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Estado de Minas CORONAV�RUS

H� 3 grandes linhas de pesquisa que buscam a cura para a COVID-19

As linhas focam no uso de antivirais, de anticorpos e de subst�ncias que modulam o sistema munol�gico


30/08/2020 15:34

(foto: Yuri Cortez/AFP)
(foto: Yuri Cortez/AFP)
A grande expectativa global em torno da COVID-19 � o sucesso no desenvolvimento de uma vacina. Mas, embora a preven��o seja crucial para p�r fim a uma pandemia que j� matou mais de 820 mil pessoas pelo mundo, n�o � menos importante a descoberta de tratamentos para os infectados — por ora, 8,4 milh�es, desconsiderando os 15,6 milh�es recuperados.

Como as estimativas s�o de que o Sars-CoV-2 continue circulando por um bom tempo, enquanto alguns grupos de pesquisadores buscam a imuniza��o, outros correm atr�s de terapias efetivas.

Hoje, h� tr�s principais linhas de pesquisa: moduladores do sistema imunol�gico, antivirais e terapia com anticorpos (produzidos no soro de convalescentes ou em laborat�rio). De acordo com a Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), h� 150 medicamentos preexistentes, com indica��o inicial para outras doen�as, sendo testados, inclusive, no Brasil.

Enquanto algumas tentativas se mostraram um fracasso — caso do antimal�rico cloroquina e do verm�fugo ivermectina —, outros f�rmacos testados clinicamente s�o promissores, e um deles est� salvando vidas.

� o caso do corticoide dexametasona, apontado pelo Recovery Trial como o mais importante medicamento, atualmente, para pacientes de COVID-19 em estado grave. Esse grupo de pesquisa, conduzido pela Universidade de Oxford — a mesma que desenvolveu uma das vacinas em testes no Brasil — � a maior iniciativa mundial em busca de um tratamento para a doen�a.

Lan�ado em abril, o cons�rcio de cientistas fez estudos sobre tr�s rem�dios j� existentes: a hidroxicloroquina (reprovada), o anti-HIV lopinavir-ritonavir (reprovado) e a dexametasona. Essa �ltima droga, testada em 2.104 pacientes, comparados com 4.321 que receberam o tratamento usual, reduziu em um ter�o o n�mero de mortes entre os com ventila��o e em um quinto entre aqueles que receberam apenas oxig�nio.

“Com base nesses resultados, o tratamento poderia evitar uma morte em cada oito doentes ventilados, ou uma em cada 25 doentes apenas com necessidade de oxig�nio”, conclu�ram os pesquisadores.

O mecanismo de a��o da dexametasona consiste em combater as inflama��es geradas pela resposta exagerada do sistema imunol�gico, que causa graves danos aos pulm�es e a outros �rg�os vitais. O medicamento tamb�m foi testado em 40 centros m�dicos brasileiros, com 299 pacientes, como parte das investiga��es da Coaliz�o Covid-19, um cons�rcio de pesquisadores brasileiros que estuda a efic�cia e a seguran�a de drogas para combater a doen�a. Os resultados devem ser publicados em breve.

A Coaliz�o, da qual fazem parte institui��es como os hospitais S�rio-Liban�s, Albert Einstein, Moinhos de Vento e HCor, entre outros, publicou, em julho, o resultado do primeiro estudo do grupo sobre a hidroxicloroquina e concluiu que o medicamento n�o tem efeito no tratamento da covid. Agora, iniciar� testes com dois antivirais desenvolvidos inicialmente para hepatites e que se mostraram promissores em pesquisas realizadas no Ir�: o sofosbuvir e o daclatasvir.

Drogas combinadas

Esses medicamentos, combinados, reduziram o tempo de interna��o e o n�mero de �bitos em uma amostra de 66 pacientes, divididos em dois bra�os, sendo que um recebeu ambas as drogas, e outro, a ribavirina, usada no tratamento da hepatite C.

