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Estado de Minas CULTURA

As 24 s�ries que definem o s�culo 21

Do dist�pico ao surreal, as duas �ltimas d�cadas foram extraordin�rias na televis�o %u2013 e no mundo. Cr�ticos de v�rios pa�ses refletem sobre as s�ries mais influentes do s�culo 21.


31/10/2021 19:41 - atualizado 31/10/2021 19:43

Colagem com imagens de personagens de várias séries
A pedido da BBC, cr�ticos de v�rios pa�ses escolheram as s�ries mais influentes do s�culo 21 (foto: Alamy/BBC/Netflix)
"A televis�o sempre revela algo a respeito de quem somos", diz o cr�tico Caryn James.

 

O levantamento deste ano da BBC Culture relacionou as 100 melhores s�ries de televis�o do s�culo 21, segundo cr�ticos de TV e jornalistas de v�rias partes do mundo. Agora n�s exploramos as s�ries da lista que definiram o futuro da TV.

 

Em pesquisas anteriores, n�s pedimos a cr�ticos que escrevessem sobre os 25 filmes que haviam ficado no topo da lista de 100. Neste ano, fizemos algo diferente: pedimos a cr�ticos de diferentes pa�ses que refletissem sobre os 25 programas que mais definem o s�culo 21.

 

Estas s�o as s�ries - listadas sem uma ordem espec�fica - que s�o tanto influentes como significativas, que romperam limites, que refletiram a vida especificamente neste s�culo ou mudaram, de alguma maneira, a cultura da TV. S�o os programas que exp�em nossas verdades, esperan�as e medos.

 

Todas essas s�ries extraordin�rias dizem algo sobre as pessoas, n�o importa de que parte do mundo elas sejam. Todas oferecem algo �nico a n�s, espectadores: uma compreens�o do nosso mundo, um discernimento a respeito de outros seres humanos, ou, o que � igualmente importante, a oportunidade de rir deste s�culo em que vivemos - e nos encantarmos com ele.

RuPaul's Drag Race

RuPaul's Drag Race � pura alegria. O programa foi t�o incorporado no dia-a-dia de tanta gente que o h�bito de estalar a l�ngua transformou-se numa linguagem universal. Enfiou-se na cultura geral e nos nossos cora��es - e, depois de 12 anos, � hoje um comprovado fen�meno, tendo recebido pr�mios e transformado o setor televisivo num lugar mais inclusivo e an�rquico.


Colagem com imagens de personagens
(foto: Alamy)

RuPaul e sua equipe pegaram a arte drag de bares das grandes cidades e a transportaram para milh�es de lares, apresentando este mundo para aqueles que ainda n�o conheciam e transformando suas dedicadas drag queens em estrelas.

 

A competi��o conseguiu subverter o espa�o heteronormativo dos realities, enquanto inspirava suas legi�es de f�s a ter orgulho de sua individualidade.

 

Onde mais, no mundo da TV popular, voc� poderia encontrar discuss�es dolorosamente honestas sobre crescer sendo homossexual, terapia de convers�o, direitos das pessoas trans, racismo, imagem corporal, moradores de rua, servi�os de sa�de e homofobia? Drag Race ofereceu uma visibilidade muito necess�ria, no meio de seu humor e sua vivacidade.

 

O programa celebra a performance e os artif�cios, abra�ando a cren�a de que n�o importa o qu�o dif�cil o jogo da vida fique, n�s sempre podemos no recriar e seguir em frente. N�s podemos aprender a amar a n�s mesmos, com nossas falhas e tudo mais.

 

Jennifer Gannon, jornalista e apresentadora freelancer (Irlanda)

Mad Men

"Nostalgia. � algo delicado, mas potente." O independente mas moralmente d�bio Don Draper nos diz isso logo no come�o de Mad men, e isso nos ajuda a capturar a magia entre as qualidades de riqueza e assombro do drama de Matthew Weiner, passado no s�culo 20, que examina as maquina��es internas de uma ag�ncia de publicidade em Nova York.

 

No papel de Don, Jon Hamm criou um anti-her�i hist�rico, mas o elenco todo sempre foi uma enorme oferta de alt�ssima qualidade. As personagens femininas eram especialmente fortes e �mpares, cada uma de sua maneira, da ambi��o discreta de Peggy Olson, interpretada por Elisabeth Moss, aos ressentimentos e tristeza passivos exibidos por January Jones, na pele de Betty Draper.

