(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas LITERATURA

Martha Medeiros comenta a obra de Caio Fernando Abreu

Escritora ga�cha � a convidada do projeto Letra Em Cena desta ter�a-feira (11/5), com transmiss�o pelo canal do Minas T�nis Clube no YouTube


11/05/2021 04:00 - atualizado 11/05/2021 07:05

Martha Medeiros conheceu Caio Fernando Abreu quando ele morava em São Paulo.
Martha Medeiros conheceu Caio Fernando Abreu quando ele morava em S�o Paulo. "Ele buscava um lugar, at� que se deu conta de que o seu lugar era o texto", afirma (foto: Carin Mandelli/Divulga��o )

"Hoje em dia a vida est� t�o din�mica e corrida que as pessoas n�o param para analisar o que est�o sentindo. Tudo dura segundos, minutos, instantaneamente se passa do amor para o �dio. Ontem j� � pr�-hist�ria, hoje os assuntos j� mudaram. A gente quase se sente obrigada a ir para a frente, mesmo que n�o queira"

Martha Medeiros, escritora


“A poesia de Martha acontece o tempo todo, do lado de dentro ou de fora da gente. Ent�o comove.” Foi em 1987 que Caio Fernando Abreu (1948-1996) escreveu a apresenta��o de “Meia-noite em um quarto”, segundo livro de Martha Medeiros, ent�o uma jovem poeta ga�cha. 

Os dois haviam se conhecido um ano antes, em um almo�o na casa dele, em S�o Paulo, um momento �nico na vida dela, que o tinha como refer�ncia desde a adolesc�ncia. “Nunca cheguei t�o perto de um �dolo quanto naquele almo�o”, relembra hoje a escritora, que, mesmo tendo iniciado a carreira na poesia, consagrou-se popularmente por meio da cr�nica (“Doidas e santas”) e da fic��o (“Div�”).  

Martha Medeiros � a convidada desta semana do Letra em Cena On-Line. Nesta ter�a-feira (11/5), �s 20h, no canal do YouTube do Minas T�nis Clube, que promove o projeto,ela conversa com o jornalista Jos� Eduardo Gon�alves sobre a obra de Caio Fernando Abreu. O encontro virtual ter� ainda leitura de trechos de textos do escritor ga�cho feita pelo ator Odilon Esteves.

“O Caio est� muito misturado com a sua obra, ele � o seu pr�prio texto. Estava sempre procurando um lugar, nunca satisfeito onde estava. Se estava em Porto Alegre, queria ir para S�o Paulo. Em S�o Paulo, queria ir para Londres. Sua alma estava entre o estrangeiro e o exilado. Ele buscava um lugar, at� que se deu conta de que o seu lugar era o texto”, afirma Martha, na entrevista a seguir.

LETRA EM CENA ON-LINE
Martha Medeiros fala sobre Caio Fernando Abreu. Nesta ter�a-feira (11/5), �s 20h, no canal do YouTube do Minas T�nis Clube (youtube.com.br/minastcoficial)

"Estamos precisando de uma vacina que n�o seja s� contra o corona, mas tamb�m contra o baixo astral, contra a agressividade, o insulto, o pr�-julgamento. Precisamos buscar algo enriquecedor, valorizar a arte, pois estamos muito pobres. � pol�tica ou pandemia, que s�o duas trag�dias. Onde � que est� a luz?"

Martha Medeiros, escritora


ENTREVISTA

Como voc� e Caio Fernando Abreu se conheceram?

Nos anos 1970 havia a revista “Pop”, porta-voz dos jovens.  Caio era um dos redatores; e eu,  uma leitora. Depois, li “Morangos mofados” (1982), que me abriu um portal em termos de literatura e de investiga��o emocional. Lancei “Striptease” (1985) na mesma cole��o (“Cantadas liter�rias”) de “Morangos...”. Um dia, acho que no in�cio de 1986, eu estava em S�o Paulo, e ele morava l� com um amigo meu. Ele me disse que o Caio queria me conhecer, me convidou para almo�ar na casa dele. Quase infartei. Nunca cheguei t�o perto de um �dolo quanto naquele almo�o. Passamos, depois disto, a trocar cartas. Ele continuou em S�o Paulo, depois viajou para a Europa, e passei a v�-lo em sess�es de aut�grafos em Porto Alegre. N�o vou te dizer que era amiga, nos vimos muito pouco, mas mantivemos o carinho.

Que impacto a obra dele teve em voc�?

O maior impacto foi com “Morangos mofados”. Eu era uma menina, estava passando pela primeira dor de cotovelo e, quando li, vi que o que sentia n�o era uma coisa estranha, era comum aos seres humanos. Saber que h� outras pessoas (que sentem o mesmo que a gente) nos torna menos solit�rios. Era como uma m�o invis�vel fazendo cafun�. Caio tem outras coisas espetaculares, como os contos “Natureza viva” e “Aqueles dois”. Ele me ajudou a me entender e me ensinou a ver beleza na dor. 

