
A desinforma��o sobre algumas discuss�es tamb�m impulsionou a queda nas a��es relacionadas � sa�de f�sica da mulher.
E o emocional feminino sofreu, e ainda sofre, muito nesse contexto. N�o � toa, um estudo realizado pela ONG Kaiser Family Foundation, dos Estados Unidos, aponta que as mulheres se sentem emocionalmente mais abaladas, em meio � pandemia, do que os homens. Os dados mostram que 53% das mulheres que responderam a pesquisa declararam que o estresse e a preocupa��o, neste per�odo, t�m rela��o com o Sars-Cov-2. Entre os homens, esse �ndice � de 37%.
Al�m disso, as mulheres s�o maioria no que diz respeito � linha de frente do combate � pandemia de COVID-19. Elas, que precisam conciliar filhos, trabalho exaustivo e atividades dom�sticas acabam sofrendo ainda mais.
Nesse cen�rio, segundo especialistas, � muito importante que as mulheres mantenham as consultas de rotina e os exames preventivos em dia, assim como se atentem aos cuidados ligados � sa�de mental. Al�m disso, um ponto importante durante a pandemia � ficar por dentro das informa��es sobre o v�rus, mas tamb�m �s relacionados aos cuidados b�sicos de sa�de, preven��o e vacina��o.
Consultas durante a pandemia
“A principal recomenda��o continua sendo as consultas regulares, pois o ginecologista � o m�dico da mulher. Ele deve fazer os exames preventivos e orient�-las sobre comportamentos de risco, al�m do est�mulo � vacina��o contra o HPV. Deve-se lembrar que mudan�as de postura requerem dissemina��o de informa��es e conscientiza��o social”, alerta Delzio Salgado Bicalho, que aponta, ainda, a import�ncia da obstetr�cia nesse cen�rio para a realiza��o de um pr�-natal adequado e aconselhar a mulher e familiares sobre o per�odo gestacional.
Gravidez e pandemia
At� o momento, n�o h� orienta��o para que mulheres n�o engravidem. O pr�-natal continua a ser a melhor maneira de cuidar da gestante e do beb�, mesmo em tempo de isolamento social. Para o obstetra e diretor de a��o social da Sogimig, Francisco L�rio Ramos Filho, � fundamental a rezliza��o do pr�-natal e que as gestantes sigam as orienta��es m�dicas. Isso para que, preocupadas em n�o contrair o v�rus, essas mulheres n�o desenvolvam outros problemas de sa�de.
“A gestante � considerada grupo de risco. Tem o perfil que, se contrair a doen�a, pode colocar em risco sua sa�de e a do seu filho. Ent�o, no consult�rio m�dico, devem ser tomados todos os cuidados para que n�o corra riscos. Aquela gestante que for sintom�tica deve ser orientada a procurar um pronto atendimento obst�trico, a maternidade. Isso para que n�o corra o risco de ir a um consult�rio e contamine outras pessoas”, diz.
Para isso, todas as maternidades devem estar preparadas para o atendimento das mulheres com sintomas gripais e poss�veis infectadas por COVID-19. No momento do parto, cuidados s�o mantidos para evitar riscos.
No per�odo de puerp�rio, a d�vida � quanto � amamenta��o. Por�m, segundo o Minist�rio da Sa�de, n�o h� comprova��o cient�fica da transmiss�o da COVID-19 pelo leite materno. Por isso, a recomenda��o � manter o aleitamento exclusivo e em livre demanda desde a sala de parto at� o sexto m�s de vida da crian�a. Juntamente com uma alimenta��o saud�vel, a amamenta��o deve ser mantida at� os dois anos ou mais.

Para Claudia Laranjeira, ginecologista, obstetra e diretora da Sogimig, apesar de n�o haver estudos em gestantes, n�o h� registros de malforma��es de fetos relacionadas ao uso das vacinas. “A vacina��o em gestantes e lactantes com risco elevado de contra��o do coronav�rus poder� ser realizada, mas a gr�vida deve saber que ainda n�o h� um estudo comprovando a seguran�a da vacina durante a gesta��o. As mulheres que querem engravidar n�o devem adiar a vacina. Elas podem tomar a vacina e engravidar logo depois, sem problemas”, afirma.
Pandemia e vacina��o contra HPV
A principal causa para o aparecimento do c�ncer de colo de �tero � a infec��o pelo HPV. Outras raz�es s�o o in�cio precoce da atividade sexual e com m�ltiplos parceiros, o uso prolongado de anticoncepcionais orais e o tabagismo. Esse tipo de c�ncer � facilmente diagnosticado com exames e por isso tem alto �ndice de cura, desde que tratado em fase inicial. Por isso, � muito importante a realiza��o de an�lises peri�dicas e idas ao ginecologista.
A vacina contra o Papiloma V�rus � uma das formas de preven��o da doen�a. Por�m, a queda no n�mero de pessoas imunizados tem sido constante desde 2010, pelo meno no Brasil, o que se agravou ainda mais com a pandemia de COVID-19, de acordo com a Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) e o Fundo das Na��es Unidas para a Inf�ncia (Unicef). No pa�s, a cobertura vacinal caiu cerca de 14% desde 2010, informa a Sogimig.
Viol�ncia, feminic�dio e pandemia
Dados do relat�rio do F�rum Brasileiro de Seguran�a P�blica revelam que os n�meros de feminic�dio entre mar�o e maio de 2020 aumentaram em rela��o ao mesmo per�odo de 2019. Al�m disso, um levantamento realizado pelo instituto Data Folha, no per�odo de novembro de 2019 at� novembro de 2020, aponta que 1,6 milh�o de mulheres foram espancadas ou sofreram tentativa de estrangulamento no Brasil, enquanto 22 milh�es (37,1%) de brasileiras passaram por algum tipo de ass�dio. Segundo a pesquisa, 42% dessas viol�ncias foram cometidas em ambiente dom�stico.
