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Estado de Minas Dia do M�dico

M�dicos abra�am a profiss�o inspirados em exemplos de familiares

No dia dedicado a eles, conhe�a hist�rias de quem trabalha para cuidar e salvar vidas. Um saber transmitido entre gera��es


18/10/2020 04:00 - atualizado 18/10/2020 19:25

Três gerações de médicos na Rede Mater Dei de Saúde. Na foto, Felipe Salvador Ligório, Maria Norma Salvador Ligório, José Salvador Silva, Norma Salvador, Henrique Moraes Salvador, Anna Salvador, Livia Salvador Geo, Márcia Salvador Geo e Lara Salvador Geo(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Tr�s gera��es de m�dicos na Rede Mater Dei de Sa�de. Na foto, Felipe Salvador Lig�rio, Maria Norma Salvador Lig�rio, Jos� Salvador Silva, Norma Salvador, Henrique Moraes Salvador, Anna Salvador, Livia Salvador Geo, M�rcia Salvador Geo e Lara Salvador Geo (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

Em tempos de pandemia, este � um trabalho que ganha um significado ainda mais especial. Auxiliados pelas equipes de sa�de, os m�dicos enfrentam um v�rus fatal e se desdobram para acolher e tratar o paciente. N�o h� hor�rios, n�o h� fronteiras para quem escolheu a dif�cil miss�o de salvar vidas, tornando-se exemplo e refer�ncia para jovens que seguem os rumos de pais e demais familiares. Neste domingo, o Dia do M�dico tem um sentido importante. A dedica��o desses profissionais enaltece o esfor�o de quem, ao final de cada jornada, honra o fazer que se reinventa a todo instante, mas n�o perde a ess�ncia.

O exemplo dessa dedica��o e entrega � acompanhado em casa. A medicina, muitas vezes, � um saber transmitido entre gera��es. "� preciso roubar uma parte da vida para dedicar aos sonhos, ideais e realiza��es que n�o queremos que morram conosco." A frase inspiradora de Jos� Salvador da Silva, fundador da Rede Mater Dei de Sa�de, em Belo Horizonte, mostra que seu grande sonho � tamb�m o sonho de seus descendentes. "Sempre fui um sonhador. Menino, sonhei em ser m�dico. Quando jovem, depois de me formar, tive o sonho de construir um hospital", diz o ginecologista e obstetra que, aos 90 anos, passou para a fam�lia a maravilha sobre a profiss�o.

Com a esposa, Norma Salvador, igualmente ginecologista, tem tr�s filhos e quatro netos seguindo os mesmos passos. "Nossos filhos viram de n�s o entusiasmo pelo trabalho. Me encanta a possibilidade de ajudar o outro, n�o apenas como m�dico. A principal bandeira do hospital � atender bem o paciente, de forma personalizada, individualizada e humanizada", diz Jos� Salvador.

Desde a inf�ncia, Norma Salvador nutria o desejo em ser m�dica. Aos 88 anos, recorda-se que os filhos sempre viram o casal atendendo aos chamados no hospital, n�o importava se era dia ou noite. Para ela, a medicina ensinou sobre amor, carinho, a se doar, estar dispon�vel, seja qual for a situa��o. "Vivemos pelo trabalho. O m�dico precisa ter uma vis�o geral sobre o mundo, sobre a vida. Nosso exemplo deu coragem e for�a para que nossos filhos exercessem a medicina. E o exemplo vale mais que palavras", declara.

Hoje, as filhas Maria Norma e M�rcia, s�o diretoras da Rede Mater Dei de Sa�de, e o primog�nito, Henrique, � o presidente do grupo hospitalar. Renato, o outro filho, � o �nico que n�o seguiu caminho na medicina. Engenheiro, coordena uma construtora. Entre 10 netos, na terceira gera��o Felipe, Anna, Lara e Livia s�o m�dicos e integram a equipe na rede.

