
Conte�do verificado: V�deo publicado em um canal no Telegram afirma que a Pfizer patenteou um sistema de rastreamento de pessoas imunizadas contra a COVID-19 e que teria grafeno na composi��o da vacina.
A Pfizer n�o patenteou, no dia 31 de agosto de 2021, qualquer sistema de rastreamento de pessoas vacinadas com o imunizante desenvolvido por ela contra a COVID-19, como afirma um jornalista em v�deo publicado no Telegram.
Na verdade, existe uma patente emitida nesta data, nos Estados Unidos, que trata do uso de contato digital para aplica��o de medidas profil�ticas contra doen�as infecciosas propagadas pelo ar, mas ela pertence a dois advogados israelenses sem liga��o com a Pfizer. Na pr�tica, o sistema utilizaria sinal de Bluetooth para identificar as pessoas que mais interagem socialmente e prioriz�-las na aplica��o de medicamentos ou vacinas - este m�todo, segundo os propriet�rios, resultariam num melhor desempenho epidemiol�gico.
As demais afirma��es feitas ao longo do v�deo tamb�m s�o falsas, como a de que seria poss�vel o rastreamento de pessoas vacinadas por meio de �xido de grafeno "mantido nos tecidos adiposos de todas as pessoas que receberam a inje��o". Nem a vacina da Pfizer e nem qualquer outra contra a COVID-19 possui essa subst�ncia na composi��o.
Al�m disso, especialistas ouvidos pelo Comprova afirmam que n�o � poss�vel rastrear pessoas por meio das nanopart�culas de grafeno.
O Comprova tamb�m conversou diretamente com a Pfizer, que afirmou ser falso o conte�do do v�deo, mesma afirma��o feita pelas ag�ncias reguladoras americana e brasileira, a Food and Drug Administration (FDA) e a Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa), respectivamente.
Procurado, o autor do v�deo n�o respondeu ao Comprova, que identificou o conte�do como falso por ser inventado.
Como verificamos?
A reportagem, inicialmente, foi em busca de informa��es sobre a composi��o dos imunizantes desenvolvidos pela Pfizer para combater a COVID-19, por meio de consulta da bula do f�rmaco, dispon�vel no site da Anvisa. O documento n�o cita, em qualquer circunst�ncia, a presen�a de grafeno em sua composi��o.
Na sequ�ncia, entramos em contato com a Universidade Federal de Pelotas em busca do contato de um especialista em vacinas, capaz de explicar se � comum ou n�o a presen�a da subst�ncia citada no v�deo em imunizantes. A institui��o nos encaminhou o telefone do professor e vacinologista Odir Dellagostin.
A reportagem tamb�m procurou a FDA, onde a vacina foi patenteada, e a Anvisa.
Contatamos, ainda, os donos da patente citada no v�deo, que n�o pertence � Pfizer, mas sim a dois advogados israelenses - Gal Ehrlich e Maier Fenster -, s�cios do escrit�rio Ehrlich & Fenster, especializado em marcas e patentes nas �reas de biotecnologia, dispositivos m�dicos, f�sica, qu�mica, farmac�utica, softwares e sistemas de informa��o.
Por fim, o Comprova encaminhou mensagem para o autor do v�deo, com o objetivo de saber quais eram as fontes das informa��es que ele cita na publica��o. At� a publica��o deste texto, n�o houve retorno.
O Comprova fez esta verifica��o baseado em informa��es cient�ficas e dados oficiais sobre o novo coronav�rus e a covid-19 dispon�veis no dia 4 de novembro de 2021.
Verifica��o
O que � a patente e o que dizem os propriet�rios?
No v�deo, o autor do conte�do cita que uma suposta patente da Pfizer foi aprovada no dia 31 de agosto de 2021, e que se trataria de um sistema capaz de rastrear os seres humanos que receberam a vacina contra a COVID-19. Existe uma patente aprovada nesta data, que trata do uso de contato digital para aplica��o de medidas profil�ticas contra doen�as infecciosas propagadas pelo ar. Contudo, ela n�o pertence � Pfizer e nem a nenhuma farmac�utica.