 

Mad Men foi uma s�rie que sempre priorizou os personagens, recompensando os espectadores com uma evoca��o viva, num estilo de romance de uma era que n�o existe mais, e mostra como todos estamos nos debatendo com o quebra-cabe�a de como promovermos a n�s mesmos.

 

Lewis Knight, jornalista da �rea de TV (Reino Unido)

Lost

Lost alterou o panorama de como assistir a programas de TV de v�rias maneiras, muitas das quais continuam sendo sentidas 17 anos depois que o drama de estilo desastre desabou na TV em 2004. Seus criadores constru�ram uma mitologia em torno da misteriosa ilha da s�rie que enviou seus f�s para para decifrar pistas na internet, hoje em dia uma pr�tica extracurricular comum para aqueles obcecados com s�ries baseadas em enigmas.

 

Eles tamb�m fizeram com que n�s nos envolv�ssemos profundamente com seus personagens, um grupo diverso etnicamente de almas errantes que refletiam uma sociedade cada vez mais interconectada globalmente. Lost tornou-se popular enquanto as m�dias sociais ganhavam posi��o de destaque, fazendo com que fosse o primeiro programa a gerar conversas enormes nos nossos novos bebedouros globais: Twitter e Facebook.

 

Numa �poca em que havia alguma d�vida a respeito disso, Lost provou que o p�blico adorava hist�rias contadas em cap�tulos que exigem investimento numa narrativa de grande escopo. Foi uma s�rie envolvente, divertida, emocionalmente enriquecedora que elevou nossas expectativas sobre o que a TV poderia ser no in�cio do novo s�culo - e tamb�m nos mostrou como ela seria nas pr�ximas d�cadas.

 

Jen Chaney, jornalista da �rea de TV do site Vulture, parte da revista New York (Estados Unidos)


Colagem de imagens de dois programas, uma mostrando sapo e outra um homem
(foto: BBC/ Netflix)

La Casa de Papel

Quando as pessoas recorreram aos sites de streaming para preencher seus dias durante a pandemia de Covid-19, uma s�rie em particular avan�ou al�m das outras, com 65 milh�es de espectadores nas primeiras quatro semanas em que quase o mundo todo ficou sob confinamento: La Casa de Papel. E � �bvio o motivo: La Casa de Papel � incans�vel. Essa s�rie de a��o foi criada para espectadores do s�culo 21, com mudan�as na trama que nunca decepcionam, com bom ritmo e interpreta��es fant�sticas de cada ator.

 

Quando o gato e o rato mudam de lado, voc� v� como a decis�o moralmente cinzenta de um homem pode afetar toda uma sociedade. Se voc� pudesse fazer um curso sobre linhas borradas entre bom e mau, ent�o o criador da s�rie, �lex Pina, seria o professor. Embora alguma partes possam parecer for�adas, e algumas pessoas possam discutir a exist�ncia de furos no argumento da s�rie, n�o h� como negar que os f�s continuar�o vendo por amor. La Casa de Papel � totalmente rid�cula, e n�s simplesmente n�o conseguimos parar de ver.

Ingunn L�ra Kristj�nsd�ttir, jornalista de TV, Fr�ttabla�i� (Iceland)

Planeta Terra (Planet Earth)

A deslumbrante narra��o de David Attenborough captura o esp�rito de Planeta Terra, uma s�rie �pica com toda a brincadeira, curiosidade e seriedade desse grande apresentador brit�nico de programas sobre a natureza. Com a amea�a da crise clim�tica e a extin��o em massa de muitas esp�cies, Planeta Terra nos mostra por que vale a pena salvar a natureza, com o p�blico gritando em apoio a uma iguana que tenta fugir de cobras ou uma morsa protegendo seu filhote de um faminto urso polar.

 

A s�rie inicial (2006) foi filmada num sistema de alta defini��o (HD) pioneiro, durante cinco anos, e a continua��o (2016) levou quase seis. Imagens da produ��o atr�s das c�meras mostrando como algumas das cenas mais dif�ceis foram filmadas torna a magia ainda maior. Enquanto muitos programas de TV levam � introspec��o, Planeta Terra pediu a seu p�blico que olhasse para fora, para ver um mundo cheio de maravilhas que precisam ser celebradas.

