
Em um momento, o vale era um p�ntano tranquilo. Gram�neas e palmeiras lan�avam sombras difusas na �gua abaixo. Os peixes espreitavam cautelosamente nas margens dos manguezais. Os orangotangos procuravam frutas com os dedos. Da� um gigante adormecido acordou de seu sono.
Isso aconteceu por volta de 72 mil a.C., na ilha de Sumatra, na Indon�sia. O supervulc�o Toba entrou em erup��o, no que se acredita ter sido o maior evento desse tipo nos �ltimos 100 mil anos. Uma s�rie de explos�es estrondosas explodiu 9,5 quatrilh�es de quilos de cinzas, que se espalharam em nuvens que escureceram o c�u e se arrastaram por cerca de 47 km na atmosfera.
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Na sequ�ncia, uma vasta �rea em toda a �sia foi coberta por uma camada de poeira maci�a de 3 a 10 cent�metros de espessura. Ela sufocou as fontes de �gua e grudou na vegeta��o como cimento —dep�sitos da erup��o foram encontrados t�o longe quanto a �frica Oriental, a 7,3 mil km de dist�ncia.
Mas, crucialmente, alguns cientistas acreditam que o evento extremo mergulhou o mundo em um inverno vulc�nico que durou d�cadas — e quase extinguiu nossa esp�cie.Em 1993, uma equipe de pesquisadores americanos estudou o genoma humano em busca de pistas sobre o passado profundo e descobriu uma assinatura reveladora de um grande "gargalo populacional" — um momento em que a humanidade encolheu t�o drasticamente que todas as gera��es subsequentes que surgiram fora da �frica se tornaram significativamente mais pr�ximas.
Estudos posteriores revelaram que nesta era prec�ria, que pode ter ocorrido entre 50 mil e 100 mil anos atr�s, a popula��o pode ter se reduzido a apenas 10 mil pessoas — o equivalente aos habitantes do sonolento assentamento de Elkhorn em Wisconsin, nos Estados Unidos, ou o n�mero de indiv�duos que participaram de um �nico casamento coletivo na Mal�sia, em 2020.
A parte menos afetada do mundo pelo vulc�o foi a �frica, onde a diversidade gen�tica permanece alta at� hoje — neste �nico continente, existem diferen�as gen�ticas maiores entre certos grupos locais do que entre africanos e europeus.
Alguns acham que esse momento n�o � uma coincid�ncia — eles acreditam que foi a erup��o vulc�nica que fez isso. A ideia � muito contestada, mas n�o h� d�vida de que grande parte da humanidade descende de um n�mero relativamente modesto de ancestrais super-resistentes.
Um avan�o r�pido de 74 mil anos na hist�ria e nossa esp�cie, outrora um obscuro primata sem pelos corporais, sofreu uma explos�o populacional, colonizando quase todos os habitats do planeta e exercendo uma influ�ncia at� nos cantos mais remotos — em 2018, os cientistas encontraram um saco pl�stico a 10,8 mil metros abaixo da superf�cie do oceano no fundo da Fossa das Marianas, enquanto outra equipe descobriu recentemente "produtos qu�micos eternos" feitos pelo homem no Monte Everest.
Nenhuma parte do mundo � intocada — todos os lagos, florestas e c�nions j� tiveram algum tipo de contato com a atividade humana.

Ao mesmo tempo, nossos n�meros e engenhosidade permitiram � humanidade realizar feitos que nenhum outro animal poderia sonhar — dividir �tomos, enviar equipamentos complexos a quase 1,6 milh�o de km para observar planetas se formando em gal�xias distantes e contribuir para uma impressionante diversidade de arte e cultura.
Todos os dias, coletivamente tiramos 4,1 bilh�es de fotografias e trocamos entre 80 e 127 trilh�es de palavras.
Nesta ter�a-feira, 15 de novembro de 2022, as Na��es Unidas dizem que o mundo chegou � marca de oito bilh�es de humanos vivos ao mesmo tempo — at� 800 mil vezes mais do que os sobreviventes da cat�strofe daquela erup��o vulc�nica.
Hoje, nossa popula��o � t�o enorme, com t�o pouca diversidade gen�tica fora da �frica, que um pesquisador observou recentemente que n�o � t�o surpreendente que algumas pessoas pare�am semelhantes a perfeitos estranhos — h� um pool gen�tico limitado que est� sendo constantemente reciclado, e acontecem cerca de 370 mil novas oportunidades (na forma de beb�s nascidos) para que essas coincid�ncias "apare�am" todos os dias.
Mas com a popula��o em expans�o, veio um grande cisma. Alguns veem os n�meros em alta como uma hist�ria de sucesso sem precedentes — na verdade, h� uma escola emergente de pensamento de que defende precisarmos de mais pessoas.
Em 2018, o bilion�rio da tecnologia Jeff Bezos previu um futuro em que nossa popula��o atingir� um novo marco decimal, na forma de 1 trilh�o de humanos espalhados pelo Sistema Solar — e anunciou que est� planejando maneiras de tornar isso realidade.