No primeiro grupo, a mortalidade foi de 6%, e no segundo, de 33%. Sharin Merta, professor da Universidade de Ci�ncias M�dicas de Teer� e autor do estudo, afirma que a pr�xima pesquisa — que inclui o Brasil — ser� realizada em cinco centros cl�nicos, com mais de 2 mil pacientes. Os resultados s�o esperados para outubro. Merta, por�m, � cauteloso: “Conduzir pesquisas em meio a uma pandemia, com hospitais lotados, � um desafio, e n�o podemos ter certeza do sucesso”, pondera.

Em pesquisas in vitro, realizadas com tr�s diferentes linhagens de c�lulas infectadas pelo Sars-CoV-2 e lideradas pelo Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), cientistas atestaram a efic�cia do sofosbuvir e do daclatasvir — em especial, da segunda droga. Os resultados foram divulgados na plataforma de pr�-publica��o on-line bioRxiv e mostraram que os dois antivirais impediram a replica��o do coronav�rus nas c�lulas.

O daclatasvir, por�m, teve um efeito mais poderoso e, como j� � comprovadamente seguro, pois faz parte do tratamento de pacientes de hepatite C, foi considerado promissor, segundo Tiago Moreno, do Centro de Desenvolvimento Tecnol�gico em Sa�de da Fiocruz e principal autor do estudo. “Esses resultados sugerem fortemente que o daclastavir, por seus efeitos antiSars-CoV-2 e anti-inflamat�rios, pode trazer benef�cios para os pacientes com COVID-19.”

Na linha de modula��o do sistema imunol�gico est� o interferon beta, uma prote�na produzida naturalmente pelo corpo e sintetizada em laborat�rio. No fim de julho, um estudo da Universidade de Southampton, na Inglaterra, mostrou que a subst�ncia reduziu em 79% o risco de evolu��o da doen�a, seja em rela��o � ventila��o mec�nica, seja ao �bito. O n�mero de pacientes testados, 101, contudo, exige que novos estudos sejam feitos, ao contr�rio da dexametasona, cujos resultados foram considerados conclusivos.

Uma outra promessa � o remdesivir, medicamento desenvolvido originalmente para o ebola e que mostrou bons resultados em testes realizados at� agora. Diferentemente da dexametasona, trata-se de um antiviral que, embora n�o tenha demonstrado impacto na mortalidade dos pacientes, reduziu o tempo de interna��o hospitalar de 15 para 11 dias, em um estudo com 1.063 pessoas, coordenado pelo Instituto Nacional de Alergia e Doen�as Infecciosas (Niaid), dos Estados Unidos. Mas um estudo na China com a mesma droga n�o mostrou benef�cios potenciais, evidenciando a necessidade de mais testes com a subst�ncia.

Droga veterin�ria freia a infec��o

Ainda na fase pr�-cl�nica (estudos feitos com animais), um antiviral originalmente usado para tratar uma doen�a letal em gatos est� prestes a ser testado em humanos e, de acordo com pesquisadores da Universidade de Alberta, no Canad�, tem potencial de ser uma nova arma para combater a infec��o por Sars-CoV-2. A descri��o da droga e a associa��o com o novo coronav�rus foram divulgadas na �ltima quarta-feira, em um artigo publicado na revista Nature Communications.

O Sars-CoV-2 � da fam�lia dos coronav�rus, micro-organismos que afetam humanos e animais. Em felinos, um pat�geno do grupo, chamado FCoV, causa sintomas moderados, mas pode levar � peritonite infecciosa (FIP), uma complica��o que geralmente reulta em morte. Por�m, um medicamento desenvolvido por cientistas veterin�rios consegue curar essa doen�a. Trata-se de um inibidor da protease, subst�ncia que interfere na capacidade de replica��o do v�rus e que, portanto, acaba com a infec��o.

Proteases s�o enzimas decompositoras de prote�nas, fundamentais para muitas fun��es do organismo e, por isso, alvos frequentes de medicamentos que tratam de hipertens�o a HIV. Em gatos, a subst�ncia inibidora de protease n�o apenas cura a FIP, como tem pouca toxicidade. Os resultados veterin�rios acabaram por acelerar os testes do antiviral em humanos, explica a bioqu�mica Joanne Lemieux, autora principal do artigo publicado pelo grupo Nature.