Leila Latif, jornalista da �rea de TV (Reino Unido)


Colagem de imagens de três programas, duas com personagens e um desenho animado
(foto: Netflix/ Alamy)

Orange Is the New Black

Tradicionalmente, n�s - os espectadores - estamos acostumados a ver homens na pris�o. Especialmente aqueles homens maus cheios de tatuagem, prontos a fazer arrua�a, que se tornam ainda mais brutos devido �s duras condi��es de vida dentro do sistema prisional. Por isso Orange Is the New Black (OITNB), com seu foco num grupo variado de prisioneiras, do sexo feminino, caiu como um sopro de ar fresco.

 

A s�rie tamb�m era admiravelmente sutil e equilibrada: n�o havia personagens boas ou m�s, apenas pessoas de verdade. Apesar das mudan�as no comando - v�rios diretores estiveram envolvidos no projeto -, a s�rie de sete temporadas nunca sai dos trilhos ou deixa a funda��o em que � baseada.

 

O programa tamb�m ajudou a incentivar o di�logo em torno de injusti�as pol�tico-sociais predominantes nos Estados Unidos, que tamb�m s�o relevantes para outras partes do mundo, e ousou falar sobre a vida num unidade do ICE (centro de imigra��o dos EUA). "Orange" ainda abriu caminho para personagens mais complexos do sexo feminino, de todos os tipos - quem que sejam, quaisquer que sejam os "pecados" que tenham cometido.

Pallabi Purkayastha, jornalista do setor digital, WION (�ndia)

A Escuta (The Wire)

A Escuta nunca deixou de ter ambi��o. Seu enfoque, e a forma como n�s, espectadores, ainda a experimentamos, era tanto pessoal como pol�tica, grande e pequeno, enquanto buscava uma verdade n�o pronunciada e ainda conseguia nos fazer rir, chorar e sorrir. Foi uma s�rie que informou e entreteve.

 

Aqui, como em todo grande show, o texto era interligado com os atores. N�s nos import�vamos com todo rosto que aparecia, mesmo que fosse brevemente, e imagin�vamos o que acontecia com eles depois que David Simon e Ed Burns focavam suas lentes em algum outro lugar. A Escuta, assim como Os Sopranos, � o padr�o de refer�ncia para grande televis�o no s�culo 21. At� hoje, seu estilo novel�stico de contar uma hist�ria ainda n�o foi superado, apesar de muitos terem tentado. Tamb�m �, e provavelmente talvez sempre seja, a s�rie mais humana j� produzida.

 

Mattias Bergqvis, jornalista da �rea de TV, jornal Expressen (Su�cia)

Steven Universe

� dif�cil dizer se algu�m poderia ter previsto que um desenho de crian�a, sobre um menino m�gico que sai em aventuras com alien�genas, se tornaria uma das mais emocionantes explora��es sobre g�nero, colonialismo e trauma da nossa era. Mas, de alguma forma, Steven Universe conseguiu transcender suas origens e construir uma mitologia t�o vasta que capturou a imagina��o tanto de adultos como de crian�as. A s�rie, �s vezes um musical, oferece breves li��es sobre amor e bondade em epis�dios curtos, de 11 minutos de dura��o.

 

O personagem principal trouxe otimismo e honestidade � teia de destrui��o geracional que ele tinha como miss�o encerrar. O amplo elenco do programa levou ao surgimento de met�foras perfeitas para todo tipo de coisa, de autonomia corporal e consentimento a depress�o, ansiedade e amor n�o correspondido.

 

Enquanto Steven crescia, a tem�tica do show crescia com ele, lidando com sentimentos dif�ceis da adolesc�ncia e da vida adulta e a necessidade de passar por cima de ferimentos do nosso passado.

 

Enquanto as aventuras continuaram num filme musical e numa s�rie final, � a produ��o original, de cinco temporadas, que � o cora��o e a alma do car�ter progressista do programa, em torno do valor de rela��es gays, fam�lia e o poder transgressor do amor incondicional.

