Tr�s gera��es de m�dicos na Rede Mater Dei de Sa�de. Na foto, Felipe Salvador Lig�rio, Maria Norma Salvador Lig�rio, Jos� Salvador Silva, Norma Salvador, Henrique Moraes Salvador, Anna Salvador, Livia Salvador Geo, M�rcia Salvador Geo e Lara Salvador Geo (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Em tempos de pandemia, este � um trabalho que ganha um significado ainda mais especial. Auxiliados pelas equipes de sa�de, os m�dicos enfrentam um v�rus fatal e se desdobram para acolher e tratar o paciente. N�o h� hor�rios, n�o h� fronteiras para quem escolheu a dif�cil miss�o de salvar vidas, tornando-se exemplo e refer�ncia para jovens que seguem os rumos de pais e demais familiares. Neste domingo, o Dia do M�dico tem um sentido importante. A dedica��o desses profissionais enaltece o esfor�o de quem, ao final de cada jornada, honra o fazer que se reinventa a todo instante, mas n�o perde a ess�ncia.
O exemplo dessa dedica��o e entrega � acompanhado em casa. A medicina, muitas vezes, � um saber transmitido entre gera��es. "� preciso roubar uma parte da vida para dedicar aos sonhos, ideais e realiza��es que n�o queremos que morram conosco." A frase inspiradora de Jos� Salvador da Silva, fundador da Rede Mater Dei de Sa�de, em Belo Horizonte, mostra que seu grande sonho � tamb�m o sonho de seus descendentes. "Sempre fui um sonhador. Menino, sonhei em ser m�dico. Quando jovem, depois de me formar, tive o sonho de construir um hospital", diz o ginecologista e obstetra que, aos 90 anos, passou para a fam�lia a maravilha sobre a profiss�o.
Com a esposa, Norma Salvador, igualmente ginecologista, tem tr�s filhos e quatro netos seguindo os mesmos passos. "Nossos filhos viram de n�s o entusiasmo pelo trabalho. Me encanta a possibilidade de ajudar o outro, n�o apenas como m�dico. A principal bandeira do hospital � atender bem o paciente, de forma personalizada, individualizada e humanizada", diz Jos� Salvador.
Desde a inf�ncia, Norma Salvador nutria o desejo em ser m�dica. Aos 88 anos, recorda-se que os filhos sempre viram o casal atendendo aos chamados no hospital, n�o importava se era dia ou noite. Para ela, a medicina ensinou sobre amor, carinho, a se doar, estar dispon�vel, seja qual for a situa��o. "Vivemos pelo trabalho. O m�dico precisa ter uma vis�o geral sobre o mundo, sobre a vida. Nosso exemplo deu coragem e for�a para que nossos filhos exercessem a medicina. E o exemplo vale mais que palavras", declara.
Hoje, as filhas Maria Norma e M�rcia, s�o diretoras da Rede Mater Dei de Sa�de, e o primog�nito, Henrique, � o presidente do grupo hospitalar. Renato, o outro filho, � o �nico que n�o seguiu caminho na medicina. Engenheiro, coordena uma construtora. Entre 10 netos, na terceira gera��o Felipe, Anna, Lara e Livia s�o m�dicos e integram a equipe na rede.
Henrique Moraes Salvador Silva, de 62, � mastologista. Teve forma��o na Inglaterra, It�lia, Canad� e Estados Unidos, e est� no Mater Dei desde 1985. Lidar diretamente com o ser humano e fazer o bem � algo que lhe d� prazer. Sobre a medicina, gosta do fato de poder exerc�-la de v�rias maneiras. Primeiro, o atendimento ao paciente, depois a medicina acad�mica (� professor livre docente), a medicina de gest�o, com o dia a dia no hospital, e a medicina de representa��o de classe - Henrique j� presidiu a Sociedade Brasileira de Mastologia e a Associa��o Nacional de Hospitais Privados. "Dos meus pais, aprendi sobre o respeito ao paciente, o amor pela profiss�o e o compromisso em estar sempre atualizado", conta.