Outros, na contram�o — incluindo o apresentador e historiador natural Sir David Attenborough — rotularam as massas humanas de "praga na Terra".
Segundo essa vis�o, quase todos os problemas ambientais que enfrentamos atualmente, desde mudan�as clim�ticas at� perda de biodiversidade, estresse h�drico e conflitos por terra, podem ser ligados com a nossa reprodu��o desenfreada nos �ltimos s�culos.
Em 1994 — quando a popula��o global era de apenas 5,5 bilh�es — uma equipe de pesquisadores da Universidade Stanford, nos EUA, calculou que o tamanho ideal de nossa esp�cie variaria entre 1,5 e 2 bilh�es de pessoas.
Ser� que o mundo est� superpovoado atualmente? E o que o futuro reserva para o dom�nio global da humanidade? O debate sobre o n�mero ideal de pessoas no planeta est� desde sempre fragmentado e emocionalmente carregado — mas o tempo est� se esgotando para decidir qual � a melhor dire��o.
Uma preocupa��o antiga
No final da d�cada de 1980, na regi�o central do Iraque, uma equipe de arque�logos da Universidade de Bagd� estava escavando uma biblioteca em ru�nas na antiga cidade de Sippar.
Em meio � areia, poeira e paredes antigas, eles encontraram 400 t�buas de argila pequenas — registros que estavam esquecidos num t�mulo acad�mico por mais de 3.500 anos, ainda nas mesmas prateleiras onde haviam sido organizados por m�os babil�nicas.

Mas quatro dessas t�buas em particular eram especiais. Elas continham as se��es que faltavam de uma hist�ria encontrada em fragmentos em tabuletas separadas espalhadas pela Mesopot�mia, o que intriga os historiadores at� hoje.
"Ainda n�o haviam se passado 1.200 anos [desde a cria��o da humanidade], quando a terra se estendia e as pessoas se multiplicavam...", diz o Atra-hasis — o poema �pico estampado no barro por um escriba an�nimo por volta do s�culo 17 a.C.
� a vers�o mesopot�mica da onipresente hist�ria do Grande Dil�vio, encontrada em in�meras formas em v�rias culturas ao redor do mundo, na qual a civiliza��o � destru�da por uma divindade — e pode conter uma das primeiras men��es de superpopula��o no registro hist�rico.
No conto antigo, os deuses se aborrecem com todo o "barulho" criado pelas hordas humanas, bem como com as "terras que rugem feito um touro" devido ao estresse a que foram submetidos pelas demandas de nossa esp�cie.
O deus da atmosfera, Enlil, decide desencadear alguns perigos para reduzir os n�meros novamente — ele planeja pragas, fomes e secas em intervalos regulares a cada 1.200 anos. Felizmente, outro deus salva o dia. Mas ent�o Enlil planeja uma grande inunda��o... E o conto cl�ssico da constru��o de barcos e arcas segue em frente.
Na �poca em que o Atra-hasis foi escrito, estima-se que a popula��o global tinha entre 27 e 50 milh�es de pessoas, o equivalente ao n�mero que atualmente habita pa�ses como Camar�es ou Cor�ia do Sul — ou de 0,3% a 0,6% do total de indiv�duos vivos hoje.
Durante o mil�nio que se seguiu, os estudiosos parecem ter ficado relativamente quietos sobre qualquer preocupa��o populacional. At� que, na Gr�cia Antiga, eles come�aram a refletir sobre o assunto novamente.
O fil�sofo Plat�o tinha algumas opini�es fortes sobre o tema.
Ap�s um per�odo de r�pido crescimento, em que a popula��o de Atenas duplicou, ele lamentou: "O que resta agora � como o esqueleto de um corpo devastado pela doen�a; o solo rico foi levado e resta apenas a estrutura nua do distrito."
Ele n�o apenas acreditava no controle estrito da popula��o, administrado pelo Estado, como tamb�m acabou concluindo que a cidade ideal n�o deveria ter mais de 5.040 cidad�os. O fil�sofo ainda achava que a instala��o de col�nias era uma boa maneira de "descarregar" qualquer excesso.

Na obra-prima de Plat�o, A Rep�blica, escrita por volta de 375 a.C., ele descreve duas cidades-estado imagin�rias — regi�es administrativas governadas quase como pequenos pa�ses. Uma � saud�vel e a outra � "luxuosa" e "febril".
Nesta �ltima, a popula��o gasta e devora excessivamente, entregando-se ao consumismo at� "ultrapassar o limite de suas necessidades".
Infelizmente, esta cidade-estado moralmente decr�pita eventualmente recorre � tomada de terras vizinhas, o que naturalmente se transforma numa guerra — o local simplesmente n�o consegue sustentar a grande e gananciosa popula��o sem obter recursos extras.
Plat�o se deparou com um debate que ainda hoje � intenso: a popula��o humana � o problema? Ou a quest�o est� nos recursos que ela consome?
Demorou mais de cinco s�culos depois de Plat�o para que a escala global de nossa explos�o populacional se tornasse clara.
