
O levantamento mostra que fatores como a vulnerabilidade social e menor acesso � sa�de pesaram tanto quanto comorbidades para o pior cen�rio das crian�as brasileiras quando comparadas aos estudos publicados por outros pa�ses.
Foram analisados dados de mais de 80 mil crian�as internadas em hospitais brasileiros em 2020 com suspeita da doen�a. Destas, 11.613 tiveram comprova��o laboratorial da infec��o pelo SARS-CoV-2 e foram inclu�das na an�lise.
Este � o maior estudo pedi�trico de COVID-19 j� publicado at� o momento e contou com recursos da Funda��o de Amparo � Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cient�fico e Tecnol�gico (CNPq).
A pesquisa foi conduzida pelos professores do Departamento de Pediatria (PED) da Faculdade, Eduardo A. Oliveira, Ana Cristina Sim�es e Silva e Maria Christina Lopes, com a participa��o do professor Enrico Colosimo do Departamento de Estat�stica (UFMG), dos pesquisadores da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), Herc�lio Martelli-J�nior e Daniella Barbosa Martelli, do pesquisador Robert Mak, da University of California, San Diego, e da aluna da Faculdade de Medicina e bolsista da inicia��o cient�fica pelo CNPq Ludmila R. Silva.
Alta taxa de mortalidade e fatores de risco
Em primeiro lugar, a alta taxa de mortalidade no Brasil chamou a aten��o dos pesquisadores. Enquanto um estudo no Reino Unido com crian�as hospitalizadas apontou para mortalidade de 1% (todas com comorbidades), no Brasil o n�mero foi de 7,6%.
“Pelos dados, vimos que as crian�as que eram de regi�es brasileiras mais pobres, como por exemplo, Norte e Nordeste, morreram mais que as crian�as que eram de regi�es com mais recursos, como Sul e Sudeste. Isso sugere que a desigualdade tem um papel nesse sentido”, explica a professora Ana Cristina Sim�es e Silva.
Os pesquisadores analisaram dados de crian�as hospitalizadas, ou seja, com formas moderadas e graves de COVID-19, n�o incluindo dados sobre as formas leves.
Entre os fatores de risco para maior mortalidade foram identificadas a idade, a etnia, a macrorregi�o geogr�fica de origem e a presen�a de comorbidades. No fator idade, a mortalidade foi maior entre menores de 2 anos e em adolescentes, entre 12 e 19 anos.
Pacientes das regi�es Nordeste e Norte do pa�s tamb�m tiveram maior risco de morte se comparado aos da regi�o Sudeste. Crian�as ind�genas tiveram pelo menos o dobro de risco de morte em rela��o �s de outras etnias.
N�mero de comorbidades e desigualdade social
“As crian�as hospitalizadas que tinham uma doen�a pr�via, como problemas renais, card�acos, pulmonares, t�m uma chance de evoluir para �bito maior do que as crian�as que n�o t�m uma doen�a pr�via”, explica Ana Cristina.
Assim, segundo a professora, quanto mais doen�as pr�vias a crian�a tiver, maior ser� o risco. “Se ela tem duas ou tr�s condi��es ruins pr�vias, de doen�as cr�nicas, a chance dela evoluir para �bito vai s� aumentando.”
A comorbidade � uma doen�a pr�via que a crian�a j� possui. Esse fator das comorbidades acontece em todos os pa�ses, tanto em desenvolvidos quanto em subdesenvolvidos. Assim, crian�as ou adultos que tenham comorbidades t�m mais chances de morrer.
Portanto, para Ana Cristina, o fator que mais explica a alta taxa de mortalidade das crian�as brasileiras � a desigualdade social.
“Em alguns lugares n�o h� UTIs para todas as crian�as, ventila��o mec�nica. Ter comorbidade � um fator de risco em qualquer parte do mundo. Mas, uma vez tendo a comorbidade precisa haver recursos. E n�o ter os recursos necess�rios � que leva � morte dessas crian�as.”
Para os pesquisadores, o estudo revela a precariedade da sa�de de regi�es mais pobres e as diferen�as nas condi��es de cuidado e acesso �s UTIs no Brasil.
Coleta de dados
Os dados foram coletados do Sistema de Informa��o da Vigil�ncia Epidemiol�gica da Gripe (SIVEP-Gripe), que � um banco de dados nacional com pacientes dos sistemas p�blico e privado.
