
A Confer�ncia para a Biodiversidade da ONU (COP 15), realizada em dezembro do ano passado no Canad�, ganhou as manchetes dos jornais em todo o mundo gra�as ao an�ncio de um acordo hist�rico para proteger um ter�o da terra e da �gua do planeta at� o final da d�cada.
No entanto, infelizmente, pode ser um pouco tarde demais para v�rias esp�cies animais.
A Uni�o Internacional para a Conserva��o da Natureza (IUCN, na sigla em ingl�s), uma das principais ONGs ambientais do mundo, tem mais de 87 mil esp�cies em sua "lista vermelha" de criaturas amea�adas de extin��o - e alguns animais considerados em "risco cr�tico" apresentam popula��es em seu habitat natural t�o pequenas que o n�mero de exemplares da esp�cie pode ser contado nos dedos.
Isso significa que eles podem desaparecer muito em breve — ou apenas serem vistos em cativeiro. A seguir, listamos alguns deles:
Vaquita

"N�o acredito que seja uma batalha perdida, mas precisamos continuar lutando."
H� um qu� de exaspera��o na voz de Lorenzo Rojas-Bravo.
O bi�logo mexicano conversou com a BBC sobre sua luta de tr�s d�cadas para salvar a vaquita, uma toninha descrita como o mam�fero marinho mais raro do mundo pelo World Wildlife Fund (WWF).
Vivendo exclusivamente no Golfo da Calif�rnia, no M�xico, as vaquitas est�o desaparecendo rapidamente desde que foram descobertas em 1958 — e estima-se que restem hoje apenas cerca de 10 vivas.
Cinco anos atr�s, a popula��o estimada era de aproximadamente 30.
Rojas-Bravo explica que a morte das vaquitas est� intimamente ligada � pesca comercial, � medida que elas morrem em redes de pesca ilegais destinadas � totoaba, um peixe mexicano cuja bexiga natat�ria � usada na medicina tradicional chinesa.
"Temos estudos que mostram que, se as autoridades mantiverem a pesca ilegal sob controle, a popula��o (de vaquitas) poder� prosperar. Mas o tempo definitivamente n�o est� do nosso lado", diz ele.
Tentativas anteriores de criar vaquitas em cativeiro fracassaram.
Saola

H� uma raz�o pela qual este bovino de chifres longos � conhecido como "unic�rnio asi�tico".
Avistado pela primeira vez no in�cio dos anos 1990, foi celebrado como a primeira descoberta de um mam�fero de grande porte em 50 anos, mas o saola � notoriamente esquivo.
Houve apenas quatro avistamentos confirmados do animal desde ent�o, de acordo com o WWF. Isso suscita o temor pela sobreviv�ncia da esp�cie nas florestas da fronteira do Vietn� com o Laos, onde a ca�a ilegal � uma grande amea�a.
"N�o podemos nem sequer ter certeza de que o saola ainda est� por a�, j� que a �ltima vez em que um foi fotografado foi em 2013", diz � BBC Margaret Kinnaird, l�der global de vida selvagem do WWF. "N�o sabemos quantos indiv�duos existem, e n�o estou muito otimista."
Organiza��es como a IUCN s� classificam uma esp�cie como extinta se "n�o houver d�vida razo�vel de que o �ltimo indiv�duo morreu".
Rinoceronte-de-sumatra

Este mam�fero � um exemplo de por que o tamanho da popula��o n�o � s� o que importa quando se discute o qu�o amea�ado um animal est�: h� mais rinocerontes-de-sumatra do que rinocerontes-de-java — outra esp�cie criticamente amea�ada presente na Indon�sia —, mas os primeiros s�o muito mais vulner�veis � perda e fragmenta��o de habitat.
O WWF estima que restem menos de 80 rinocerontes-de-sumatra, sobrevivendo em popula��es pequenas e fragmentadas. Kinnaird explica que isso tem um impacto direto na reprodu��o deles.
"Eles est�o separados e n�o conseguem se encontrar. Descobrimos que as f�meas desenvolvem problemas no �tero e nos ov�rios se n�o se reproduzem por um longo per�odo de tempo", ela adverte.
Kinnaird tamb�m destaca que os rinocerontes-de-sumatra s�o um elo especial com o passado — diferentemente de outros animais da fam�lia, eles s�o cobertos por pelos longos e s�o parentes muito mais pr�ximos dos rinocerontes-lanudos extintos do que qualquer outra esp�cie de rinoceronte viva hoje.
"Se eles sumirem, perderemos uma linhagem pr�-hist�rica."
Entufado-baiano