Henrique Moraes Salvador Silva, de 62, � mastologista. Teve forma��o na Inglaterra, It�lia, Canad� e Estados Unidos, e est� no Mater Dei desde 1985. Lidar diretamente com o ser humano e fazer o bem � algo que lhe d� prazer. Sobre a medicina, gosta do fato de poder exerc�-la de v�rias maneiras. Primeiro, o atendimento ao paciente, depois a medicina acad�mica (� professor livre docente), a medicina de gest�o, com o dia a dia no hospital, e a medicina de representa��o de classe - Henrique j� presidiu a Sociedade Brasileira de Mastologia e a Associa��o Nacional de Hospitais Privados. "Dos meus pais, aprendi sobre o respeito ao paciente, o amor pela profiss�o e o compromisso em estar sempre atualizado", conta.

"Atrav�s da pr�tica, da observa��o, do dia a dia, meus pais desde cedo me mostraram o qu�o gratificante � ser m�dico", diz Maria Norma Salvador Lig�rio, de 60, ginecologista e obstetra. A m�dica trabalha no Mater Dei desde a inaugura��o, em 1980. � vice-presidente administrativa e financeira. Jos� Salvador e Norma s�o para ela refer�ncia de luta e trabalho duro.

"Desde a inf�ncia convivo com a medicina por causa de meus pais, e me encantei. Precisamos ter inspira��o, mas � atrav�s da transpira��o que chegamos aonde queremos." No �mbito de sua especialidade, conta que o que mais lhe fascina � ajudar a trazer ao mundo um novo ser. "� indescrit�vel a sensa��o de entregar aos pais o filho que acaba de nascer", acrescenta. Para o filho, Felipe, Maria Norma ensina a import�ncia de fazer o que lhe agrada, e fazer com amor.

J� M�rcia Salvador G�o, de 57, � ginecologista, obstetra e uroginecologista. Atua no Mater Dei desde os 17, onde hoje � vice-presidente assistencial e operacional. Dos pais, apreendeu a miss�o de servir ao pr�ximo, de ser desafiada a dar o melhor para os pacientes, a import�ncia do conhecimento, para oferecer o que h� de mais moderno na �rea, perseguindo preceitos �ticos e filos�ficos. "S�o exemplo de luta e perseveran�a. Profissionais que foram al�m, se destacaram e fizeram a diferen�a, seja na fam�lia, na vida dos pacientes, e na sociedade em geral. Ensinaram-me a nunca desistir dos sonhos. Que a vida � bem melhor se tiver um prop�sito, que a fam�lia e os amigos s�o essenciais para sermos felizes", pontua.

Para M�rcia, a li��o que fica � a da humildade, a cren�a na vida como bem maior, respeitar o tempo das coisas e saber que o tempo � finito, perceber que pequenos atos fazem a diferen�a. "Cada paciente te ensina muito e te faz um ser humano melhor. � um privil�gio trabalhar com pessoas, ter um desafio novo a cada dia. Uma troca de energia que nos faz lidar melhor com os obst�culos. Achamos que estamos ajudando o paciente, mas quem sai melhor desta troca somos n�s, os m�dicos." Para as filhas, Lara e L�via, M�rcia procura lembrar de ter um objetivo, e disciplina e foco para atingi-lo. "Que sonhem sempre, que tudo nesta caminhada vale a pena, principalmente quando a alma n�o � pequena."

Felipe Salvador Lig�rio, de 32, ingressou na Rede Mater Dei de Sa�de em 2009, primeiro como estagi�rio de medicina. Atualmente, � diretor m�dico e atua na gest�o e administra��o do grupo, auxiliando pacientes e m�dicos de todas as especialidades. Dos av�s, da m�e, Maria Norma, e dos tios, teve refer�ncias profissionais e pessoais. "Me ensinaram a agir diante de situa��es dif�ceis e delicadas, sem esquecer o lado humano. A medicina exige dedica��o e entrega. Sem esfor�o nada � poss�vel.”

Felipe diz que admira a profiss�o desde cedo, pela influ�ncia mesmo da fam�lia. A escolha na hora do vestibular foi natural. "A vontade de servir ao pr�ximo sempre existiu e percebi que a medicina me proporcionaria isso. Me sinto grato e honrado em poder ajudar as pessoas em momentos delicados. � um desafio e uma miss�o de vida."