Os donos da patente s�o dois advogados israelenses - Gal Ehrlich e Maier Fenster -, s�cios do escrit�rio Ehrlich & Fenster, especializado em marcas e patentes nas �reas de biotecnologia, dispositivos m�dicos, f�sica, qu�mica, farmac�utica, softwares e sistemas de informa��o.
A patente, intitulada "M�todos e sistemas de prioriza��o de tratamentos, vacina��o teste e/ou atividades protegendo a privacidade dos indiv�duos" (tradu��o livre), n�o mant�m rela��o com o rastreio de pessoas vacinadas, nem com o uso de grafeno para localizar essas pessoas por meio de vest�gios presentes no tecido adiposo de seres humanos.
A ideia inicial foi concebida, segundo um dos autores, Gal Ehrlich, entre abril e maio de 2020, quando n�o havia nenhuma vacina dispon�vel contra a COVID-19, mas quando j� era vis�vel a super-dissemina��o do Sars-CoV-2.
A proposta � aplicar medidas profil�ticas contra doen�as infecciosas que se disseminam pelo ar, primeiro, em pessoas que praticam mais intera��es sociais, a fim de obter um desempenho epidemiol�gico melhor dessas medidas. Para encontrar essas pessoas, o sistema criado pelos dois advogados utilizaria os sinais de intera��es por Bluetooth entre celulares das pessoas com mais intera��es sociais.
"Nossa inven��o estipula que medidas profil�ticas (incluindo, por exemplo, o uso de medicamentos ou vacinas) para combater uma doen�a infecciosa nascida em got�cula/ar, nos casos em que as medidas est�o em escassez, teriam um desempenho epidemiol�gico superior se administradas primeiro �queles que praticam mais intera��es sociais em compara��o com aqueles que est�o em risco (por exemplo, idosos, doentes) como � atualmente recomendado pela OMS para as vacinas contra a COVID-19, e praticado por todos os governos", afirma Gal Ehrlich, um dos donos da patente, em e-mail ao Comprova.
Ehrlich nega que a inven��o tenha rela��o com a Pfizer ou com qualquer outra farmac�utica. Na verdade, ningu�m se interessou ainda em aplicar o modelo desenvolvido pela dupla. "Infelizmente, nem a Pfizer nem ningu�m, at� agora, manifestou qualquer interesse nesta inven��o/patente", disse ao Comprova.
O que dizem a Pfizer e as ag�ncias de regula��o
A reportagem entrou em contato com a Pfizer para solicitar esclarecimentos sobre como foi elaborada a f�rmula da vacina, se o grafeno integra sua composi��o e tamb�m de que maneira foi realizada a patente do imunizante contra a COVID-19.
A farmac�utica afirmou que em nenhum momento patenteou qualquer sistema de rastreamento, como afirma a publica��o compartilhada no Telegram.
"Com rela��o �s informa��es que t�m circulado em redes sociais e aplicativos de mensagens sobre a vacina ComiRNAty, esclarecemos: a Pfizer n�o confirma registro de patente e nenhum componente que fa�a o rastreamento dos vacinados", disse a empresa, em nota.
Tamb�m procurada, a FDA respondeu que "essas afirma��es s�o completamente falsas" e que nenhuma vacina aprovada pelo �rg�o cont�m os materiais citados nas alega��es feitas no v�deo. Acrescentou que a lista de ingredientes nas vacinas pode ser encontrada na Folha de Dados para Destinat�rios e Cuidadores.
Ainda de acordo com a ag�ncia, as orienta��es para o desenvolvimento da vacina descrevem as recomenda��es da FDA para medidas de controle de qualidade (aqui e aqui).
H�, ainda, o memorando de autoriza��o de uso de emerg�ncia para um produto n�o aprovado, que inclui informa��es sobre qu�mica, fabrica��o e controles da vacina, bem como informa��es sobre a condu��o de ensaio cl�nico. Essas mesmas informa��es, acrescenta, est�o dispon�veis para a vacina da Pfizer.