"Atrav�s da pr�tica, da observa��o, do dia a dia, meus pais desde cedo me mostraram o qu�o gratificante � ser m�dico", diz Maria Norma Salvador Lig�rio, de 60, ginecologista e obstetra. A m�dica trabalha no Mater Dei desde a inaugura��o, em 1980. � vice-presidente administrativa e financeira. Jos� Salvador e Norma s�o para ela refer�ncia de luta e trabalho duro.
"Desde a inf�ncia convivo com a medicina por causa de meus pais, e me encantei. Precisamos ter inspira��o, mas � atrav�s da transpira��o que chegamos aonde queremos." No �mbito de sua especialidade, conta que o que mais lhe fascina � ajudar a trazer ao mundo um novo ser. "� indescrit�vel a sensa��o de entregar aos pais o filho que acaba de nascer", acrescenta. Para o filho, Felipe, Maria Norma ensina a import�ncia de fazer o que lhe agrada, e fazer com amor.
J� M�rcia Salvador G�o, de 57, � ginecologista, obstetra e uroginecologista. Atua no Mater Dei desde os 17, onde hoje � vice-presidente assistencial e operacional. Dos pais, apreendeu a miss�o de servir ao pr�ximo, de ser desafiada a dar o melhor para os pacientes, a import�ncia do conhecimento, para oferecer o que h� de mais moderno na �rea, perseguindo preceitos �ticos e filos�ficos. "S�o exemplo de luta e perseveran�a. Profissionais que foram al�m, se destacaram e fizeram a diferen�a, seja na fam�lia, na vida dos pacientes, e na sociedade em geral. Ensinaram-me a nunca desistir dos sonhos. Que a vida � bem melhor se tiver um prop�sito, que a fam�lia e os amigos s�o essenciais para sermos felizes", pontua.
Para M�rcia, a li��o que fica � a da humildade, a cren�a na vida como bem maior, respeitar o tempo das coisas e saber que o tempo � finito, perceber que pequenos atos fazem a diferen�a. "Cada paciente te ensina muito e te faz um ser humano melhor. � um privil�gio trabalhar com pessoas, ter um desafio novo a cada dia. Uma troca de energia que nos faz lidar melhor com os obst�culos. Achamos que estamos ajudando o paciente, mas quem sai melhor desta troca somos n�s, os m�dicos." Para as filhas, Lara e L�via, M�rcia procura lembrar de ter um objetivo, e disciplina e foco para atingi-lo. "Que sonhem sempre, que tudo nesta caminhada vale a pena, principalmente quando a alma n�o � pequena."
Felipe Salvador Lig�rio, de 32, ingressou na Rede Mater Dei de Sa�de em 2009, primeiro como estagi�rio de medicina. Atualmente, � diretor m�dico e atua na gest�o e administra��o do grupo, auxiliando pacientes e m�dicos de todas as especialidades. Dos av�s, da m�e, Maria Norma, e dos tios, teve refer�ncias profissionais e pessoais. "Me ensinaram a agir diante de situa��es dif�ceis e delicadas, sem esquecer o lado humano. A medicina exige dedica��o e entrega. Sem esfor�o nada � poss�vel.”
Felipe diz que admira a profiss�o desde cedo, pela influ�ncia mesmo da fam�lia. A escolha na hora do vestibular foi natural. "A vontade de servir ao pr�ximo sempre existiu e percebi que a medicina me proporcionaria isso. Me sinto grato e honrado em poder ajudar as pessoas em momentos delicados. � um desafio e uma miss�o de vida."
MEDICINA COMO ARTE
Anna Salvador, de 29, � filha de Henrique. Ela entrou no hospital como estagi�ria em 2011. Como os familiares, tamb�m atua com ginecologia, mastologia e obstetr�cia. O pai e os av�s lhe apresentaram a medicina como uma arte. A arte em contribuir com o outro, e uma maneira sem igual de realiza��o profissional. "Saber o que meus av�s constru�ram e como influenciaram na vida dos pacientes para melhor �, para mim, o est�mulo para crescer enquanto pessoa e ser uma profissional completa. A medicina me mostra como n�o temos o controle em muitas situa��es, mas um simples detalhe importa. E me pede a cada dia para me aprimorar."
