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Estado de Minas

Em Cannes, "Medusa", exibido nesta segunda, trata sobre religi�o e machismo

No filme brasileiro de Anita Rocha da Silveira, protagonista evang�lica � pressionada para ser prefeita e, por isso, busca a liberdade em outros lugares


12/07/2021 04:00 - atualizado 12/07/2021 07:29
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Brasileiro 'Medusa' participa de mostra paralela dedicada à produção independente de novos cineastas. Protagonista evangélica é pressionada para ser perfeita e, por isso, busca a liberdade em outros lugares
Brasileiro "Medusa" participa de mostra paralela dedicada � produ��o independente de novos cineastas. Protagonista evang�lica � pressionada para ser perfeita e, por isso, busca a liberdade em outros lugares (foto: Bananeira Filmes/Divulgacao)

"Em 2015, me deparei com uma s�rie de not�cias sobre ataques violentos a garotas adolescentes, realizados por outras jovens mulheres. Elas atacavam em grupo, na maior parte dos casos por considerarem a v�tima 'prom�scua'"

Anita Rocha da Silveira, cineasta


Depois do impacto causado pela sess�o de “O marinheiro das montanhas”, de Karim A�nouz, cujo final da exibi��o na sexta (9/07) foi marcado por uma faixa vermelha com os dizeres “Brasil: 530 mil mortos. Fora, g�ngster genocida”, a crise sanit�ria no Brasil voltou � cena no Festival de Cannes. A equipe do filme brasileiro "Medusa" exibiu ontem (11/07) no tapete vermelho a seguinte mensagem, em ingl�s: "533 mil morreram no Brasil de uma doen�a para a qual j� tem vacina." O protesto ocorreu durante a apresenta��o do filme italiano "Tre piani".

“Medusa”, da carioca Anita Rocha da Silveira, ser� exibido nesta segunda (12/7)  na Quinzena dos Realizadores, mostra paralela dedicada � produ��o independente de novos cineastas. Nove anos atr�s Anita lan�ou na mesma mostra o curta “Os mortos-vivos”. Produzido pela mineira V�nia Catani, da Bananeira Filmes, o filme � ambientado num Brasil do futuro, mas que traz uma rela��o com os dias atuais. Religi�o, direita e machismo est�o na pauta.

Mari (Mariana Oliveira) � uma das Preciosas do Altar, um coral de uma igreja neopentecostal. Funcion�ria de uma cl�nica de est�tica, ela sente uma press�o grande para ser perfeita. At� que um acidente faz com que ela seja abandonada pelo grupo a que pertence, e passa a procurar a liberdade em outros lugares.

A narrativa, ainda que tenha um qu� de distopia, tem uma base factual. “Nos �ltimos anos, presenciamos uma parcela da sociedade brasileira defender o retorno a uma valoriza��o de um modelo de mulher devota ao homem; ou melhor, ‘bela, recatada e do lar’. Al�m disso, em 2015 me deparei com uma s�rie de not�cias de jornais sobre ataques violentos a garotas adolescentes, realizados por outras jovens mulheres. Elas atacavam em grupo, na maior parte dos casos por considerarem a v�tima ‘prom�scua’”, afirmou a diretora.

PALMA DE OURO 

Cannes entra hoje em sua semana decisiva. A Palma de Ouro ser� concedida no s�bado (17/07) pelo j�ri presidido por Spike Lee, que prometeu "n�o ser um ditador". "Prometi aos jurados que n�o seria um ditador, que seria democr�tico... mas at� certo ponto, porque se o j�ri estiver dividido quatro contra quatro, sou eu quem decide!", declarou, com humor, o cineasta. Vinte e quatro produ��es est�o na disputa pelo pr�mio principal.

Wes Anderson com "A cr�nica francesa" e seu elenco de luxo – Bill Murray, Adrien Brody, Tilda Swinton e Benicio del Toro – aterrissar�o na Croisette nesta segunda. Dois outros vencedores da Palma de Ouro, o franc�s Jacques Audiard e o tailand�s Apichatpong Weerasethakul, assim como o iraniano Asghar Farhadi e o russo Kirill Serebrennikov, tamb�m apresentar�o seus trabalhos nesta semana.

At� agora, os cr�ticos foram especialmente convencidos por "Annette", o musical explosivo e exc�ntrico estrelado por Adam Driver e Marion Cotillard que abriu o festival. Mas "Benedetta", do holand�s Paul Verhoeven, um coquetel de religi�o e lesbianismo ambientado na It�lia do s�culo 17, vem logo atr�s.

Como as protagonistas femininas dos filmes anteriores de Verhoeven, "Instinto Selvagem" (Sharon Stone) e "Elle" (Isabelle Huppert), Benedetta, uma freira l�sbica interpretada pela francesa Virginie Efira, desenvolve uma capacidade de manipula��o que transforma a congrega��o em que vive desde crian�a.

A competi��o marca a volta do cinema mundial �s telonas depois que a pandemia fechou os cinemas e cancelou festivais ao redor do mundo, com algumas exce��es como o Festival de Veneza, na It�lia, e de San Sebasti�n, na Espanha. 

Diretora Anita Rocha da Silveira (3ª à esq.) e elenco de 'Medusa' protestaram ontem em Cannes, antes da exibição de 'Tre piani': '533 mil morreram no Brasil de uma doença para a qual já tem vacina'
Diretora Anita Rocha da Silveira (3� � esq.) e elenco de "Medusa" protestaram ontem em Cannes, antes da exibi��o de "Tre piani": "533 mil morreram no Brasil de uma doen�a para a qual j� tem vacina" (foto: John MacDougall/AFP)
MULHERES 

Por isso, Cannes incluiu filmes rodados antes e durante a crise sanit�ria e alguns t�m como fator comum personagens prisioneiros de seu pr�prio tormento, como Adam Driver em "Annette", o israelense Avshalom Pollak, em "Ahed's Knee", e a norueguesa Renate Reinsve, atriz revela��o por seu papel em "The worst person in the world".

