
Quase um ano depois de o Departamento de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos aprovar as primeiras vacinas contra a covid-19, voc� provavelmente n�o precisa que eu lhe conven�a de sua efic�cia. Enquanto escrevo este texto, mais de 4,28 bilh�es de pessoas j� receberam ao menos uma dose, o que significa 55,8% de toda a popula��o mundial.
A realidade, claro, � mais complexa. � certamente verdade que alguns comprometidos te�ricos da conspira��o est�o dispostos a espalhar desinforma��o, mas esses grupos pequenos, mas altamente barulhentos, n�o representam a maioria das pessoas que que ainda n�o tomaram sua vacina.
Mesmo antes da pandemia de covid-19, a baixa confian�a em vacinas em algumas partes do mundo era descrita por especialistas de sa�de como uma "crise global". Agora existem preocupa��es reais de que isso pode afetar os esfor�os para encerrar a pandemia. H� um certo tempo, pesquisadores v�m buscando maneiras de ajudar governos a persuadir pessoas ainda hesitantes em rela��o �s vacinas. N�o � surpresa alguma que n�o haja uma solu��o �nica, mas uma grande parte da estrat�gia � conversar e engajar pessoas que ainda relutam em se vacinar.
Na verdade, muitas pessoas relutantes est�o simplesmente indecisas — e cientistas afirmam que conversar com elas pode ajud�-las a olhar para a evid�ncias. E n�o s�o apenas governos e autoridades da �rea da sa�de que podem fazer isso. "Dias sociais s�o crucialmente importantes", diz John Cook, um cientista cognitivo da Universidade Monash, na Austr�lia. "Revelar nossos pontos de vista nas nossas redes sociais pode ser algo influente."
Entretanto, se seus conhecidos d�o ou n�o ouvidos a sua opini�es depender� de seu estilo de di�logo — simplesmente n�o faz sentido reunir os dados se voc� apresent�-los da maneira errada.
Com base em m�ltiplos estudos sobre comunica��o eficaz, eu produzi uma lista de conselhos baseados em evid�ncias sobre quais as melhores formas de discutir a ci�ncia por tr�s das vacinas - e o que deveria ser evitado.
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1) Escolha suas batalhas
A primeira regra sobre comunica��o eficaz — em qualquer �rea — � mirar o p�blico certo. E pesquisas recentes sugerem que muitos de n�s podem n�o estar prestando aten��o exatamente �s pessoas que poderiam responder bem a sua mensagem.
Um estudo recente de Christopher Bechler, professor assistente de marketing na Universidade de Notre Dame no Estado americano de Indiana, pesquisou atitudes de pessoas em rela��o a comportamentos como uso de m�scara. Em um experimento, participantes receberam a chance de passar informa��es �teis sobre o tema para pessoas com uma ampla variedade de opini�es.

Os participantes tendiam a escolher aqueles com uma vis�o bastante negativa do assunto. Mas Bechler descobriu que a informa��o compartilhada tinha muito pouco impacto na opini�o dessas pessoas. Em vez disso, a mensagem era mais eficaz ao fortalecer a posi��o daqueles que j� eram, embora apenas levemente, a favor da m�scara como medida de seguran�a. "Eles eram muito mais abertos � mensagem", afirma o pesquisador.
As implica��es para mensagens sobre vacinas � clara. "N�s preferir�amos mudar o ponto de vista de algu�m de antivacina para pr�-vacina", diz Vanessa Bohns, psic�loga social da Cornell University e autora de You Have More Influence Than You Think (Voc� Tem Mais Influ�ncia do que Voc� Pensa). "Mas n�s podemos ter um impacto maior falando com algu�m que j� esteja inclinado naquela dire��o."
2) Seja humilde
A segunda regra da comunica��o eficaz est� ligada � humildade, enquanto tentamos entender o ponto de vista da outra pessoa. "� importante ter um di�logo de duas m�os, em que n�s escutemos com empatia e genuinamente busquemos compreender quais s�o as obje��es da outra pessoa", afirma Cook, que recentemente foi coautor de um manual gratuito sobre comunica��o a respeito da vacina contra a covid-19. "Tentar mudar a opini�o de uma pessoa fazendo com que ela se sinta est�pida n�o � um caminho na dire��o do sucesso."
