
Os livros que deram origem aos filmes s�o do mesmo per�odo: A paix�o segundo G.H. foi publicado em 1964 e Uma aprendizagem ou O livros dos prazeres veio a p�blico cinco anos mais tarde. Benjamin Moser apontou, em Clarice, uma biografia (2009), que O livro dos prazeres � “uma esp�cie de �rf�o”.
“Ela (Clarice) sabia que seria dif�cil dar uma sequ�ncia � altura de A paix�o segundo G.H.... Na verdade, artisticamente, superar aquela obra atordoante seria dif�cil para qualquer escritor”, escreveu Moser.
Epifania
Para muitos a obra-prima de Clarice, G.H. traz a personagem-t�tulo, uma artista pl�stica de classe alta, que, ap�s a demitir a empregada, tem uma epifania ao encontrar com uma barata. A narrativa se d� por meio de intensos fluxos de consci�ncia.
J� O livro dos prazeres acompanha L�ri, uma professora de 30 anos que n�o se aprofunda nas rela��es at� conhecer Ulisses, tamb�m professor, s� que mais maduro. A obra se passa quase toda dentro do pensamento de L�ri.
Tais romances, n�o � preciso ir muito longe, s�o de dif�cil adapta��o. “Nesse sentido, gosto do poder de comunica��o que o cinema tem. O livro dos prazeres � mais abstrato, n�o tem come�o, meio e fim. Isso me deu liberdade de cria��o, de ousadia da linguagem, de poder expandir os limites”, comenta Marcela Lordy, que estreia em longas-metragens com esta produ��o.
No papel de L�ri est� a atriz Simone Spoladore, que atuou no projeto anterior da diretora, o telefilme A musa impass�vel (2011). Coprodu��o com a Argentina, O livro dos prazeres foi rodado no Rio de Janeiro, mas montado em Buenos Aires.
“Clarice sempre se sentiu estrangeira, e me vi nesta condi��o, pois sou de S�o Paulo e fiz o filme entre as duas cidades. Acho que isso fez bem para a narrativa”, diz Marcela Lordy.
A diretora chegou � adapta��o da obra clariceana depois de ouvir de Walter Salles, de quem foi assistente, que Fernanda Montenegro havia lhe dito que L�ri era a �nica personagem que gostaria de fazer e n�o fez, pois n�o tinha mais idade para tal.
“Fui meio ing�nua de escolher como primeiro filme algo dif�cil, houve horas que pensei em desistir”, revela Marcela, que dedicou a �ltima d�cada ao projeto.
“Quando se fala em personagens femininas, elas nunca s�o protagonistas. Quando s�o, n�o s�o legais, ou sempre sofridas. Nos �ltimos 10 anos houve uma evolu��o e as personagens femininas ganharam for�a no cinema, encontraram sua pr�pria voz. Clarice lan�ou o livro um ano depois de 1968, com o AI-5, e faz uma revolu��o feminista para o lado de dentro”, diz a diretora.
Maria Fernanda C�ndido interpreta G.H., a ic�nica personagem de Clarice. O filme vir� a p�blico exatos 20 anos depois de Luiz Fernando Carvalho lan�ar seu longa anterior, Lavoura arcaica, do romance de Raduan Nassar, tamb�m considerado “inadapt�vel”. Foi durante a montagem de Lavoura, por sinal, que Carvalho passou a se dedicar � leitura mais atenta de G.H.

ESTRELA
A obra de Clarice, dada sua import�ncia, gerou poucos longas. O mais importante � A hora da estrela (1985), filme que lan�ou n�o s� a carreira da diretora Suzana Amaral na fic��o como levou Marc�lia Cartaxo para o cinema.
Esta novela, �ltima publica��o de Clarice em vida (saiu poucos meses antes de sua morte, em 9 de dezembro de 1977), � tamb�m uma das narrativas mais importantes de sua obra.
Marc�lia, ent�o com 19 anos, deixou Cajazeiras, no interior do Para�ba, de �nibus para filmar Macab�a em S�o Paulo. At� ent�o, s� havia visto Suzana Amaral uma vez. Conheceu a obra de Clarice, de quem nunca ouvira falar, por causa do filme.
A hora da estrela foi rodado em 28 dias, em pel�cula de 35mm. Os atores n�o podiam errar, pois a cena filmada era a que iria valer. Como n�o havia som direto, seis meses depois das filmagens Marc�lia voltou a S�o Paulo para dublar o filme.
“Na dublagem, a Suzana olhava e dizia: ‘Meu Deus, quem � que vai gostar do filme? S� tem gente feia.’”, conta ela. Em 1986, no Festival de Berlim, Marc�lia levou o Urso de Prata de Melhor atriz pelo papel.