Sem toxicidade

Isso porque, para que uma subst�ncia seja pesquisada em pessoas, ela tem de ter passado pelos testes in vitro e, posteriormente, pelos pr�-cl�nicos, ou seja, em animais. Como a droga felina j� se mostrou eficaz e segura, a agora chamada Sars-CoV-2 Mpro est� pronta para testes em humanos. “Ela foi usada para tratar gatos com coronav�rus e � eficaz com pouca ou nenhuma toxicidade. Portanto, j� passou por esses est�gios, e isso nos permite seguir em frente”, conta Lemieux.

De acordo com a bioqu�mica, estudos da subst�ncia em laborat�rio com c�lulas infectadas com o Sars-CoV-2 confirmaram que a inibidora de proteases conseguiu frear a infec��o. “Por causa dos dados s�lidos que n�s e outros cientistas reunimos, vamos come�ar, em breve, ensaios cl�nicos com essa droga como um antiviral para covid-19”, diz. (PO)

Plasma de ex-pacientes também tem potencial(foto: Raul Arboleda/AFP - 12/8/20)
Plasma de ex-pacientes tamb�m tem potencial (foto: Raul Arboleda/AFP - 12/8/20)

Al�m de medicamentos, pesquisadores t�m estudado o potencial do plasma convalescente (de doentes recuperados) no tratamento de pacientes da COVID-19. A pr�tica foi autorizada para uso emergencial nos Estados Unidos h� uma semana e, no Brasil, vem sendo investigada em pelo menos 26 estudos. A ideia � purificar o sangue de pessoas que desenvolveram anticorpos contra a doen�a e fazer a transfus�o do soro para os doentes que, assim, ficariam com capacidade aumentada de lutar contra o Sars-CoV-2.

Outra pesquisa brasileira que parte do mesmo princ�pio foi divulgada recentemente por cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em vez do sangue de convalescentes, a fonte de anticorpos � o soro de equinos inoculados com o v�rus.

Reaproveitamento de compostos

Devido � epidemia da Sars — a s�ndrome respirat�ria aguda grave que eclodiu em 2003 —, pacientes da covid-19 poder�o se beneficiar de drogas pesquisadas inicialmente para combater esse coronav�rus primo do Sars-CoV-2, afirma David Komander, pesquisador do Walter e Eliza Hall Institute da Universidade de Melbourne, na Austr�lia. A equipe do cientista conduz uma extensa pesquisa de drogas existentes e compostos desenvolvidos para combater a Sars que t�m potencial contra a COVID-19.

Usando o Centro Nacional de Descoberta de Drogas, os pesquisadores australianos identificaram compostos que poderiam bloquear uma prote�na-chave do Sars-CoV-2 chamada PLpro. Essa prote�na, encontrada em todos os coronav�rus, � essencial para o v�rus se multiplicar dentro das c�lulas humanas e desabilitar as defesas antivirais. Inicialmente desenvolvidos como tratamentos potenciais para a Sars, os compostos impediram o crescimento do v�rus causador da covid-19 em laborat�rio.

“Quando observamos como funciona o Sars-CoV-2, ficou claro que a PLpro era um componente-chave do v�rus — assim como em outros coronav�rus, incluindo o v�rus Sars-CoV-1, que causa a Sars”, disse Komander, que publicou a descoberta na sexta-feira, na revista Science. “N�s examinamos milhares de drogas listadas atualmente, bem como milhares de compostos semelhantes, para ver se eles eram eficazes no bloqueio do Sars-CoV-2”, diz.

“Embora os medicamentos existentes n�o sejam ainda capazes de bloquear essa prote�na, descobrimos, em testes pr�-cl�nicos em laborat�rio, que compostos desenvolvidos na �ltima d�cada contra a Sars podem prevenir o crescimento do Sars-CoV-2. Agora, precisamos desenvolver os compostos em medicamentos e garantir que sejam seguros para os pacientes”, ressalta.


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