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Estado de Minas LITERATURA

Brasil sa�da os 100 anos da eterna Clarice Lispector

Obra da escritora brasileira, traduzida para 32 idiomas, continua atual, gerando novos estudos e filmes, al�m de encantar novas gera��es de leitores


10/12/2020 04:00 - atualizado 10/12/2020 09:24

“Como � que voc� se sente quando l� meus livros? A� voc� tem a medida de como � que me sinto quando escrevo”, devolveu Clarice Lispector a Olga Borelli quando perguntada sobre por que escrevia. Foi dessa maneira que a autora terminou a carta enviada � amiga e assistente, em 29 de setembro de 1975.

Milhares de pessoas v�m respondendo a essa pergunta nas �ltimas oito d�cadas. A estreia da escritora foi com o conto Triunfo, publicado em 1940 na revista PAN, e em livro com o romance Perto do cora��o selvagem, de 1943. As respostas – perplexidade, inquietude, melancolia, ou uma alegria por identificar, atrav�s dos escritos dela, a chave para quest�es que nos tocam – s�o m�ltiplas.

“Os meus livros n�o se preocupam com os fatos em si porque, para mim, o importante n�o s�o os fatos em si, mas as repercuss�es dos fatos no indiv�duo”, escreveu Clarice na mesma missiva. Ao longo deste 2020, o centen�rio de nascimento da escritora vem levantando novas quest�es. Neste 10 de dezembro, dia de Clarice, a reuni�o de especialistas e f�s dever� dominar o meio digital.

M�LTIPLA 

Clarice Lispector escreveu romances, cr�nicas, contos e livros infantis. Ap�s sua morte, em 9 de dezembro de 1977, um dia antes de completar 57 anos, houve nova leva de obras, incluindo a� volumes dedicados a suas entrevistas e cartas (o volume Todas as cartas, lan�ado em setembro, re�ne 284 correspond�ncias da autora entre 1940 e 1970).

Desde novembro de 2019, a editora Rocco vem publicando edi��es comemorativas da obra completa dela. Com projeto gr�fico do designer Victor Burton, as reedi��es trazem na capa recortes das telas assinadas por Clarice – que pintou 22 quadros em sua vida.

Neste m�s do centen�rio, sai nova edi��o de A hora da estrela (1977), a �nica novela da escritora, publicada dois meses antes de sua morte. Um de seus livros mais populares, j� ultrapassou a marca de 1 milh�o de exemplares desde 1998, quando passou a ser editado pela Rocco.

A tr�gica hist�ria da migrante Macab�a � tamb�m o livro de literatura brasileira de autor cl�ssico mais vendido em 2020. A edi��o comemorativa tem posf�cio assinado pelo filho de Clarice, Paulo Gurgel Valente, que pela primeira vez escreve sobre a m�e.

Presente em 40 pa�ses, traduzida para 32 idiomas, essa autora est� sempre gerando novos estudos e releituras. Dois livros de editoras mineiras chegam �s livrarias neste m�s. Editado pela Aut�ntica, Feliz anivers�rio, Clarice, organizado pelo jornalista mineiro Hugo Almeida, doutor em literatura brasileira, tem como base a primeira antologia de contos dela, La�os de fam�lia (1960).

Almeida convidou 26 autores para relerem os 13 contos daquela obra. O time � diverso – da escritora paulistana Anna Maria Martins, de 96 anos, � ga�cha Bruna Br�nstrup, de 25, aqui estreando em livro. Al�m do organizador, autor de um dos textos, o volume re�ne 11 mineiros, como Ana Cec�lia Carvalho, Let�cia Malard, Guiomar de Grammont e Francisco de Morais Mendes.

“A diversidade de gera��es e origem dos autores ajudou bastante na distribui��o dos contos inspiradores. H� duas recria��es de 12 dos 13 contos de La�os de fam�lia e tr�s de Feliz anivers�rio. Em princ�pio, escolhi os contos de acordo com as caracter�sticas da obra ou tend�ncia de cada convidado. Procurei fazer com que, sempre que poss�vel, uma recria��o fosse feminina e outra masculina, de ficcionistas de idades e estados distantes”, explica Almeida.

A escolha por recriar La�os de fam�lia deve-se tanto pelos m�ritos do livro – “todos os 13 contos da colet�nea s�o antol�gicos”, afirma o organizador – quanto pelos 60 anos de sua publica��o original. Passado tanto tempo, a obra permanece.