MEDICINA COMO ARTE

Anna Salvador, de 29, � filha de Henrique. Ela entrou no hospital como estagi�ria em 2011. Como os familiares, tamb�m atua com ginecologia, mastologia e obstetr�cia. O pai e os av�s lhe apresentaram a medicina como uma arte. A arte em contribuir com o outro, e uma maneira sem igual de realiza��o profissional. "Saber o que meus av�s constru�ram e como influenciaram na vida dos pacientes para melhor �, para mim, o est�mulo para crescer enquanto pessoa e ser uma profissional completa. A medicina me mostra como n�o temos o controle em muitas situa��es, mas um simples detalhe importa. E me pede a cada dia para me aprimorar."

Sobre o fazer da profiss�o, o encantamento s�o os la�os edificados. Para Anna, nada mais importante que um abra�o carinhoso de gratid�o - faz valer todo sacrif�cio. "Optei pela medicina justamente por admirar tanto meus av�s, meu pai e minhas tias. Desde a adolesc�ncia, tive a oportunidade de acompanhar meu pai nos partos que fazia. Me sinto privilegiada. Poder contribuir para a sa�de das pessoas e presenciar uma vida nova � emocionante."

Lara Salvador G�o, de 27, � uma das filhas de M�rcia. Depois de passar pelo Mater Dei, agora trabalha em outro hospital. � gestora. N�o pratica a medicina assistencial. "Minha m�e e meus av�s me apresentaram a medicina como uma profiss�o apaixonante, de doa��o, de troca, de respeito. Tenho orgulho em fazer parte dessa fam�lia. Eles s�o para mim a maior inspira��o, um exemplo di�rio, n�o apenas profissional."

Lara diz que a medicina lhe faz ser uma pessoa melhor, perceber cada indiv�duo como �nico, com sua beleza e singularidades. "Trata-se de enxergar o outro em todas as suas dimens�es. � uma troca gratificante. Me sinto realizada e feliz em ver que, de alguma forma, estou impactando positivamente na vida do paciente."

Para L�via Salvador G�o, de 26, outra filha de M�rcia, a medicina pede para aprimorar o ouvir, em uma �poca em que muito se fala e pouco se escuta. "Nunca devemos desvalorizar a queixa de uma pessoa. � preciso ter um olhar hol�stico para realizar um cuidado amplo e adequado", diz L�via, que ingressou no Mater Dei em 2016 e, para a resid�ncia m�dica que come�a em 2021, escolheu tamb�m a ginecologia e obstetr�cia. Lembra da forma amorosa com que os familiares sempre se referiram � medicina. “N�o s� minha m�e e av�s. Meus tios e primos tamb�m me inspiram na carreira que quero construir. Estou come�ando e tenho muito a aprender, com a certeza que estou cercada por grandes m�dicos. A medicina � uma �rea cheia de possibilidades", afirma.


Caminho natural
M�dicos que seguem os passos dos pais, tios ou av�s compartilham experi�ncias no trabalho. Muito mais do que aprendizado e intera��o, exemplo e dedica��o s�o levados para todas as �reas da vida


Os cirurgiões plásticos Pedro e Marzo Bersan: filho e pai trabalham juntos(foto: Arquivo Pessoal )
Os cirurgi�es pl�sticos Pedro e Marzo Bersan: filho e pai trabalham juntos (foto: Arquivo Pessoal )
Cirurgi�es pl�sticos, Marzo e Pedro Bersan s�o pai e filho. Aos 60 anos, Marzo trabalha no hospital Madre Teresa, em Belo Horizonte, desde 1986, e j� fez parte da equipe m�dica do centro de queimados da Fhemig. H� mais de 30 anos, tamb�m mant�m consult�rio pr�prio, e conta com o filho na equipe h� cinco anos, tempo em que Pedro tamb�m se tornou companhia no hospital. Os dois atuam juntos nas interven��es cir�rgicas, discutem casos m�dicos e as melhores formas de conduzir os tratamentos em cada situa��o.


Para Marzo, o fato de o filho ter escolhido a profiss�o � motivo de orgulho. Ele diz que a intera��o � enriquecedora – uni�o entre sua vis�o, mais antiga, e o que vem de novo de Pedro, de 33. "Transmito a experi�ncia t�cnica e tamb�m sobre relacionamentos. Cuidar do paciente, aliviar sofrimentos, ter prazer no trato com as pessoas. A medicina � algo que nasce com a gente", afirma Marzo.