Sobre o fazer da profiss�o, o encantamento s�o os la�os edificados. Para Anna, nada mais importante que um abra�o carinhoso de gratid�o - faz valer todo sacrif�cio. "Optei pela medicina justamente por admirar tanto meus av�s, meu pai e minhas tias. Desde a adolesc�ncia, tive a oportunidade de acompanhar meu pai nos partos que fazia. Me sinto privilegiada. Poder contribuir para a sa�de das pessoas e presenciar uma vida nova � emocionante."
Lara Salvador G�o, de 27, � uma das filhas de M�rcia. Depois de passar pelo Mater Dei, agora trabalha em outro hospital. � gestora. N�o pratica a medicina assistencial. "Minha m�e e meus av�s me apresentaram a medicina como uma profiss�o apaixonante, de doa��o, de troca, de respeito. Tenho orgulho em fazer parte dessa fam�lia. Eles s�o para mim a maior inspira��o, um exemplo di�rio, n�o apenas profissional."
Lara diz que a medicina lhe faz ser uma pessoa melhor, perceber cada indiv�duo como �nico, com sua beleza e singularidades. "Trata-se de enxergar o outro em todas as suas dimens�es. � uma troca gratificante. Me sinto realizada e feliz em ver que, de alguma forma, estou impactando positivamente na vida do paciente."
Para L�via Salvador G�o, de 26, outra filha de M�rcia, a medicina pede para aprimorar o ouvir, em uma �poca em que muito se fala e pouco se escuta. "Nunca devemos desvalorizar a queixa de uma pessoa. � preciso ter um olhar hol�stico para realizar um cuidado amplo e adequado", diz L�via, que ingressou no Mater Dei em 2016 e, para a resid�ncia m�dica que come�a em 2021, escolheu tamb�m a ginecologia e obstetr�cia. Lembra da forma amorosa com que os familiares sempre se referiram � medicina. “N�o s� minha m�e e av�s. Meus tios e primos tamb�m me inspiram na carreira que quero construir. Estou come�ando e tenho muito a aprender, com a certeza que estou cercada por grandes m�dicos. A medicina � uma �rea cheia de possibilidades", afirma.
Caminho natural M�dicos que seguem os passos dos pais, tios ou av�s compartilham experi�ncias no trabalho. Muito mais do que aprendizado e intera��o, exemplo e dedica��o s�o levados para todas as �reas da vida
Os cirurgi�es pl�sticos Pedro e Marzo Bersan: filho e pai trabalham juntos (foto: Arquivo Pessoal
)
Cirurgi�es pl�sticos, Marzo e Pedro Bersan s�o pai e filho. Aos 60 anos, Marzo trabalha no hospital Madre Teresa, em Belo Horizonte, desde 1986, e j� fez parte da equipe m�dica do centro de queimados da Fhemig. H� mais de 30 anos, tamb�m mant�m consult�rio pr�prio, e conta com o filho na equipe h� cinco anos, tempo em que Pedro tamb�m se tornou companhia no hospital. Os dois atuam juntos nas interven��es cir�rgicas, discutem casos m�dicos e as melhores formas de conduzir os tratamentos em cada situa��o.
Para Marzo, o fato de o filho ter escolhido a profiss�o � motivo de orgulho. Ele diz que a intera��o � enriquecedora – uni�o entre sua vis�o, mais antiga, e o que vem de novo de Pedro, de 33. "Transmito a experi�ncia t�cnica e tamb�m sobre relacionamentos. Cuidar do paciente, aliviar sofrimentos, ter prazer no trato com as pessoas. A medicina � algo que nasce com a gente", afirma Marzo.
