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Estado de Minas MEIO AMBIENTE

Cientistas congelam s�men de corais para tentar salvar esp�cie da extin��o no Brasil

Estima-se que 50% dos recifes de coral j� desapareceram dos oceanos por causa da polui��o e do aquecimento global. Recentemente, cientistas brasileiros decidiram congelar espermatozoides e �vulos dos animais presentes na costa brasileira. Al�m da biodiversidade, os corais s�o important�ssimos para a economia e para a produ��o de peixes que v�o alimentar a popula��o de pa�ses como o Brasil.


26/02/2021 07:38 - atualizado 26/02/2021 09:32

A Unesco projeta que os corais serão extintos da natureza até o fim deste século(foto: Enrico Marcovaldi/Divulgação)
A Unesco projeta que os corais ser�o extintos da natureza at� o fim deste s�culo (foto: Enrico Marcovaldi/Divulga��o)


Estima-se que at� 50% dos recifes de corais j� desapareceram dos oceanos. A previs�o para o futuro tamb�m n�o � animadora: uma proje��o da Unesco apontou que, caso as mudan�as clim�ticas n�o sejam revertidas, eles ser�o extintos at� o final deste s�culo.

Conforme a temperatura do oceano aumenta — uma consequ�ncia do aquecimento global —, os corais perdem suas cores, tornam-se esbranqui�ados e, por fim, morrem.

Esse cen�rio desastroso levou pesquisadores brasileiros a utilizar uma estrat�gia nova para tentar conservar a esp�cie: o congelamento dos gametas — c�lulas sexuais dos corais que conjugam espermatozoides e �vulos dentro de uma mesma estrutura.

A ideia � que, no futuro pr�ximo, o material gen�tico possa ser descongelado e usado para repovoar algumas regi�es da costa onde a incid�ncia de recifes diminuiu nos �ltimos anos, como Porto de Galinhas, no litoral de Pernambuco. Ou seja, o objetivo � que, em breve, o Brasil consiga produzir "corais de proveta", animais reproduzidos em laborat�rio e que, depois, poder�o ser transportados para algum ponto do mar.

"O aquecimento do oceano e o r�pido desaparecimento dos recifes acenderam uma luz vermelha de que precis�vamos fazer algo para tentar conservar a esp�cie. Estamos usando uma tecnologia conhecida como criobiologia (�rea nova da ci�ncia que estuda os efeitos de baixas temperaturas em c�lulas, tecidos e organismos vivos)", explica Leandro Godoy, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e coordenador t�cnico do projeto.

O programa � encabe�ado pelo Instituto Coral Vivo e financiado pela Funda��o Grupo Botic�rio de Prote��o � Natureza.

Como congelar o s�men de coral?


O aquecimento do oceano faz com que os corais sofram um processo de branqueamento(foto: Mari Lopes/Divulgação)
O aquecimento do oceano faz com que os corais sofram um processo de branqueamento (foto: Mari Lopes/Divulga��o)

A Mussismilia harttii, uma das esp�cies end�micas de coral na costa brasileira, � um animal hermafrodita, ou seja, um mesmo indiv�duo produz e expele tanto o espermatozoide quanto o �vulo necess�rios � reprodu��o.

Esse material � lan�ado dentro de um inv�lucro (uma esp�cie de c�psula) de cerca de 1,5 cent�metro de di�metro, os gametas. Cada um desses "pacotinhos" jogados na �gua, como explica Godoy, cont�m bilh�es de espermatozoides e centenas de �vulos.

O s�men dos corais pode sobreviver na �gua por at� 22 horas — o de muitos peixes marinhos, por exemplo, vivem de 15 a 20 minutos, apenas. O espermatozoide precisa ent�o encontrar um �vulo da mesma esp�cie para fecund�-lo, como na reprodu��o humana.

Quando isso ocorre, eles se transformam em min�sculas larvas, que flutuam no oceano por alguns dias at� encontrar uma superf�cie s�lida para se fixar — local onde o coral vai se desenvolver e se espalhar ao longo da vida.

O pico reprodutivo da Mussismilia harttii acontece entre setembro e novembro, quando pesquisadores est�o indo a campo para coletar algumas col�nias de coral no Parque Municipal Marinho do Recife de Fora, em Porto Seguro, litoral sul da Bahia.

A reprodu��o dos animais est� associada � fase da lua nova. "Esse � um mist�rio da natureza: para a maioria das esp�cies de corais do Oceano Pac�fico e do Caribe, a desova acontece na fase da lua cheia. No hemisf�rio sul, ocorre na lua nova. Uma das possibilidades para explicar esse fen�meno � uma rela��o entre a desova e a amplitude e a oscila��o da mar�, o que facilitaria a dispers�o dsos

Os corais coletados s�o levados para a base de pesquisas do Instituto Coral Vivo, tamb�m em Porto Seguro, e mantidos em tanques com �gua do mar. Al�m da Mussismilia harttii, o projeto trabalha com outras duas esp�cies da costa brasileira — depois eles s�o devolvidos � natureza.


Os gametas dos corais reúnem bilhões de espermatozoides e algumas centenas de óvulos, como mostra a imagem(foto: Leandro Godoy)
Os gametas dos corais re�nem bilh�es de espermatozoides e algumas centenas de �vulos, como mostra a imagem (foto: Leandro Godoy)


A equipe de Godoy inicia o processo de congelamento dos gametas em nitrog�nio l�quido, a uma temperatura de -196°C. N�o � algo simples. "N�o � s� resfriar o material como quando a gente coloca alguma coisa no freezer. � preciso retirar toda a �gua dos espermatozoides e dos �vulos, porque, em caso contr�rio, os cristais de gelo que se formam podem destruir as c�lulas", explica Godoy.