“O sistema foi criado em 2009 por causa da epidemia de H1N1. Todos os casos de doen�a respirat�ria aguda eram registrados nesse banco de dados. O mesmo banco foi usado para a pandemia de COVID-19.”
Os dados s�o de dom�nio p�blico e incluem interna��es tanto em hospitais p�blicos quanto privados, de todo o pa�s. A equipe da pesquisa extraiu do sistema todos os casos confirmados de COVID-19 referentes � popula��o pedi�trica (menores de 20 anos), entre os dias 16 de fevereiro de 2020 e 9 de janeiro de 2021.
Nesse contexto, os pesquisadores fazem um agradecimento especial no artigo para todos os profissionais de sa�de da linha de frente pela coleta sistem�tica de dados para o banco de dados SIVEP-Gripe em condi��es adversas e para seus esfor�os para enfrentar a pandemia COVID-19 no Brasil.
Dos 82.055 pacientes pedi�tricos cadastrados no SIVEP-Gripe durante o per�odo do estudo, 11.613 (14,2%) tinham dados dispon�veis mostrando infec��o por conorav�rus confirmada em laborat�rio e foram inclu�dos na amostra.
Entre esses pacientes:
- 886 (7,6%) morreram no hospital, em uma m�dia de 6 dias ap�s a interna��o hospitalar,
- 10.041 (86,5%) pacientes receberam alta do hospital,
- 369 (3,2%) estavam no hospital no momento da an�lise e
- 317 (2,7%) n�o tinham informa��es sobre o desfecho
A probabilidade estimada de morte foi de 4,8% durante os primeiros 10 dias ap�s a interna��o, 6,7% nos primeiros 20 dias e 8,1% ao final do seguimento.
Conclus�o
A principal conclus�o do estudo, na avalia��o dos professores, � que, como observado em estudos nacionais e internacionais de pacientes adultos, desigualdades sociais e nos cuidados de sa�de podem contribuir para aumentar o impacto negativo da doen�a em crian�as e adolescentes mais vulner�veis e com condi��es socioecon�micas prec�rias no Brasil.
“Se voc� mostra que lugares mais pobres, com popula��es vulner�veis, como a popula��o indigena, morrem mais, esses s�o alvos dos quais deve haver uma aten��o maior no sentido de melhorar as condi��es das UTIs, ter mais vagas para crian�as que precisem desses recursos, ter mais ventila��o mec�nica”, afirma Ana Cristina.
Para ela, o objetivo do estudo n�o � s� mostrar esse cen�rio para o mundo. “N�s estamos diante de uma grave pandemia. (Mostrar) o que est� acontecendo com as crian�as do nosso pa�s. Mostrar quais s�o os ‘calcanhares de Aquiles’, quer dizer, as �reas que merecem maior cuidado e aten��o.”
E completa, “este � o estudo com o maior n�mero de crian�as feito at� hoje. N�o tem nenhum estudo desse porte em pa�ses subdesenvolvidos. Ent�o a import�ncia desse levantamento � muito grande, pois ele mostra quais os fatores que precisam ser observados pelas pol�ticas p�blicas.”
Os pesquisadores esperam que os dados possam ser utilizados pelo poder p�blico. “Vimos que os desfechos foram melhores nas regi�es Sudeste e Sul, que t�m maior acesso � UTI. Outro ponto � que a popula��o ind�gena � muito vulner�vel � COVID-19, tanto em termos de tratamento como na preven��o. Com o apontamento dessas peculiaridades podemos orientar pol�ticas p�blicas”, defendem.
Eles acrescentam que as necessidades espec�ficas de pacientes pedi�tricos mais suscet�veis devem ser consideradas no contexto de futuras dire��es para medidas preventivas e estrat�gias terap�uticas para esses grupos.
Ap�s a publica��o sobre pacientes pedi�tricos, a equipe espera explorar mais dados do sistema. “Agora queremos estudar outras popula��es de risco neste banco de dados. Por exemplo, separar pacientes transplantados, com doen�as oncol�gicas para ver como foi a evolu��o, quais os fatores de risco. At� para analisar se essas quest�es s�cio-econ�micas v�o impactar tamb�m nesses grupos. Estamos usando esse banco de dados para avaliar outras situa��es cl�nicas”, conclui Ana Cristina.
Para ler o artigo completo, clique aqui.
*Estagi�ria sob supervis�o do subeditor Eduardo Oliveira
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