O autor Tertuliano, que viveu na cidade romana de C�rtago, antecipou-se �s observa��es modernas sobre nossas multid�es destrutivas.
Em 200 d.C., quando a popula��o humana total atingiu entre 190 e 256 milh�es — algo pr�ximo do n�mero de indiv�duos que atualmente habita a Nig�ria ou a Indon�sia — ele acreditava que o mundo inteiro j� havia sido explorado e as pessoas se tornaram um fardo para o planeta.
"A natureza n�o pode mais nos sustentar", escreveu.
Nos pr�ximos 1.500 anos, a popula��o humana global mais que triplicou. Eventualmente, essa preocupa��o isolada de alguns se transformou em p�nico generalizado.
� justamente a� que entra Thomas Malthus, um cl�rigo ingl�s com tend�ncia ao pessimismo. Em seu famoso trabalho, Um Ensaio sobre o Princ�pio da Popula��o, publicado em 1798, ele come�ou com duas observa��es importantes: todas as pessoas precisam comer e gostam de fazer sexo.
Quando levados � sua conclus�o l�gica, explicou, as demandas da humanidade levariam � supera��o dos suprimentos do planeta.
"A popula��o, quando n�o controlada, aumenta em uma propor��o geom�trica. A subsist�ncia aumenta apenas em uma propor��o aritm�tica. Um leve conhecimento dos n�meros mostrar� a imensid�o da primeira pot�ncia em compara��o com a segunda", escreveu Malthus.
Em outras palavras, um grande n�mero de pessoas leva a um n�mero ainda maior de descendentes, em uma esp�cie de ciclo de feedback positivo — mas nossa capacidade de produzir alimentos n�o necessariamente se acelera da mesma maneira.
Essas palavras simples tiveram um efeito imediato, acendendo um medo apaixonado em alguns e raiva em outros, que continuariam a reverberar esses conceitos na sociedade por d�cadas.
O primeiro grupo achava que algo precisava ser feito para impedir que nossos n�meros sa�ssem do controle. O segundo, por sua vez, defendia que limitar o n�mero de pessoas era absurdo ou anti�tico, e todos os esfor�os deveriam ser feitos para aumentar a oferta de alimentos.
O campo que adotou a ideia de menos pessoas foi particularmente cr�tico �s Leis dos Pobres feitas na Inglaterra, introduzidas centenas de anos antes, que envolviam pagamentos a pessoas que viviam na pobreza para ajud�-las a cuidar dos filhos. Especulou-se que estes aportes financeiros encorajavam as pessoas a ter fam�lias maiores.
Na �poca em que o ensaio de Malthus foi publicado, havia 800 milh�es de pessoas no planeta.

N�o foi at� 1968, no entanto, que as preocupa��es modernas sobre a superpopula��o global ganharam terreno, quando um professor da Universidade Stanford, Paul Ehrlich, e sua esposa, Anne Ehrlich, foram coautores do livro The Population Bomb ("A Bomba Populacional", em tradu��o livre).
A cidade indiana de Delhi foi a inspira��o. O casal estava voltando para o hotel em um t�xi e passou por uma favela, onde ficou assustado com a quantidade de atividade humana nas ruas. Eles escreveram sobre a experi�ncia de uma forma que foi fortemente criticada, especialmente porque a popula��o de Londres � �poca era mais que o dobro da de Delhi.
O casal escreveu o livro por causa de preocupa��es com a fome em massa que eles acreditavam que estava chegando, principalmente nos pa�ses em desenvolvimento, mas tamb�m em lugares como os Estados Unidos, onde muitos come�avam a perceber o impacto no meio ambiente.
O trabalho foi amplamente creditado — ou acusado, a depender do ponto de vista — de desencadear muitas das ansiedades atuais sobre a superpopula��o.
� claro que as discuss�es sobre quantas pessoas deveriam existir nunca foram puramente acad�micas. �s vezes, elas foram sequestradas para justificar persegui��o, limpeza �tnica e genoc�dio.
Em cada caso, os perpetradores pretendiam diminuir as popula��es de grupos espec�ficos de pessoas, como aqueles de uma determinada classe social, religi�o ou etnia — em vez da humanidade como um todo. Mas, mesmo assim, �s vezes esses epis�dios s�o vistos como exemplos dos perigos que o pr�prio conceito de superpopula��o pode representar.
J� em 1834, apenas tr�s d�cadas e meia ap�s a publica��o do ensaio de Malthus, as Leis dos Pobres foram descartadas e substitu�das por outras regras mais r�gidas.
Isso foi em parte devido �s preocupa��es malthusianas de que essa classe social (que ele chamava de "camponeses") estava se reproduzindo demais e tinha o resultado de levar crian�as �rf�s a asilos sombrios e insalubres, como o retratado no romance de Charles Dickens, Oliver Twist.
Ao longo dos s�culos seguintes, a eugenia foi continuamente disfar�ada de controle populacional — ou recebeu apoio do movimento — como durante as esteriliza��es for�adas de pessoas de grupos �tnicos minorit�rios na Am�rica dos anos 1970.