Esta ave � nativa da Mata Atl�ntica brasileira, um dos biomas mais fragmentados e degradados das Am�ricas.
A esp�cie foi identificada em 1960 gra�as a um exemplar empalhado em um museu alem�o, e s� foi vista na natureza pela primeira vez em 1995.
Em 2011, pesquisadores brasileiros estimaram que restavam de 10 a 15 entufados-baianos, majoritariamente em uma floresta no nordeste da Bahia.
Infelizmente, um grande inc�ndio atingiu a �rea em 2015 e, desde ent�o, apenas um exemplar da esp�cie, uma f�mea, foi avistado.
"Ela foi apelidada de 'Esperan�a', mas n�o a vemos desde 2019", explica Alexander Zaidan, bi�logo que estuda o entufado-baiano.
"Houve expedi��es a outras �reas para encontrar outros esp�cimes, mas ainda n�o avistamos nenhum."
Leopardo-de-amur

Nativo do extremo oriente russo, norte da China e Pen�nsula da Coreia, este felino sofreu consider�veis decl�nios populacionais desde a d�cada de 1970, impulsionados pela ca�a ilegal, perda de habitat e disponibilidade reduzida de presas.
Eles foram listados pela IUCN como criticamente amea�ados de extin��o desde 1996 — e a estimativa mais recente � de que restem apenas cerca de 85 leopardos-de-amur.
Lobo-vermelho

O lobo-vermelho � um caso curioso: uma das duas esp�cies nativas de lobos da Am�rica do Norte, este animal foi declarado extinto na natureza em 1980.
No entanto, exemplares suficientes haviam sido capturados por conservacionistas para iniciar um programa de reprodu��o em cativeiro e reintrodu��o na natureza. Eles conseguiram restabelecer uma popula��o que, em 2011, chegou a mais de 130 indiv�duos.
Mas, desde ent�o, os lobos foram v�timas do crescente desenvolvimento urbano e de seu maior inimigo: propriet�rios de terras e fazendeiros que os ca�am ou atiram neles para proteger seu gado.
O Servi�o de Pesca e Vida Selvagem dos EUA estima que restam apenas 20 lobos-vermelhos na natureza, todos no estado americano da Carolina do Norte.
Gorila-do-rio-cross

� a esp�cie mais rara de grandes s�mios do mundo — e apenas cerca de 300 vivem na natureza, em �reas montanhosas na Nig�ria e em Camar�es.
Desconfiados dos humanos, eles raramente s�o vistos, e o WWF diz que est�o espalhados em pelo menos 11 grupos.
A ca�a e a perda de habitat s�o as principais amea�as aos gorilas. Mas outra ONG, a Wildlife Conservation Society (WCS), acredita que h� motivos para esperan�a.
"Antes considerados extintos, os gorilas-do-rio-cross est�o voltando. Essa recupera��o foi apoiada pela WCS em colabora��o com comunidades locais e parceiros governamentais, como o Servi�o Nacional de Parques da Nig�ria, e financiada por doadores internacionais", afirmou Andrew Dunn, diretor do escrit�rio da WCS na Nig�ria, em comunicado.
Sirf�deos (moscas-das-flores) europeus

Esses insetos desempenham um papel crucial na poliniza��o e na reprodu��o das plantas.
Em outubro, a IUCN divulgou os resultados de um estudo que constatou que quase 40% das esp�cies europeias de sirf�deos (tamb�m conhecidos como moscas-das-flores) est�o amea�adas de extin��o — cinco s�o classificadas como criticamente amea�adas pela ONG.
A agricultura intensiva � o principal fator por tr�s da diminui��o das popula��es de sirf�deos.
"Para mudar o destino das moscas-das-flores, precisamos urgentemente transformar todos os setores de nossas economias, e especialmente a agricultura, para se tornarem favor�veis � natureza e sustent�veis", declarou Bruno Oberle, diretor-geral da IUCN, em comunicado.
-Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-64370807