Pedro conta que aprende muito com o pai, para ele um verdadeiro professor. Ser m�dico foi um caminho natural. Marzo nunca o pressionou para que seguisse a carreira. "A informa��o est� acess�vel a todos, mas a experi�ncia vem com o tempo, n�o est� nos livros. A medicina me ensina sobre empatia. Aprendi com meu pai sobre a import�ncia de se colocar no lugar do outro, ter aten��o com o paciente, o rigor para garantir a seguran�a nos procedimentos. Podem dizer que a cirurgia pl�stica � uma futilidade. Mas interfere diretamente na autoestima, na melhor percep��o sobre si mesmo e nas rela��es interpessoais", ressalta.

Os pacientes que geralmente buscam interven��es em cirurgia pl�stica, explica Pedro Bersan, quase sempre agendam os procedimentos em algum momento que n�o atrapalhe a rotina de trabalho, j� que o tempo de licen�a m�dica costuma ser de at� 15 dias. "Como a maioria est� em home office e n�o tem a obriga��o do emprego presencial, j� marca a cirurgia de uma vez. Aumentou muito a procura por mudan�as na face, nariz e p�lpebra, caracter�sticas que ficam mais evidentes nas chamadas de v�deo", diz o cirurgi�o.

A endocrinologista Patrícia Fulgêncio, de 48 anos, é de uma família de médicos: opção pela medicina nunca foi uma dúvida(foto: Arquivo Pessoal )
A endocrinologista Patr�cia Fulg�ncio, de 48 anos, � de uma fam�lia de m�dicos: op��o pela medicina nunca foi uma d�vida (foto: Arquivo Pessoal )
A endocrinologista Patr�cia Fulg�ncio, de 48, � de uma fam�lia de m�dicos. Cresceu no hospital mantido pelos pais em Mantena, no interior de Minas Gerais. � diretora da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia - Regional Minas Gerais (SBEM-MG), presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes - Regional Minas Gerais (SBD-MG), professora da Faculdade de Ci�ncias M�dicas e tem consult�rio particular.
 
A op��o pela medicina nunca foi uma d�vida. De Ant�nio, cirurgi�o, e Helo�sa, ginecologista, recebeu o exemplo de um trabalho �rduo e cont�nuo, de dedica��o, respeito, cuidado e carinho. Com 78 e 75 anos, respectivamente, os pais at� hoje demonstram o amor pelo que fazem, e isso foi transmitido para toda a fam�lia. "Eles iam ao hospital durante a noite, passando de leito em leito para ver se tudo estava bem, e muitas vezes eu ia junto. Fui me apaixonando, nunca pensei em fazer outra coisa. Aprendi como a medicina � fundamental para melhorar a vida, ainda que n�o seja curar, mas aliviar a dor", diz. O irm�o � cardiologista e a irm� oftalmologista. Patr�cia j� come�a a perceber tamb�m o pendor da filha mais nova pela carreira m�dica.

Patr�cia conta que, no primeiro m�s da pandemia, os atendimentos tiveram uma queda brusca na frequ�ncia. O que logo a fez come�ar a prestar assist�ncia por telemedicina. Come�ou a auxiliar pacientes n�o apenas em BH, mas tamb�m no interior de Minas Gerais e at� em outros pa�ses. "Muitas pessoas gostaram do modelo. Os atendimentos presenciais est�o voltando, mas muita gente preferiu continuar com a telemedicina. Tenho mais pacientes agora do que antes da COVID-19", diz.

ORGULHO 

Christiano Simões, de 40 anos, e o pai, Roger Simões, de 73, são médicos ortopedistas e traumatologistas(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Christiano Sim�es, de 40 anos, e o pai, Roger Sim�es, de 73, s�o m�dicos ortopedistas e traumatologistas (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

Incluindo o per�odo de resid�ncia, Christiano Sim�es, de 40, trabalha no hospital Fel�cio Rocho, em BH, desde 2006, e tem consult�rio privado. Atua como ortopedista e traumatologista, assim como o pai, Roger Sim�es, que ingressou na unidade de sa�de em 1972. Seguindo o percurso paterno, trata problemas de coluna, traumas, patologias cr�nicas, tumores, casos de deformidades e degenera��o, al�m do pronto atendimento em urg�ncias e emerg�ncias.

