
Estudos recentes mostram que o antiviral desenvolvido para tratar o ebola reduz o tempo m�dio de perman�ncia nas UTIs de 15 para 11 dias e em 30% as mortes em decorr�ncia da COVID-19.
Os autores do estudo analisaram essas informa��es e a realidade epidemiol�gica da �frica do Sul, que tem a maior quantidade de casos no continente, e chegaram � conclus�o de que o uso do remdesivir pode aumentar o n�mero de pacientes tratados nas UTIs em mais de 50%. Dessa forma, seriam salvas at� 6.682 vidas por m�s.
As proje��es mostraram ainda que, se o tratamento direto com remdesivir tamb�m salva a vida de mais de 30% dos pacientes — a estimativa atual do medicamento —, o duplo impacto do antiviral poderia evitar at� 13.647 mortes na �frica do Sul at� dezembro.
Segundo a Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), o pa�s contabiliza 205.721 infectados e 3.310 mortos e, desde o m�s passado, tem enfrentado um aumento significativo de casos.
Em 4 de junho, por exemplo, foram contabilizados 1.713 casos. Em 4 de julho, 9.063.
Apesar de a an�lise se restringir � realidade sul-africana, a equipe norte-americana considera que a abordagem pode aumentar a rotatividade das unidades de terapia intensiva em outros locais. “Existem muitos pa�ses com capacidade limitada de UTI que poderiam se beneficiar desse duplo impacto na mortalidade”, afirma, em comunicado, Brooke Nichols, autor principal do estudo, revisado por pares e divulgado na revista Clinical Infectious Diseases.
Tamb�m professor-assistente de sa�de global da universidade, Brooke Nichols diz estar preocupado com a not�cia de que os Estados Unidos compraram boa parte do suprimento de remdesivir.
Segundo ele, h� o risco de aloca��o incorreta de recursos caso o governo n�o se certifique de que a prioridade de uso do antiviral ser� dada �s localidades sobrecarregadas do pa�s.
“Por que voc� usaria uma droga com disponibilidade limitada para salvar uma vida quando essa mesma droga poderia ser usada para salvar duas?”, justifica.
O remdesivir � um dos medicamentos que ainda est�o na lista de potenciais rem�dios contra a COVID-19. A hidroxicloroquina, defendida pelo presidente Jair Bolsonaro, j� deixou de ser at� testada pela OMS.
Realidades distintas
Nichols e os coautores do estudo v�m modelando a epidemia da COVID-19 na �frica do Sul para ajudar o governo do pa�s na tomada de decis�es.
Analisando o modelo de epidemiologia da doen�a, eles conclu�ram que, se cada um dos pacientes com a doen�a atendidos em UTIs recebesse o remdesivir, o n�mero de pessoas tratadas passaria de 23.443 a 32.284 em junho para 36.383 a 47.820 em dezembro.
A equipe, por�m, enfatiza que, para se chegar a esses n�meros, � preciso que as unidades de terapia funcionem de forma adequada: “� importante ressaltar que, embora o simples mecanismo de redu��o do n�mero de dias de UTI tenha grande impacto na mortalidade, s� poder� ter esse efeito t�o grande se o sistema de tratamento intensivo tiver estruturado”.
A equipe tamb�m pondera que a taxa de mortalidade em UTIs muda de pa�s para pa�s e de hospital para hospital. Dessa forma, a proje��o quanto ao n�mero de vidas salvas em raz�o do aumento de capacidade das unidades de terapia intensiva tamb�m varia.
Outro ponto a ser considerado � a import�ncia de que novos estudos revelem a influ�ncia de outras op��es de tratamento, como o uso de dexametasona, sobre o tempo de perman�ncia de pacientes nas UTIs e a redu��o no risco de morte.
Estoque quase exclusivo nos EUA
No in�cio deste m�s, o Departamento de Sa�de e Servi�os Sociais dos Estados Unidos (HHS, na sigla em ingl�s) anunciou que havia fechado um acordo com o laborat�rio californiano Gilead Sciences para comprar praticamente todo o estoque global, do remdesivir.
Ficar�o no pa�s 100% da produ��o do antiviral de julho, 90% da de agosto e 90% da de setembro.
“Queremos assegurar que qualquer paciente norte-americano que necessite do remdesivir poder� consegui-lo”, justificou o secret�rio de Sa�de e Servi�os Humanos dos Estados Unidos, Alex Azar.
O tratamento � base de remdesivir utiliza seis doses e custar�, em m�dia, US$ 3.200. O an�ncio do presidente Donald Trump da aquisi��o massiva da droga e o da Gilead sobre o pre�o do tratamento despertaram cr�ticas pelo mundo.