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Estado de Minas CI�NCIA

Por que os p�ssaros est�o perdendo suas cores

Mudan�as clim�ticas podem ter efeitos nos ornamentos exibidos por v�rias esp�cies de animais


23/07/2022 20:11 - atualizado 24/07/2022 11:56

Pavão
Pav�o (foto: HIMANSHU SHARMA/ANADOLU AGENCY VIA GETTY IMAGES)

Em 3 de abril de 1860, em uma carta endere�ada ao bot�nico americano Asa Gray, o naturalista brit�nico Charles Darwin manifestou sua frustra��o diante da presen�a das chamativas caudas dos pav�es: "A vis�o de uma pena na cauda de um pav�o, toda vez que a observo, me deixa doente!"

Seu descontentamento era porque as caudas dos pav�es contradiziam sua teoria da evolu��o por sele��o natural, j� que em vez de aumentar a sobreviv�ncia dos pav�es, pareciam fazer o contr�rio.

Onze anos depois, em 1871, Darwin prop�s a solu��o para esta (aparente) contradi��o em seu livro A Origem do Homem e a Sele��o Sexual.

Segundo o brit�nico, a fun��o das caracter�sticas vistosas (ornamentos) n�o � aumentar a sobreviv�ncia de seus donos, mas sim seu sucesso reprodutivo.

Ou seja, a presen�a de caracter�sticas chamativas, como as caudas dos pav�es, � explicada pela sele��o sexual, e n�o pela sele��o natural.

Um sinal de sa�de e qualidade

Chapim-azul
Chapim-azul (foto: ALEX GOTTSCHALK/DEFODI IMAGES VIA GETTY IMAGES)


Atualmente, sabemos que os ornamentos funcionam como sinais de qualidade: informam sobre a condi��o f�sica, a sa�de ou a personalidade de seus detentores.

Al�m disso, tamb�m sabemos que os ornamentos transmitem informa��es honestas, uma vez que s�o onerosos de serem produzidos.

Isso faz com que apenas os indiv�duos da mais alta qualidade sejam capazes de produzir os ornamentos mais atraentes.

No entanto, apesar de nosso conhecimento sobre ornamentos ter avan�ado muito desde a �poca de Darwin, ainda h� muitas quest�es em aberto sobre sua evolu��o.

Efeitos das mudan�as clim�ticas

As mudan�as clim�ticas e seus efeitos sobre a fauna e a flora t�m recebido muita aten��o da comunidade cient�fica.

A maioria dos estudos se concentrou em explorar os efeitos das mudan�as clim�ticas no in�cio da flora��o das plantas ou na data da postura de ovos das aves.

Em contrapartida, os efeitos das mudan�as clim�ticas em outras caracter�sticas, como os ornamentos exibidos por v�rias esp�cies de animais e at� plantas, s�o praticamente desconhecidos.

A import�ncia de estudar os efeitos das mudan�as clim�ticas sobre os ornamentos est� no fato de que seus custos de produ��o variam de acordo com as condi��es ambientais.

Quando as condi��es ambientais s�o boas (por exemplo, quando h� muita comida), os ornamentos s�o relativamente mais baratos de produzir do que quando as condi��es ambientais s�o ruins (por exemplo, quando h� pouca comida).

Se a mudan�a clim�tica continuar a piorar as condi��es ambientais, os custos relativos � produ��o destes sinais podem aumentar.

Como a energia dispon�vel para um indiv�duo � limitada, este aumento nos custos dos sinais pode limitar o investimento energ�tico em outras fun��es vitais, como a sobreviv�ncia, o que pode ter consequ�ncias negativas para a manuten��o das popula��es de uma esp�cie.

Portanto, para entender e prever as respostas das popula��es �s mudan�as clim�ticas, � importante estudar como isso afeta a express�o dos ornamentos.

O caso do chapim-azul no sul da Fran�a

Em um estudo recente, cientistas do Centro de Ecologia Funcional e Evolutiva de Montpellier, na Fran�a, e da Universidade do Pa�s Basco, na Espanha, estudaram os efeitos das mudan�as clim�ticas na colora��o ornamental do chapim-azul (Cyanistes caeruleus).

O chapim-azul � uma ave de pequeno porte, muito comum nas florestas europeias. Caracteriza-se por ter uma colora��o bastante vistosa. Sua coroa azul e peito amarelo s�o especialmente marcantes.

Os chapim-azul t�m recebido bastante aten��o da comunidade cient�fica.

Gra�as a isso, sabemos que tanto suas coroas azuis quanto seus peitos amarelos funcionam como sinais informando sobre a qualidade de seus donos.

Nosso estudo se concentrou em duas popula��es de chapim-azul do sul da Fran�a. Uma localizada nas proximidades de Montpellier, e outra no noroeste da ilha de C�rsega, estudadas h� mais de 15 anos.

Anualmente, entre 2005 e 2019, capturamos todos os chapim-azul reprodutores de cada popula��o.

Gra�as a isso, conseguimos obter mais de 5,8 mil medi��es sobre a colora��o e outras caracter�sticas dele.

Plumagem menos colorida

Os resultados do nosso estudo mostram que em ambas as popula��es a colora��o azul e amarela do chapim-azul diminuiu entre 2005 e 2019.

Ou seja, atualmente nestas duas popula��es, as coroas azuis e os peitos amarelos s�o menos vis�veis do que quando o estudo come�ou.

Al�m disso, descobrimos na C�rsega que nos ver�es mais quentes e secos os chapim-azul apresentavam cores menos vistosas, tanto azul quanto amarela.

Isso, juntamente ao aumento da temperatura e diminui��o da precipita��o em nossa �rea de estudo, sugere que a redu��o da colora��o nesta popula��o � consequ�ncia das mudan�as clim�ticas.

Curiosamente, na popula��o nas proximidades de Montpellier, n�o foram detectadas mudan�as significativas na temperatura ou associa��es entre temperatura e colora��o dos chapim-azul.

Por um lado, isso nos indica que os efeitos das mudan�as clim�ticas n�o s�o os mesmos em todos os lugares.

Por outro, a aus�ncia de associa��o entre a cor e o clima sugere que as colora��es ornamentais s�o sens�veis a outros fatores ambientais que devem ser explorados no futuro.

Em resumo, nosso estudo e outros realizados com esp�cies diferentes, como o p�ssaro papa-moscas-de-colar e as lib�lulas, mostram que a mudan�a clim�tica est� tendo um impacto negativo nos ornamentos dos animais.

Em estudos futuros, devemos explorar as consequ�ncias deste impacto na capacidade de adapta��o das popula��es �s mudan�as clim�ticas.

Desta forma, poderemos compreender suas consequ�ncias n�o s� para as aves, mas tamb�m para os ecossistemas em geral.

*David L�pez Idi�quez � pesquisador de p�s-doutorado em ecologia evolutiva na Universidade do Pa�s Basco (Euskal Herriko Unibertsitatea), na Espanha.

Este artigo foi publicado originalmente no site de not�cias acad�micas The Conversation e republicado aqui sob uma licen�a Creative Commons. Leia aqui a vers�o original (em espanhol).

- Texto originalmente publicado em: https://bbc.in/3aYWRir

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