Que rela��es se pode fazer entre a obra dele com os dias de hoje?

Hoje em dia a vida est� t�o din�mica e corrida que as pessoas n�o param para analisar o que est�o sentindo. Tudo dura segundos, minutos, instantaneamente se passa do amor para o �dio. Ontem j� � pr�-hist�ria, hoje os assuntos j� mudaram. A gente quase se sente obrigada a ir para a frente, mesmo que n�o queira. Ent�o o sentimento do Caio, pois a emo��o � a mat�ria prima da obra dele, se tornou quase como se fosse um colo para as pessoas. O Caio abria muito tempo para os sentimentos dele, e acho que isto, de certa forma, se tornou uma novidade para os dias de hoje.   

O que a pandemia provocou em voc�?

O isolamento n�o foi um sufoco, pois j� venho trabalhando em casa h� milh�es de anos, sou caseira por natureza, introvertida. Aproveitei para transformar um roteiro de cinema em um livro de fic��o (o romance “A claridade l� fora”, lan�ado em outubro). Mas 2020 e 2021 est�o sendo muito diferentes para mim. Eu tinha posto na cabe�a que a pandemia iria durar um ano. Quando chegou o Ano Novo, Era de Aquarius, pensei: ‘o pior j� passou’. A�, qual a minha perplexidade, nada tinha passado, a segunda onda foi muito violenta, as mortes aumentaram. Ent�o entrei, e ainda estou, em um processo de avalia��o pessoal. Vou fazer 60 anos em agosto, estou reavaliando tudo, vendo o que quero daqui para a frente, j� que a gente n�o sabe direito o que ser� do futuro. Estou numa fase bastante reflexiva e tamb�m assustada com o pa�s, com a polariza��o, com a viol�ncia f�sica e verbal. Estamos precisando de uma vacina que n�o seja s� contra o corona, mas tamb�m contra o baixo astral, contra a agressividade, o insulto, o pr�-julgamento. Precisamos buscar algo enriquecedor, valorizar a arte, pois estamos muito pobres. � pol�tica ou pandemia, que s�o duas trag�dias. Onde � que est� a luz?

De que maneira a trag�dia influenciou na sua escrita?

Afetou muito. Antes eu escrevia sobre diversos assuntos: relacionamentos amorosos, filmes, pe�as. A minha vida cultural est� hoje resumida a livros, pois n�o h� cinema, teatro, n�o estou viajando. E, mesmo quando quero falar de assuntos prosaicos, a impress�o que tenho � que estou alienada. L� fora est� um caos, mais de 400 mil pessoas morrendo, ent�o fico meio culpada, parecendo uma mulher fora do mundo. Vejo que os assuntos que abordava antes hoje parecem inapropriados para o mundo. Minha pauta mudou.

Voc� � ativa nas redes sociais. O que esta proximidade com o leitor te provoca?

Rede social � bom porque d� uma lustrada no seu ego. Voc� est� ali quase que editando sua pr�pria revista “Caras”. Essa coisa do ego me deixa um pouco envergonhada. Fa�o uso para divulgar meu trabalho, um coment�rio de algo que acho legal, incentivo a leitura. � bom saber que tem mais de 100 mil pessoas te acompanhando, d� uma sensa��o de pertencimento. Antes a gente vivia com 10, 20, 30 pessoas. Verdadeiros amigos, amor e fam�lia, e est�vamos preenchidos. Hoje estamos muito ligados em n�meros, e � tudo muito irreal. Fa�o porque a �poca em que vivo � assim, mas sem perder a no��o de que isso � uma f�bula.

Por sua atua��o na imprensa, tem que escrever cotidianamente. D� trabalho ser cronista?

Quando iniciei a carreira, tudo flu�a com mais facilidade, porque eu n�o tinha tantos compromissos e tinha  todos os assuntos do mundo para abordar. Eu me sentia mais leve e livre. Agora, s�o 27 anos escrevendo para jornal, o que me d� a impress�o de que j� escrevi sobre tudo. Presto mais aten��o ao que estou escrevendo. E h� todo o entorno: palestras, lives, responder e-mail, mat�ria para revista, programa. S�o coisas que vieram por eu ser colunista de jornal. Mas n�o reclamo, adoro fazer, trabalhar em casa. Mas eu determino meu pr�prio ritmo, abro espa�o para a minha vida pessoal. Preciso do meu tempo para namorar, ler, ver filme na TV. N�o sou workaholic, respeito muito o momento de estar comigo mesma, alimentando a vida com outras coisas. 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)