
“V�rias vacinas contra a COVID-19 j� foram aprovadas, mas nenhuma pode ser produzida em quantidades suficientes para atender � necessidade global com a rapidez de que precisamos. Por isso, diferentes op��es ser�o necess�rias para cobrir essa ampla popula��o”, enfatizam os autores do estudo cient�fico, que foi liderado por Brian Ward, pesquisador da Universidade McGill, no Canad�, e membro da empresa farmac�utica Medicago.
Segundo os criadores, um dos diferenciais da CoVLP � o fato de ela ser feita com base em uma tecnologia totalmente nova e que facilita a produ��o em larga escala. O imunizante utiliza um peda�o gen�tico do novo coronav�rus, a prote�na spike, que � respons�vel pela replica��o do pat�geno no organismo humano. Esse fragmento do Sars-CoV-2 � misturado a subst�ncias da planta Nicotiana benthamiana — rica em nicotina e em outros alcaloides, subst�ncias que n�o s�o agressivas ao organismo humano.
Compostos do tabaco selvagem envolvem o fragmento do coronav�rus em uma camada de lip�dios, o que faz com que ele possa ser incorporado � vacina facilmente (Leia Para saber mais). “Eliminamos a necessidade de criar todo o v�rus em laborat�rio, silenci�-lo e, depois, ainda ter que desenvolver um envelope para poder us�-lo no imunizante (…) A CoVLP utiliza uma estrat�gia muito inteligente, que dispensa uma s�rie de etapas feitas na produ��o tradicional de vacinas”, afirmam os criadores.
Nos testes iniciais, a f�rmula foi aplicada em um grupo de 180 pessoas, com idade entre 18 e 55 anos, entre 13 de julho e 9 de agosto de 2020. A administra��o da segunda dose se deu em um intervalo de 21 dias — sozinha ou com um adjuvante — o AS03 ou o CpG1018 —, escolhido de forma aleat�ria. “Um adjuvante � uma subst�ncia usada para aumentar a pot�ncia de uma vacina. Usamos dois para observar se um poderia se sair melhor que o outro”, explicam.
No 42º dia da pesquisa, observou-se que, sem um adjuvante, a CoVLP induz uma resposta imune modesta. No entanto, a presen�a de qualquer um dos potenciadores escolhidos aumenta significativamente a ativa��o do sistema de defesa do corpo. “Os participantes que receberam a CoVLP com o AS03 produziram anticorpos neutralizantes em n�vel 10 vezes maior do que aqueles observados em pacientes em recupera��o da COVID-19. Isso nos surpreendeu”, enfatizam.
Testes no Brasil
A combina��o mais promissora ser� melhor explorada nas pr�ximas etapas do estudo, mas os cientistas j� consideram os resultados atuais animadores. “As avalia��es de fase dois e tr�s come�aram a ser planejadas. Nelas, vamos manter a participa��o de volunt�rios canadenses e incluir indiv�duos do Reino Unido, do Brasil e dos Estados Unidos. Tamb�m queremos ter a participa��o de outros pa�ses da Am�rica Latina e da Europa”, planejam.
Cl�udia Fran�a Cavalcanti Valente, membro do Departamento Cient�fico de Imuniza��o da Associa��o Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), avalia que os dados vistos no estudo canadense s�o bastante positivos e ressalta que a tecnologia usada pelos cientistas � promissora. “� uma estrat�gia muito interessante, pois eles conseguem embalar esse v�rus, que � usado para despertar a resposta imune, de forma muito inteligente. � algo semelhante ao que � feito nas vacinas de RNA mensageiro, em que uma camada de lip�dios tamb�m � utilizada para embalar o pat�geno, mas com outra t�cnica. Isso faz com que muitas etapas de produ��o da vacina sejam dispensadas, aumentando, assim, a velocidade nesse processo. � uma boa vantagem”, detalha.
Para a m�dica brasileira, o uso dos adjuvantes tamb�m foi uma aposta inteligente da equipe de cientistas. “Esse AS03 mostrou-se muito promissor ao ser usado no desenvolvimento de vacinas contra o HPV. Ele parece ser bem mais potente do que outros elementos usados com esse mesmo objetivo, como o alum�nio”, justifica. “Assim como os autores do estudo disseram, temos muitas novas f�rmulas sendo estudadas, e isso � muito positivo, pois � dif�cil conseguir imunizar uma quantidade t�o grande de pessoas com poucas op��es. Precisamos de todas as vacinas que se mostrem eficazes. A fim de compara��o, hoje, n�o ter�amos como imunizar todo o mundo contra a gripe porque n�o temos vacinas suficientes.”
» Apostas diversas
Os pesquisadores canadenses que desenvolvem a vacina contra COVID-19 tamb�m usaram a Nicotiana benthamiana para auxiliar na produ��o de uma vacina para gripe. A ideia surgiu ap�s ela ter sido usada na produ��o de um medicamento contra o ebola em 2014. Nesse caso, a inten��o era fazer com que a planta conseguisse produzir apenas a camada externa do v�rus da influenza.
O material foi usado como base para a f�rmula de um imunizante que foi testado em 23 mil pessoas, com resultados animadores. Os dados foram publicados em outubro, na revista especializada The Lancet, e a pesquisa ainda est� em andamento. O tabaco selvagem � encontrado na Austr�lia e tem como caracter�sticas as folhas redondas e de tamanho m�dio. Para se desenvolver bem, precisa estar em ambientes mais �midos.
Essa planta tem sido bastante usada na �rea cient�fica, em experimentos feitos com pat�genos distintos, por n�o ser afetada por eles, e tamb�m na �rea de cosm�ticos, para o desenvolvimento de produtos de origem natural, menos agressivos ao meio ambiente.