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Estado de Minas COMPORTAMENTO

Escrita afetiva e autoescrita: poder transformador e de descobertas

Por meio das palavras, colocadas no papel ou na tela, sentimentos, ang�stias, medos e ansiedade podem se revelar e atenuar dores


25/04/2021 04:00 - atualizado 25/04/2021 12:47

Jornalista Rafaela Baião diz que escrever é um refúgio para alguém como ela, que, apesar de saber se expressar, tem dificuldade de falar sobre o que sente(foto: Arquivo Pessoal)
Jornalista Rafaela Bai�o diz que escrever � um ref�gio para algu�m como ela, que, apesar de saber se expressar, tem dificuldade de falar sobre o que sente (foto: Arquivo Pessoal)


Nem sempre a catarse, a libera��o de emo��es, sentimentos e afetos reprimidos de forma expl�cita, oral, � a melhor escolha na busca de al�vio �s dores da vida e de redescobertas. Muitas vezes, o barulho do sil�ncio encontra na palavra escrita mais pot�ncia para aquietar a alma e aconchegar o viver.

Seja como recurso terap�utico, por meio da autoescrita, ou utilizada como ferramenta criativa ou afetiva, a certeza � que o poder da palavra escrita � transformador para quem se disp�e a se revelar e se enxergar escrevendo.

Enxergar-se por meio da escrita � uma experi�ncia de autoencontro. Uma forma de aumentar a imunidade ao materializar o que passa pela mente, sem se julgar.

Ao colocar os sentimentos no papel (ou na tela, em tempos digitais), o que n�o � tarefa f�cil, abre-se um canal de reflex�o diante das afli��es, medos, inseguran�as, ansiedade, rejei��o e tudo mais que possa estar impedindo voc� de viver com mais leveza, com menos dor.

As ferramentas s�o distintas, as propostas diferentes, mas o ato de escrever � poderoso para quem deseja uma exist�ncia mais tranquila. E para quem tem dificuldade de externalizar oralmente o que passa frente ao outro, a escrita � uma ferramenta para mapear os sentimentos e chegar a respostas (ou mais perguntas, tamb�m fundamentais) para uma viv�ncia com mais sentido.

Escrever n�o � s� uma forma de compartilhar o que eu penso e o que eu sinto. � muito mais do que isso. � uma pr�tica para me ajudar a me entender, a me ouvir e a lidar melhor com meus pensamentos e sentimento

Rafaela Bai�o, jornalista



Para Rafaela Bai�o, de 32 anos, jornalista que hoje atua como especialista em conte�do em uma empresa do mercado financeiro, a escrita sempre esteve presente. “Escrever � algo de que gosto de fazer desde bem nova e colocar no papel o que estou sentindo � um excelente ref�gio para algu�m como eu, que, apesar de saber me expressar bem, tenho muita dificuldade de falar sobre o que sinto. Al�m disso, me formei em jornalismo e a escrita tamb�m faz, h� mais de uma d�cada, parte do meu dia a dia profissional.”

Rafaela conta que seus textos sempre ficaram reservados aos seus cadernos pessoais, arquivos no computador ou �s cartas e aos bilhetes que sempre teve o h�bito de escrever para as pessoas que ela ama.

“Publicar meus textos nunca foi algo que passou pela minha cabe�a, porque eu sempre gostei de escrever sobre mim, sobre o que eu penso, sobre o que eu vejo, sobre pessoas importantes para mim — e sempre achei que isso n�o fosse interessar ningu�m.”

Segundo ela, essa chave virou quando passou a acompanhar mais de perto o trabalho da Ana Holanda (jornalista e escritora), que �, atualmente, sua principal refer�ncia em escrita.

“A Ana fala da escrita como um caminho de autoconhecimento e como uma ferramenta muito eficaz para a gente lidar com o que sente — e esse � exatamente o lugar da escrita para mim. O livro 'Como se encontrar na escrita', de autoria dela, e o curso escrita criativa e afetuosa, ministrado por ela, foram um divisor de �guas e me deram coragem para enxergar a escrita com outros olhos.”

EU VEJO UMA HIST�RIA


(foto: Kelly Sikkema/Unsplash)
(foto: Kelly Sikkema/Unsplash)


E foi assim que Rafaela Bai�o decidiu criar um perfil no Instagram para publicar textos da sua autoria. “� verdade que a publica��o dos meus textos nunca esteve nos meus planos, mas a cria��o do perfil do Eu vejo uma hist�ria (https://www.instagram.com/euvejoumahistoria/) foi uma forma de fortalecer a minha rela��o com a escrita e comigo mesma. � um projeto pessoal, pequeno e sem grandes pretens�es, mas que me ajuda muito a existir neste mundo de um jeito que fa�a sentido para mim”, explica.

Rafaela revela que h� uma frase da escritora americana, Flannery O'Connor que ela gosta muito e que traduz o papel da escrita em sua vida.

“'Eu escrevo porque n�o sei o que penso at� ler o que eu digo'. Ou seja, escrever n�o � s� uma forma de compartilhar o que eu penso e o que eu sinto. � muito mais do que isso! � uma pr�tica para me ajudar a me entender, a me ouvir e a lidar melhor com meus pensamentos e sentimentos. Antes de ser para o outro, a escrita precisa ser para mim e esse tem sido um exerc�cio di�rio h� muitos anos. No fim das contas, a escrita tem muito menos a ver com o que eu fa�o e muito mais a ver com o que eu sou — e acho essa uma forma muito bonita de olhar para uma pr�tica t�o cotidiana como escrever.”

A pr�tica de traduzir o que se sente em palavras, que existe desde a filosofia antiga – a escrita de si – � importante ferramenta da narrativa contempor�nea. Acess�vel n�o s� para quem sabe escrever, mas para todos que desejam se expressar por meio da escrita.

Especialistas que atuam com a palavra escrita como meio para ajudar as pessoas em suas descobertas e como pode ser uma forma de cuidar da sa�de mental, ainda mais diante do enfrentamento da pandemia da COVID-19, destacam o poder da escrita.

Em per�odo de isolamento social, papel e caneta ou, se preferir, teclados e telas s�o companhias que podem ajudar a viver este tempo com menos solid�o, com mais solitude, como dias de descobertas, de buscas internas, com mais compaix�o e empatia.

A jornalista e escritora Ana Holanda exalta a escrita que nasce dentro das pessoas e os caminhos que ela percorre at� chegar ao outro: “As palavras cheias de alma nos carregam. Quando escrevemos um texto, ele deixa de lhe pertencer e ganha o mundo. Quando uma pessoa o l� e se identifica com ele, com as palavras, o tema ou a hist�ria, aquele texto, aquelas palavras passam a se manter vivos no outro. � uma continuidade de vida, da nossa vida, no outro. As palavras n�o existem para ocupar espa�os em branco no papel. Mas dar sentido. De vida. E por isso n�o devemos desperdi��-las.”


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