Sa�de mental e pandemia
“As mulheres t�m maior risco de apresentarem sintomas depressivos e ansiosos ao longo da vida, o que chega a ser o dobro da incid�ncia dos homens, e diversos fatores podem estar relacionados com essa constata��o: fatores hormonais, ambientais, gen�ticos e estressores. Elas t�m maior exposi��o � viol�ncia dom�stica, podem ter maior incid�ncia de abuso sexual, al�m de serem as maiores respons�veis de forma geral nos cuidados com as atividades da casa e os filhos.”
� o que diz a m�dica psiquiatra Christiane Ribeiro. Segundo ela, esses aspectos de risco para as mulheres podem aumentar ainda mais o risco neste per�odo de isolamento social, haja vista o aumento da sobrecarga em rela��o �s atividades dom�sticas e escolares dos filhos somadas �s de trabalho, como o home office.
“Estudos realizados na China, em Wuhan, indicam que as funcion�rias apresentaram mais sintomas de estresse, depress�o e ansiedade quando comparadas aos do sexo masculino. Outro fato que contribui para o aumento do sofrimento das mulheres na pandemia seria o fato de termos, no Brasil, mais mulheres que homens na linha de frente. A sobrecarga mental, estafa, ins�nia e sintomas depressivos e ansiosos, incluindo dificuldades de concentra��o e irritabilidade s�o as maiores queixas da mulher contempor�nea presentes no consult�rio.”
Nesse cen�rio, Christiane Ribeiro recomenda a pr�tica de atividades f�sicas como aliadas, bem como se apegar a h�bitos positivos e manter o acompanhamento psicol�gico mesmo que � dist�ncia. “Com a necessidade de isolamento, � importante optar por exerc�cios que sejam realizados de forma individual, e que se evite aglomera��es. Exerc�cios realizados em plataformas on-line s�o excelentes formas de se exercitar sem riscos. Os fatores de resili�ncia de prote��o tamb�m incluem maior dura��o do sono e apoio social da fam�lia”, diz.
Na luta contra a COVID-19
A ONU Mulheres alerta, no relat�rio “COVID-19 na Am�rica Latina e no Caribe: como incorporar mulheres e igualdade de g�nero na gest�o da resposta � crise”, para a distin��o dos impactos da pandemia entre homens e mulheres. Isso porque o n�mero de mulheres na linha de frente do combate ao novo coronav�rus � maior do que o n�mero de homens. Em Minas Gerais, de com acordo com a Secretaria Estadual de Sa�de, de cerca de 20 mil profissionais da secretaria, aproximadamente, 15.500 s�o mulheres.
Considerando apenas os profissionais das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e da rede de urg�ncia e emerg�ncia Samu, dos quase tr�s mil trabalhadores, cerca de 2.400 s�o mulheres. Essa carga acaba sendo ainda mais pesada para elas, j� que, al�m das mulheres serem a maioria dentro dos hospitais, elas tamb�m t�m forte atua��o em casa.
� o caso de Daniela Moraes, professora de urg�ncia e emerg�ncia do curso de enfermagem do UniBH. Ela � professora, profissional, esposa e m�e de duas filhas. Al�m de lecionar, Daniela � profissional do Samu h� 16 anos, atuando diretamente no combate � pandemia. “Meu maior medo � levar o v�rus para minha casa, meus familiares, aqueles que amo. Mas por outro lado, fico muito tranquila, pois seguimos todos os protocolos de seguran�a.”
“Cada vez mais estamos vendo um aumento do n�mero de casos, uma sobrecarga de trabalho enorme. N�s profissionais da sa�de, estamos muito cansados e exaustos em rela��o � pandemia. Tenho uma rotina muito corrida. Procuro me dividir para ser m�e, mulher, esposa e profissional. N�o � f�cil. Mas n�o abro m�o de ir ao sal�o e cuidar de mim tamb�m. Mesmo sendo corrido, tenho dado conta. Tiro for�as todos os dias por acreditar que estou fazendo a diferen�a na vida das pessoas,” destaca.
Lilian Souza, professora de cl�nica m�dica, do curso de medicina do UniBH, tamb�m atua no Hospital das Cl�nicas desde o in�cio da pandemia, fazendo exames de ecocardiograma em pacientes que t�m COVID-19. Segundo ela, esse exame faz parte do protocolo de atendimento aos pacientes que t�m complica��es. Casada e m�e de dois filhos, a profissional conta que existe um medo di�rio por ter muito contato com infectados.
“Mesmo sendo vacinada, tenho muito medo pelos meus familiares. Por�m, esse � o meu trabalho. Nesse momento temos que manter a calma. J� somos sobreviventes. Agora temos que cuidar para permanecermos nesse est�gio. Devemos ficar em casa, quem puder, e seguir todos os protocolos de seguran�a. � como disse Charles Darwin, quem sobrevive n�o � o mais forte, mas aquele que se adapta melhor as transforma��es”, explica.

“Acaba que a carga de trabalho da mulher � muito maior. Dou aulas pela manh�, estudo � tarde, cuido da casa, acolho meus pacientes, dou aten��o aos meus alunos, tento me fazer presente para a fam�lia, mesmo n�o estando com eles. Se eu n�o tiver um planejamento rigoroso das minhas horas, fico sem descanso. � um trabalho essencial para a sa�de acontecer. N�o h� sa�de sem a enfermagem e a for�a de trabalho feminina”, diz.
*Estagi�ria sob a supervis�o do subeditor Daniel Seabra