 

Catherine Young, cr�tica freelancer de cinema e cultura (Trinidad e Tobago)


Colagem com fotos de três personagens com braços cruzados
(foto: Alamy)

Grey's Anatomy

Com Grey's Anatomy, Shonda Rhimes n�o apenas deu � luz o drama m�dico mais duradouro da hist�ria da TV em hor�rio nobre, mas nos presenteou com uma s�rie que verdadeiramente definiu uma cultura.

 

N�s derramamos muitas l�grimas por causa das bastante dram�ticas mortes dos nossos personagens favoritos e vibramos com os triunfos dos m�dicos do Grey Sloan Memorial Hospital, com cada vida que eles salvavam ou crise que eles controlavam. As fortes mulheres apresentadas na tela reinaram, temporada ap�s temporada. Meredith Grey (Ellen Pompeo), Cristina Yang (Sandra Oh) e Miranda Bailey (Chandra Wilson) abriram o caminho para tantas outras seguirem e foram um farol de esperan�a para futuras protagonistas formid�veis do sexo feminino.

 

Eu nunca vi uma amizade na TV t�o forte e admir�vel quanto a entre Meredith e Cristina. A diversidade e a inclus�o tamb�m sempre tiveram destaque em Grey's - algo que fez da s�rie uma pioneira quando surgiu, em 2005 -, enquanto suas tramas transmitiam poder a quem n�o tinha e abriam di�logos a respeito de viol�ncia dom�stica, problemas de sa�de mental e outras quest�es.

 

A s�rie sempre esteve � frente de seu tempo, e por isso se consolidou como um fen�meno pop-cultural. N�s crescemos com Grey's como um cobertor de conforto, e - numa forma dram�tica ao estilo de Grey's - eu estou me preparando para a perda inimagin�vel quando o programa for encerrado.

Marriska Fernandes, cr�tica de cinema e TV freelancer (Canad�)

The Killing (original, dinamarqu�s)

Francamente, o t�tulo original dinamarqu�s, Forbrydelsen - tente pronunciar isso tr�s vezes seguidas - soava muito melhor que The Killing. Ainda assim, essa s�rie policial dinamarquesa era muito mais que uma investiga��o sobre alguns assassinatos. Todas as suas tr�s temporadas tinham m�ltiplas camadas e eram extremamente dram�ticas, mesmo quando tratavam de pol�tica e economia na Dinamarca.

 

The Killing crescia dentro do espectador como uma floresta cheia de segredos. N�o apenas Sofie Gr�b�l faz uma fascinante interpreta��o da detetive Sarah Lund, a mulher com um estranho gosto por malhas coloridas, mas as viradas nas tramas eram pioneiras em sua complexidade para uma s�rie desse tipo.

O escritor S�ren Sveistrup levou o roteiro para televis�o para um novo n�vel. The Killing tornou-se um padr�o de refer�ncia para futuras s�ries policiais, mas esse tipo de excel�ncia foi raramente igualada por suas sucessoras.

 

Ab Zagt, jornalista da �rea de TV, do jornal Algemeen Dagblad (Holanda)

24 Horas (24)

O s�culo 21 mal havia come�ado quando 24 Horas foi transmitida, em 2001, primeiro nos Estados Unidos, em seguida em outras partes do mundo. Menos de dois meses antes, ocorreram os atentados de 11 de setembro daquele ano, e terrorismo tornou-se uma obsess�o (e uma afli��o), tanto na fic��o como na vida real.

 

Para o bem ou para o mal, a s�rie criada por Robert Cochran e Joel Surnow rapidamente tornou-se um v�cio. Atr�s dela havia uma f�rmula inovadora: a ideia de um evento apresentado em tempo real, em que cada s�rie de 24 epis�dios mostra uma hora de um �nico dia na vida do agente especial interpretado por Kiefer Sutherland, da Unidade Antiterrorista (CTU) de Los Angeles.

 

N�o parece emocionante o suficiente? Tente imaginar uma corrida explosiva de alta tecnologia de 45 minutos a cada semana, em que nenhum personagem est� totalmente a salvo e que sempre nos leva a um momento de suspense no final de cada hora.