Bohns concorda. Ela afirma que muitos de n�s podemos tamb�m ter tido d�vidas — mas n�s tendemos a esquecer esse fato assim que tomamos a decis�o em favor da vacina. "Quando estamos tentando convencer uma outra pessoa, n�s j� estamos expressando essa certeza, o que torna muito dif�cil para n�s encontr�-la no ponto em que ela est�."
Ela diz que seria muito mais eficaz reconhecer nossas preocupa��es iniciais e explicar como chegamos � decis�o que acabamos tomando. "As pessoas reagem mal quando sentem que algu�m as est� julgando — e eu acredito que isso pode acontecer quando voc� expressa certezas demais", afirma ela. "� a diferen�a entre dizer �s pessoas o que elas deveriam fazer, em vez de dizer para elas o que n�s fizemos e por qu�."
Em seu livro sobre persuas�o, Bohns aponta para um estudo sobre mensagens sobre sa�de, liderado por Ann Kronrod, da Universidade de Massachusetts Lowell. A equipe identificou que, ao fornecer conselhos, a maioria das pessoas tende a preferir mensagens muito assertivas, passadas como se fossem um comando. Quando recebem conselhos de outros, no entanto, muitos respondem muito melhor a sugest�es mais leves.

Em um experimento, metade dos participantes ouviu o seguinte: "Fazer abdominais por cinco minutos por dia pode fortalecer seu abd�men. Voc� consegue!". Os outros receberam um conselho mais assertivo: "Fa�a exerc�cios abdominais por cinco minutos ao dia. Fortale�a seu abd�men. Fa�a!". Uma semana depois, a equipe de Kronrod perguntou aos participantes sobre sua atividade f�sica.
As pessoas que j� estavam abertas � ideia de se exercitar tenderam a reagir bem �s duas mensagens. Aqueles que j� estavam resistentes, no entanto, responderam muito melhor � sugest�o mais delicada, enquanto o comando com mais for�a os acabou desestimulando.
3) Estabele�a uma conex�o pessoal
Quando nos engajamos nesse tipo de conversa e ouvimos ativamente o que a outra pessoa tem a dizer, voc� pode ver que as preocupa��es s�o em geral de cunho pr�tico. Estudos recentes sugerem que a facilidade de acessar a vacina � um dos melhores indicadores de relut�ncia. Se for esse o caso, voc� pode oferecer ajuda com potenciais barreiras, como marcar um hor�rio para a pessoa se vacinar ou organizar transporte at� o centro de sa�de. Em outros casos, voc� pode identificar que existem mal-entendidos espec�ficos a respeito de seguran�a ou efic�cia sobre os quais voc� pode conversar.
Se voc� se encontrar numa conversa com algu�m que � fortemente contr�rio � vacina, voc� pode achar mais eficiente enfatizar os benef�cios individuais da imuniza��o, de acordo com um estudo de Sin�ad Lambe, uma psic�loga cl�nica pesquisadora da Universidade de Oxford.
Neste ano, a equipe de Lambe recrutou mais de 15 mil participantes online e mediu suas posturas iniciais em rela��o � vacina��o. Cada participante recebeu ent�o, aleatoriamente, uma informa��o sobre a vacina, lidando ou com quest�es de seguran�a, benef�cios coletivos (como reduzir o risco de transmiss�o para outras pessoas) e cren�as pessoais.
As informa��es inclu�ram declara��es como: "Pegar o coronav�rus pode abalar sua vida de forma grave… E voc� n�o pode ter certeza, mesmo se voc� for relativamente jovem e em forma, que voc� n�o ficar� seriamente doente ou enfrentar dificuldades com problemas de longo prazo relacionados � covid: cerca de uma em cada cinco pessoas continuam doentes cinco semanas depois de contrair covid-19; uma em dez ainda t�m sintomas tr�s meses depois. A vacina��o minimiza as chances de voc� ficar doente com covid-19, ent�o voc� n�o precisar� se preocupar sobre o que o v�rus pode fazer com voc�…"

Os participantes foram ent�o novamente medidos quanto a seus n�veis de relut�ncia � vacina.
No geral, a informa��o sobre benef�cios pessoas provou ser a mais persuasiva para as pessoas que haviam expressado inicialmente o maior n�vel de relut�ncia. Ela inclusive superou uma mensagem combinada que tentara explicar como as vacinas podiam ajudar tanto o indiv�duo como outras pessoas.
