
N�o h� d�vida de que o riso � uma ferramenta que promove a sa�de e o bem-estar. Portanto, tem poder preventivo. Jos� Augusto C�sar Discacciati, professor da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), � o coordenador do trabalho de pesquisa “Narrativas sobre como a reconquista do sorriso pode transformar a experi�ncia social e pessoal do indiv�duo”, que conta com as participa��es dos professores S�rgio Carvalho Costa, Maria Carmen Fonseca Serpa Carvalho e Cl�udia Lopes Brilhante Bhering no projeto de extens�o pr�tese total imediata (PTI), com finalidade assistencial, da Faculdade de Odontologia da UFMG (FAO).
A a��o oferece tratamento odontol�gico por meio de extra��es, instala��o de implantes dent�rios e confec��o de dentaduras imediatas para pacientes com grave comprometimento bucal, com indica��o de extra��o de todos os dentes. Jos� Augusto C�sar Discacciati conta que o PTI nasceu do anseio dos professores por oferecer um atendimento diferenciado, visto que essa modalidade de tratamento n�o est� na grade curricular normal da FAO, que s� disponibiliza dentaduras para pacientes que j� perderam todos os dentes, e nem no Sistema �nico de Sa�de (SUS).
“Assim, o grande diferencial do PTI � proporcionar ao paciente a possibilidade de permanecer com seus dentes at� o momento da instala��o das pr�teses, uma vez que essas s�o imediatas. Assim, ao longo do tratamento, o paciente pode dar continuidade a suas atividades di�rias normais de forma menos constrangedora, n�o precisando ficar 'banguela' por quatro, cinco, seis meses, aguardando pela cicatriza��o dos tecidos e pela confec��o das pr�teses. Al�m disso, os implantes instalados ajudam na reten��o e na estabilidade das pr�teses, trazendo maior conforto e seguran�a ao paciente.” Os tratamentos, que s�o feitos por alunos volunt�rios sob a supervis�o da equipe de professores, duram em m�dia quatro meses.
Em 2020, o PTI completou 10 anos de funcionamento, tendo passado por l� aproximadamente 250 pacientes. Foram feitos mais de 3.700 atendimentos cl�nicos, envolvendo aproximadamente 3 mil dentes extra�dos, 480 pr�teses confeccionadas e 260 implantes instalados. Ou seja, muitas pessoas est�o confort�veis em sair sorrindo por a� e, assim, prontas para aceitar o convite do Bem Viver de sorrir mais em 2021, venha o que vier.
EXPERI�NCIA SOCIAL
Jos� Augusto C�sar Discacciati explica que, a fim de compreender como a reconquista do sorriso pode transformar a experi�ncia social e pessoal do indiv�duo, foi feita uma parceria com o Grupo de Pesquisa NaGeS, coordenado pela professora Luciana Kind, da Faculdade de Psicologia da Pontif�cia Universidade Cat�lica de Minas Gerais (PUC Minas). “Passamos a ouvir atentamente as hist�rias e experi�ncias de nossos pacientes, oportunidade em que pudemos perceber o qu�o sofridas eram aquelas pessoas que atend�amos em nosso projeto e o quanto sua vida foi transformada pelos tratamentos que receberam.”
O professor revela que, nos relatos, observou-se que a esfera social foi a �rea mais afetada pela m� condi��o bucal, condi��o essa entendida como em desacordo com um ideal tra�ado pela sociedade. “As hist�rias de vida relatadas s�o muito semelhantes, sendo que o maior impacto est� representado pelos sentimentos relativos � vergonha e constrangimento. Foram muito comuns falas de participantes que diziam n�o frequentar festas, n�o ir mais � igreja, se distanciar do conv�vio com outras pessoas ou que simplesmente n�o queriam sair de casa. Enfim, se retra�am em rela��o ao conv�vio social.”Ao longo do tratamento, o paciente pode dar continuidade a suas atividades di�rias normais de forma menos constrangedora, n�o precisando ficar 'banguela' por quatro, cinco, seis meses, aguardando pela cicatriza��o dos tecidos e confec��o das pr�teses
Jos� Augusto C�sar Discacciati, coordenador do projeto sobre Sorriso, da Faculdade de Odontologia da UFMG
Jos� Augusto C�sar Discacciati diz que observaram, al�m da vergonha e constrangimento, as palavras timidez, depress�o, baixa autoestima, infelicidade, inibi��o, tristeza, inseguran�a, preconceito, exclus�o, revolta e dificuldade, todas muito citadas pelos pacientes, considerando o per�odo antes do tratamento. “Por outro lado, para o per�odo p�s-tratamento, as palavras mais citadas foram alegria, orgulho, gratid�o, seguran�a, felicidade, satisfa��o, confian�a, maravilha, tranquilidade e show de bola.”

Por considerar que o testemunho dos pacientes atendidos se configura como de extrema relev�ncia no est�mulo que todos necessitam, o professor Jos� Augusto C�sar Discacciati compartilha com os leitores do Bem Viver algumas passagens colhidas em depoimentos. “Esses pacientes, identificados por pseud�nimos, participaram das pesquisas de forma volunt�ria e deram sua concord�ncia e consentimento para publica��o das entrevistas e das imagens. Salta aos olhos a alegria dos pacientes ao retornarem para participar e colaborar com nossas pesquisas. Importante ressaltar o extremo engrandecimento pessoal que participar de um projeto como o PTI pode proporcionar, tanto aos alunos quanto aos professores. Al�m disso, em um pa�s com grave desigualdade social, como o Brasil, ajudar os mais necessitados, devolvendo sa�de e melhorando sua qualidade de vida, pode propiciar enorme satisfa��o pessoal.”