Para os imunizantes aprovados h� informa��es mais extensas sobre medidas de controle de qualidade, segundo explica o �rg�o.
Por fim, a ag�ncia indica uma entrevista em �udio postada no YouTube, em agosto deste ano, na qual o m�dico Peter Marks, diretor do Centro de Avalia��o e Pesquisa Biol�gica (CBER) do FDA, fala sobre a desinforma��o que circula em torno das vacinas, a partir de 9 minutos e 47 segundos.
Segundo ele, um dos maiores desafios para vacinar o p�blico tem sido a quantidade esmagadora de afirma��es falsas que circulam sobre vacinas. Marks cita, como exemplos, boatos de que os imunizantes causam infertilidade, que cont�m microchips e que podem causar a pr�pria covid-19. "E pior, ouvimos falsas alega��es de que milhares de pessoas morreram por causa da vacina. Deixe-me esclarecer que essas afirma��es simplesmente n�o s�o verdadeiras", declara.
No Brasil, foi procurada a Anvisa, que tamb�m informou que a vacina da Pfizer n�o inclui subst�ncias como o grafeno e que a composi��o consta na bula do produto. "� importante destacar que a regulamenta��o de produtos est�reis � bastante rigorosa em rela��o � presen�a de impurezas, inclusive aquelas que possam ser resultantes do processo de produ��o de medicamentos e vacinas", diz a nota encaminhada ao Comprova.
A bula do imunizante foi registrada na Anvisa no dia 23 de fevereiro de 2021. Diferentemente do que afirma o v�deo, em nenhuma parte do documento a farmac�utica ou a ag�ncia reguladora de sa�de citam o grafeno como um dos compostos presentes nos imunizantes.
Segundo o documento, cada dose da vacina dilu�da cont�m um composto de RNA mensageiro, de cadeia simples, altamente purificado e produzido usando transcri��o in vitro, a partir dos modelos de DNA correspondentes. A fun��o dessa f�rmula � codificar a prote�na S - spike - do SARS-Cov-2 e combat�-lo.
O mesmo imunizante tamb�m � composto por excipientes - ingredientes dilu�dos, de poder terap�utico, utilizados para assegurar a estabilidade dos f�rmacos -, que incluem sacarose, cloreto de s�dio, cloreto de pot�ssio, fosfato de s�dio dib�sico di-hidratado, fosfato de pot�ssio monob�sico e �gua para injet�veis.
Afinal, o que � o grafeno?
Mencionado como o material que est� revolucionando a tecnologia, o grafeno � uma das formas do carbono, extremamente fino, resistente, transparente e leve, al�m de ser capaz de conduzir correntes el�tricas. O foco neste elemento se assemelha � revolu��o associada �s descobertas do pl�stico e do sil�cio.
Formado por carbono puro - tamb�m presente no diamante -, o material � obtido por meio da extra��o do grafite, um dos materiais mais abundantes da Terra.
Presente desde o l�pis at� pain�is fotovoltaicos, o uso do grafeno rendeu o Nobel da F�sica de 2010 ao cientista russo-brit�nico Konstantin Novoselov e ao cientista neerland�s Andre Geim, ambos da Universidade de Manchester, na Inglaterra.
De acordo com o vacinologista e professor da UFPel, Odir Dellagostin, o grafeno � uma das formas cristalinas do carbono, com in�meras aplica��es, que v�o desde a ind�stria t�xtil, at� a �rea de constru��o civil, passando por novos materiais.
"O �xido de grafeno � uma nanopart�cula que vem sendo estudada como aditivo em f�rmacos e at� mesmo como adjuvante de vacinas, tendo demonstrado resultados promissores. Por�m, o grafeno n�o est� presente nas vacinas contra a covid-19", explica Dellagostin, ao comentar sobre as afirma��es falsas do v�deo aqui verificado.
