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Estado de Minas DIA MUNDIAL DO RIM

Pacientes renais relatam luta di�ria pela qualidade de vida

Al�m das consequ�ncias f�sicas, o emocional de pessoas com doen�as renais tende a se desestabilizar. Foco no tratamento � promessa de dias melhores


11/03/2021 12:44 - atualizado 11/03/2021 14:07

(foto: Danthi Comunicações/Divulgação)
(foto: Danthi Comunica��es/Divulga��o)

“Descobri meu problema renal em 1994 em um exame admissional. Eu n�o tinha sintomas e fui diagnosticado com uma doen�a chamada glomerulopatia mesangial proliferativa. Aos poucos, o rim foi perdendo a fun��o e os primeiros sinais apareceram: dores de cabe�a como ind�cio para press�o arterial aumentada. Depois, vieram as n�useas, fraqueza, anemia, �nsias de v�mito, dificuldade para comer carne e mal estar. Foi at� que precisei fazer um tratamento substitutivo em 2005. No come�o, foi a di�lise peritoneal e nove meses depois mudei para a hemodi�lise.” 

� o que conta o professor aposentado e, agora, autor e tradutor, J�der dos Reis Sampaio, de 55 anos, um dos cerca de 10 milh�es de brasileiros que sofrem com alguma doen�a renal cr�nica, segundo dados do Minist�rio da Sa�de. 

No in�cio, ainda nos primeiros meses ap�s a descoberta, o maior desafio de J�der foi aceitar a sua nova realidade. Ainda jovem, conforme seus relatos, era dif�cil entender que, mesmo sem sintomas aparentes, muitos cuidados eram necess�rios para se evitar complica��es. Na �poca, o aposentado tinha consultas trimestrais com um nefrologista e as limita��es eram quase inexistentes: controle m�dico, alimentar e de consumo de �gua e pr�tica de atividades f�sicas. “Eu era feliz e n�o sabia”, lembra. 

O per�odo assintom�tico que J�der teve � bem comum. � que a doen�a renal costuma ser silenciosa e evoluir aos poucos, tendo manifesta��o dos sintomas quando os rins j� se encontram comprometidos. Entre os sinais dados pelo corpo est�o o aumento do volume e altera��o na cor da urina, fadiga, dificuldade de concentra��o, diminui��o do apetite, sangue e espuma na urina, inc�modo ao urinar, incha�o nos olhos, tornozelos e p�s, dor lombar, anemia, fraqueza, enjoos e v�mitos e altera��o na press�o arterial. 

Lizia Caldeira, nefrologista da Frenesius(foto: Arquivo pessoal)
Lizia Caldeira, nefrologista da Frenesius (foto: Arquivo pessoal)
“Muitas vezes, quando a pessoa procura o m�dico, j� est� no mais avan�ado est�gio, fase em que as �nicas solu��es s�o hemodi�lise, hemodiafiltra��o, di�lise peritoneal ou transplante renal. Quando h� diagn�stico precoce, tratamentos conservadores podem retardar a evolu��o da doen�a. Por isso, o acompanhamento m�dico � crucial, principalmente para idosos, hipertensos, diab�ticos e pessoas que j� apresentam perda de fun��o renal em est�gios iniciais”, explica a nefrologista Lizia Caldeira, da Fresenius. 

Mas por que pessoas diab�ticas, hipertensas e idosas devem se preocupar mais? Porque, segundo a m�dica nefrologista intensivista Lect�cia Jorge, esses grupos de pessoas est�o mais predispostos a perda de fun��o renal. “Com o envelhecimento da popula��o, a incid�ncia de doen�a renal tem crescido – a partir dos 40 anos, � comum haver perda de funcionalidade do rim –, at� porque, a princ�pio, a principal causa de disfun��o renal � a associa��o com hipertens�o arterial e diabetes mellitus, que s�o doen�as muito prevalentes na popula��o. Com isso, a doen�a no rim tamb�m fica sendo muito prevalente.” 

Outro ponto de aten��o � para aqueles que costumam fazer uso indiscriminado de anti-inflamat�rios com frequ�ncia, pois a doen�a renal cr�nica pode ser causada pela ingest�o em excesso de rem�dios sem prescri��o m�dica. 