O conceito tamb�m foi usado para restringir as liberdades individuais. Em 1980, a China introduziu a controversa pol�tica do filho �nico, que foi amplamente vista como uma viola��o invasiva dos direitos sexuais e reprodutivos da popula��o.

Um futuro controverso
Como resultado de toda essa hist�ria , a engenharia populacional � uma �rea profundamente dividida.
Hoje, quaisquer pol�ticas que envolvam cotas ou metas para aumentar ou diminuir a popula��o humana s�o quase universalmente condenadas, exceto por um punhado de organiza��es extremistas.
O risco desses incentivos levarem � coer��o ou outras atrocidades � visto como muito alto. Mas h� pouco acordo al�m disso.
As baixas taxas de natalidade
Em uma extremidade do espectro est�o aqueles que veem as taxas de fertilidade mais baixas em algumas �reas como uma crise. Um dem�grafo est� t�o preocupado com a queda na taxa de natalidade no Reino Unido que sugeriu taxar as fam�lias sem filhos.
Em 2019, havia 1,65 crian�as nascidas no pa�s por mulher em m�dia. Isso est� abaixo do n�vel de reposi��o — o n�mero de nascimentos necess�rios para manter o mesmo tamanho populacional — de 2,07, embora a popula��o ainda esteja crescendo em geral devido aos imigrantes que chegam de outros pa�ses.
A vis�o oposta � que desacelerar e eventualmente interromper o crescimento populacional global n�o � apenas eminentemente gerenci�vel e desej�vel, mas pode ser alcan�ado por meios inteiramente volunt�rios — m�todos como simplesmente fornecer contracep��o para aqueles que gostariam e educar as mulheres.
Dessa forma, os defensores dessa posi��o acreditam que poder�amos n�o apenas beneficiar o planeta, mas melhorar a qualidade de vida dos cidad�os mais pobres do mundo.
Uma organiza��o que acredita nessa abordagem � a institui��o de caridade Population Matters, com sede no Reino Unido, que faz campanha para alcan�ar uma popula��o global sustent�vel.
Eles defendem o enfrentamento das press�es que o consumismo est� colocando no planeta, ao mesmo tempo em que destacam o papel que o tamanho da popula��o tem que desempenhar nisso.
"Deploramos qualquer forma de controle populacional ou coer��o, restri��o de escolha", diz o diretor, Robin Maynard. "Trata-se ent�o de permitir o acesso, garantir a escolha e cumprir os direitos. E essa � realmente a maneira mais eficaz de as pessoas tomarem decis�es que s�o boas para elas e para o planeta."
Por outro lado, alguns apostam numa mudan�a do foco: a ideia passa de ajustar o n�mero de pessoas no mundo para refletir sobre nossas atividades.
Os defensores argumentam que a quantidade de recursos que cada pessoa usa tem mais impacto em nossa influ�ncia coletiva e apontam que o consumo � significativamente maior em pa�ses mais ricos e com menores taxas de natalidade.
Reduzir nossas demandas individuais no planeta poderia diminuir a "pegada" da humanidade sem sufocar o crescimento nos pa�ses mais pobres.
De fato, o interesse em reduzir o crescimento populacional em partes menos desenvolvidas do mundo foi acusado de ter conota��es racistas, quando a Europa e a Am�rica do Norte s�o mais densamente povoadas em geral.

Finalmente, h� a "solu��o" fatalista para a perene quest�o da popula��o: simplesmente n�o fa�a nada. Essa vis�o se baseia na din�mica altamente inst�vel de nossa popula��o global — ela deve crescer significativamente, mas depois encolher�. Cada um pode conseguir o que quer no final, embora isso n�o seja garantido para sempre.
As estimativas variam, mas espera-se que cheguemos o "pico populacional" por volta de 2070 ou 2080, quando haver� entre 9,4 bilh�es e 10,4 bilh�es de pessoas no planeta. Pode ser um processo lento — se chegarmos a 10,4 bilh�es, a Organiza��o das Na��es Unidas (ONU) espera que a popula��o permane�a nesse n�vel por duas d�cadas — mas, eventualmente, depois disso, a previs�o � de que esse n�mero comece a diminuir.
No livro Empty Planet: The Shock of Global Population Decline ("Planeta Vazio: o Choque do Decl�nio da Popula��o Global, em tradu��o livre), os autores apresentam uma vis�o de futuro muito diferente daquela a que estamos acostumados, em que o mundo lida com os novos desafios e oportunidades que o despovoamento pode apresentar.
Em meio a toda a controv�rsia e incerteza, pode ser dif�cil saber o que pensar. Mas como o n�mero de pessoas no planeta pode afetar alguns aspectos-chave de nossas vidas no futuro — o meio ambiente, a economia e nosso bem-estar coletivo?
Um desafio ambiental
Uma c�mera percorre a floresta de Madagascar. O local � cheio de �rvores e traz o mist�rio emocionante de um ambiente desconhecido.