Al�m disso, a nanopart�cula presente nas vacinas da farmac�utica Pfizer � composta de lip�dio, n�o de grafeno, segundo informa��es presentes na bula dos medicamentos e confirmadas pelo professor.
O vacinologista afirma ainda que, por n�o estar presente na composi��o dos imunizantes contra o coronav�rus, n�o � poss�vel detectar o grafeno em um organismo vacinado.
"Grafeno � uma nanopart�cula, que vem sendo testada como adjuvante - esp�cie de auxiliar - de vacina, mas que n�o est� presente ainda em nenhuma vacina. N�o h� como detectar grafeno no organismo vacinado".
O especialista desmente o v�deo do suposto jornalista que afirma ser poss�vel rastrear pessoas por meio das nanopart�culas de grafeno. "N�o h� nenhuma forma de 'rastrear' pessoas por meio destas nanopart�culas. Creio que o boato surgiu pelo fato de que estas vacinas t�m nanopart�culas lip�dicas na sua composi��o".
Essas nanopart�culas s�o peda�os microsc�picos de gordura, que cont�m um RNA mensageiro, fragmento gen�tico com instru��es para que c�lulas do corpo humano produzam a prote�na Spike do SARS-CoV-2, v�rus que causa a covid-19. A mesma explica��o sobre a composi��o de imunizantes foi dada em uma verifica��o da Ag�ncia Lupa.
De acordo com o professor, estudos conduzidos pela UFPel t�m testado nanotubos de carbono - um derivado do grafeno - como adjuvante das vacinas. Os resultados foram promissores, mas Dellagostin ressalta que para ser poss�vel chegar a um produto comercial e seguro, ser�o necess�rios mais estudos.
"H� ainda uma preocupa��o com os riscos que estas part�culas nanom�tricas podem ter no organismo. Esta � a �nica preocupa��o".
Patentes para medicamentos nos Estados Unidos
O FDA explica que as patentes s�o um direito de propriedade concedido pelo Escrit�rio de Patentes e Marcas Registradas dos Estados Unidos (Upsto) a qualquer momento durante o desenvolvimento de um medicamento e pode abranger uma ampla gama de reivindica��es.
As informa��es relacionadas �s patentes de medicamentos devem ser submetidas via formul�rios para que sejam indexadas no Orange Book, uma base de dados que cont�m informa��es sobre medicamentos coletadas desde 2013.
No caso das vacinas, como a ComiRNAty, as informa��es s�o depositadas em outro banco de dados, identificado como Purple Book, que re�ne os produtos biol�gicos licenciados pela FDA, incluindo produtos biossimilares e intercambi�veis %u200B%u200Blicenciados e seus produtos de refer�ncia.

Sobre o autor
O autor do v�deo � o jornalista Claudio Lessa, que passou por diversos ve�culos de comunica��o at� o in�cio dos anos 2000, quando foi aprovado em um concurso para a C�mara dos Deputados.
Conte�do postado por ele anteriormente j� foi alvo de verifica��o do Comprova. A reportagem tentou entrar em contato com Lessa, pelo Facebook, mas ele n�o respondeu at� esta publica��o.
Por que investigamos?
Em sua quarta fase, o Comprova verifica conte�dos suspeitos sobre pandemia, pol�ticas p�blicas do governo federal e elei��es. O v�deo aqui verificado teve 16 mil visualiza��es at� o dia 4 de novembro de 2021.
Conte�dos falsos referentes � seguran�a das vacinas cientificamente comprovadas como o principal m�todo contra o novo coronav�rus podem causar p�nico na comunidade e desencorajar a vacina��o.
Sobre imunizantes, o Comprova j� identificou ser falso que �rf�os da Pol�nia s�o usados em experimentos de vacina da Pfizer e Moderna, que tu�te engana ao dizer que vacina da Pfizer tem part�culas contaminantes e que � falso que documento da Suprema Corte dos EUA afirme que vacinados contra a covid-19 se tornam transumanos.
Falso, para o Comprova, � o conte�do inventado ou que tenha sofrido edi��es para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.