O cinema ainda assistiu a outros dois longas adaptados de livros de Clarice, ambos dirigidos por Jos� Ant�nio Garcia e estrelados por Carla Camurati: Estrela nua (1984, codire��o com �caro Martins) e O corpo (1991), com Ant�nio Fagundes e Marieta Severo no elenco.
HOJE � DIA DE CLARICE
» A editora Rocco promove uma s�rie de lives ao longo desta quinta-feira (10). �s 11h, Teresa Montero fala sobre a nova edi��o de Eu sou uma pergunta: Uma biografia sobre Clarice Lispector, que prepara para 2021. �s 13h, Z�lia Duncan faz leitura de Todas as cartas. �s 14h, o editor Pedro Vasquez fala sobre o desafio de editar a literatura clariceana. �s 19h, ser� exibido minidocument�rio com Victor Burton sobre o novo projeto gr�fico dos livros da escritora, relan�ados este ano. �s 22h, o sarau Vig�lia Clarice 100 anos ter� in�cio com a participa��o do p�blico. Ainda nesta quinta-feira, a editora lan�a podcast sobre A hora da estrela, com Andr� Paes Leme e Laila Garin, diretor e atriz do musical hom�nimo.
.As lives ser�o transmitidas pelo instagram.com/editorarocco. Gratuito.
» Evento virtual homenageia o centen�rio de Clarice e os 80 anos de publica��o de sua obra de estreia, o conto Triunfo, lan�ado em maio de 1940 na revista PAN. Participam a escritora e pesquisadora Maria Mortatti, o escritor e professor Rog�rio Duarte, a pesquisadora e professora N�dia Battella Gotlib e o escritor e editor Jo�o Scotecci.
.Das 16h �s 18h, na plataforma Zoom (ID de acesso 725 467 53 53). Gratuito.
» Evento on-line As adapta��es liter�rias da obra de Clarice Lispector para o audiovisual. Com Nicole Algranti, cineasta e sobrinha-neta da escritora, diretora do document�rio De corpo inteiro – Entrevistas e do curta O ovo; Taciana Oliveira, diretora do document�rio A descoberta do mundo; e Teresa Montero, autora dos livros O Rio de Clarice e Eu sou uma pergunta.
.�s 16h, em youtube.com/sescsp. Gratuito.
» Palestra “Clarice Lispector e o inquietante”, com o professor Luiz Lopes, do curso de letras do Cefet-MG.
.�s 11h, em youtube.com/c/ AcademiaMineiraDeLetras. Gratuito.
» Aula “Como Clarice Lispector pode mudar sua vida”. Com os escritores N�lida Pi�on, Simone Paulino, Aline Bei, Valter Hugo M�e e Leonardo Tonus; as atrizes Maria Fernanda C�ndido e Leona Cavalli; e o performer Wagner Schwartz.
.Das 19h �s 21h, pela plataforma Zoom. Valor: R$ 157. Inscri��es: theschooloflife.com/saopaulo e (11) 99179-6714.
» At� dia 15, o F�rum das Letras promove encontros virtuais em torno de Clarice. Hoje, �s 15h, “O livro das horas: A hora das estrelas” ter� a presen�a de N�lida Pi�on. Sexta (11), das 14h �s 16h, minicurso “Clarice: uma vida que se conta”, com N�dia Battella Gotlib. Dia 15, �s 11h, palestra “Em torno das perguntas de Clarice”, com J�lia Panad�s e Juliano Garcia Pessanha, e �s 17h, palestra “Clarice, hoje”, com Claire Varin e Simone Paulino.
.Informa��es e acesso aos links de transmiss�o: forumdasletras.com. Gratuito.
» O solo Na sala com Clarice, com o ator Odilon Esteves, faz temporadas aos s�bados, �s 20h, e domingos, �s 19h, at� 31 de dezembro. Nesta quinta (10), haver� sess�o especial, �s 20h. O projeto ter� tamb�m ciclo de palestras com N�dia Battella Gotlib (dia 14, �s 19h), Noemi Jaffe (11 de janeiro, �s 19h) e Maria Homem (25 de janeiro, �s 19h).
.Sess�es transmitidas pela plataforma Zoom. Ingressos: sympla.com.br/nasalacomclarice. Gratuito.
» A biblioteca sonora Clarice 100 Ears, ligada ao Brazil LAB, da Universidade de Princeton (EUA), re�ne artistas, estudiosos e f�s lendo trechos da obra da escritora em diferentes idiomas. Nesta quinta-feira, Chico Buarque l� trechos da cr�nica �gua do mar.
.Confira em https://clarice.princeton.edu