
Em tr�s d�cadas, o n�mero de adultos acima de 30 anos convivendo com
hipertens�o arterial
dobrou no mundo, com o maior aumento de casos observado em pa�ses pobres e em desenvolvimento. J� naqueles com renda mais alta, a preval�ncia dessa condi��o – associada a doen�as cardiovasculares e acidente vascular cerebral (AVC) – declinou, ao mesmo tempo em que os sistemas de sa�de atingiram taxas de tratamento de at� 80%, com 60% de pacientes controlados.
O artigo, financiado pela Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), traz dados de 1.201 estudos referentes a 184 pa�ses, incluindo o Brasil, e cobre 99% da popula��o mundial na faixa et�ria analisada (30 a 79 anos). Al�m de ser um fator de risco para a COVID-19 grave, a hipertens�o arterial est� diretamente ligada a mais de 8,5 milh�es de mortes em todo o mundo a cada ano, e � o principal desencadeador de AVC, doen�a isqu�mica do cora��o, outras condi��es vasculares e comprometimento renal.
Segundo um estudo anterior, tamb�m divulgado pela
The Lancet
, a redu��o da press�o arterial pode diminuir o n�mero de AVCs em 35% a 40%; de ataques card�acos em 20% a 25%, e de insufici�ncia card�aca em cerca de 50%.
Estatisticamente, n�o houve altera��o significativa na preval�ncia da hipertens�o arterial, mas preocupam os autores do artigo o fato de que, no mundo, 41% das mulheres e 51% dos homens com o problema n�o tiveram diagn�stico apropriado. Entre aqueles que t�m a condi��o confirmada, s�o baixos os percentuais de pacientes em tratamento e ainda mais reduzidos os �ndices de controle da popularmente chamada press�o alta. Na Oceania, por exemplo, at� 97% da popula��o do sexo feminino que se trata n�o est� com a doen�a controlada.
“As baixas taxas de detec��o e tratamento que persistem nas na��es mais pobres do mundo, juntamente ao n�mero crescente de pessoas que t�m hipertens�o, transferir�o uma parcela cada vez maior da carga de doen�as vasculares e renais para a �frica subsaariana, a Oceania e o Sudeste da �sia”, advertiu, em nota, a coautora Leanne Riley, da OMS, na Su��a. “A melhoria da capacidade desses pa�ses de detectar e tratar a hipertens�o como parte da aten��o prim�ria � sa�de e da cobertura universal de sa�de deve ser acelerada.”
AVAN�OS
J� nos pa�ses de alta renda, como Espanha, Alemanha, Su��a e Reino Unido, as taxas reduziram drasticamente. O Peru tamb�m aparece no estudo como a na��o que, ao lado do Canad�, apresentou menor propor��o de pessoas que vivem com hipertens�o: cerca de uma em cada quatro pessoas de 30 a 79 anos. O Brasil tem preval�ncia alta (entre 40% e 50% para mulheres e homens), mas o estudo destaca que o pa�s � um dos que, nos �ltimos 30 anos, apresentaram melhoria no diagn�stico, no tratamento e no controle da condi��o m�dica.
O cardiologista Ernesto Osterne reconhece os avan�os brasileiros no per�odo, mas destaca desafios. “O Brasil ainda precisa melhorar muito em termos de diagn�stico, acompanhamento, tratamento e no fortalecimento do Sistema �nico de Sa�de (SUS).”
A melhoria no tratamento e controle tamb�m foi observada em pa�ses de renda alta, com o Canad�, Isl�ndia e Coreia do Sul, e de na��es em desenvolvimento, como a Costa Rica. O estudo mostra, contudo, poucas mudan�as nesse sentido na �frica Subsaariana, na Oceania, no Nepal e na Indon�sia – onde menos de 1/4 das mulheres e 1/5 dos homens com hipertens�o arterial estavam sendo tratados em 2019, e menos de 10% tinham a press�o bem controlada.
“H� uma necessidade urgente de transforma��o e abordagens inovadoras para reduzir o fardo da hipertens�o em todo o mundo. Precisamos de melhores estrat�gias para aumentar o diagn�stico e a gest�o, aproveitando a aten��o prim�ria ou os sistemas existentes ou identificando novos m�todos para envolver os pacientes na gest�o da press�o arterial”, disse Clara Chow, pesquisadora da Universidade de Sydney e autora de um artigo sobre o estudo, tamb�m publicado na The Lancet. Telemedicina, equipamentos baratos e eficazes de monitoramento dom�stico e lembretes como mensagens de texto no celular para melhorar a ades�o ao tratamento s�o algumas das estrat�gias citadas por ela.
Tr�s perguntas para Ernesto Osterne - cardiologista do Hospital Anchieta de Bras�lia
Estatisticamente, o percentual de adultos com hipertens�o n�o variou muito nos �ltimos 30 anos, mas, numericamente, dobrou. Para os sistemas de sa�de, o que significa esse aumento expressivo?