Ele se lembra das ocasi�es em que, ainda crian�a, passeava com o pai e encontrava pacientes o cumprimentando, agradecendo pelo tratamento. O que mais ouvia era "o senhor salvou minha vida". "Ficava orgulhoso, e isso me fez desejar trabalhar na mesma �rea. A medicina sempre foi para mim uma refer�ncia", conta.
 
Para Christiano, os encantos da profiss�o, que em sua opini�o exige dedica��o e voca��o, passam principalmente pela possibilidade de resolver o problema do pr�ximo, ser �til, perceber a gratid�o das pessoas, poder ajudar em momentos dif�ceis. "Meu pai me ensinou a ser honesto, a n�o usar a medicina como finalidade, mas como meio. Meio para conquistar as coisas na vida. O primeiro objetivo � cuidar. Qualquer resultado financeiro � secund�rio, apenas uma consequ�ncia."

Roger tem 73 anos. Na �poca de crian�a, lembra-se de que as maiores aspira��es nas fam�lias � que se formassem m�dicos. Algo que foi intencionado pelos seus pais. Conta que sempre gostou da medicina, e logo seguiu o rumo. Hoje, o filho d� continuidade a essa hist�ria, e faz mais. "H� quase 50 anos, a medicina era muito artesanal. Hoje, meu filho est� muito mais bem preparado", compara.

A esposa de Christiano, Pierina Formentini, de 34, tamb�m � ortopedista e traumatologista, especializada em ortopedia pedi�trica. Conta que a intera��o com o marido � algo a acrescentar. "Discutimos as situa��es, falamos sobre as melhores condutas, orientamos um ao outro. Tranquilizar as fam�lias, transmitir a confian�a de que tudo vai melhorar, acompanhar a evolu��o do paciente, � uma satisfa��o", conta a m�dica, que trabalha na Santa Casa de Belo Horizonte e no hospital S�o Lucas, no Santa Efig�nia.
 
Legado de fam�lia
Acompanhar o trabalho de pais nas consultas ou atendimentos domiciliares desde cedo despertou voca��o de m�dicos que decidiram seguir os mesmos passos na carreira. Aprendizado � di�rio
 
Médico ginecologista, Agnaldo Lopes diz que os filhos, Teresa e Bernardo, querem seguir a mesma carreira (foto: Arquivo Pessoal )
M�dico ginecologista, Agnaldo Lopes diz que os filhos, Teresa e Bernardo, querem seguir a mesma carreira (foto: Arquivo Pessoal )
Agnaldo Lopes da Silva foi o primeiro morador de Cara�, no Norte de Minas, a se tornar m�dico, em 1958. Especializado em otorrinolaringologia, se formou em Belo Horizonte, pela Faculdade de Ci�ncias M�dicas de Minas Gerais. Nos 25 anos em que viveu em Te�filo Otoni, organizou sua rotina entre o consult�rio, o hospital e a fazenda da fam�lia. Com a esposa, Maria Thereza Martins da Costa Lopes, teve cinco filhos. Depois de quatro mulheres, nasceu o filho ca�ula, Agnaldo, que herdou do pai, falecido, o nome e a profiss�o.

Com passagem por algumas especialidades m�dicas, Agnaldo Lopes da Silva Filho, de 47, hoje � presidente da Federa��o Brasileira das Associa��es de Ginecologia e Obstetr�cia (Febrasgo). O ginecologista conta que n�o sabe precisar o momento exato em que decidiu cursar medicina. Desde crian�a, seus interesses apontaram a dire��o. O fato de ser filho do �nico otorrinolaringologista de uma cidade do interior lhe proporcionou uma experi�ncia interessante que, certamente, contribuiu para a escolha, embora antes n�o tivesse consci�ncia sobre isso.
 
"Naquela �poca, era costume o atendimento m�dico domiciliar e meu pai recebia pacientes em nossa casa ou os atendia em suas resid�ncias. Nesses atendimentos fora do consult�rio, frequentemente solicitava minha participa��o, quem sabe j� intuindo a minha voca��o e alimentando a chama", lembra.