“Como a obra de todo autor cl�ssico, a de Clarice Lispector n�o morre. Avessa � frivolidade, ela escreveu sobre a alma humana, a perplexidade do ato de viver, sobre a solid�o. Clarice mescla a agudez da dor com a mansid�o da alegria, sempre ef�mera”, opina Almeida.

CRIA��O 


Feliz anivers�rio, Clarice traz, al�m de textos in�ditos, o cap�tulo “G�nese dos contos”, em que autores falam sobre o processo de cria��o do trabalho. “Admiro quem recria contos de grandes escritores sem muito do original, e ao mesmo tempo sem deixar de trazer algo do clima, das personagens, do estilo do conto inspirador. Quase todos os participantes da colet�nea conseguiram essa proeza”, acrescenta o organizador.

De seara distinta � o volume Escrever de ouvido: Clarice Lispector e os romances da escuta (Relic�rio Edi��es), da paulista Mar�lia Librandi, professora do Departamento de Espanhol e Portugu�s na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos.

A obra foi lan�ada originalmente em ingl�s h� dois anos, pela editora da Universidade de Toronto. A edi��o brasileira, traduzida por Jamille Pinheiro Dias e Sheyla Miranda, traz orelha de Jos� Miguel Wisnik, que destacou: “No in�cio, parece estar o imposs�vel: escutar a pr�pria l�ngua”.

Mar�lia partiu de sua pr�pria experi�ncia como docente h� 11 anos em universidades norte-americanas para iniciar o estudo. “Estava dando um curso sobre A hora da estrela e citei uma frase de Rodrigo S. M. (narrador da hist�ria), em que ele se pergunta como escreve. Ele pr�prio responde que escreve de ouvido. Como estava na mesma viv�ncia, imersa em uma l�ngua estrangeira, comecei a pesquisar o que queria dizer ‘escrever de ouvido’”, ela conta.

OUVIDO 


Para a acad�mica, a escrita de ouvido tem, em primeiro lugar, rela��o direta com tocar um instrumento de ouvido ou aprender l�ngua estrangeira da mesma maneira. “Isso cria um paradoxo, pois a gente escreve com palavras, mas l� com os olhos. Ent�o, primeiramente, temos de aceitar o improviso, o erro, o equ�voco como parte da escrita. Voc� vai escrevendo com a sua intui��o, meio �s cegas.”

Para Mar�lia, a escrita de Clarice vai ao encontro dessa rela��o, pois ela “escreve a entrelinha”. “Uma imagem que ela usa muito, e pede para que os leitores usem, � escutar o que est� entre as linhas, ou seja, o que ela diz n�o est� no que diz, mas no intervalo. Outra consequ�ncia do que aprendi lendo Clarice � voc� escrever ouvindo o sil�ncio da escrita.”

A professora desenvolve o conceito de escrever de ouvido em diferentes imagens da obra clariceana. “Em A paix�o segundo G.H., quando a personagem entra no quarto da empregada e fica em contato com a barata, ela escuta uma vibra��o silenciosa. H� inclusive a frase ‘s� a minha parte auricular sentia’, que � como uma fala pelo ouvido. A quest�o ainda tem uma consequ�ncia social interessante, de deixar de ouvir a si mesmo a passar a ouvir os outros, como a Macab�a, personagem que n�o tem voz”, conclui ela.

Mar�lia Librandi est� � frente do projeto Clarice 100 Ears (ouvidos em portugu�s, uma brincadeira com years, ou seja, anos), de v�deos e podcasts, reunidos no site clarice.princeton.edu.

A HORA DA ESTRELA 
(EDI��O COMEMORATIVA)
.De Clarice Lispector 
.Rocco
.88 p�ginas
.R$ 29,90
(rocco.com.br)

ESCREVER DE OUVIDO: CLARICE LISPECTOR E OS ROMANCES DA ESCUTA
.De Mar�lia Librandi
.Relic�rio
.284 p�ginas
.R$ 49,50
(relicarioedicoes.com)

FELIZ ANIVERS�RIO, CLARICE
.Organiza��o de Hugo Almeida
.Aut�ntica
.272 p�ginas
.R$ 24,90
(grupoautentica.com.br)


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