Pedro conta que aprende muito com o pai, para ele um verdadeiro professor. Ser m�dico foi um caminho natural. Marzo nunca o pressionou para que seguisse a carreira. "A informa��o est� acess�vel a todos, mas a experi�ncia vem com o tempo, n�o est� nos livros. A medicina me ensina sobre empatia. Aprendi com meu pai sobre a import�ncia de se colocar no lugar do outro, ter aten��o com o paciente, o rigor para garantir a seguran�a nos procedimentos. Podem dizer que a cirurgia pl�stica � uma futilidade. Mas interfere diretamente na autoestima, na melhor percep��o sobre si mesmo e nas rela��es interpessoais", ressalta.
Os pacientes que geralmente buscam interven��es em cirurgia pl�stica, explica Pedro Bersan, quase sempre agendam os procedimentos em algum momento que n�o atrapalhe a rotina de trabalho, j� que o tempo de licen�a m�dica costuma ser de at� 15 dias. "Como a maioria est� em home office e n�o tem a obriga��o do emprego presencial, j� marca a cirurgia de uma vez. Aumentou muito a procura por mudan�as na face, nariz e p�lpebra, caracter�sticas que ficam mais evidentes nas chamadas de v�deo", diz o cirurgi�o.
A endocrinologista Patr�cia Fulg�ncio, de 48 anos, � de uma fam�lia de m�dicos: op��o pela medicina nunca foi uma d�vida (foto: Arquivo Pessoal
)
A endocrinologista Patr�cia Fulg�ncio, de 48, � de uma fam�lia de m�dicos. Cresceu no hospital mantido pelos pais em Mantena, no interior de Minas Gerais. � diretora da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia - Regional Minas Gerais (SBEM-MG), presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes - Regional Minas Gerais (SBD-MG), professora da Faculdade de Ci�ncias M�dicas e tem consult�rio particular.
A op��o pela medicina nunca foi uma d�vida. De Ant�nio, cirurgi�o, e Helo�sa, ginecologista, recebeu o exemplo de um trabalho �rduo e cont�nuo, de dedica��o, respeito, cuidado e carinho. Com 78 e 75 anos, respectivamente, os pais at� hoje demonstram o amor pelo que fazem, e isso foi transmitido para toda a fam�lia. "Eles iam ao hospital durante a noite, passando de leito em leito para ver se tudo estava bem, e muitas vezes eu ia junto. Fui me apaixonando, nunca pensei em fazer outra coisa. Aprendi como a medicina � fundamental para melhorar a vida, ainda que n�o seja curar, mas aliviar a dor", diz. O irm�o � cardiologista e a irm� oftalmologista. Patr�cia j� come�a a perceber tamb�m o pendor da filha mais nova pela carreira m�dica.
Patr�cia conta que, no primeiro m�s da pandemia, os atendimentos tiveram uma queda brusca na frequ�ncia. O que logo a fez come�ar a prestar assist�ncia por telemedicina. Come�ou a auxiliar pacientes n�o apenas em BH, mas tamb�m no interior de Minas Gerais e at� em outros pa�ses. "Muitas pessoas gostaram do modelo. Os atendimentos presenciais est�o voltando, mas muita gente preferiu continuar com a telemedicina. Tenho mais pacientes agora do que antes da COVID-19", diz.
ORGULHO
Christiano Sim�es, de 40 anos, e o pai, Roger Sim�es, de 73, s�o m�dicos ortopedistas e traumatologistas (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Incluindo o per�odo de resid�ncia, Christiano Sim�es, de 40, trabalha no hospital Fel�cio Rocho, em BH, desde 2006, e tem consult�rio privado. Atua como ortopedista e traumatologista, assim como o pai, Roger Sim�es, que ingressou na unidade de sa�de em 1972. Seguindo o percurso paterno, trata problemas de coluna, traumas, patologias cr�nicas, tumores, casos de deformidades e degenera��o, al�m do pronto atendimento em urg�ncias e emerg�ncias.