 

Carlos Hel� de Almeida, jornalista das �reas de cinema, TV e artes do jornal O Globo (Brasil)


Colagem com fotos de personagens
(foto: Alamy)

O Conto da Aia (The Handmaid's Tale)

Poucas s�ries tiveram a perturbadora resson�ncia social e pol�tica de O Conto da Aia. A vis�o dist�pica do Estado patriarcal Gilead, que escraviza mulheres f�rteis, for�ando-as a ter filhos para seus chamados Comandantes, criada por Margaret Atwood em 1985, caiu como um alerta futur�stico sobre amea�as aos direitos das mulheres.

 

Quando o drama baseado nesse livro chegou, em 2017, pareceu perigosamente perto da realidade de um mundo flertando com o autoritarismo. A vestimenta das aias, com um manto vermelho e uma longa boina branca, tornou-se um emblema, vestido como protesto em marchas reais de mulheres em v�rios pa�ses, especialmente nos Estados Unidos, onde direitos ao aborto est�o cada vez mais amea�ados.

 

A s�rie n�o dialogaria t�o diretamente conosco se n�o fosse ricamente imaginada, em sua narrativa sobre June (Elisabeth Moss), a feroz aia determinada a resistir a Gilead, e em seu figurino deslumbrante baseado em c�digos a partir de cores, com o azul para as mulheres dos Comandantes, marrom para as Tias vira-casacas como Lydia (Ann Dowd), que serve ao Estado e oprime outras mulheres.

 

A televis�o sempre revela alguma coisa sobre o que somos. O Conto de Aia vai al�m, para expor umas verdades essenciais sobre a cultura, nossas esperan�as e nossos piores medos.

 

Caryn James, cr�tico da BBC Culture (Estados Unidos)

Insecure

Ao criar e desenvolver Insecure para a HBO, Issa Rae mudou o panorama da televis�o moderna como a conhecemos. O que come�ou como uma s�rie para a Web e mem�rias, The Mis-adventures of Awkward Black Girl (As Desaventuras da Garota Negra Esquisita), cresceu para virar um cart�o de visitas para Era, que fez hist�ria em Hollywood como a primeira mulher negra a escrever e atuar numa s�rie de TV a cabo em hor�rio nobre.

 

As "desaventuras" de sua personagem em Insecure - incluindo seu relacionamento de idas e vindas com seu namorado Lawrence e seu desejo de encontrar realiza��o pessoal no trabalho - refletiu a complexa experi�ncia de millennials do sexo feminino e negras, enquanto, na sua ess�ncia, o programa tamb�m nos ofereceu um assento de primeira fila para acompanhar a envolvente din�mica entre Issa e sua melhor amiga, Molly.

 

A luz e a sombra dessa rela��o desenvolveu-se ao longo da s�rie, at� a quarta temporada, quando nos encontramos questionando se elas v�o conseguir ou n�o. Assim como foi notado por cr�ticos, Insecure � a resposta desta gera��o a s�ries como Living Single e Girlfriends, atualizada para nossos tempos de sexting e viagens de Uber. E faz isso de maneira deslumbrante, com um impressionante sentimento cinematogr�fico, e uma trilha sonora que pulsa em homenagem a uma Los Angeles culturalmente variada.

 

Nadia Neophytou, jornalista freelancer (Estados Unidos)


Colagem com foto de dois personagens
(foto: BBC)

I May Destroy You

Por meio de uma produ��o habilidosa e uma ousadia direta, I May Destroy You � uma representante perfeita deste s�culo na televis�o e na cultura.

 

Durante 12 epis�dios, Michaela Coel desfralda uma hist�ria estonteante sobre o que acontece com uma pessoa ap�s um ataque sexual, como o mundo moderno amplifica e torce nossos pensamentos mais �ntimos e os transforma em n�s e por que pode ser t�o dif�cil de compreender as nuances de sua pr�pria vida, mesmo quando voc� a est� vivendo.

 

Como imagens v�vidas, piadas maliciosas e interpreta��es inteligentes de Coel, Weruche Opia e Paapa Essiedu, I May Destroy You � o melhor que a TV poderia oferecer.