Para al�m dos fatores de risco, h� quem nas�a com complica��es no rim. Foi assim com o empres�rio Armando Barboni Filho, de 44. “Eu nasci com uma defici�ncia nos tr�s �ltimos ossos da coluna. Eles nasceram diminu�dos. Quando crian�a era dif�cil de notar. J� maior, na adolesc�ncia, foi a minha m�e que descobriu. Eu era 100% sadio, at� que um dia cheguei do futebol, bebi �gua e deitei no ch�o da minha casa, e minha m�e viu uma ovula��o na reta da bexiga, e percebeu, tamb�m, que havia uma dilata��o. Procuramos um m�dico e ele diagnosticou como bexiga neurog�nica, que seria uma bexiga paral�tica.” 

“Ela n�o fazia o movimento de encher e expelir a urina. Ela enchia, mas n�o conseguia expelir tudo. Uma bexiga normal expele 100% da capacidade da minha. Depois disso, o m�dico indicou tratamento que, hoje, acho agressivo, que � o auto cateterismo quatro vezes ao dia. E nada mais era do que eu mesmo passando uma sonda de al�vio para esvaziar essa bexiga. Depois de um tempo, parei com esse tratamento e a urina acabava voltando aos meus rins, o que acarretou, cinco anos depois, na perda de 100% dos rins. O meu problema renal passou por um refluxo bilateral do problema que tinha na bexiga. Fui, ent�o, para a hemodi�lise, a qual fa�o at� hoje”, conta. 

Luta e amor � vida

Os rins t�m in�meras fun��es, dentre elas: filtrar o sangue, eliminando as toxinas do corpo, manter a normalidade da composi��o corporal, como os n�veis de pot�ssio e o pH, controlar a quantidade de sal e �gua do organismo, regular a press�o arterial, produzir horm�nios que evitam a anemia e as doen�as �sseas por meio da ativa��o da vitamina D, entre outras. “S�o �rg�o vitais”, descreve Lect�cia Jorge. 

Nesse cen�rio, a doen�a renal cr�nica se manifesta quando os rins param de desenvolver suas fun��es naturais. Ela � classificada em cinco est�gios, de acordo com a progress�o da doen�a, sendo o �ltimo o mais avan�ado e quando os rins param totalmente de funcionar. Nesse caso, segundo Lizia Caldeira, n�o h� mais chance de cura, sendo necess�rio recorrer a uma terapia substitutiva, ou seja, di�lise ou transplante. Os tratamentos s�o recomendados de acordo com a doen�a e avalia��o m�dica. 

J�der dos Reis e Armando Barboni tiveram que recorrer a esse tipo de terapia. Hoje, apesar das limita��es, ambos se sentem bem e gratos pela vida, ap�s tanta luta. 

“Depois que os rins n�o conseguiam mais filtrar uma quantidade m�nima de urina, comecei a fazer di�lise, em uma modalidade que se chama di�lise peritoneal, que � feita em casa, com uma m�quina, que injeta um l�quido no abd�mem e o retira. Eram muitas horas dedicadas ao tratamento. Era muito dif�cil reenquadrar as atividades da vida ao tratamento. Eu continuava sendo professor da UFMG nessa fase, e foi muito bom poder trabalhar enquanto me tratava. Depois de nove meses, tive uma infec��o no perit�nio e n�o houve tratamento com rem�dios: tive que retirar o cateter que havia sido implantado para inserir e retirar o l�quido da di�lise peritoneal. Foi um susto”, conta J�der. 

Jáder dos Reis Sampaio, de 55 anos, precisou se aposentar pelas limitações impostas pelo tratamento da doença renal(foto: Arquivo pessoal)
J�der dos Reis Sampaio, de 55 anos, precisou se aposentar pelas limita��es impostas pelo tratamento da doen�a renal (foto: Arquivo pessoal)
Enquanto se recuperava da cirurgia do cateter, o agora aposentado conta que deu in�cio a hemodi�lise. J� s�o 15 anos se dedicado cerca de 12 horas semanais ao tratamento. “Estou bem adaptado, mas existem alguns mal estares que s�o comuns. Quanto aos h�bitos, mudou muita coisa. Agora, tenho visitas mais frequentes ao m�dico e mais cuidados com a sa�de. N�o posso faltar nas sess�es. E como s�o de tr�s a cinco por semana, fica mais dif�cil de trabalhar, por causa dos hor�rios de trabalho e da fraqueza, e de viajar, porque � muito dif�cil agendar sess�es de hemodi�lise fora da cidade.” 