Ele se lembra das ocasi�es em que, ainda crian�a, passeava com o pai e encontrava pacientes o cumprimentando, agradecendo pelo tratamento. O que mais ouvia era "o senhor salvou minha vida". "Ficava orgulhoso, e isso me fez desejar trabalhar na mesma �rea. A medicina sempre foi para mim uma refer�ncia", conta.
Para Christiano, os encantos da profiss�o, que em sua opini�o exige dedica��o e voca��o, passam principalmente pela possibilidade de resolver o problema do pr�ximo, ser �til, perceber a gratid�o das pessoas, poder ajudar em momentos dif�ceis. "Meu pai me ensinou a ser honesto, a n�o usar a medicina como finalidade, mas como meio. Meio para conquistar as coisas na vida. O primeiro objetivo � cuidar. Qualquer resultado financeiro � secund�rio, apenas uma consequ�ncia."
Roger tem 73 anos. Na �poca de crian�a, lembra-se de que as maiores aspira��es nas fam�lias � que se formassem m�dicos. Algo que foi intencionado pelos seus pais. Conta que sempre gostou da medicina, e logo seguiu o rumo. Hoje, o filho d� continuidade a essa hist�ria, e faz mais. "H� quase 50 anos, a medicina era muito artesanal. Hoje, meu filho est� muito mais bem preparado", compara.
A esposa de Christiano, Pierina Formentini, de 34, tamb�m � ortopedista e traumatologista, especializada em ortopedia pedi�trica. Conta que a intera��o com o marido � algo a acrescentar. "Discutimos as situa��es, falamos sobre as melhores condutas, orientamos um ao outro. Tranquilizar as fam�lias, transmitir a confian�a de que tudo vai melhorar, acompanhar a evolu��o do paciente, � uma satisfa��o", conta a m�dica, que trabalha na Santa Casa de Belo Horizonte e no hospital S�o Lucas, no Santa Efig�nia.
Legado de fam�lia Acompanhar o trabalho de pais nas consultas ou atendimentos domiciliares desde cedo despertou voca��o de m�dicos que decidiram seguir os mesmos passos na carreira. Aprendizado � di�rio
M�dico ginecologista, Agnaldo Lopes diz que os filhos, Teresa e Bernardo, querem seguir a mesma carreira
(foto: Arquivo Pessoal )
Agnaldo Lopes da Silva foi o primeiro morador de Cara�, no Norte de Minas, a se tornar m�dico, em 1958. Especializado em otorrinolaringologia, se formou em Belo Horizonte, pela Faculdade de Ci�ncias M�dicas de Minas Gerais. Nos 25 anos em que viveu em Te�filo Otoni, organizou sua rotina entre o consult�rio, o hospital e a fazenda da fam�lia. Com a esposa, Maria Thereza Martins da Costa Lopes, teve cinco filhos. Depois de quatro mulheres, nasceu o filho ca�ula, Agnaldo, que herdou do pai, falecido, o nome e a profiss�o.
Com passagem por algumas especialidades m�dicas, Agnaldo Lopes da Silva Filho, de 47, hoje � presidente da Federa��o Brasileira das Associa��es de Ginecologia e Obstetr�cia (Febrasgo). O ginecologista conta que n�o sabe precisar o momento exato em que decidiu cursar medicina. Desde crian�a, seus interesses apontaram a dire��o. O fato de ser filho do �nico otorrinolaringologista de uma cidade do interior lhe proporcionou uma experi�ncia interessante que, certamente, contribuiu para a escolha, embora antes n�o tivesse consci�ncia sobre isso.
"Naquela �poca, era costume o atendimento m�dico domiciliar e meu pai recebia pacientes em nossa casa ou os atendia em suas resid�ncias. Nesses atendimentos fora do consult�rio, frequentemente solicitava minha participa��o, quem sabe j� intuindo a minha voca��o e alimentando a chama", lembra.