Tr�s sorrisos resgatados (foram usados pseud�nimos)
1 - RODRIGO, de 39 anos, solteiro, dois filhos, repositor de loja de variedades, entrevista concedida um ano e dois meses ap�s o t�rmino do tratamento
“Sempre fui uma pessoa animada, apesar de tudo. Mas, no fundo, � l�gico que isso sempre me incomodou. Ent�o, naquela �poca, me sentia exclu�do, porque queira ou n�o queira, na sociedade, voc� estar com um sorriso daqueles, atrapalha. Em todas as �reas, n�o s� na sentimental, mas na social, na quest�o de trabalho. Tinha pessoas com receio, nojo de ficar perto, eu percebia isso. O pessoal n�o falava, mas a gente sente. �s vezes, havia quem achava que eu era usu�rio de droga. Uma coisa que eu n�o fazia antes, � por exemplo dentro do �nibus, sorrir para o motorista e cobrador, sentar perto de uma pessoa e conversar. Eu s� precisava dar uma ‘guaribada’. Ent�o, quando a gente tem um bom sorriso, hoje estou conversando com as pessoas, com a namorada, dou gargalhadas e o povo fala: 'nossa, esse menino � animado'. Hoje, escuto: 'nossa, voc� tem um sorriso muito lindo', 'nossa, o que chamou a aten��o em voc� foi o sorriso'. Ent�o, � s� alegria. Antes, tentava n�o cair naquela depr�, porque se eu pensasse demais no meu problema bucal n�o ia nem trabalhar, n�o sa�a na rua. Agora, sou a imagem da alegria. Estou parecendo artista de Hollywood. O que eu posso dizer � isso a�: a autoestima � tudo.”
2 - DONA IDA, de 71 anos, divorciada, dois filhos, professora aposentada, entrevista concedida quatro meses ap�s o t�rmino do tratamento
“Nossa, nem sei como posso falar de t�o ruim, aquele constrangimento te deixa para baixo, depressiva, e foi assim at� chegar ao ponto de eu me esconder. Minha autoestima estava se arrastando. A� pensei: agora, a vergonha maior vai ser chegar na UFMG com essa boca desse jeito. Os dentes todos balan�ando. Mas senti muita seguran�a, pude me abrir, estava no fundo do po�o, a boca com mau h�lito, n�o queria conversar com ningu�m. Ent�o, se chegava uma pessoa, �s vezes uma amiga muito querida, eu j� n�o tinha aquela coisa de chegar perto, de abra�ar. N�o sei explicar aquilo, porque ficou ruim demais. Agora, falo com todo mundo, estou mais � vontade, � a b�n��o de Deus que me encaminhou. Tinha perdido a liberdade de sorrir, n�o podia. Deixei de ir a v�rios lugares e me afastei das minhas tarefas na igreja por causa do constrangimento. Sofria muito por ter de dar uma desculpa. Ent�o, meu filho falou da UFMG. Fui e foi t�o bom. Estou me sentindo muito bem, voltou minha autoestima, posso falar, posso sorrir, n�o preciso sentir vergonha, n�o tenho medo do mau h�lito. A minha vida mudou em tudo. Sou outra pessoa hoje. Gra�as a Deus, melhorou a sa�de no geral. Tenho gratid�o.”
3 - ADELAIDE, de 59 anos, casada, tr�s filhos, dona de casa, entrevista concedida quatro meses ap�s o t�rmino do tratamento
“Devido � perda �ssea, estava perdendo os meus dentes. At� que ca�ram os dois da frente e minha autoestima ficou baixa. N�o tinha vontade mais de conviver com as pessoas, de sair para passear, de falar com as pessoas. A sensa��o � bem desagrad�vel, d� impress�o que a pessoa est� te observando, voc� fica sem gra�a, n�o tinha vontade de ir a lugar nenhum, sair com minhas filhas. Tinha vergonha porque o sorriso da gente mostra tudo. Ficava triste, deprimida. Ficava e trabalhava em casa com muito pouco contato externo, s� com a fam�lia. Ia � missa, mas n�o queria conv�vio com as pessoas. N�o tinha vontade de fazer nada. Agora, a est�tica est� �tima, a sa�de melhorou muito. Hoje, rio muito, estou bem feliz. Estava emagrecendo demais por causa dos dentes infeccionados, ganhei peso depois do tratamento e at� durmo melhor. Hoje, n�o tenho vergonha de conversar nem de rir, quero � rir muito para todos verem meus dentes bonitos. Mudou muita coisa, acho que mudou tudo. Sinto que posso ir aonde eu quiser, conviver melhor com as pessoas sem ficar retra�da. Posso expor minha apar�ncia, personalidade e autoestima. Voltar a sorrir � importante. E meu sorriso agora � muito bonito. S� tenho a agradecer a todos que cuidaram de mim e me deram esse sorriso. Se n�o fosse na UFMG, n�o teria condi��es financeiras. Agrade�o de todo meu cora��o. Voc�s fizeram uma pessoa mais feliz.”