
“A hora da estrela ou O canto de Macab�a” estreia temporada h�brida no CCBB-BH, nesta quarta-feira (14/07). A atriz Laila Garin vive a protagonista Macab�a na montagem musical, mesclando o papel de personagem e narradora na adapta��o de Andr� Paes Leme. A trilha sonora � assinada por Chico C�sar, que comp�s as faixas inspiradas na obra “A hora da estrela” (1977), de Clarice Lispector (1920-1977).
“A hora da estrela” � o �ltimo romance publicado por Clarice, sendo lembrado como a obra com maior teor social na trajet�ria da escritora. A trama narra a saga de Macab�a, uma nordestina que migra para o Rio de Janeiro e n�o atrai a aten��o de ningu�m. Ela � oprimida pelo patr�o, ganha menos de um sal�rio e divide o quarto com quatro pessoas. Na obra, a invisibilidade da personagem atrai os olhares de um escritor, que decide contar a hist�ria dessa mulher, que, segundo ele, n�o tem nem “pobreza enfeitada”.
Laila Garin n�o esconde a emo��o com a oportunidade de interpretar a protagonista no ano que marca o centen�rio de Clarice Lispector. Ela conta que a personagem � uma refer�ncia em sua carreira, desde que assistiu ao filme “A hora da estrela” (1985), de Suzana Amaral.
“Foi uma inspira��o para v�rios trabalhos, pesquisas de personagens que fiz ao longo da vida, que nem eram Macab�a. Acaba sendo a realiza��o de um sonho. � um �cone para mim quase inating�vel, que eu tinha essa refer�ncia dessa personagem. Macab�a � um mergulho na empatia, no amor, na n�o reatividade. � um privil�gio grande poder fazer uma homenagem, encenar um cl�ssico desse no centen�rio de Clarice”, afirmou Laila, de 43 anos.
''Macab�a � um mergulho na empatia, no amor, na n�o reatividade. � um privil�gio grande poder fazer uma homenagem, encenar um cl�ssico desse no centen�rio de Clarice''
Laila Garin, atriz
CAMISA DE FOR�A
A atriz acredita que “A hora da estrela” representa todas as pessoas inviabilizadas na sociedade brasileira. “Existe uma opress�o velada, que faz com que as pessoas n�o sonhem, n�o cobicem as coisas, porque acham que n�o t�m direito. Macab�a acha que n�o tem direito de desejar, de sonhar, e essa � a maior camisa de for�a, a maior opress�o que a gente tem, sem querer minimizar a viol�ncia real e concreta”, explica.Ela afirma que a obra tamb�m dialoga com certas realidades presentes no pa�s. “Muita gente ainda acha que n�o tem o direito de sonhar, ent�o nem ousa desejar, por exemplo, ser curado, ter uma vacina, ir para a escola. Acha que � inferior, assim como Macab�a.”
Neste sentido, a atriz diz que a pe�a transmite uma mensagem de empoderamento. “A Macab�a fala que n�o acha que � gente. Na hora de morrer, ela v� que o sangue dela � vermelho, igual ao de todo mundo. Mas ela foi t�o oprimida que achava que n�o. � uma mensagem de empoderamento para todos”, destaca.
Na adapta��o de Andr� Paes Leme, o papel de narrador se mistura com o de atriz. Em vez de um escritor acompanhando a jornada de Macab�a, a contextualiza��o e a encena��o da hist�ria ficam a cargo de Laila. Ela conta que trabalhou em conjunto com o diretor para fazer a tradu��o da metalinguagem proposta em “A hora da estrela”. Na montagem, a artista surpreendentemente vai se apaixonando pela personagem, que, assim como no livro, � maltratada pelo patr�o, invisibilizada pela sociedade e n�o reage � opress�o.
“Acaba que essa metalinguagem se mistura mesmo com a realidade. Essa personagem que eu fa�o, na verdade, sou eu mesma”, revela Laila. Ela afirma que a experi�ncia foi um desafio pelo fato do papel ser muito diferente dos seus �ltimos trabalhos. A atriz ficou famosa por fazer mulheres fortes e que reivindicam seu espa�o, como Joana, em “Gota d'�gua”, e Elis Regina, no musical “Elis”.
