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Estado de Minas PARENTE DO POLVO

O espet�culo sexual submarino mais extravagante da natureza

Todos os anos, uma pequena cidade na Austr�lia vira palco de um grande evento: a desova da s�pia-gigante-australiana


31/03/2022 10:06 - atualizado 31/03/2022 11:36


Duas sépias-gigantes-australianas acasalando
Duas s�pias-gigantes-australianas acasalando (foto: Getty Images)

"A primeira vez que voc� vai e coloca a cabe�a debaixo d'�gua e v� centenas e centenas de s�pias nesta pequena �rea, parece um caleidosc�pio ca�tico", conta Tony Bramley.

Como propriet�rio da Whyalla Diving Services e defensor h� d�cadas da s�pia-gigante-australiana, Bramley observa h� anos o acasalamento fren�tico e colorido das s�pias, que acontece no Parque Marinho do Norte do Golfo Spencer, na Austr�lia do Sul.

Outrora apenas de interesse dos pescadores e mergulhadores locais — que tratavam de avisar uns aos outros que "as s�pias estavam na �rea" —, este fen�meno marinho atrai agora turistas e pesquisadores de todo o mundo.

� um incentivo bem-vindo para a pequena cidade sider�rgica de Whyalla, na Pen�nsula de Eyre, na Austr�lia do Sul.

As s�pias — um tipo de invertebrado marinho que � parente pr�ximo do polvo — s�o moluscos inteligentes capazes de mudar de cor e textura instantaneamente.

Sabe-se que conseguem escapar de labirintos e podem hipnotizar suas presas transformando seus corpos em luzes estrobosc�picas, emitindo rapidamente cores pela pele para distrair e atordoar um caranguejo ou peixe desavisado.

Suas habilidades de camuflagem deixam os camale�es envergonhados e chegaram at� a chamar a aten��o de militares dos EUA, que pesquisaram as habilidades de mudan�a de cor das s�pias na esperan�a de replicar suas t�cnicas para uso do ex�rcito.

Se isso n�o � inusitado o suficiente, seus comportamentos de acasalamento s�o estranhos, para dizer o m�nimo.

De maio a setembro de cada ano, centenas de milhares de s�pias-gigantes-australianas se re�nem nas �guas pr�ximas de Point Lowly, na parte mais ao norte do Golfo Spencer, com o �nico prop�sito de acasalar.

� quando acontece o espet�culo de sexo subaqu�tico mais extravagante da natureza.


Farol de Point Lowly
Farol de Point Lowly (foto: Getty Images)

As maiores s�pias do mundo s�o encontradas nas �guas do sul da Austr�lia, mas apenas em Whyalla elas se re�nem em grande n�mero para acasalar.

"O n�mero estimado de s�pias na agrega��o reprodutiva de 2020 foi de 247 mil, o mais alto j� registrado", afirmou Bronwyn M Gillanders, uma renomada pesquisadora de s�pias e chefe da escola de ci�ncias biol�gicas da Universidade de Adelaide, na Austr�lia.

"Este n�mero foi reportado, mas sabemos que provavelmente � subestimado."

De acordo com Gillanders, Whyalla atrai as s�pias devido � sua paisagem marinha �nica.

A regi�o mais ao norte do Golfo Spencer oferece muitas sali�ncias rochosas que as f�meas usam para colocar seus ovos.


Sépias
A s�pia-gigante-australiana � a maior s�pia do mundo, chegando a 50 cent�metros de comprimento %u2014 elas possuem oito tent�culos, al�m de dois mais longos para ca�ar, acasalar e se defender (foto: Carl Charter)

Embora as s�pias acasalem em outros lugares, o Golfo Spencer � o palco da maior agrega��o conhecida do planeta.

N�o h� nenhum outro lugar no mundo em que se pode observar comportamentos de acasalamento t�o espetaculares e estranhos em massa, incluindo mudan�as de cor e machos que se disfar�am de f�meas.

Ningu�m disse que encontrar um parceiro era f�cil — e estas s�pias est�o solteiras/os e prontas para se misturar —, mas primeiro, precisam chegar � festa.

Bramley explica que algumas s�pias foram marcadas, revelando que algumas delas viajam pelo menos 65 km do sul da cidade e outras 35 km do norte para chegar �s zonas de reprodu��o no Golfo Spencer.


Mergulhador observando sépias
A desova em massa era um fen�meno marinho relativamente desconhecido at� o in�cio dos anos 2000 (foto: Carl Charter)

Chegando em Whyalla, � f�cil observar as s�pias, seja mergulhando com garrafa de oxig�nio ou apenas com snorkel — os cefal�podes se encontram perto da costa, entre 2 e 6 metros.

Embora a �gua seja calma, n�o � quente.

"Voc� realmente precisa se vestir para a ocasi�o," diz Bramley rindo.

Com a temperatura do oceano em torno de 10 a 16 °C, eu vim preparada com uma roupa de mergulho grossa, capuz, luvas e botas.

Mesmo assim, o frio me pegou com for�a — mas uma vez que eu estava debaixo d'�gua, tinha um ingresso na primeira fila para o espet�culo mais incr�vel da cidade.

Uma vez que meus olhos se adaptaram, percebi que estava cercada por s�pias — e elas n�o pareciam nem um pouco incomodadas em ter um ser humano assistindo a seus momentos mais �ntimos.


Machos brigando por uma fêmea
Machos brigando por uma f�mea (foto: Science Photo Library)

Com um arco-�ris vibrante e pulsante de roxo, laranja, turquesa e rosa — e tent�culos por toda parte —, levei algum tempo para entender o flerte cefal�pode, j� que as s�pias possuem mais do que algumas artimanhas de sedu��o em seus tent�culos.