Ent�o, de repente, l� est�: um borr�o branco salta pela lente e desaparece. O animal � um sifaka — um l�mure t�mido e indescrit�vel com membros longos, pele clara e um rosto preto, como um ursinho de pel�cia esguio.
O breve encontro faz parte de um document�rio da BBC, Oceano �ndico com Simon Reeve, e o apresentador logo revela uma advert�ncia surpreendente sobre o achado da equipe.
Afinal, esta n�o � a natureza selvagem — eles est�o na reserva Berenty no sul de Madagascar, um pequeno peda�o de floresta cercado de planta��es comerciais, um dos �ltimos lugares que essa criatura rara pode chamar de lar.
No centro de visitantes, Reeve diz que foi informado de forma confi�vel que quase todos os cinegrafistas da vida selvagem que filmam na �rea instalam os equipamentos num local exato, onde os l�mures s�o mais abundantes.
Os equipamentos ficam de costas para a floresta, para n�o capturar nenhum edif�cio atr�s. Embora os espectadores possam pensar que est�o vislumbrando o desconhecido selvagem, d� para argumentar que o que eles realmente est�o recebendo � uma ilus�o cuidadosamente selecionada de uma natureza pretensamente indom�vel.

O document�rio destaca o "mito da natureza intocada" — um mal-entendido que pode ocorrer quando as pessoas s�o apresentadas a imagens majestosas do mundo natural que excluem os seres humanos inteiramente, ou minimizam drasticamente a nossa onipresen�a, sugerindo que ainda existem vastas extens�es de terra intocadas por a�.
As imagens de sat�lite s�o uma ferramenta particularmente poderosa para quebrar essa no��o: do ar, muitos pa�ses revelam-se fortemente adaptados para o uso humano.
At� onde a vista alcan�a, a terra � uma colcha de retalhos de campos agr�colas, entremeados de estradas e fileiras e mais fileiras de pr�dios. Algumas paisagens foram t�o transformadas em apenas algumas d�cadas, por obras de engenharia ou desmatamento, que quase n�o s�o reconhec�veis.
Essas mudan�as v�m com algumas estat�sticas surpreendentes. De acordo com a Organiza��o das Na��es Unidas para Agricultura e Alimenta��o (FAO), 38% da superf�cie terrestre do planeta � usada para cultivar alimentos e outros produtos (como combust�vel) para humanos ou o gado — s�o cinco bilh�es de hectares no total.
E, embora nossos ancestrais vivessem entre gigantes, ca�ando mamutes e p�ssaros elefantes de 450 kg, hoje somos a esp�cie de vertebrados dominante em terra — um grupo que inclui tudo, de lagartixas a l�mures. Em peso, os humanos representam 32% dos vertebrados terrestres, enquanto os animais selvagens s�o apenas 1% do total. A pecu�ria responde pelo resto.
A organiza��o de preserva��o da natureza selvagem WWF descobriu que as popula��es de animais selvagens diminu�ram em dois ter�os entre 1970 e 2020 — nesse per�odo, a popula��o global mais que dobrou.
De fato, � medida que nosso dom�nio aumenta, muitas mudan�as ambientais v�m ocorrendo em paralelo — e v�rios ambientalistas proeminentes, desde a primatologista Jane Goodall, famosa por seu estudo sobre chimpanz�s, at� o naturalista e apresentador de TV Chris Packham, expressaram preocupa��es.
Em 2013, Sir David Attenborough explicou seus pontos de vista em uma entrevista ao Radio Times: "Todos os nossos problemas ambientais se tornam mais f�ceis de resolver com menos pessoas e mais dif�ceis — e, em �ltima an�lise, imposs�veis — de solucionar com cada vez mais pessoas."
Para alguns, o alarme sobre a pegada ambiental da humanidade os levou a decidir ter menos ou nenhum filho — incluindo o duque e a duquesa de Sussex, que anunciaram em 2019 que n�o teriam mais do que dois herdeiros pelo bem do planeta. No mesmo ano, Miley Cyrus tamb�m declarou que ainda n�o teria filhos porque a Terra est� "com raiva".
Um n�mero crescente de mulheres est� se juntando ao movimento antinatalista e aderindo ao BirthStrike (ou greve da gesta��o, em tradu��o livre), at� que a emerg�ncia clim�tica e a crise da extin��o de esp�cies sejam tratadas.
A tend�ncia foi impulsionada por uma pesquisa de 2017, que calculou que simplesmente ter um filho a menos no mundo desenvolvido poderia reduzir as emiss�es anuais de carbono de uma pessoa em 58,6 toneladas — um valor 24 vezes superior a economia de n�o ter um carro.

Um estudo de 2019, liderado por Jennifer Sciubba, professora associada de Estudos Internacionais do Rhodes College, nos EUA, analisou os n�veis de crescimento populacional em mais de 1.000 regi�es em 22 pa�ses europeus entre 1990 e 2006 e os comparou com as mudan�as nos padr�es de uso do solo urbano e das emiss�es de di�xido de carbono.