“Pra mim, essas coisas se confundem (o personagem e atriz). Por que � paix�o minha fazer essa personagem (Macab�a)? Ela me incomoda, ela n�o reage. Aos poucos, ao longo da pe�a, ela vai se apaixonando e entendendo que � uma outra via de revolu��o. Macab�a, atrav�s dessa n�o reatividade, acaba me ensinando muito sobre o amor, a delicadeza e est� sendo transformador”, afirma.

PERSONALIDADES
Laila acredita que a adapta��o para uma atriz que interpreta a personagem, em vez de um escritor narrando a hist�ria, foi o ideal. “�s vezes, para ser fiel, voc� tem que mudar, porque o suporte n�o � mais livro, � o teatro, o palco. Ent�o, nada melhor do que ser atriz nessa tradu��o”, confessa.A atriz afirma que o ac�mulo de pap�is gera o desafio da “n�o atua��o”. “� falar diretamente para o p�blico aqui e agora. Tem o texto, que � todo memorizado, de Clarice, mas como se fosse meu e como se estivesse improvisando, naquela hora. � o mais direto, o mais simples, o mais n�o atuado poss�vel”, relata.
Neste processo, Laila teve que se esfor�ar para viver uma personagem que possui uma personalidade absolutamente oposta � sua. “Sou reativa, que � mais col�rica, ent�o, pra mim, � trabalhar o meu oposto fazendo a Macab�a, que � tuberculosa, fr�gil, magra. Ela n�o � reativa, � muito diferente de mim”, confessa.
A trilha sonora do musical � assinada pelo cantor e compositor Chico C�sar. O diretor Andr� Paes Leme passou para o artista paraibano trechos do livro “A hora da estrela” para serem musicados. As faixas – cantadas por Laila Garin, Claudia Ventura e Claudio Gabriel – fazem parte da dramaturgia.
“Muitas vezes, os personagens contam coisas que n�o est�o no texto. �s vezes, falam do estado de um personagem, mas a m�sica est� absolutamente dentro da dramaturgia, contando a hist�ria. Algumas vezes, s�o letras da Clarice mesmo, outras do Chico”, esclarece Laila.
“A hora da estrela” estreou no Rio de Janeiro, em mar�o de 2020. Por causa da pandemia de COVID-19, a temporada foi suspensa e retomada agora em 2021, de forma h�brida (mesclando on-line e presencial), cumprindo as normas de seguran�a. As mudan�as tamb�m surtiram efeito no palco. Os atores ficam durante todo o espet�culo de m�scara e inclusive cantam utilizando a prote��o.
TEMPORADA EM BH
Antes de chegar a BH, o musical ficou em cartaz no CCBB do Rio e de Bras�lia. A temporada mineira come�a amanh�, �s 20h, com sess�es on-line e presenciais, em meio a retomada das atividades em espa�os culturais de Minas Gerais.“Adoro Belo Horizonte, � uma cidade muito efervescente culturalmente. Nesse in�cio de retomada (do p�blico em BH), imagino que as pessoas estejam sedentas e, por outro lado, receosas. Est� todo mundo com saudade e precisando dessa troca, tanto o p�blico quanto os artistas. Essa � a vantagem de a gente ter tamb�m uma temporada on-line para que as pessoas possam ver em seguran�a, dentro da sua casa”, conclui Laila.
A HORA DA ESTRELA OU O CANTO DE MACAB�A
Estreia nesta quarta (14/07) e segue em temporada at� 26 de julho, sempre de quarta a segunda, �s 20h. As sess�es de 23 de julho contar�o com int�rprete de libras. Ingressos pelo site eventim.com.br a R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia). Sess�es on-line gratuitas nos mesmos dias e hor�rios das presenciais pelo canal do YouTube do Banco do Brasil (www.youtube.com/bancodobrasil) e da BB Seguros (www.youtube.com/bbseguros)
* Estagi�rio sob supervis�o da subeditora Tet� Monteiro