
O terceiro longa-metragem do casal de realizadores Mar�lia Hughes Guerreiro e Cl�udio Marques teve a estreia nos cinemas em dezembro passado, implodida em decorr�ncia da pandemia do novo coronav�rus – em Salvador, por exemplo, ficou uma semana em cartaz, j� que os cinemas da capital baiana foram fechados logo depois. Agora, com sua chegada � Netflix, o filme tem a chance de ter a devida visibilidade.
“Eu as vejo muito pr�ximas”, diz Marques. “Ainda que tenha sido criada muito longe da av�, a reconex�o entre elas vai mostrar que as duas s�o da mesma fornada. Mulheres fortes, determinadas, dispostas a fazer muita coisa para valer sua vontade. Como est�o em um meio extremamente machista, isso faz com que a jornada delas seja �rdua.”
Salvador � encantadora, maravilhosa, mas terr�vel tamb�m. Desafia muito a gente, como todas as grandes capitais. A gente filmou a Salvador em que vive. A casa de Maria � no bairro Santo Ant�nio, onde moramos. Elementos dos afrodescendentes, como a capoeira e o candombl� (presentes no filme), s�o importantes para n�s''
Cl�udio Marques, codiretor (com Mar�lia Hughes Guerreiro) de Guerra de algod�o
SIL�NCIO
A jornada de que fala o diretor � contada de forma quase silenciosa. A mulher mais jovem e a mais velha pouco se falam. Disposta a fazer de tudo para voltar para a Alemanha, Dora descobre, no meio do caminho, a raz�o pela qual a av� abandonou o marido e a filha. Foi uma atriz feminista e abriu m�o da fam�lia por causa da carreira. Mesmo que viva em outro tempo, a neta se d� conta dos tra�os do machismo, que ela tamb�m enfrentar�.“Por tudo o que vivenciou, a av� tem medo de se aproximar da neta”, acrescenta o diretor. Estreante em cinema, Dora Goritzki foi selecionada em um casting feito com outras 300 adolescentes. A experi�ncia de ter vivido na Alemanha, assim como a personagem, foi decisiva para sua escolha para o papel.
Dora � a personagem que est� o tempo todo em cena, em uma Salvador que foge do clich�. “Normalmente, os filmes mostram pessoas daqui que v�o embora. Nossa ideia era justamente o contr�rio.”
Guerra de algod�o � um filme de loca��o, que explora tanto a esfera p�blica quanto a privada da cidade. “Salvador � encantadora, maravilhosa, mas terr�vel tamb�m. Desafia muito a gente, como todas as grandes capitais. A gente filmou a Salvador em que vive. A casa de Maria � no bairro Santo Ant�nio, onde moramos. Elementos dos afrodescendentes, como a capoeira e o candombl� (presentes no filme), s�o importantes para n�s”, comenta Marques.
Antes de chegar a este filme, os cineastas fizeram sete curtas e os longas Depois da chuva (2013) e A cidade do futuro (2016). “A Mar�lia � muito da imagem e eu, da palavra. Os dois universos foram se conectando, e eu fui aprendendo com ela (e vice-versa)”, diz Marques.
Previsto para chegar aos cinemas no primeiro semestre de 2020, Guerra de algod�o teve um lan�amento nas salas muito restrito em dezembro. “Eu, que sou uma pessoa ligada em sala de exibi��o (� coordenador do Espa�o Ita� de Cinema – Glauber Rocha), fiquei bem triste. Para mim, ainda hoje o cinema � o principal local para um filme ser apreciado.”
A chegada � Netflix, no entanto, � comemorada. “� contradit�rio, mas, por um lado, estou muito feliz em saber que o filme vai ser visto por muito mais gente. A gente, que vem do cinema independente, tinha como primeira meta (quando come�aram a fazer filmes) reconquistar o lugar nos festivais internacionais. E acho que isso foi muito bem feito pela minha gera��o. Hoje, os filmes brasileiros v�o para muitos festivais. Ent�o, agora o que a gente quer � ser visto cada vez mais pelo p�blico.”
GUERRA DE ALGOD�O
• O filme de Mar�lia Hughes Guerreiro e Cl�udio Marques est� dispon�vel na Netflix