As mulheres tamb�m ocupam lugar de destaque, seja com temas sobre o aborto, como no chadiano "Lingui", ou o amor entre elas, como em "Benedetta", o franc�s "La fracture" e o finland�s "Compartment no.6".

O italiano Nanni Moretti exibiu ontem na competi��o principal “Ter piani”. Duas d�cadas depois de "O quarto do filho", o cineasta tenta sua segunda Palma de Ouro. Com um cinema t�o pessoal quanto pol�tico, o italiano est� entre os grandes nomes do cinema europeu e foi indicado seis vezes em Cannes.

Como muitos dos filmes apresentados este ano, "Tre piani" � baseado em um romance. Nesse caso, � a obra hom�nima do escritor israelense Eshkol Nevo, um olhar sobre a sociedade de seu pa�s atrav�s dos inquilinos de um mesmo pr�dio em Tel Aviv. Moretti, de 67 anos, mudou a trama para Roma e, como de costume em sua filmografia, aparece em um dos pap�is, como magistrado.

Dois outros filmes que concorrem ao pr�mio principal foram apresentados neste domingo (11/07): o japon�s "Drive my car", adapta��o de uma pe�a do escritor Haruki Murakami assinada por Ryusuke Hamaguchi, e "Bergman Island", da francesa Mia Hansen-Love. Este �ltimo � a chance de o Brasil levar o pr�mio m�ximo pelas tabelas, j� que � uma coprodu��o com a RT Features, de Rodrigo Teixeira.

VOLTA POR CIMA 

Estrelas de Hollywood marcaram presen�a no fim de semana. Sean Penn foi aplaudido no s�bado (10/07) durante v�rios minutos ao final da exibi��o de "Flag Day". Cinco anos atr�s Cannes em peso vaiou outro filme de Penn, “A �ltima fronteira”, com Jarvier Bardem e Charlize Theron. O filme foi t�o criticado que nem chegou aos cinemas nos Estados Unidos.

O ator e diretor assistiu � estreia oficial do filme, na disputa pela Palma de Ouro, com sua filha Dylan, a protagonista, e seu filho Hopper Jack, que tem um papel coadjuvante. “Confiamos no roteiro, com uma hist�ria que pode nos surpreender e que esperamos que surpreenda o p�blico”, declarou o cineasta de 60 anos ao chegar ao tapete vermelho.

Penn assume fun��es duplas no filme, como diretor e ator, interpretando John Vogel, um ladr�o de banco na vida real e vigarista. O anivers�rio do personagem cai em 14 de junho, inspirando assim o t�tulo do filme. Dylan interpreta sua filha Jennifer, uma aspirante a jornalista que luta com seu relacionamento fragmentado com a fam�lia.

Ontem pela manh�, na coletiva de imprensa, Penn mirou no governo Donald Trump. Descreveu a antiga administra��o americana como “obscena” e disse que a rea��o do ex-presidente � pandemia da COVID-19 foi a pior poss�vel. "Parecia realmente que algu�m atirava nas pessoas com uma metralhadora de sua torre na Casa Branca".
O coment�rio sobre Trump foi feito em resposta a pergunta sobre sua ONG Core (Community Organized Relief Effort) no combate � COVID. Criada em 2010 para auxiliar as v�timas do terremoto no Haiti, a Core, no in�cio da pandemia, passou a atuar na tentativa de controlar a doen�a.

Em abril, a ONG anunciou a doa��o de cerca de US$ 10 milh�es (R$ 52,6 mi) para ampliar a capacidade de atendimento em centros de sa�de e postos de vacina��o do Rio de Janeiro. “A situa��o nos lugares em que minha organiza��o trabalha hoje, Brasil, �ndia, � de tanto desespero. N�s estamos em uma situa��o muito mais favor�vel aqui”, disse.

“Flag Day” segue uma s�rie de estreias emocionantes em um festival que muitos acreditavam ser imposs�vel de encenar enquanto o mundo luta contra a pandemia do coronav�rus.

FANTASMA DO V�RUS 

Ainda que esta edi��o de Cannes venha mostrar a for�a da ind�stria cinematogr�fica que vive em uma crise sem precedentes desde o in�cio da pandemia, o fantasma do v�rus est� presente. Ap�s a divulga��o de um caso de COVID-19 na equipe do filme israelense “Ha’Berech”, o diretor do festival, Thierry Fr�maux, afirmou no s�bado (9/07) que n�o h� motivo para preocupa��o sobre uma contamina��o mais ampla.

Mas a pandemia foi a causa de outra m� not�cia para Cannes: a atriz L�a Seydoux, que est� em tr�s filmes da competi��o principal que ser�o exibidos nesta semana, contraiu o coronav�rus em Paris. A francesa j� foi vacinada e est� assintom�tica. At� ontem sua presen�a era incerta.

Nesta segunda, ser� a premi�re de “A cr�nica francesa”, de Wes Anderson, que conta com Seydoux no elenco. A atriz deveria participar outras duas sess�es de gala, em que diretor e atores posam para as fotos e sobem as escadas revestidas de tapete vermelho sem usar m�scaras. Ela tamb�m est� em “Fran�a”, de Bruno Dumont e “The story of my wife”, de Ildik� Enyedi.


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