 

Caroline Framke, cr�tica-chefe de TV da revista Variety (Estados Unidos)

Fleabag

Baseada num mon�logo que Phoebe Waller-Bridge apresentou pela primeira vez no palco, a s�rie de TV Fleabag pegou as melhores partes do conceito original - uma mulher com todos os seus defeitos e falhas � mostra - e as ampliou.

Isso acrescentou mais nuances nos outros personagens e abriu espa�o para que Fleabag pudesse existir. Quando Waller-Bridge rompe a imagin�ria parede que separa seu personagem do p�blico espectador, compartilhando conosco seus pensamentos �ntimos e piadas que ficam apenas entre ela e o p�blico, ela nos trouxe para ainda mais perto.

 

Sim, ela disse coisas brutais e nos contou ser pervertida e ego�sta, mas mesmo assim n�s enxergamos nela pequenos aspectos de n�s mesmos. Ela admitiu coisas que n�s n�o t�nhamos visto ningu�m admitir na televis�o antes. Disse abertamente as coisas que nos fazem sentir vergonha e culpa, a auto-sabotagem que infligimos, a press�o que colocamos em n�s mesmos.

 

Mais importante, fez com que n�o houvesse problema em sentir essas coisas. Numa �poca antes de conversas sobre sa�de mental se tornarem t�o abertas quanto s�o hoje, ela colocou tudo sobre a mesa - sem pudor algum. Na segundo temporada, Waller-Bridge mais uma vez nos reuniu em nossos pecados, e sua reden��o imperfeita tornou-se a nossa pr�pria.

 

Nadia Neophytou, jornalista freelancer (Estados Unidos)


Colagem com fotos
(foto: Alamy/ BBC)

The Office (Reino Unido)

Eu cresci vendo s�ries de TV humor�sticas brit�nicas como Some Mothers Do 'Ave 'Em, que era muito popular na Nig�ria. A mistura de sagacidade, sarcasmo e autodeprecia��o do humor brit�nico sempre me atraiu - e a mais atraente s�rie de todas, em tempos recentes, foi The Office, em que um maluco David Brent d� o tom de um programa que oferece com�dia de ouro com humor �ntimo.

 

� poss�vel se identificar com The Office, j� que muitos de seus personagens nos lembram pessoas com quem j� trabalhamos ou chefes que j� tivemos, e � por isso que a considero uma grande s�rie. O estilo de "document�rio-goza��o" adiciona uma dose extra de realismo que nos atrai ao mundo da empresa de papel Wernham Hogg - e sua vers�o dos Estados Unidos tornou-se um dos melhores programas da TV americana de todos os tempos.

 

Ayomide Tayo, jornalista da �rea de TV, Opera News (Nig�ria)

Girls

Quase uma d�cada depois de seu piloto ter sido transmitido na HBO, Girls, criada e estrelada por Lena Dunham, � uma curiosa c�psula do tempo. O programa foi elogiado pela forma sincera como retratou sexo, dinheiro e trabalho.

 

Fez de Dunham, como diz sua protagonista Hannah Horvath, a voz de sua gera��o - ou, pelo menos, uma voz de uma gera��o. Mas a s�rie tamb�m foi amplamente criticada por sua brancura e sua "WASPiness" (foco em americanos brancos anglo-sax�es protestantes).

 

Girls nunca teve como objetivo ser um retrato amplo de mulheres millennials. Era uma s�tira sobre o privil�gio branco e o egotismo do s�culo 21. Mas, porque tamb�m era uma das poucas descri��es semirrealistas da vida urbana da gera��o Y, os espectadores esperavam algo que a s�rie nunca esteve disposta a oferecer. Essa falha de comunica��o, exacerbada por v�rias artigos de opini�o instant�neos, manchou o legado de Girls injustamente.

 

Vendo Girls hoje, � mais f�cil apenas desfrutar de seu soberbo roteiro, uma emblem�tica escolha de m�sicas e o futuro astro Adam Driver em sua vers�o mais desagrad�vel. Ela tamb�m abriu caminho para outras vozes representando gera��es. Ser� que ter�amos I May Destroy You, Fleabag ou Master of None se n�o tivesse sido por Hannah Horvath jogando ping-pong de topless? Acho que n�o.