Lambe afirma que ela inicialmente se surpreendeu com o resultado, mas ele combina com o que diziam estudos pr�vios, que sugeriram que pessoas relutantes em tomar a vacina tendem a ter menos confian�a na sociedade. "Ent�o elas podem se sentir levemente exclu�das e podem ser menos inclinadas a ser motivadas pelos benef�cios coletivos [das vacinas]", diz Lambe.
4) Descreva os m�todos por tr�s da desinforma��o
Ocasionalmente, voc� pode identificar que uma pessoa relutante em tomar a vacina foi iludida por alguma desinforma��o. � comum ouvir que testes cl�nicos foram apressados, por exemplo. Nesse tipo de situa��o, vale reconhecer que faz sentido questionar a qualidade de qualquer estudo cient�fico, para ent�o descrever o desenvolvimento de longo prazo da tecnologia da vacina em quest�o, que vinha sendo testada durante anos antes do surgimento da covid-19.
Voc� tamb�m pode explorar o tamanho dos testes com a vacina contra covid — que contou com dezenas de milhares de participantes — e o cont�nuo monitoramento de efeitos colaterais. Voc� pode tamb�m olhar para gr�ficos online para demonstrar os riscos de pegar covid-19 em compara��o com os riscos de receber a vacina.
Em outros casos, pode ser �til explicar as t�ticas usadas para a propaga��o de desinforma��o. � comum, por exemplo, pessoas apresentarem falsas credenciais que fa�am seus argumentos parecer ter mais credibilidade — mesmo se elas n�o tiverem verdadeira experi�ncia na �rea. �s vezes grupos de press�o criar�o at� mesmo pesquisas assinadas por muitos desses falsos especialistas para questionar a opini�o cient�fica predominante e criar uma ilus�o de debate.
Ambas as t�ticas foram empregadas pela ind�stria do tabaco para minar a confian�a nas cada vez maiores evid�ncias cient�ficas contra o cigarro. Mais recentemente, elas foram usadas para abalar o entendimento do p�blico sobre as mudan�as clim�ticas.
Quando se trata de covid-19 e as vacinas, alguns alegam ter uma compreens�o de virologia e imunologia superior � dos verdadeiros especialistas — apesar de n�o terem nenhuma qualifica��o ou publica��es cient�ficas de credibilidade para dar suporte a suas vis�es alternativas.

Algumas das pessoas que voc� conhece podem tamb�m ter sido expostas a relat�rios duvidosos que deliberadamente confundem correla��o com causalidade. Quando mais de metade da popula��o mundial foi vacinada, alguns daqueles que receberam a vacina inevitavelmente sofrer�o de alguma outra doen�a, sem liga��o alguma com a imuniza��o. Essa t�tica � usada para sugerir que existem perigos escondidos na aplica��o da vacina — sendo que os dados m�dicos sugerem que efeitos colaterais graves s�o incrivelmente raros.
� muito f�cil ser enganado por mensagens que s�o preparadas dessa maneira. A pesquisa de Cook, no entanto, sugere que explicar esse tipo de t�cnicas enganosas pode ajudar a reduzir a cren�a da pessoa em desinforma��o, particularmente se ela ainda n�o formou uma opini�o clara sobre um assunto. O m�todo � �s vezes chamado de "inocula��o" ou "prebunking", pois esse conhecimento ajuda a proteger a pessoa para que ela n�o caia em "fake news" semelhantes no futuro.
N�o existe maneira totalmente certa de conseguir mudar opini�es sobre um assunto. Ao seguir essas quatro sugest�es, por�m, voc� pode ter conversas mais construtivas com as pessoas com que voc� se deparar. Se voc� for bem-sucedido em sua tentativa de corrigir seus mal-entendidos, elas podem depois persuadir outras pessoas. "Elas podem se tornar advogadas [da causa]", afirma Bechler. Dessa forma, a pr�pria verdade torna-se contagiosa.
* David Robson � um escritor cient�fico baseado em Londres, Reino Unido. Seu pr�ximo livro, The Expectation Effect: How Your Mindset Can Transform Your Life (O Efeito da Expectativa: Como Sua Postura Mental Pode Transformar Sua Vida) ser� publicado pela editora Canongate and Henry Holt no in�cio de 2022. Est� dispon�vel para compra antecipada. Sua conta no Twitter � @d_a_robson.