
Pense naquele senhor de cartola que � o mascote do jogo Monopoly. Ele usa mon�culo, certo? Ou n�o?
Se voc� imaginou o personagem do popular jogo de tabuleiro usando um mon�culo, voc� errou. Na verdade, ele nunca usou esse acess�rio.
Isso pode ter te surpreendido, mas voc� n�o est� sozinho. Muitas pessoas t�m essa mesma mem�ria falsa do personagem.
E este fen�meno tamb�m ocorre com outros personagens, logotipos e cita��es. O Pikachu, do desenho Pok�mon, por exemplo. Muitas pessoas acham que a cauda do personagem tem uma ponta preta, o que n�o � verdade. E o logotipo da marca de roupas americana Fruit of the Loom n�o tem uma cornuc�pia - um vaso em forma de chifre que na mitologia greco-romana � representado cheio de frutos e flores, simbolizando fertilidade e abund�ncia -, ao contr�rio do que muitas pessoas acreditam.
Chamamos este fen�meno - de falsas mem�rias compartilhadas para certos �cones culturais - de "Efeito Mandela visual".As pessoas costumam ficar surpresas quando percebem que t�m as mesmas mem�rias falsas que outras pessoas. Isso ocorre, em parte, porque elas acreditam que aquilo que elas lembram e esquecem � subjetivo e baseado nas experi�ncias pessoais.
Mas nossas pesquisas indicam que as pessoas tendem a esquecer e lembrar das mesmas imagens, independentemente da diversidade das suas experi�ncias individuais. E demonstramos recentemente que essas similaridades de mem�ria estendem-se at� mesmo para as nossas recorda��es falsas.
O que � o Efeito Mandela?
A express�o "Efeito Mandela" foi criada por Fiona Broome, que se autodefine como pesquisadora paranormal. Broome descreve sua falsa mem�ria de que o ex-presidente sul-africano Nelson Mandela (1918-2013) teria morrido na pris�o nos anos 1980.
Ela percebeu que muitas outras pessoas tamb�m tinham essa mesma recorda��o falsa e escreveu um artigo sobre a experi�ncia no seu site. Dali, o conceito de mem�rias falsas comuns espalhou-se para outros f�runs e sites, incluindo as redes sociais.
Desde ent�o, exemplos do Efeito Mandela v�m sendo amplamente compartilhados na internet. Um deles � a s�rie canadense de livros infantis e desenhos animados Os Ursos Berenstain, que as pessoas recordam como "Berenstein" em vez do final correto "ain". Outro caso � o do personagem C-3PO, da s�rie Star Wars, que as pessoas relembram erroneamente com duas pernas douradas, em vez de uma perna dourada e outra prateada.

O Efeito Mandela j� alimentou teorias da conspira��o. As mem�rias falsas s�o t�o fortes e espec�ficas que algumas pessoas acreditam que elas provam a exist�ncia de uma dimens�o alternativa.
Por isso, as pesquisas cient�ficas somente estudaram o Efeito Mandela como um exemplo de como teorias da conspira��o se espalham pela internet. Poucas pesquisas foram feitas para estudar o Efeito Mandela como um fen�meno da mem�ria.
Mas compreender por que esses �cones acionam tantas mem�rias falsas espec�ficas pode oferecer mais indica��es sobre como se formam essas falsas recorda��es. O Efeito Mandela visual, que afeta especificamente �cones, foi uma forma perfeita de realizar este estudo.
Fen�meno consistente de mem�ria falsa
Para verificar se o Efeito Mandela visual realmente existe, conduzimos um experimento apresentando �s pessoas tr�s vers�es do mesmo �cone. Uma dessas vers�es era correta e duas foram manipuladas. N�s pedimos a elas que selecionassem o �cone correto.
Havia 40 conjuntos de �cones, que inclu�ram o personagem C-3PO da franquia Star Wars, o logotipo da marca americana de roupas Fruit of the Loom e o mascote do jogo de tabuleiro Monopoly.
Os resultados foram aceitos para publica��o no Psychological Sciences e demonstraram que as pessoas se sa�ram muito mal em sete deles, escolhendo a imagem correta apenas a cada 33% das vezes ou menos. Para essas sete imagens, as pessoas frequentemente indicaram a mesma vers�o incorreta, n�o apenas selecionando qualquer uma das duas vers�es incorretas.
Al�m disso, os participantes relataram estar muito confiantes nas suas escolhas e afirmaram ter grande familiaridade com aqueles �cones, mesmo estando errados.
Essas conclus�es reunidas comprovam claramente aquilo que as pessoas vinham falando na internet h� anos: o Efeito Mandela visual � um erro de mem�ria real e consistente.

Conclu�mos que esse efeito de recorda��es falsas � incrivelmente forte em diversas formas diferentes de testes de mem�ria. Mesmo quando as pessoas viam a vers�o correta do �cone, elas ainda escolhiam a vers�o incorreta poucos minutos depois.
E, quando se solicitava que elas desenhassem livremente os �cones de mem�ria, as pessoas tamb�m inclu�am as mesmas caracter�sticas incorretas.
- Os pequenos descansos que ajudam c�rebro a aprender coisas novas
- Por que lembrar mal de algumas coisas pode significar uma boa mem�ria
N�o existe causa universal
Mas o que causa essa falsa mem�ria compartilhada por �cones espec�ficos? Nossa conclus�o foi que caracter�sticas visuais, como cor e brilho, n�o podiam explicar o efeito.
Tamb�m rastreamos os movimentos de mouse dos participantes enquanto eles observavam as imagens em uma tela de computador para ver se eles n�o percorriam partes espec�ficas, como a cauda do Pikachu. Mas, mesmo quando as pessoas observavam diretamente a parte correta da imagem, elas ainda escolhiam a vers�o falsa imediatamente em seguida.
Tamb�m conclu�mos que, para a maior parte dos �cones, era improv�vel que as pessoas tivessem observado a vers�o falsa anteriormente e apenas se lembrassem daquela vers�o e n�o da vers�o correta.
Talvez n�o haja uma causa universal. Diferentes imagens podem gerar o Efeito Mandela visual por diferentes raz�es.
Algumas dessas raz�es podem ser relacionadas a expectativas anteriores para uma imagem, outras a uma experi�ncia visual anterior com uma imagem. Ainda outras podem ter a ver com algo totalmente diferente das imagens em si.
N�s conclu�mos, por exemplo, que a maior parte das pessoas s� v� a parte superior do corpo de C-3PO nos meios de comunica��o. A perna dourada da recorda��o falsa pode ser resultado do uso do seu conhecimento anterior - os corpos normalmente t�m uma cor s� - para preencher essa lacuna informativa.
Mas o fato de que pudemos demonstrar consist�ncias nas mem�rias falsas de certos �cones indica que parte daquilo que dirige as recorda��es falsas depende do nosso ambiente - independentemente das nossas experi�ncias subjetivas com o mundo exterior.
* Deepasri Prasad � estudante de PhD em neuroci�ncia cognitiva do Dartmouth College, nos Estados Unidos.
Wilma Bainbridge � professora assistente de psicologia da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos.
Este artigo foi publicado originalmente no site de not�cias acad�micas The Conversation e republicado sob licen�a Creative Commons. Leia aqui a vers�o original em ingl�s.