 

Anton Vanha-Majamaa, jornalista da �rea de TV freelancer (Finl�ndia)

Game of Thrones

Drag�es. Rei loucos. Sanguinol�ncia - e uma hist�ria emocionante de reinos conquistados e perdidos. Game of Thrones nos manteve de olhos ligados na TV por oito anos, ao longo de oito longas temporadas, durante as quais a hist�ria do Trono de Ferro e as fam�lias desestruturadas que afirmavam ter direito a ele nos mantiveram fascinados com suas manobras.

 

Na Nig�ria, n�s fic�vamos acordados at� as 2h da manh� para ver os epis�dios de estreia das novas temporadas.

 

Game of Thrones redefiniu a televis�o, aparecendo depois de v�rias incr�veis s�ries de prest�gio. Mas tinha algo a mais. Tinha peso. Tinha seriedade. Era �pica, espetacular e grandiosa. Como uma cr�nica de nobres e pessoas comuns, lealdade cega e trapa�as, ambi��es alardeadas e fracassos �picos, romance e amor proibido, Game of Thrones poderia ser comparada com Shakespeare misturado com A Noite dos Mortos Vivos e O Dia Depois de Amanh�, uma fantasia p�s-apocal�ptica mascarada de drama hist�rico. Tamb�m foi uma sublime experi�ncia cinem�tica com apelo global de massa.

 

Toni Kan, escritor e cr�tico de cultura do site thelagosreview.ng (Nig�ria)

Pose

Pose � mais que apenas um programa de TV. Como a primeira s�rie a verdadeiramente celebrar mulheres trans negras, apenas sua exist�ncia faz dela uma declara��o vital, que tem mais poder de mudar o mundo que talvez qualquer outro programa desta lista.

 

Como Blanca e as outras queers pioneiras nessa hist�ria, Steven Canals, co-criador de Pose, enfrentou rejei��es o tempo todo para criar um espa�o seguro para espectadores LGBTQ+ que nunca haviam visto antes eles mesmo refletidos na tela. "Voc� precisa brilhar t�o forte l� fora para que eles n�o possam te negar", diz Blanca.

 

Pose nos ensinou como fazer exatamente isso: viver nossa verdade, triunfar como pessoas queer, porque o tipo certo de representa��o n�o apenas ajuda grupos marginalizados a se sentir vistos. Pode inspirar pessoas a viver suas pr�prias verdades, mesmo diante de esmagadora adversidade. E, nas circunst�ncias corretas, s�ries como Pose podem at� mesmo salvar vidas.

David Opie, jornalista da �rea de TV, Digital Spy (Reino Unido)

BoJack Horseman

� primeira vista, � f�cil descartar o aparentemente simples, estranho e animado mundo de Hollywood. Se voc� � como eu, os primeiros epis�dio foram dif�ceis. BoJack n�o � nem charmoso nem agrad�vel - e eu preciso v�-lo por seis temporadas? Sim, voc� precisa, e n�o apenas voc� vai ver um homem adulto (ou cavalo) jogar sua vida fora ao sair do controle e cair num inevit�vel abismo de solid�o, mas voc� tamb�m vai amar cada segundo.

 

Goste ou n�o, BoJack Horseman for�a voc� a questionar sua pr�pria moralidade com o tocante cuidado de uma ex.

 

BoJack me lembrou minha experi�ncia numa montanha-russa: eu, sem saber o que estava para vir, escolhi entrar, e assim que come�ou, gritar ou chorar, n�o importa quanto, n�o me tiraria dali antes do fim. E ent�o eu comprei outro ingresso.

Daniel Tihn, jornalista da �rea de TV, jornal The Times of Malta (Malta)


Colagem com imagens de personagens de 3 programas, um deles um desenho animado
(foto: Alamy)

The Thick of It

O come�o do novo s�culo foi marcado por uma hedionda tend�ncia de "novo otimismo" na com�dia americana, em que uma reden��o espiritual estava dispon�vel at� mesmo �queles que menos mereciam. No lado oposto do espectro estava The Thick Of It, a s�tira brit�nica �cida de Armando Iannucci, cuja premissa central era de que todos envolvidos no governo eram idiotas desprez�veis interessados apenas em sua pr�pria preserva��o.