Agnaldo diz que a carreira cient�fica e acad�mica foi influenciada por mestres da vida e da profiss�o. O primeiro foi o pai, homem de car�ter not�vel, honestidade e simplicidade, como relata, cujo exemplo foi sua maior ferramenta de ensino. "Talvez tenha sido o principal respons�vel pela minha carreira, j� que sempre me ensinou que estudo e compet�ncia s�o importantes, mas o imprescind�vel � o car�ter. Para meu pai, o mais importante n�o era ser bem-sucedido, mas ser um homem de valor", lembra. Da m�e, ainda garoto se recorda de ouvir que a medicina � um sacerd�cio.
Com a tamb�m m�dica R�via Lamaita, de 48, teve os filhos Teresa e Bernardo. Os dois pretendem seguir a carreira m�dica. "Interesso-me pela oncologia. Isso veio dos meus pais. Sempre escutei os dois conversando sobre a medicina e me passaram o amor pela profiss�o. Ensinaram-me a ir atr�s do que eu quero", conta Teresa.
Agnaldo diz que o aprendizado � di�rio, muito pelo contato com os pacientes que tem a oportunidade de auxiliar. "Aprendo com as vit�rias e tamb�m com os erros e fracassos. Quando se lida com vidas humanas, todas as decis�es envolvem riscos. O exerc�cio da medicina exige que sejamos capazes de enfrentar esses riscos e de tomar decis�es por vezes muito dif�ceis." Para Agnaldo, a no��o mais importante sobre rela��o m�dico-paciente � a da confian�a."A pessoa se entrega a voc�."
Com a pandemia, Agnaldo observa mudan�as na sua forma de atua��o. Costumava viajar para outras cidades, estados e at� pa�ses diferentes para participar de congressos, concursos, confer�ncias, bancas de p�s-gradua��o, muito por causa de seu cargo de professor titular da cadeira de ginecologia na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Nesse per�odo de quarentena, as atividades passaram a ser pelas plataformas digitais. Na universidade, inclusive, as aulas presenciais acabam de ser retomadas.
Por um lado, n�o h� mais o desgaste com tantas viagens, como diz o m�dico, e, por outro, com o trabalho na Febrasgo no momento baseado nos contatos virtuais, a rela��o com os associados foi estreitada. "Conseguimos uma presen�a mais pr�xima com os associados em outras regi�es do Brasil e no exterior", descreve.
SUPER-HER�IS
A psiquiatra Jaqueline Bifano, de 35, cresceu escutando do pai elogios � medicina. Pessoas que salvam vidas e se empenham no cuidado ao pr�ximo para ele s�o mesmo super-her�is. O irm�o e a irm� tamb�m s�o m�dicos. "Desde crian�a, para n�s essa parecia a melhor profiss�o que pod�amos escolher", diz.
A psiquiatra Jaqueline Bifano com os pais, Florisvaldo e Gilda, e os irm�os, Lucas e Tatiana: medicina na veia. "Pela influ�ncia desse profundo desejo do meu pai, eu e meus irm�os decidimos pela medicina", diz (foto: Arquivo Pessoal )
O sonho do pai em ser m�dico, ainda que n�o realizado por ele, devido � dificuldade em lidar com sangue, mesmo assim foi a inspira��o pela op��o. "Pela influ�ncia desse profundo desejo do meu pai, eu e meus irm�os decidimos pela medicina. Meu irm�o at� cursou rela��es internacionais, mas abandonou o curso no �ltimo ano por ver que n�o era aquilo que ele queria. Hoje, somos dois psiquiatras e uma neurologista."
EMPURR�O
Para Lucas e Tauana, o amor pela medicina passa de primo para prima (foto: Arquivo Pessoal )
Um percorrendo os passos do outro, entre o dermatologista Lucas Miranda, de 37, e a neurologista Tauana Tirone, de 32, a afei��o pela medicina foi transmitida de primo para prima. Os dois cresceram em Carangola, no interior mineiro, e estudaram nos mesmos col�gios durante a inf�ncia. Mais tarde, cursaram faculdade e fizeram a resid�ncia m�dica tamb�m nas mesmas institui��es.