Agnaldo diz que a carreira cient�fica e acad�mica foi influenciada por mestres da vida e da profiss�o. O primeiro foi o pai, homem de car�ter not�vel, honestidade e simplicidade, como relata, cujo exemplo foi sua maior ferramenta de ensino. "Talvez tenha sido o principal respons�vel pela minha carreira, j� que sempre me ensinou que estudo e compet�ncia s�o importantes, mas o imprescind�vel � o car�ter. Para meu pai, o mais importante n�o era ser bem-sucedido, mas ser um homem de valor", lembra. Da m�e, ainda garoto se recorda de ouvir que a medicina � um sacerd�cio.

Com a tamb�m m�dica R�via Lamaita, de 48, teve os filhos Teresa e Bernardo. Os dois pretendem seguir a carreira m�dica. "Interesso-me pela oncologia. Isso veio dos meus pais. Sempre escutei os dois conversando sobre a medicina e me passaram o amor pela profiss�o. Ensinaram-me a ir atr�s do que eu quero", conta Teresa.

Agnaldo diz que o aprendizado � di�rio, muito pelo contato com os pacientes que tem a oportunidade de auxiliar. "Aprendo com as vit�rias e tamb�m com os erros e fracassos. Quando se lida com vidas humanas, todas as decis�es envolvem riscos. O exerc�cio da medicina exige que sejamos capazes de enfrentar esses riscos e de tomar decis�es por vezes muito dif�ceis." Para Agnaldo, a no��o mais importante sobre rela��o m�dico-paciente � a da confian�a."A pessoa se entrega a voc�."

Com a pandemia, Agnaldo observa mudan�as na sua forma de atua��o. Costumava viajar para outras cidades, estados e at� pa�ses diferentes para participar de congressos, concursos, confer�ncias, bancas de p�s-gradua��o, muito por causa de seu cargo de professor titular da cadeira de ginecologia na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Nesse per�odo de quarentena, as atividades passaram a ser pelas plataformas digitais. Na universidade, inclusive, as aulas presenciais acabam de ser retomadas.

Por um lado, n�o h� mais o desgaste com tantas viagens, como diz o m�dico, e, por outro, com o trabalho na Febrasgo no momento baseado nos contatos virtuais, a rela��o com os associados foi estreitada. "Conseguimos  uma presen�a mais pr�xima com os associados em outras regi�es do Brasil e no exterior", descreve.

SUPER-HER�IS 

A psiquiatra Jaqueline Bifano, de 35, cresceu escutando do pai elogios � medicina. Pessoas que salvam vidas e se empenham no cuidado ao pr�ximo para ele s�o mesmo super-her�is. O irm�o e a irm� tamb�m s�o m�dicos. "Desde crian�a, para n�s essa parecia a melhor profiss�o que pod�amos escolher", diz.

A psiquiatra Jaqueline Bifano com os pais, Florisvaldo e Gilda, e os irmãos, Lucas e Tatiana: medicina na veia.
A psiquiatra Jaqueline Bifano com os pais, Florisvaldo e Gilda, e os irm�os, Lucas e Tatiana: medicina na veia. "Pela influ�ncia desse profundo desejo do meu pai, eu e meus irm�os decidimos pela medicina", diz (foto: Arquivo Pessoal )

O sonho do pai em ser m�dico, ainda que n�o realizado por ele, devido � dificuldade em lidar com sangue, mesmo assim foi a inspira��o pela op��o. "Pela influ�ncia desse profundo desejo do meu pai, eu e meus irm�os decidimos pela medicina. Meu irm�o at� cursou rela��es internacionais, mas abandonou o curso no �ltimo ano por ver que n�o era aquilo que ele queria. Hoje, somos dois psiquiatras e uma neurologista."