A equipe concluiu que um grande n�mero de pessoas teve um "efeito consider�vel" sobre esses par�metros ambientais na Europa Ocidental, mas esses n�o foram os fatores mais importantes no lado oriental do continente.
Esse suporte sutil para a ideia de que o crescimento populacional leva � degrada��o ambiental � apoiado por muitos outros estudos — como tamb�m o impacto da demanda crescente por recursos naturais, especialmente entre os pa�ses mais ricos.
De fato, muitos ambientalistas agora acreditam que os problemas que enfrentamos atualmente t�m a ver em grande parte com o consumo, e n�o com a superpopula��o. Dessa perspectiva, as preocupa��es com o n�mero de habitantes do planeta transferem injustamente a culpa para os pa�ses mais pobres.
Em 2021, um estudo descobriu que nos EUA, o crescimento populacional e o uso de fontes de energia n�o renov�veis %u200B%u200Best�o degradando o meio ambiente, enquanto outro revelou que o crescimento econ�mico e o uso de recursos naturais na China de 1980 a 2017 levou a um aumento nas emiss�es de di�xido de carbono.
Curiosamente, outras pesquisas descobriram que, embora o uso de recursos naturais e a urbaniza��o na China aumentem a taxa de destrui��o ambiental, estes s�o parcialmente compensados %u200B%u200Bpela disponibilidade de "capital humano" — essencialmente, o conhecimento e a habilidade da popula��o humana.
Hoje em dia, � amplamente aceito o conceito que as pessoas est�o colocando uma press�o insustent�vel sobre os recursos finitos do mundo — um fen�meno que � destacado pelo "Dia da supera��o da Terra", a data em que se estima que a humanidade tenha usado todos os recursos biol�gicos que o planeta pode sustentar naquele ano. Em 2010, essa data era 8 de agosto. Este ano, ela foi reduzida para 28 de julho.
Quer o problema seja o excesso de humanos, os recursos que usamos ou ambos, "n�o consigo nem imaginar como mais humanos poderiam ser melhores para o meio ambiente", diz Jennifer Sciubba, autora do livro 8 Billion and Counting: How Sex, Death, and Migration Shape our World ("8 Bilh�es e Contando: Como Sexo, Morte e Migra��o Moldam Nosso Mundo", em tradu��o livre).
Ela sugere que uma maneira de se argumentar envolve o exerc�cio de encarar os humanos e o meio ambiente como a mesma entidade, "embora esse seja um argumento muito dif�cil".

No entanto, Sciubba faz quest�o de salientar que a ideia de uma iminente "bomba populacional" vindo para destruir o planeta est� ultrapassada.
"No passado, havia cerca de 127 pa�ses no mundo onde as mulheres tinham em m�dia cinco ou mais filhos ao longo da vida", calcula. Naquela �poca, as tend�ncias populacionais realmente pareciam exponenciais — e ela sugere que isso incutiu um p�nico populacional em certas gera��es que est�o vivas at� hoje.
"Mas atualmente existem apenas oito [pa�ses com taxas de fecundidade acima de cinco]", diz Sciubba. "Ent�o, acho importante percebermos que essas tend�ncias mudaram."
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Uma oportunidade econ�mica
Em 2012, o governo de Singapura criou uma maneira incomum para os cidad�os comemorarem sua independ�ncia — e divulgou as instru��es importantes por meio de um novo rap.
O hit pretendia incentivar os jovens casais a terem mais filhos e misturava insinua��es animadas com refer�ncias patri�ticas � cultura e aos pontos tur�sticos que o pa�s abriga.
"Vamos fazer um pequeno humano que se pare�a com voc� e eu. Explorando seu corpo como um saf�ri noturno, eu sou um marido patriota, voc� � uma esposa patriota. Deixe-me entrar em seu acampamento e fabricar uma vida...", dizia um trecho da letra.
A m�sica foi lan�ada em meio a temores sobre a taxa de fertilidade superbaixa de Singapura, que era de apenas 1,1 nascimento por mulher em 2020.
Trata-se de um exemplo extremo do que se tornou uma tend�ncia comum em pa�ses ricos, onde as pessoas se casam mais tarde e optam por ter menos filhos. Nesta na��o asi�tica, os n�meros provocaram preocupa��es sobre quais poderiam ser as consequ�ncias para a economia do pa�s, levando o governo de l� a pedir aos cidad�os que fizessem a parte deles.
Esse � um conceito-chave em economia: quanto mais pessoas voc� tem, mais bens ou servi�os elas podem produzir e mais podem consumir. Logo, o crescimento populacional � o melhor amigo do crescimento econ�mico.
Essa � uma das raz�es pelas quais as preocupa��es com o aumento da popula��o nas partes em desenvolvimento do mundo �s vezes s�o vistas como problem�ticas — muitos pa�ses desenvolvidos j� s�o densamente povoados e, em parte, � assim que eles conquistaram a riqueza. Negar a outros pa�ses essa oportunidade � visto como algo injusto e at� racista.

