(none) || (none)
Publicidade

Estado de Minas SA�DE MENTAL

Languishing: 'A pandemia colocou todos numa condi��o de sobreviventes'

Psiquiatra Gilda Paoliello lembra que, desde o surgimento da COVID-19, especialistas alertavam sobre poss�vel aumento dos transtornos mentais


30/01/2022 04:00 - atualizado 27/01/2022 12:29

Homem sentado de costas, numa passarela, olhando o horizonte em um entardecer
O languishing n�o � uma doen�a, mas um conjunto de manifesta��es emocionais frente as inconst�ncias do novo cotidiano e n�o deve ser patologizado (foto: Avi Chomotovski/Pixabay)
 
 
Psiquiatra, psicanalista e professora do curso de p�s-gradua��o em psiquiatria Ipemed, Gilda Paoliello, em entrevista ao Bem Viver, explica por que o languishing n�o pode ser apontado como um transtorno mental e, portanto, n�o � uma doen�a.

Ela tamb�m alerta sobre o respeito a quem est� sofrendo diante do languishing e que ningu�m deve normatizar ou usar par�metros morais para avaliar o sofrimento alheio.

Gilda Paoiello, psiquiatra
Psiquiatra Gilda Paoliello afirma que languishing n�o constitui um transtorno mental (foto: Marc�lio Nicolau/Divulga��o)
Languishing � mais um transtorno mental fruto da pandemia?

O termo languishing n�o constitui um transtorno mental. Ele foi proposto pelo soci�logo americano Corey Keyes e descrito pelo psic�logo organizacional Adam Grant em mat�ria no The New York Times. Descreve um estado emocional que, em sua ess�ncia, se define pelo vazio, sentimento de apatia e, ao mesmo tempo, de apreens�o, surgido nestes tempos sombrios da COVID-19. Seria uma tentativa de nomear o sintoma de nossa atualidade, caracterizado pela inexist�ncia de uma b�ssola que possa permitir previs�es, deixando todos � deriva. Na aus�ncia de respostas sobre o futuro, surge uma apatia, uma languidez emocional como defesa. O termo logo se disseminou pela identifica��o que as pessoas tiveram com o que estava sendo descrito. Poder nomear os pr�prios sentimentos e ver que, de certa forma, ele � universal, d� um certo al�vio.

� necess�rio acionarmos o polo oposto da apatia, que representa a puls�o de vida. � tempo de se reinventar e n�o se deixar cair na armadilha de que a pandemia nos impede de tudo. Importante uma reflex�o sincera no sentido de n�o se colocar a pandemia como justificativa para as pr�prias acomoda��es e limita��es. Temos lidado com muito sofrimento real pelas perdas e sequelas deixadas pela COVID-19 e constatamos que o melhor ant�doto � a criatividade. Mas para aqueles que se paralisam no languishing, nesse limbo emocional que leva a uma esp�cie de anestesia que impede a pessoa at� de perceber a necessidade de pedir ajuda, devemos estender a m�o de forma ativa. A pandemia colocou todos numa condi��o de sobreviventes, � essencial buscarmos pr�ticas que nos lancem para al�m dessa condi��o de estar entre a vida e a morte.

Se languishing n�o � uma doen�a, imagino ser ainda mais vista com preconceito. Imagino que surja o famoso mimimi, a desclassifica��o do problema, que h� pessoas com problemas reais. 

Sim, o languishing n�o � uma doen�a, mas um conjunto de manifesta��es emocionais frente as inconst�ncias do novo cotidiano e n�o deve ser patologizado. Mas dependendo da intensidade e das consequ�ncias dessas manifesta��es, poder�, sim, se caracterizar como uma patologia e como tal dever� ser abordada. Entretanto, cada um sabe a dor e a del�cia de ser o que �, todo sofrimento � subjetivo e, portanto, deve ser respeitado. Alguns fazem da epidemia um ref�gio para justificar suas limita��es, outros encontram nela uma raz�o para se colocar de forma mais altru�sta, relativizando seus problemas; enquanto outros s�o atropelados pelo real avassalador da COVID-19. Na forma��o do sintoma ps�quico, realidade e viv�ncia subjetiva t�m o mesmo peso. Portanto, n�o devemos normatizar ou usar par�metros morais para avaliar o sofrimento alheio. Lembrando que permitir a pessoa colocar seu sofrimento no campo da palavra possibilita dar a esse sofrimento uma nova dimens�o, caminho para a elabora��o e reposicionamento.
 
IND�CIOS DO LANGUISHING 

Ponto de interrogação em uma folha em branco
Languishing n�o � depress�o, mas precisa de cuidado e tratamento diante de um apagamento da vida. Descubra o que sente (foto: Arek Socha/Pixabay)

Mesmo com todos os transtornos existentes, surge um novo fen�meno que emergiu com a pandemia: o languishing, que inclui um sentimento persistente de apatia de dif�cil defini��o, mas que est� longe dos extremos, seja o de felicidade plena e o da tristeza angustiante, mas sim no meio-termo. A psic�loga Ana Carolina Peuker, CEO e fundadora da Bee Touch, mental 
healthtech respons�vel por mensurar riscos psicol�gicos digitalmente em empresas e institui��es, aponta quatro ind�cios de que voc� pode estar desenvolvendo o languishing.

  1. Sentimento de “esvaziamento”: a crise sanit�ria global agrava este quadro. N�o conseguir planejar o futuro � perturbador e acaba gerando mais ansiedade, acabando com a ilus�o de que � poss�vel ter controle das coisas. Ainda tivemos que nos adaptar muito r�pido a tantas necessidades, e isso � exaustivo, pois as pessoas ficam em alerta cont�nuo. Essa exaust�o � a respons�vel por causar o sentimento de culpa, esvaziamento emocional e apatia.
  2. N�o se sente feliz e nem triste: existe um grupo que n�o se sente triste ao ponto de se encaixar na depress�o, j� que tem energia para tarefas do dia, mas est� longe de estar satisfeito com a vida. Esse � um sintoma muito comum, que � praticamente invis�vel, e os tratamentos s�o destinados aos transtornos j� existentes. Por�m, quem n�o se encaixa nos crit�rios de depress�o, s�ndrome do p�nico, burnout e outros? A pessoa n�o consegue se realizar, por isso, tamb�m sofre.
  3. N�o conseguir ter uma vis�o positiva: mesmo n�o se sentindo extremamente triste, a pessoa que apresenta o quadro de languishing n�o tem a dimens�o positiva do futuro, apresentando padr�es mais negativos e falta de perspectiva. Isso poderia ser definido como uma vis�o “emba�ada” do futuro, a pessoa pode ter a sensa��o de que sua vida est� estagnada. Se na s�ndrome de Burnout a sensa��o � de um motor pifado pelo “superaquecimento”, no languishing � como se o motor s� pegasse “no tranco”.
  4. Sentir-se desmotivado no trabalho: na rotina profissional, uma das sensa��es que s�o importantes para a alegria � a sensa��o de progresso. Quem sofre com o languishing pode ficar desmotivado e, aos poucos, perder a produtividade. Assim, acaba criando um ciclo vicioso e levando para outras �reas da vida, como tamb�m a vida pessoal. Se a crise pand�mica fez com que muitas pessoas encontrassem seu prop�sito, neste quadro � ao contr�rio, as pessoas deixam de reconhec�-lo e se sentem sem rumo. 



receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)