EMPURR�O 

Para Lucas e Tauana, o amor pela medicina passa de primo para prima(foto: Arquivo Pessoal )
Para Lucas e Tauana, o amor pela medicina passa de primo para prima (foto: Arquivo Pessoal )
Um percorrendo os passos do outro, entre o dermatologista Lucas Miranda, de 37, e a neurologista Tauana Tirone, de 32, a afei��o pela medicina foi transmitida de primo para prima. Os dois cresceram em Carangola, no interior mineiro, e estudaram nos mesmos col�gios durante a inf�ncia. Mais tarde, cursaram faculdade e fizeram a resid�ncia m�dica tamb�m nas mesmas institui��es.

"Lucas � cinco anos mais velho. Fui acompanhando seus passos, as hist�rias que contava sobre o curso, a faculdade de medicina. Foi um empurr�o para eu n�o desistir”, lembra Tauana. Quando ingressou na escola de medicina, os incentivos recebidos do primo eram ainda maiores. "Muitas vezes, sofria com a rotina pesada de estudo e dedica��o que o curso exige. Mas, como o Lucas tinha passado pelo mesmo caminho, me ajudava muito repassando materiais, me estimulando."

Para Lucas, a medicina � uma vontade que vem de garoto. "N�o me lembro ao certo em qual idade, ou como exatamente isso surgiu. Nunca cogitei outra �rea, o que � curioso para mim at� hoje. Talvez por ser um grande objetivo, desde cedo despertou o interesse de parte da fam�lia", diz. 

O irm�o mais novo de Tauana tamb�m acaba de se formar em medicina e a afilhada de Lucas, Lorena, vai fazer o Enem visando essa �rea.
 
M�dicos s�o os profissionais em quem as pessoas mais confiam, diz pesquisa
Al�m do alto �ndice de confiabilidade, estudo aponta que 95% dos entrevistados acreditam que estes profissionais carecem de valoriza��o, como maior remunera��o e plano de carreira

J�ssica Mayara*


De acordo com uma pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pelo Instituto Datafolha no segundo semestre deste ano, os m�dicos s�o os profissionais em quem as pessoas mais confiam. Os dados, recolhidos em entrevistas estruturadas via telefone em todas as regi�es do pa�s, apontam que 33% - nove percentuais a mais do que os �ndices apresentados em 2018 - das 1.511 pessoas que responderam o question�rio t�m na figura do m�dico, a profiss�o em quem mais depositam confian�a.

O alto n�vel de credibilidade depositado nos m�dicos se deve, especialmente, no que tange � percep��o das mulheres (42%), da popula��o com ensino fundamental completo (42%) e com idade superior a 45 anos (37%). O olhar positivo para a categoria tamb�m � maior entre os que ganham at� dois sal�rios m�nimos (41%) ou mais de dez sal�rios m�nimos (33%). Do ponto de vista da distribui��o geogr�fica, os percentuais s�o muito pr�ximos, com destaque para os estados do Nordeste (37%) e Sul (38%).

"A voca��o por promover sa�de, prevenir doen�as e cuidar de pessoas consiste no cerne do exerc�cio profissional do m�dico. Diante da pandemia instalada em todo mundo e que afetou pesadamente o Brasil, a luta de todos os profissionais, e em especial dos m�dicos, tornou-se ainda mais intensificada e percebida. Inclusive, por estarem na linha de frente nos servi�os de sa�de, muitos profissionais adoeceram e faleceram", avalia Camila Souza, coordenadora adjunta do curso de medicina do UniBH, ao comentar os �ndices e enaltecer a profiss�o. "S�o anos investidos para entrar, permanecer e conquistar o diploma em medicina, e intensos anos de resid�ncia m�dica e obriga��o em manter-se sempre atualizado. Isso tudo faz da medicina uma profiss�o de alt�ssima responsabilidade social e de alto investimento, foco e abdica��o pessoal e familiar", completa.

Justamente neste contexto de responsabilidade social � que a pesquisa trabalhou, tamb�m, no quesito de avalia��o e confian�a no trabalho m�dico durante a pandemia, haja vista ser esse o momento mais dif�cil da atualidade. "Acredito que, especialmente com a pandemia, as pessoas t�m tido mais empatia com a profiss�o. N�o � f�cil estar na linha de frente e abdicar do contato com a fam�lia, mas a miss�o de estar a servi�o da popula��o sempre fala mais alto. Acredito que essa pesquisa s� refor�a o que n�s temos visto neste momento de pandemia: o reconhecimento da popula��o pelo trabalho dos m�dicos em um esfor�o cont�nuo para salvar vidas", comenta Rennan Tavares, professor do curso de medicina do UniBH.