 

Mostrando sempre formas inventivas pelas quais pol�ticos sem poder e funcion�rios p�blico in�teis podem criar crises monumentais a partir de coisa insignificantes, a s�rie fez de Peter Capaldi um astro (anos depois de ele ter ganhado um Oscar por um curta-metragem que ele dirigiu), cujo mordaz assessor de comunica��o Malcolm circulava de freneticamente em Westminster como um Godzilla vociferando palavr�es. Qualquer cren�a na pol�tica era repreendida de forma certeira e convicta.

 

Ali Arikan, cr�tico de cinema freelancer (Turquia)

Black Mirror

Black Mirror tornou-se um fen�meno cultural mundial numa era dominada por dramas em s�rie que nos fazem assistir um epis�dio atr�s do outro por horas - um feito significativo para um programa antol�gico definido por temas, em vez de arcos narrativos cont�nuos.

 

As tramas especulativas e provocativas da cria��o de Charles Brooker, juntamente com interpreta��es fant�sticas, fizeram do programa um sin�nimo das ansiedades ligadas ao progresso tecnol�gico - e sublinhando a s�rie est� sempre presenta a pergunta: "Ser� que fomos longe demais?".

 

Entretanto, os verdadeiros monstros em Black Mirror tendem a n�o ser as m�quinas, mas os seres humanos, que encontram novas ferramentas para abusar de outros humanos. Apesar de um certo desequil�brio em qualidade nas �ltimas temporadas, Black Mirror capturou verdadeiramente o esp�rito geral em rela��o aos nossos medos a respeito do presente e do futuro.

 

Jos� Gonzalez Vargas, jornalista de TV freelancer (Espanha)

Small Axe

A s�rie antol�gica de filmes de Steve McQueen, sobre os esfor�os e as celebra��es dentro da comunidade negra das �ndias Ocidentais em Londres, entre 1962 e 1981, j� era necess�ria havia muito tempo, mas chegou no final de 2020 como um estudo hist�rico sensorial e produzido com respeito.

Os cap�tulos com dura��o de longa metragens lidou com identidades da �poca tanto conhecidas como desconhecidas, de Frank Crichlow, cujo restaurante The Mangrove foi alvo de a��es policiais motivadas por racismo que acabaram num emblem�tico caso na Justi�a, aos habitantes de uma pista de dan�a numa festa caseira nebulosa e inebriante, cuja noite culmina numa euf�rica interpreta��o de Silly Games, de Janet Kay.

 

McQueen � um mestre de tom e detalhe e, por meio de sua vis�o inconfund�vel, garante que tanto triunfo como trag�dia sejam exibidos por toda a s�rie, em que trabalhou com o supervisor musical Ed Bailie e seus co-criadores para encher a antologia com uma trilha sonora incompar�vel. Por meio desse trabalho meticuloso, o diretor criou algo incendi�rio.

 

Beth Webb, jornalista da �rea de TV, de Empire, Pilot TV e NME (Reino Unido)

Call My Agent!

A brilhante s�rie de TV francesa Call My Agent! (10%, no original franc�s) � a fus�o perfeita do glamour da ind�stria cinematogr�fica com as vidas de agentes dedicados, trabalhando duro por tr�s das c�meras.

 

Esses agentes genuinamente se importam com seus clientes e seus projetos, o que � exatamente a raz�o pela qual essa s�rie se destaca. Soma-se a isso o fato de que seus clientes, que s�o alguns dos mais conhecidos atores da Fran�a, est�o deliberadamente tirando sarro de si mesmos, abra�ando totalmente sua reputa��o e levando-a a extremos rid�culos.

 

A sagacidade aqui n�o � baseada em refer�ncias, mas sim em situa��es e personagens, e � por isso que a s�rie transcende fronteiras com tanta facilidade.

Sua influ�ncia reflete-se nas m�ltiplas vers�es que t�m aparecido mundo afora. Evitando cinismo, a s�rie habilmente equilibra humor cr�tico, conceitos errados e infelizes e com�dia pastel�o - e, sendo um produto da Fran�a, h� farsa tamb�m. Essa rara e entusiasmada mistura � uma ardente carta de amor ao cinema e sua ind�stria.

 

Tara Karajica, jornalista de TV e cinema, Fade to Her (S�rvia)

Leia a vers�o original dessa reportagem (em ingl�s) no site BBC Culture.

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