Para o sistema de sa�de, h� implica��es para toda a cadeia: prim�ria, secund�ria e terci�ria. Na aten��o prim�ria, implica na necessidade da detec��o da hipertens�o com um cl�nico ou cardiologista; na disponibiliza��o, pelo sistema de sa�de, de medicamentos eficazes para o controle da hipertens�o, e nas medidas de controle n�o farmacol�gico, como perda de peso, atividade f�sica etc. J� falando em um aspecto secund�rio ou terci�rio, se aumenta o n�mero de pacientes com hipertens�o, tamb�m aumenta o n�mero de pacientes com complica��es, s�o aqueles portadores de um acidente vascular cerebral (AVC), insufici�ncia renal cr�nica, paciente portador de uma insufici�ncia card�aca hipertensiva e isso demanda mais interna��es, leitos e custos. Mas sabemos tamb�m que nos �ltimos 30 anos n�o dobrou o n�mero de leitos ou de m�dicos atendendo pacientes com hipertens�o. Isso, com certeza, � um problema para o sistema de sa�de. � preciso investir mais em aten��o prim�ria, secund�ria e terci�ria, assim como nas complica��es da hipertens�o arterial.
O senhor poderia avaliar o desempenho brasileiro em termos de diagn�stico, tratamento e casos sob controle nos �ltimos 30 anos?
Nos �ltimos 30 anos, houve um aumento no n�mero de diagn�sticos no Brasil tamb�m, at� pelo fato de ter havido uma melhora socioecon�mica; os pacientes tiveram um pouco mais de acesso, principalmente � aten��o prim�ria, para o diagn�stico de hipertens�o, e o tratamento est� sendo disponibilizado por programas de governo, com medica��es sem custo ou com custo mais baixo de v�rias classes. Mas a doen�a tamb�m est� crescendo devido a uma s�rie de problemas, como obesidade, sedentarismo, tabagismo, e isso ainda influi muito. E cada vez mais est� se tendo diagn�stico de pacientes mais jovens. O Brasil ainda precisa melhorar muito em termos de diagn�stico, acompanhamento, tratamento e no fortalecimento do Sistema �nico de Sa�de (SUS) para a gente poder fazer um diagn�stico ainda maior, sobretudo nas classes menos favorecidas.
Nos pa�ses onde o diagn�stico � maior, incluindo nos de baixa renda, houve melhoria nas taxas de tratamento e de controle da doen�a em tr�s d�cadas. Essa � a pe�a-chave para que doen�as cardiovasculares deixem de ser as que mais matam no mundo?
Com certeza. Se voc� faz um diagn�stico precoce em um paciente com hipertens�o e tiver pol�ticas de governo e uma boa educa��o do paciente para tomar medidas n�o farmacol�gicas, como atividade f�sica, perda de peso, deixar o tabagismo, haver� um maior controle. E tamb�m as medidas farmacol�gicas, como medica��es disponibilizadas pelo SUS e as de baixo custo, nas farm�cias populares. Essas medidas s�o fundamentais, porque voc� abrange tanto os pacientes que n�o t�m muito acesso quanto os que t�m um n�vel socioecon�mico melhor. Disponibilizando o tratamento precoce e adequado, com certeza vamos reduzir as taxas de doen�as cardiovasculares, principalmente as relacionadas � hipertens�o.
Sinal de alerta
O n�mero de pessoas entre 30 e 79 anos com hipertens�o dobrou de 1990 a 2019, passando de 331 milh�es de casos em mulheres para
629 milh�es; e de 317 milh�es de ocorr�ncias em homens para 652 milh�es. Confira alguns dados da pesquisa da OMS:
» Estatisticamente, a preval�ncia da hipertens�o em adultos de
30 a 79 anos em 2019 era de 32% (mulheres) e 34% (homens).
Os percentuais s�o similares aos de 1990: 32% (mulheres)
e 32% (homens)
» 59% das mulheres com hipertens�o foram diagnosticadas; 47% tratadas e 23% est�o com a condi��o sob controle
» 49% dos homens com hipertens�o foram diagnosticados; 38% tratados e 18% est�o com a condi��o sob controle
» Nacionalmente, a preval�ncia de hipertens�o em 2019 era mais baixa no Canad� e no Peru (tanto mulheres quanto homens). Os maiores �ndices estavam na Europa ocidental e central, �sia Central, Oceania, Sudeste da �frica e em alguns pa�ses da Am�rica Latina e do Caribe, como Paraguai e Rep�blica Dominicana
» Coreia do Norte, Canad� e Isl�ndia t�m as maiores taxas de tratamento entre diagnosticados (mais de 70%), sendo que 50% desses est�o sob controle
» No outro extremo, as taxas de tratamento eram menos de 25% para mulheres e menos de 20% para homens no Nepal, na Indon�sia e em muitos pa�ses na �frica Subsaariana e na Oceania
» As melhorias no diagn�stico, no tratamento e no controle da doen�a foram maiores em pa�ses ricos e da Europa Central. Algumas na��es em desenvolvimento, como Brasil, �frica do Sul, Costa Rica, Chile, Turquia e Ir�, tamb�m melhoraram significativamente o tratamento e o controle da hipertens�o
Fonte: OMS/The Lancet