Em rela��o a atua��o dos m�dicos brasileiros no enfrentamento da pandemia de COVID-19, o levantamento apresenta os seguintes resultados: na opini�o de 77% dos entrevistados, o trabalho desses profissionais � considerado como �timo ou bom, os outros 17% consideram essa performance como regular e apenas 6% como ruim ou p�ssimo. Para Rennan, esses dados s�o de extrema import�ncia para restaurar a imagem do m�dico, que se desgasta em raz�o da luta para salvar mais e mais vidas.

"A carga de adoecimento mental e f�sico, de sobrecarga dos sistemas e de subvers�o de todo o modus operandis da sociedade � cada vez maior neste momento. E, apesar disso, o m�dico precisa manter-se l�cido, atualizado, equilibrado e preparado para manter seu juramento de cuidar da sa�de das pessoas, dos familiares e das comunidades. O m�dico n�o pode se eximir desse juramento profissional. Embora esses profissionais sejam humanos, sem o seu trabalho, toda a sociedade pode solapar nesse per�odo de pandemia", opina Camila.

A pesquisa mostra, ainda, que para 99% dos entrevistados, esses profissionais carecem de condi��es adequadas para o pleno exerc�cio de suas atividades. Enquanto isso, na percep��o de 95%, os m�dicos merecem ser alvos de medidas de valoriza��o, como maior remunera��o e plano de carreira.

*Estagi�ria sob supervis�o da editora Teresa Caram
 
O olhar do m�dico

O olhar do m�dico � o equil�brio entre a ci�ncia e o humanismo, a raz�o e o sentimento, a observa��o e a interpreta��o, a eterna busca pela paz mesmo na guerra contra os males que p�em em risco o corpo e a mente

Marcus Vin�cius Bol�var Malachias

Cardiologista, PhD pela USP, p�s-doutor pela Harvard Medical School, professor da Faculdade Ci�ncias M�dicas de MG,
diretor cl�nico do Instituto de Hipertens�o de MG e governador no Brasil do American College of Cardiology

Aos olhos atentos do m�dico experiente, muitas doen�as s�o diagnosticadas pela simples observa��o. Os olhos saltados do hipertireoidismo, a falta de ar do enfisema, a perda do f�lego e os edemas da insufici�ncia card�aca, a face congesta da doen�a renal cr�nica, as muitas doen�as da pele, as t�picas marchas dos portadores de dist�rbios neurol�gicos ou ortop�dicos, mas tamb�m o semblante sem horizontes da depress�o e a inquietude da ansiedade. S�o muitos os diagn�sticos feitos no dia a dia dos consult�rios apenas como a observa��o somada � experi�ncia, mesmo antes de iniciada a anamnese - o cl�ssico di�logo entre m�dicos e pacientes.

Cada vez mais, a vis�o do m�dico � amplificada pela tecnologia das imagens, como tomografias, resson�ncias, ultrassons, cintilografias, PETs e toda a parafern�lia de que a moderna medicina disp�e hoje para desvendar os diferentes dist�rbios ocultos, possibilitando interven��es cada vez mais precoces e precisas. Mas, mesmo com todos esses intrincados recursos, n�o existem exames que quantifiquem a intensidade da dor, o grau da ang�stia, a magnitude do estresse ou os tormentos da alma, males que s� podem ser percebidos pelo olhar atento e sens�vel de quem escolheu preservar e salvar vidas.

Para o m�dico sens�vel, t�o importante quanto descobrir qual � a doen�a que aflige o paciente � decifrar quem � o indiv�duo acometido pela doen�a. O olhar do m�dico n�o � s� de investiga��o, a laboriosa interpreta��o de fragmentos de sintomas e sinais para o encontro do diagn�stico mais correto com o mais indicado tratamento. � tamb�m o olhar de bem-querer, de compaix�o e de consolo diante de t�o frequentes derrotas para os males sem solu��o. Afinal, � dever do verdadeiro m�dico ver com os olhos e enxergar com o cora��o.


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