que o uso da hidroxicloroquina e da cloroquina � ineficaz no tratamento da COVID-19, sem nenhum benef�cio. A pesquisa abarca 96 mil pacientes e, pelo contr�rio do que alguns propagam, esclarece que n�o h� melhora no quadro de sa�de de pessoas com a doen�a, e ainda existe um risco maior de danos ao cora��o e morte, no tempo de interna��o pela infec��o. Trata-se do maior levantamento, at� o momento, que trata da rela��o entre o Sars CoV-2 e o uso da subst�ncia.

Foram acompanhados 96.032 pessoas hospitalizadas, com m�dia de idade de 53,8 anos, sendo 46,3% do sexo feminino. A pesquisa re�ne pacientes de 671 hospitais em seis continentes, e 14.888 deles receberam quatro esp�cies de terapia distintas com a cloroquina e a hidroxicloroquina. As interna��es aconteceram entre 20 de dezembro passado e o �ltimo dia 14 de abril.

Os especialistas analisaram lado a lado os resultados de 1.868 indiv�duos que receberam somente cloroquina, 3.016 em quem foi ministrada a combina��o entre cloroquina e macr�lidos (um tipo de antibi�tico), e outras 6.221 pessoas que tomaram hidroxicloroquina e m�crolidos. Os pacientes que n�o tomaram os medicamentos, chamado grupo de controle, base para compara��o, � composto por 81.144 infectados.

Ao fim da aferi��o, ficou constatado que 1 a cada 11 pacientes do grupo de controle acabou morrendo - 7.530 pessoas, o correspondente a 9,3% do total. Dentre os resultados, tamb�m a verifica��o de que, para os doentes que usaram apenas cloroquina ou hidroxicloroquina, aproximadamente 1 a cada 6 faleceram - 307 pacientes usaram a cloroquina (16,4%) e 543 a hidroxicloroquina (18%).

Entre as pessoas que receberam cloroquina ou hidroxicloroquina associadas a macr�lidos, uma m�dia de �bito entre 1 a cada 5 pessoas doentes - quanto � aplica��o da cloroquina com antibi�tico, aconteceram 839 mortes (22,2%), e, para quem foi tratado com a hidroxicloroquina combinada com o antibi�tico, esse dado fica em 1.479 mortes (23,8%).

Os cientistas puderam ainda observar que os indiv�duos que receberam as subst�ncias manifestaram chance maior de apresentar arritmia card�aca. Nessa situa��o, a preval�ncia � entre pacientes que tomaram hidroxicloroquina com antibi�ticos - 8%, o que significa 502 pessoas entre um grupo total de 6.221. Para os pacientes do grupo de controle, em quem n�o foi ministrado o rem�dio, esse patamar ficou em 0,3%.

Alguns fatores podem refletir na conclus�o da pesquisa, portanto os autores n�o aplicaram dados sobre idade, ra�a, �ndice de massa corporal e outras condi��es, como, por exemplo, doen�as card�acas, pulmonares, ou diabetes.

O uso da cloroquina e da hidroxicloroquina tem causado pol�mica, com informa��es, por vezes, desencontradas. Nessa semana, a Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) j� havia falado sobre seus efeitos colaterais, ao passo da inefici�ncia para tratar a COVID-19. Essa pesquisa publicada na revista do Reino Unido � pioneira no sentido de apresentar evid�ncias robustas sobre a inefic�cia da cloroquina ou hidroxicloroquina no tratamento da doen�a causada pelo coronav�rus, com comprova��es estat�sticas. No entanto, ainda assim, os profissionais reiteram a import�ncia da realiza��o de mais pesquisas internacionais para corroborar os resultados, em um an�lise definitiva.

"Por tr�s das decis�es sobre qual exame laboratorial pedir, qual medicamento prescrever, as atitudes m�dicas  devem se basear em boas evid�ncias dos estudos epidemiol�gicos. De tudo que li at� agora sobre a cloroquina e a hidroxicloroquina, n�o est� clara base cient�fica alguma para prescrever o uso. O estudo publicado s� corrobora isso", diz o epidemiologista Jos� Geraldo Leite Ribeiro. Ele lembra que estudos anteriores, favor�veis ou n�o ao rem�dio, n�o s�o t�o confi�veis pelo n�mero pequeno de pacientes observados, o que, no caso da pesquisa atual, n�o acontece - para o especialista, � uma quantidade muito boa de pessoas estudadas.