"Lucas � cinco anos mais velho. Fui acompanhando seus passos, as hist�rias que contava sobre o curso, a faculdade de medicina. Foi um empurr�o para eu n�o desistir”, lembra Tauana. Quando ingressou na escola de medicina, os incentivos recebidos do primo eram ainda maiores. "Muitas vezes, sofria com a rotina pesada de estudo e dedica��o que o curso exige. Mas, como o Lucas tinha passado pelo mesmo caminho, me ajudava muito repassando materiais, me estimulando."
Para Lucas, a medicina � uma vontade que vem de garoto. "N�o me lembro ao certo em qual idade, ou como exatamente isso surgiu. Nunca cogitei outra �rea, o que � curioso para mim at� hoje. Talvez por ser um grande objetivo, desde cedo despertou o interesse de parte da fam�lia", diz.
O irm�o mais novo de Tauana tamb�m acaba de se formar em medicina e a afilhada de Lucas, Lorena, vai fazer o Enem visando essa �rea.
M�dicos s�o os profissionais em quem as pessoas mais confiam, diz pesquisa Al�m do alto �ndice de confiabilidade, estudo aponta que 95% dos entrevistados acreditam que estes profissionais carecem de valoriza��o, como maior remunera��o e plano de carreira
J�ssica Mayara*
De acordo com uma pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pelo Instituto Datafolha no segundo semestre deste ano, os m�dicos s�o os profissionais em quem as pessoas mais confiam. Os dados, recolhidos em entrevistas estruturadas via telefone em todas as regi�es do pa�s, apontam que 33% - nove percentuais a mais do que os �ndices apresentados em 2018 - das 1.511 pessoas que responderam o question�rio t�m na figura do m�dico, a profiss�o em quem mais depositam confian�a.
O alto n�vel de credibilidade depositado nos m�dicos se deve, especialmente, no que tange � percep��o das mulheres (42%), da popula��o com ensino fundamental completo (42%) e com idade superior a 45 anos (37%). O olhar positivo para a categoria tamb�m � maior entre os que ganham at� dois sal�rios m�nimos (41%) ou mais de dez sal�rios m�nimos (33%). Do ponto de vista da distribui��o geogr�fica, os percentuais s�o muito pr�ximos, com destaque para os estados do Nordeste (37%) e Sul (38%).
"A voca��o por promover sa�de, prevenir doen�as e cuidar de pessoas consiste no cerne do exerc�cio profissional do m�dico. Diante da pandemia instalada em todo mundo e que afetou pesadamente o Brasil, a luta de todos os profissionais, e em especial dos m�dicos, tornou-se ainda mais intensificada e percebida. Inclusive, por estarem na linha de frente nos servi�os de sa�de, muitos profissionais adoeceram e faleceram", avalia Camila Souza, coordenadora adjunta do curso de medicina do UniBH, ao comentar os �ndices e enaltecer a profiss�o. "S�o anos investidos para entrar, permanecer e conquistar o diploma em medicina, e intensos anos de resid�ncia m�dica e obriga��o em manter-se sempre atualizado. Isso tudo faz da medicina uma profiss�o de alt�ssima responsabilidade social e de alto investimento, foco e abdica��o pessoal e familiar", completa.
Justamente neste contexto de responsabilidade social � que a pesquisa trabalhou, tamb�m, no quesito de avalia��o e confian�a no trabalho m�dico durante a pandemia, haja vista ser esse o momento mais dif�cil da atualidade. "Acredito que, especialmente com a pandemia, as pessoas t�m tido mais empatia com a profiss�o. N�o � f�cil estar na linha de frente e abdicar do contato com a fam�lia, mas a miss�o de estar a servi�o da popula��o sempre fala mais alto. Acredito que essa pesquisa s� refor�a o que n�s temos visto neste momento de pandemia: o reconhecimento da popula��o pelo trabalho dos m�dicos em um esfor�o cont�nuo para salvar vidas", comenta Rennan Tavares, professor do curso de medicina do UniBH.