No entanto, o crescimento populacional mais lento nem sempre � seguido por uma queda econ�mica. Veja o Jap�o, que antecipou as tend�ncias globais de na��es ricas e alcan�ou taxas de fertilidade abaixo do n�vel de reposi��o j� em 1966, quando de repente esse n�mero caiu de cerca de dois para 1,6 por l�.
"N�o acho que a economia do Jap�o tenha declinado � medida em que as pessoas �s vezes a retratam, se voc� observar os padr�es de vida", diz Andrew Mason, professor em�rito do Departamento de Economia da Universidade do Hava�, nos EUA. "Eles investiram muito em capital humano — por isso t�m menos filhos, mas enfatizam a educa��o e t�m sistemas de sa�de muito bons."
Mason tamb�m aponta que poupan�a e investimento s�o comuns no Jap�o: "Ent�o, houve aumentos no capital [monet�rio] e maior produtividade . Se voc� combinar essas coisas, acho que o Jap�o � um bom estudo de caso sobre por que n�o precisamos ter p�nico [sobre o decl�nio das taxas de natalidade]."
E h� outras formas de fazer crescer a economia de um pa�s. Mason ressalta que a imigra��o muitas vezes fornece uma fonte �til de novos trabalhadores.
Para melhorar, a chegada de estrangeiros pode ajudar a resolver problemas econ�micos sem adicionar mais pessoas ao total da humanidade. Mas a imigra��o tamb�m continua sendo um assunto controverso e altamente politizado em alguns pa�ses — portanto, sem mudan�as culturais na forma como isso � percebido, alguns pa�ses n�o ter�o essa op��o.
"Pense particularmente em pa�ses como Jap�o e Cor�ia do Sul, que [historicamente] t�m sido muito resistentes � imigra��o. Eles v�o achar cada vez mais vantajoso [mudar essa pol�tica]", acredita Mason.
Da mesma forma, as vantagens que a imigra��o pode oferecer s�o inerentemente desiguais — um pa�s obt�m um impulso em sua economia �s custas de outro, cujos trabalhadores sa�ram.
H� um sentimento crescente de que a obsess�o global em perseguir o crescimento econ�mico a todo custo est� ultrapassada e deve ser totalmente abandonada.
"Uma das coisas que me frustra no debate sobre a superpopula��o � que muitos coment�rios saem da boca das mesmas pessoas — parece que n�o queremos que haja muitas pessoas, e tamb�m desejamos ter certeza de que a economia est� sempre crescendo", diz Sciubba.
"Em um mundo onde h� menos indiv�duos, realmente precisamos de uma mudan�a completa de mentalidade, longe do conceito em que crescimento � igual a progresso", prop�e.
Um futuro mais feliz
No entanto, a demografia influencia mais do que apenas o meio ambiente e a economia, que tamb�m s�o poderosas for�as ocultas na forma��o da qualidade de vida das pessoas em todo o mundo.

Segundo Alex Ezeh, professor de Sa�de Global da Universidade Drexel, nos EUA, o n�mero absoluto de pessoas em um pa�s n�o � o fator mais importante. Em vez disso, a taxa de crescimento ou decl�nio da popula��o � fundamental para as perspectivas futuras de um pa�s. Na vis�o dele, � isso que determina a rapidez com que as coisas est�o mudando.
Ezeh explica que, na �frica, existem taxas radicalmente diferentes de crescimento populacional atualmente, dependendo de onde voc� olha.
"Em v�rios pa�ses, particularmente na �frica Austral [uma das cinco regi�es definidas pelas Na��es Unidas], as taxas de fecundidade realmente ca�ram e o uso de contraceptivos est� aumentando — a taxa de crescimento da popula��o est� diminuindo, o que � de certa forma uma boa not�cia", aponta.
Ao mesmo tempo, alguns pa�ses da �frica Central ainda apresentam altas taxas de crescimento populacional, como resultado da fecundidade elevada e da maior expectativa de vida.
Em alguns lugares, ela est� bem acima de 2,5% ao ano, "o que � enorme", na vis�o de Ezeh. "A popula��o dobrar� a cada 20 anos em v�rios pa�ses", estima o professor.
Mesmo dentro de uma �nica regi�o, diferentes pa�ses podem estar em caminhos surpreendentemente diferentes — Ezeh d� o exemplo dos vizinhos Burundi e Ruanda. Enquanto o primeiro ainda apresenta altos n�veis de crescimento — com 5,3 nascimentos por mulher — no segundo, o aumento est� desacelerando, com 3,9 nascimentos por mulher em 2020, ante 4,5 em 2010.
"Acho que a conversa sobre tamanhos e n�meros � equivocada", entende. "Pense em uma cidade que est� dobrando a cada 10 anos — e isso � o que acontece em algumas partes da �frica — cujo governo realmente tem recursos para melhorar toda a infraestrutura que existe atualmente a cada d�cada, a fim de manter o n�vel correto de cobertura desses servi�os?", questiona.
Ezeh explica que � dif�cil apoiar o desenvolvimento do capital humano em condi��es de crescimento extremo — pesquisas recentes descobriram que isso desempenha um papel importante na felicidade das pessoas, superior � quantidade de dinheiro que elas ganham.
