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Estado de Minas DERMATITE

Como mariposas provocaram surto misterioso de coceira em Pernambuco

Ap�s investiga��o, suspeitas de intoxica��o por ivermectina ou sarna foram descartadas por especialistas. Uma cerda encontrada no abd�men desses insetos est� por tr�s da inflama��o na pele.


09/12/2021 08:19 - atualizado 09/12/2021 11:42


Mariposas
Mariposas se reproduzem nas temporadas de calor e, com isso, acabam liberando cerdas que irritam a pele das pessoas (foto: Getty Images)

Nas �ltimas semanas, o aumento de casos de inflama��o na pele chamou a aten��o de m�dicos na regi�o metropolitana de Recife, em Pernambuco: de uma hora para outra, centenas de pacientes come�aram a se queixar do aparecimento de vermelhid�o, coceira e bolhas em v�rias partes do corpo.

De in�cio, suspeitou-se que seriam quadros de escabiose (sarna), que � provocada por um tipo de �caro, ou uma esp�cie de intoxica��o por ivermectina. Durante a pandemia, esse rem�dio foi falsamente apontado como tratamento para a covid-19 e seu consumo aumentou consideravelmente no pa�s.

Por�m, ap�s uma investiga��o feita com o suporte da Sociedade Brasileira de Dermatologia, um time de especialistas descobriu que a origem do surto era outra: fragmentos de mariposas que irritam as camadas superficiais da pele.

O final do ano � a �poca de reprodu��o desses insetos, o que propicia o surgimento de surtos de dermatite (inflama��o na pele) em v�rias partes do pa�s, explicam os autores num relat�rio divulgado na quarta-feira (8/12).

Entenda o caso

No final de novembro, moradores de duas comunidades localizadas na regi�o metropolitana de Recife come�aram a apresentar alguns sintomas de problemas dermatol�gicos.

Vale mencionar que esses dois locais ficam bem pr�ximos ao Parque Estadual de Dois Irm�os, uma reserva de Mata Atl�ntica no Estado.

Em pouco tempo, mais de 200 indiv�duos apresentaram queixas parecidas, o que motivou a abertura de uma apura��o pela Secretaria Estadual de Sa�de de Pernambuco.

Num primeiro momento, a principal suspeita levantada era de escabiose, conhecida popularmente como sarna. Causada pelo �caro Sarcoptes scabiei, essa doen�a provoca uma coceira bem intensa.

A outra possibilidade discutida era de intoxica��o por ivermectina, rem�dio utilizado para tratar infesta��es por parasitas (como sarna, piolho e lombriga), que foi apontado erroneamente como tratamento para covid-19 ao longo dos �ltimos meses.

De acordo com o Conselho Federal de Farm�cia, as vendas de ivermectina aumentaram mais de 800% entre abril de 2020 e mar�o de 2021.

No final das contas, nenhuma das duas hip�teses se mostrou verdadeira: segundo o relat�rio rec�m-publicado, os casos em Pernambuco foram causados por cerdas de mariposas do g�nero Hylesia.

Bastante comum, esse inseto � pequeno, tem cor marrom e costuma ficar rondando as luzes da casa, especialmente durante a noite.

Mist�rio desvendado

A investiga��o foi conduzida pelos dermatologistas Claudia Ferraz, do Hospital das Cl�nicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Vidal Haddad Junior, da Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Ambos integram a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).

Enquanto Ferraz fez o trabalho de campo e descreveu as les�es nos pacientes, Haddad Junior foi convocado por sua experi�ncia com doen�as de pele causadas por acidentes com animais. Ele analisou amostras em laborat�rio para encontrar as poss�veis causas do problema.

"� normal que essas mariposas se reproduzam no come�o do ver�o. Elas costumam ser atra�das pelas luzes e se batem contra as l�mpadas das casas", contextualiza Haddad Junior.

"Ao se chocarem, elas soltam pequenas cerdas, que se acumulam em cima de objetos, m�veis, colch�es e sof�s", complementa.

Na sequ�ncia, essas cerdas min�sculas, que s�o bem afiadas, entram profundamente na pele das pessoas e causam uma inflama��o, que est� por tr�s dos sintomas como vermelhid�o e coceira.


Dermatite
A dermatite � um tipo de inflama��o que atinge a pele (foto: Getty Images)

O dermatologista explica que surtos como esse s�o relativamente comuns em v�rias cidades do Brasil, embora n�o existam dados oficiais sobre casos.

"Isso acontece frequentemente nas casas de veraneio na praia e no campo, que ficam fechadas durante boa parte do ano e s�o reabertas no ver�o. As pessoas entram nelas e t�m contato com uma grande quantidade dessas cerdas, o que causa esse quadro de dermatite", observa Vidal Haddad.

A dermatologista Tha�s Bello Di Giacomo, de S�o Paulo, que n�o esteve envolvida com o trabalho de investiga��o, explica que o quadro causado pelas mariposas � muito parecido com quadros de dermatite relacionadas a fibras de vidro.

"H� alguns anos, era comum pessoas que trabalham com esse material [fibra de vidro] desenvolverem essa inflama��o justamente por essas farpas bem pequenas que entram na pele", compara.

O que fazer?

De acordo os autores do relat�rio, n�o existem fatores de risco ou formas de prevenir a maioria dos casos de dermatite causada pelas cerdas da mariposa.

"O �nico cuidado poss�vel � instalar telas de prote��o em portas e janelas, mas, mesmo assim, podemos ter contato com o inseto em ambientes externos", pondera Vidal Haddad.


Profissional de saúde passa pomada em braço
Geralmente, tratamentos com pomadas anti-inflamat�rias prescritas pelo m�dico ajudam a tratar quadros de dermatite (foto: Getty Images)

O tratamento � relativamente tranquilo: feito o diagn�stico, o m�dico prescreve rem�dios que diminuem a inflama��o na pele.

Geralmente, pomadas com corticoides e outros anti-inflamat�rios d�o conta do recado.

Nas vezes em que o paciente desenvolve pequenas bolhas, sinal de que a inflama��o est� um pouco mais grave, � preciso entrar com medica��es orais tamb�m.

Em todo caso, a Di Giacomo refor�a a necessidade de buscar orienta��o m�dica caso surjam sinais diferentes na pele.

"Ao aparecerem as primeiras les�es, manchas avermelhadas ou outras manifesta��es, procure um dermatologista para uma avalia��o mais aprofundada", sugere.

J� no caso espec�fico do Recife, a descoberta dos motivos para o surto permitir� cuidar das centenas de pacientes de forma mais adequada.

"Conclu�mos que o mist�rio est� resolvido e esperamos que os tratamentos corretos sejam ministrados � popula��o", finalizam os m�dicos no relat�rio.

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