Jos� Geraldo diz que, no caso de atender algum paciente que j� pede o uso da cloroquina de antem�o, prefere direcion�-lo para outro profissional, algu�m que tenha ideias mais pr�ximas ao seu ponto de vista. "Eu, como m�dico, n�o prescrevo a cloroquina, n�o estou confort�vel quanto ao seu uso. Estou convencido, pelo que se tem at� agora, que n�o h� a indica��o. Na verdade, existem malef�cios em potencial, um medicamento que pode at� mesmo piorar o quadro de sa�de do paciente. Conforme a pesquisa, n�o houve melhora relacionada ao rem�dio en nenhum paciente, mas sim um n�mero consider�vel de mortes", pondera.

Estudos nesse sentido v�m sendo elaborados pela comunidade cient�fica. At� o princ�pio de maio, por�m, n�o existiam levantamentos mais assertivos em rela��o a esses medicamentos. O primeiro estudo sobre o tema foi realizado na Fran�a, com 26 pacientes, mas a interpreta��o dos dados n�o chegou a conclus�es t�o claras, e a pesquisa acabou criticada pela comunidade cient�fica.

"Est� comprovada a inefic�cia da droga para tratar a infec��o pela COVID-19. Ao contr�rio, a pesquisa mostra que, al�m dos efeitos colaterais e eventos adversos que podem se originar, tamb�m aumentou a mortalidade", diz o infectologista Andr� Fernando Diniz e Silva. Para ele, entre um excesso de informa��es falsas, a cloroquina e a hidroxicloroquina t�m sido consideradas erroneamente, por muitos, como um rem�dio 'salvador', o que pode levar ao uso indiscriminado, diz o infectologista, e isso feito sem prescri��o m�dica � ainda mais perigoso. "N�o h� nenhum fundamento cient�fico sobre a efici�ncia do rem�dio no tratamento. Seu uso � indicado apenas em caso de pesquisas, mesmo assim com o paciente se responsabilizando sobre o que pode acontecer. N�o deve ser usado nem mesmo em casos leves, como o Minist�rio da Sa�de chegou a recomendar", lembra.

Em 8 de maio, a revista brit�nica The New England Journal of Medicine, divulgou resultados at� ent�o mais abrangentes sobre o efeito da hidroxicloroquina para o enfrentamento do coronav�rus e, do mesmo modo que o estudo agora apresentado, n�o encontrou sinais concretos de que a droga minimiza o risco de intuba��o e morte. Outras pesquisas mundiais tamb�m n�o atestam a efic�cia do rem�dio, assim como a Sociedade Brasileira de Infectologia n�o aconselha o uso.

A descoberta do princ�pio ativo que originou o desenvolvimento da cloroquina remonta a 1918, quando, diante da Gripe Espanhola, o quinino foi indicado para tratar a doen�a. De l� para c�, a cloroquina j� foi testada para o tratamento do ebola, febre Chikungunya, H1N1 e zika v�rus, sem ter se mostrado eficaz em nenhuma dessas situa��es. � tamb�m aplicada como rem�dio para mal�ria, l�pus e artrite reumatoide. � o que explica o professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e m�dico infectologista, Una� Tupinamb�s. "A cloroquina n�o deve ser usada fora do ambiente de pesquisa, e mesmo assim o uso deve ser cauteloso. Como princ�pio b�sico da medicina, est� n�o fazer mal. Existe um medo em precipitar a morte das pessoas recorrendo a terapias que n�o s�o comprovadamente eficazes", salienta o m�dico. Ele lembra que, mesmo que seja feita a flexibiliza��o do isolamento social, para evitar o coronav�rus � preciso que a popula��o continue observando as medidas de preven��o, como evitar aglomera��es, manter a dist�ncia m�nima de 1,5 metros para outras pessoas, usar m�scara e levar sempre as m�os.  

No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro defende a cloroquina. Na �ltima quarta-feira, o Minist�rio da Sa�de divulgou documento que orienta a aplica��o da hidroxicloroquina no pa�s entre os infectados. Na quinta-feira, foi editada nova vers�o com a assinatura de secret�rios da sa�de da pasta. A decis�o do minist�rio d� conta sobre a necessidade de o paciente autorizar a utiliza��o do medicamento e de o profissional de sa�de optar pela administra��o ou n�o da droga, que n�o � oferecida para a popula��o em geral. O protocolo sobre a cloroquina motivou atrito entre Bolsonaro e os dois �ltimos a ocuparem a cadeira no Minist�rio da Sa�de, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich que, em menos de um m�s, deixaram o cargo.


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