Esses fatores tamb�m s�o considerados como um importante mecanismo de predizer crescimento econ�mico, al�m do grande n�mero de moradores de um pa�s.
"Quando os economistas pensam sobre isso, uma grande popula��o � �tima para muitos resultados diferentes. Mas voc� alcan�ar� essa grande popula��o em 10, 100 anos ou mil anos? E qual sistema dar� suporte a essa popula��o?", pergunta Ezeh.
Um fator com um papel bem documentado na desacelera��o dessa taxa de crescimento � a educa��o das mulheres, que tem o efeito colateral de aumentar a idade m�dia em que elas d�o � luz.
"Com o tempo, as mulheres t�m acesso � educa��o, ocupam empregos e possuem tarefas fora da fam�lia, elementos que competem com a maternidade", diz Ezeh.
No entanto, o professor faz quest�o de enfatizar os m�ritos da educa��o independentemente do impacto que a escolaridade tem no tamanho da popula��o — falamos aqui em um dos 17 objetivos de desenvolvimento sustent�vel da ONU.
Isso chega ao cerne de uma vis�o moderna sobre engenharia populacional: as pol�ticas precisam ser implementadas em benef�cio da sociedade e, se por acaso levarem a mudan�as demogr�ficas ben�ficas, devem ser encaradas apenas como um b�nus.
"Acho que uma das coisas que n�o queremos fazer � instrumentalizar a educa��o feminina. N�o queremos que elas frequentem a escola porque desejamos que elas tenham menos filhos…", pondera Ezeh.
De fato, os efeitos colaterais em cascata das pol�ticas implementadas por outras raz�es destacam uma realidade impressionante da ci�ncia populacional: o qu�o imprecisas s�o as previs�es.
Em todo o mundo, as decis�es tomadas pelos governos nas pr�ximas d�cadas ser�o extremamente decisivas para determinar quantas pessoas habitar�o o planeta — com o poder de nos levar para um futuro em que haver� 10 ou 15 bilh�es de pessoas.

"Acho que uma das coisas que sabemos com certeza � que, [quando as pessoas dizem que] a popula��o da �frica � projetada para ser X no ano Y, [isso] n�o � um destino", destaca Ezeh.
"Se voc� olhar para a regi�o da �frica Austral, a popula��o pode ser tr�s a quatro vezes maior do que � hoje em 2100, mas tamb�m pode ser 50% maior. Ou seja, falamos de uma faixa t�o grande de possibilidades e precisamos fazer os investimentos necess�rios para chegar a uma taxa de crescimento consistente com o objetivo dos pa�ses. Essa � a magnitude da oportunidade que existe."
Uma presen�a em expans�o
Embora o grau em que a humanidade continuar� a se expandir pelo planeta ainda n�o tenha sido decidido, algumas trajet�rias j� foram definidas.
Uma delas envolve o conceito que a popula��o humana provavelmente continuar� a crescer por algum tempo, independentemente de quaisquer poss�veis esfor�os para diminu�-la.
Esse futuro se deve a um fen�meno conhecido como momentum demogr�fico, em que uma popula��o jovem com taxa de fecundidade abaixo do n�vel de reposi��o continuar� a crescer, enquanto a taxa de mortalidade e os n�veis de migra��o permanecerem os mesmos.
Isso ocorre porque a mudan�a populacional n�o diz respeito apenas �s taxas de natalidade — a estrutura de uma popula��o tamb�m tem impacto, principalmente o n�mero total de mulheres em idade f�rtil. Tudo isso significa que, em pa�ses onde as taxas de fecundidade s�o altas, o impacto total desse crescimento n�o � sentido at� que as mulheres dessa popula��o atinjam a idade reprodutiva d�cadas depois.
Um estudo de 2014 descobriu que, mesmo no caso de uma grande trag�dia global, como uma pandemia mortal, uma guerra mundial catastr�fica ou uma pol�tica draconiana de filho �nico implementada em todos os pa�ses do planeta — nenhuma delas desej�vel, claro — nossa popula��o ainda crescer� para at� 10 bilh�es de pessoas em 2100.
Mesmo um desastre em tal escala que deixe dois bilh�es de pessoas mortas em um per�odo de cinco anos no meio do s�culo ainda permitiria que a popula��o crescesse para 8,5 bilh�es de pessoas nas pr�ximas oito d�cadas. Aconte�a o que acontecer, concluem os autores, � prov�vel que haja muitas, muitas pessoas por a� at� pelo menos o pr�ximo s�culo.
Com a humanidade prestes a se tornar ainda mais dominante nos pr�ximos anos, encontrar uma maneira de viver em sociedade e proteger o meio ambiente pode ser o maior desafio que a nossa esp�cie enfrentou at� agora.
Leia a vers�o original desta reportagem (em ingl�s) no site BBC Future.
- Este texto foi publicado originalmente no dia 17 de setembro de 2022 e republicado em 15 de novembro de 2022 em https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-62807711