Em rela��o a atua��o dos m�dicos brasileiros no enfrentamento da pandemia de COVID-19, o levantamento apresenta os seguintes resultados: na opini�o de 77% dos entrevistados, o trabalho desses profissionais � considerado como �timo ou bom, os outros 17% consideram essa performance como regular e apenas 6% como ruim ou p�ssimo. Para Rennan, esses dados s�o de extrema import�ncia para restaurar a imagem do m�dico, que se desgasta em raz�o da luta para salvar mais e mais vidas.
"A carga de adoecimento mental e f�sico, de sobrecarga dos sistemas e de subvers�o de todo o modus operandis da sociedade � cada vez maior neste momento. E, apesar disso, o m�dico precisa manter-se l�cido, atualizado, equilibrado e preparado para manter seu juramento de cuidar da sa�de das pessoas, dos familiares e das comunidades. O m�dico n�o pode se eximir desse juramento profissional. Embora esses profissionais sejam humanos, sem o seu trabalho, toda a sociedade pode solapar nesse per�odo de pandemia", opina Camila.
A pesquisa mostra, ainda, que para 99% dos entrevistados, esses profissionais carecem de condi��es adequadas para o pleno exerc�cio de suas atividades. Enquanto isso, na percep��o de 95%, os m�dicos merecem ser alvos de medidas de valoriza��o, como maior remunera��o e plano de carreira.
*Estagi�ria sob supervis�o da editora Teresa Caram
O olhar do m�dico
O olhar do m�dico � o equil�brio entre a ci�ncia e o humanismo, a raz�o e o sentimento, a observa��o e a interpreta��o, a eterna busca pela paz mesmo na guerra contra os males que p�em em risco o corpo e a mente
Marcus Vin�cius Bol�var Malachias
Cardiologista, PhD pela USP, p�s-doutor pela Harvard Medical School, professor da Faculdade Ci�ncias M�dicas de MG,
diretor cl�nico do Instituto de Hipertens�o de MG e governador no Brasil do American College of Cardiology
Aos olhos atentos do m�dico experiente, muitas doen�as s�o diagnosticadas pela simples observa��o. Os olhos saltados do hipertireoidismo, a falta de ar do enfisema, a perda do f�lego e os edemas da insufici�ncia card�aca, a face congesta da doen�a renal cr�nica, as muitas doen�as da pele, as t�picas marchas dos portadores de dist�rbios neurol�gicos ou ortop�dicos, mas tamb�m o semblante sem horizontes da depress�o e a inquietude da ansiedade. S�o muitos os diagn�sticos feitos no dia a dia dos consult�rios apenas como a observa��o somada � experi�ncia, mesmo antes de iniciada a anamnese - o cl�ssico di�logo entre m�dicos e pacientes.
Cada vez mais, a vis�o do m�dico � amplificada pela tecnologia das imagens, como tomografias, resson�ncias, ultrassons, cintilografias, PETs e toda a parafern�lia de que a moderna medicina disp�e hoje para desvendar os diferentes dist�rbios ocultos, possibilitando interven��es cada vez mais precoces e precisas. Mas, mesmo com todos esses intrincados recursos, n�o existem exames que quantifiquem a intensidade da dor, o grau da ang�stia, a magnitude do estresse ou os tormentos da alma, males que s� podem ser percebidos pelo olhar atento e sens�vel de quem escolheu preservar e salvar vidas.
Para o m�dico sens�vel, t�o importante quanto descobrir qual � a doen�a que aflige o paciente � decifrar quem � o indiv�duo acometido pela doen�a. O olhar do m�dico n�o � s� de investiga��o, a laboriosa interpreta��o de fragmentos de sintomas e sinais para o encontro do diagn�stico mais correto com o mais indicado tratamento. � tamb�m o olhar de bem-querer, de compaix�o e de consolo diante de t�o frequentes derrotas para os males sem solu��o. Afinal, � dever do verdadeiro m�dico ver com os olhos e enxergar com o cora��o.