Por ora, o s�men congelado � enviado � Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde est� sendo armazenado para posterior reprodu��o in vitro. Estudos preliminares apontaram que cerca de 30% dos espermatozoides sobreviveram ao descongelamento, uma taxa considerada alta.

"Estamos paralisando essas c�lulas no tempo. N�s conseguimos mant�-las vivas por at� 50 anos. No momento oportuno, podemos traz�-las de volta � vida para auxiliar na conserva��o dos corais", diz Godoy.

Por que os corais s�o importantes?

Os recifes de coral s�o conhecidos como "pequenas florestas tropicais do oceano", em virtude de sua beleza multicolorida e e import�ncia vital para o meio ambiente.

Os recifes s�o um dos ecossistemas mais produtivos e biologicamente ricos da Terra. Segundo estudo do World Resources Institute (WRI), institui��o global de pesquisa cient�fica, eles se estendem por cerca de 250 mil quil�metros quadrados, uma por��o min�scula do oceano. Por�m, estima-se que 25% de todas as esp�cies marinhas conhecidas usam os recifes como abrigo em algum momento da vida.

"Onde existem recifes h� uma biodiversidade imensa. Quando eles est�o doentes, muitas esp�cies desaparecem junto", explica a bi�loga Jana�na Bumbeer, especialista em ci�ncia e conserva��o da Funda��o Grupo Botic�rio de Prote��o � Natureza.

"Eles t�m a fun��o de engenheiros, pois aumentam a complexidade do ambiente. Servem de abrigo para muitas esp�cies, que se escondem de predadores, se alimentam e at� se reproduzem dentro das estruturas dos recifes", diz Bumbeer.

A sobreviv�ncia dos corais n�o � importante apenas para a biodiversidade do planeta, mas tamb�m para a economia e sobreviv�ncia da popula��o de muitos pa�ses, inclusive o Brasil.

Segundo o WRI, 850 milh�es de pessoas no mundo vivem a menos de 100 km de um recife de coral e s�o suscet�veis de "obter benef�cios dos servi�os ecossist�micos" produzidos por eles. Entre esses benef�cios est� a alimenta��o.

"As esp�cies de peixes associadas a recifes s�o importantes fonte de prote�na (para a popula��o), contribuindo com cerca de um quarto do pesca total nos pa�ses em desenvolvimento, em m�dia", diz o estudo.

Al�m disso, os recifes s�o vitais para movimentar o turismo em muitos pa�ses tropicais, como o Brasil, atraindo mergulhadores, praticantes de snorkel e pescadores recreativos. "Mais de 100 pa�ses e territ�rios se beneficiam do turismo associado aos recifes de coral", aponta o WRI.

Por que os corais est�o morrendo?


Momento da desova do coral couve-flor(foto: Leandro Santos/Divulgação)
Momento da desova do coral couve-flor (foto: Leandro Santos/Divulga��o)


Uma s�rie de problemas afeta a sobreviv�ncia dos corais. Para a maioria, o principal algoz � o aquecimento global.

Os corais s�o coloridos porque abrigam as zooxantelas, microalgas que grudam na superf�cie do animal em uma rela��o de simbiose (ambos se beneficiam desse encontro).

"Essas microalgas fazem fotoss�ntese, e o material qu�mico produzido por esse processo serve de alimento para os corais", explica Leandro Godoy.

Com o aquecimento acentuado do oceano nos �ltimos anos, o processo de fotoss�ntese fica desregulado.

"Com a �gua mais quente, as algas passam a produzir um elemento t�xico para os corais. Ent�o os corais 'expulsam' as algas de sua superf�cie. � por isso que eles ficam brancos: a gente passa a enxergar o esqueleto branco do coral, pois o tecido dele, sem as algas, � transparente. Sem essa rela��o de simbiose com as algas, eles acabam morrendo", diz Godoy.

H� in�meras outras amea�as aos recifes, e elas podem variar dependendo da regi�o. A pesca predat�ria, por exemplo, amea�a 55% dos corais do mundo, segundo estudo do WRI.

"O corais sofrem muito quando a pesca � de arrasto, aquela com uma grande rede que chega ao fundo do mar arrastando tudo. Muitos s�o destru�dos em segundos", explica a bi�loga Jana�na Bumbeer.

H� outros problemas apontados pelos cientistas, como vazamentos de petr�leo, pisoteamento dos recifes por turistas, sujeira despejada por navios e a polui��o da �gua do mar por falta de saneamento b�sico nas cidades.

Pol�tica p�blica

Os pesquisadores envolvidos no congelamento do s�men dos corais acreditam que o projeto pode ajudar a desacelerar a extin��o dos recifes, al�m de ser uma esp�cie de "reserva de emerg�ncia" caso a situa��o piore no futuro, como indicam as proje��es.

"Provavelmente, algumas esp�cies de coral ser�o extintas pois existem danos que n�o podem mais ser revertidos... Temos que aceitar que isso vai acontecer", diz Godoy. "Mas acredito que criar esse banco de gametas pode ser muito importante para ajudar a repovoar algumas regi�es. � um empurr�ozinho que a ci�ncia d� para conservar a esp�cie."

Para Jana�na Bumbeer, o congelamento de material gen�tico pode se transformar em uma pol�tica p�blica no futuro.

"Acho que projetos como esse podem se traduzir em pol�tica p�blica pra tomada de decis�es. N�o h� mais tempo de espera: os impactos ambientais s�o muito r�pidos e vis�veis. Temos potencial cient�fico no Brasil, mas precisamos fazer nossa li��o em casa e investir em conserva��o", diz.


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