Foi, ent�o, que, depois de cinco anos trabalhando e fazendo di�lise, J�der optou pela aposentadoria. Ele n�o conseguia “entregar” o trabalho com a mesma qualidade de quando estava saud�vel e n�o se sentia confort�vel com isso. Ainda, a mente sofreu um pouco nesta luta. O professor desenvolveu depress�o quando perdeu a fun��o renal. “Passei a fazer acompanhamento psiqui�trico e me sinto muito bem hoje. Com a aposentadoria, passei a priorizar a fam�lia, o cuidado com a sa�de e dedicar um pouco mais � minha religi�o. Mas precisava de uma atividade que pudesse realizar dentro das limita��es, ent�o me reinventei bastante.” 

“Me sinto uma pessoa em realiza��o. Felizmente, muitas pessoas nem percebem que sou renal cr�nico, se eu estiver usando uma camisa de manga comprida, que oculte a f�stula e os vasos do bra�o. Alguns at� acham que estou mentindo, quando digo que fa�o hemodi�lise. Creio que vivo em uma �poca na qual � poss�vel ter uma boa qualidade de vida se nos dispusermos a enfrentar a doen�a e fazer o que � necess�rio para preservar a sa�de que nos resta. E fiz um ‘acordo com Deus’ que iria viver para ver as filhas formarem. Do jeito que as coisas andam, vou rever o acordo e acho que desejo ver os netos crescerem, quando elas acharem que est� na hora”, conta. 

Armando Barboni Filho, de 44, afirma manter o foco em
Armando Barboni Filho, de 44, afirma manter o foco em "coisas positivas" para enfrentar a luta di�ria da hemodi�lise (foto: Arquivo pessoal)
Para enfrentar o momento, Armando Barboni tem um “lema” de vida: foco em “coisas positivas”. “Fa�o hemodi�lise e sou 100% seguro nesse tratamento. Minha vida inteira foi dedicada a ele. � agressivo, mas tenho consci�ncia do bem que faz e levo uma vida quase normal. Levo o tratamento com dedica��o e n�o com a cabe�a voltada a ele. Na hora que termina o tratamento, esque�o ele e vivo. Hoje, eu fa�o o tratamento de segunda a sexta, por duas horas e meia ao dia, saio e venho para o meu escrit�rio e trabalho normalmente. Vou, inclusive, dirigindo at� a minha casa que � em Betim, 50km de dist�ncia.” 

“Antes, na adolesc�ncia, eu sentia um inc�modo, sim. Mas, hoje, estou mais feliz e satisfeito com a hemodi�lise. N�o consigo reclamar de nada. Sou uma pessoa ativa e, embora com 22 anos de hemodi�lise se tem desgaste card�aco, n�o tenho nenhum outro problema de sa�de. Fa�o e luto pelo que quero e pela vida, e estou bem e feliz.” 

Previna-se! 

“Muitas das doen�as no rim podem sim ser evitadas”, afirma Lect�cia Jorge. Segundo ela, algumas iniciativas e mudan�as de h�bitos podem contribuir para evitar o aparecimento de doen�as renais ou mesmo complica��es de quadros j� instalados. "� por isso que � t�o importante dosar a creatinina, prestar aten��o e realizar exames de urina. Porque o quanto antes se reconhece que tem alguma altera��o, antes se consegue tratar.” 

Por isso, a nefrologista recomenda a inser��o dos exames indicados no check-up habitual da popula��o – normalmente, realizado anualmente. Al�m disso, ela refor�a a import�ncia de se fazer uma alimenta��o adequada com menos sal e a��car, praticar exerc�cios f�sicos, evitar que a press�o arterial fique alta, controlar o diabetes e n�o utilizar medicamentos sem prescri��o m�dica. 

O Minist�rio da Sa�de tamb�m sugere que o paciente tenha consci�ncia a respeito do hist�rico de doen�as familiares, controle o peso, n�o fume, evite o consumo de bebidas alc�olicas e monitore os n�veis de colesterol. 

Conscientiza��o


O Dia Mundial do Rim � comemorado, anualmente, na segunda quinta-feira do m�s de mar�o – neste ano, dia 11. A data � idealizada pela International Society of Nephrology (ISN), para aumentar a difus�o de informa��es sobre as doen�as renais, em prol da conscientiza��o e do planejamento de estrat�gias de preven��o e gerenciamento das doen�as. 

* Estagi�ria sob supervis�o da subeditora Ellen Cristie. 


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