Em um ambiente em que os machos podem superar em n�mero as f�meas, numa propor��o de 10 para 1, a disputa para transmitir os genes � acirrada.

Na maioria das esp�cies, o tamanho importa: machos grandes e agressivos lutam contra seus rivais para conseguir a chance de se acasalar.

Isso tamb�m � observado no caso das s�pias — sabe-se que os machos grandes lutam entre si pelo dom�nio na presen�a de uma f�mea.

Para qualquer outra esp�cie, isso significa que os machos menores ficam de fora. Mas as s�pias n�o s�o como qualquer outro animal. Elas descobriram que se voc� quer impressionar um crush, voc� precisa usar a criatividade.

"Os machos menores t�m um dilema em suas m�os, porque sabem que n�o conseguem vencer esses machos muito maiores", explica Sarah McAnulty, bi�loga especializada em lulas da Universidade de Connecticut, nos EUA.

"Eles criaram uma abordagem alternativa — se disfar�ando de f�mea para evitar a batalha."


Sépia-gigante-australiana
Brigar ou se disfar�ar? (foto: Getty Images)

Talvez seja o comportamento de acasalamento mais fascinante de qualquer esp�cie — os machos menores podem desbotar sua colora��o transl�cida, chegando ao bord� e branco manchado de uma f�mea, antes de aconchegarem seus bra�os ondulantes em seus corpos.

Isso faz com que pare�am f�meas, e como os machos corpulentos est�o ocupados brigando entre si, deixando sua parceira em potencial vulner�vel, os pequenos passam velozmente por eles disfar�ados para obter acesso � f�mea — e, em seguida, mudam rapidamente de volta para a colora��o de macho: ponto para o azar�o sagaz.

Se a f�mea decidir acasalar, o espet�culo que se segue pode fazer voc� se perguntar se a s�pia se inspirou em filmes proibidos para menores de 18 anos.

Em meio ao emaranhado de tent�culos, as s�pias se conectam, e o macho deposita seu pacote de esperma na boca da f�mea, usando um bra�o especialmente desenvolvido para isso, conhecido como hectoc�tilo.

A f�mea ret�m ent�o o esperma at� que esteja pronta para colocar seus ovos.


Sépias acasalando
O momento t�o esperado (foto: Getty Images)

A f�mea acasala com v�rios machos e pode usar uma mistura de diferentes dep�sitos de esperma para seus ovos.

Curiosamente, as f�meas preferem os machos menores do que seus hom�logos musculosos, de acordo com McAnulty, indicando que est�o selecionando c�rebros, em vez de m�sculos.

"Estudos mostraram, inclusive, que quando as f�meas v�o botar seus ovos, elas d�o uma propor��o maior de paternidade a esses machos astutos", diz ela.

"Assim, quando nos perguntamos como esses benditos cefal�podes ficaram t�o inteligentes? � por que eles est�o selecionando sexualmente para isso!"


Sépia
Seus c�rebros e olhos s�o altamente desenvolvidos (foto: Richard Ling )

Embora hoje n�o falte a��o censurada para menores de 18 anos debaixo d'�gua, nem sempre foi assim.

Nas �ltimas d�cadas, a pesca excessiva na regi�o reduziu a popula��o local de s�pias, o que incentivou os moradores a agir.

Isso levou � cria��o de uma zona de exclus�o de pesca, em 2013, ao longo da parte norte do Golfo Spencer durante a temporada de acasalamento.

No final da d�cada de 1990, os n�meros de agrega��o estavam em seu menor n�vel — Bramley estima que havia apenas de 30 mil a 40 mil s�pias presentes em 1999.

Em uma reviravolta do destino, o decl�nio da popula��o de s�pias atraiu a aten��o da m�dia.


Imagem subaquática
O local do festival anual de s�pias (foto: Getty Images)

Uma vez que se espalhou a not�cia sobre os incr�veis cefal�podes de Whyalla, a regi�o come�ou lentamente a atrair mergulhadores e turistas no in�cio dos anos 2000, ansiosos para observar o que era ent�o um fen�meno marinho relativamente desconhecido.

Nos �ltimos anos, a alta temporada da s�pia resultou em hot�is e restaurantes lotados, e a inje��o de fundos do turismo foi um impulso bem-vindo para uma economia que depende principalmente da produ��o de a�o.

Embora se fale em construir mais hot�is para atender ao fluxo de turistas, a temporada da s�pia dura apenas de tr�s a quatro meses — como os operadores de turismo se sustentam ent�o durante o resto do ano?

Uma solu��o que a cidade espera que ajude � melhorar a infraestrutura, com um subs�dio de US$ 4 milh�es para o Projeto de Conserva��o e Turismo do Santu�rio das S�pias, anunciado em 2021.

Isso ajudar� a cidade a gerenciar visitantes adicionais a cada temporada e a promover Whyalla como um destino de turismo de natureza com um acesso mais f�cil a praias e trilhas, melhor sinaliza��o, acr�scimo de mais vegeta��o nativa e maior prote��o dos delicados ecossistemas da regi�o.

Embora o turismo da s�pia em Whyalla esteja apenas em sua segunda d�cada, a cidade espera que se torne uma fonte de renda vi�vel a longo prazo.

Quanto �s s�pias em si, s� podemos esperar que continuem com suas travessuras sexuais ostensivas, provando que a vida pode ser t�o colorida e selvagem quanto voc� deseja.

Leia a �ntegra desta reportagem (em ingl�s) no site BBC Travel.

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